Apocalipse escrita por Fran Marques


Capítulo 6
Armas e a Comerciante


Notas iniciais do capítulo

Finalmente acabei o capítulo, meus amores. Esse ficou bem extenso e desculpa pela demora. Espero que gostem ; )



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Passei pela porta de entrada do edifício e observei a rua. Um bolo se formou em meu estômago e senti um pingo de suor frio cair por minha têmpora. Minhas mãos que tremiam continuamente estavam escondidas em meu casaco. Não estava frio, mas era quase como se meu próprio coração tivesse virado gelo. Matt me envolveu nos braços e eu senti que ele também tremia. Suas pupilas estavam dilatadas e seu peito se levantava e abaixava mais rapidamente do que o de costume. Caminhei mais a frente, deveríamos chegar na loja de armas antes possível. Eu me sentia totalmente desprotegida, como ir para uma guerra sem defesa. Olhei em volta, para os corpos que se encontravam na rua. Pessoas desmembradas estavam jogadas pelo asfalto, os corpos largados como bonecos de pano, rostos brancos e lábios roxos. Dedos quebrados e braços machucados. Sangue, muito sangue. Montes de cadáveres estavam empilhados, completamente destroçados. Os que não tinham sido infectados, tinham sido abatidos. Eu tinha medo, apesar de lutar para não demonstrar. O problema não era com que Matt percebesse que minha mente era tomada por medo, era o fato de que, com medo, nada funciona. Acompanha o medo o pânico e a desistência. Eu própria tinha essa ideia na cabeça, mas admitir era muito perigoso.

Continuamos o caminho do mesmo jeito que antes, entrando em prédios e tentando ser o mais silencioso possível. Tínhamos nos escondido em uma ruela pela quinta vez e os grupos de infectados aumentavam, indo para diversos lados da cidade. Eu não conseguia entender se eles eram apenas corpos que seguiam sem um objetivo ou se procuravam algo. Percebi que tudo estava destroçado. As lojas estavam com os vidros estilhaçados, os carros nas ruas tinham o capo amassado e os portões das casas estavam dependurados por alguns pregos a suas dobradiças.

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Consegui ver a placa com letreiros vermelhos do outro lado da rua. As vitrines da Billy e Wailly estavam totalmente quebradas, diferentes tipos de armas estavam espalhadas pelo chão e a plaquinha de "ABERTO" fora jogada no asfalto pelo vento. As letras em neon que foram desligadas diziam "Quer caçar? Compre aqui." Atravessamos a rua e, atravessando a soleira, entramos na loja sem porta ou vitrine.

Eu também nunca gostei do pai de Mattel caçar, mas no momento estava achando aquele lugar um milagre da existência humana. Armas nas paredes, dependuradas em todos os lugares, no balcão, nos corredores, coletes de balas, casacos contra frio, fotos de homens e mulheres sobre diversos corpos de animais mortos, botas para montanhismo e mochilas de todos os tipos.

Mattel estava parado, encarando uma parede em que se encontravam várias armas que, com o meu conhecimento infinito sobre armas de fogo, eu denominaria armas-que-aparecem-nos-filmes-de-ação.

–Vai escolher o que? - ele perguntou, desviando o olhar para mim.

–Eu sei lá. Para mim é tudo a mesma coisa. - falei com um tom de pura verdade.

–Olha, estas todas aqui são de longo alcance - Mattel apontou para um grupo de armas com o cano longo, as quais algumas pareciam ter saído do "Star Wars". - e essas pistolas aqui são de curto alcance. Como não acho que vamos sair por aí exterminando zumbis, deveríamos pegar as de curto alcance, para emergências.

Quando Mattel acabou de explicar, me encarou, esperando alguma compreensão, mas eu não estava interessada em saber sobre armas de curto alcance ou não.

–O que vai fazer, Maggie? - perguntou Mattel enquanto me observava entrar por um corredor que acabava em uma sala completa de mochilas, botas, casacos e coletes.

–Não adianta nós ficarmos cobertos de armas até os dentes se vamos morrer depois de dois dias porque não temos comida, abrigo, água ou de frio.

Mattel ficou me encarando, enquanto tentava compreender o que eu iria fazer.

Tirei uma mochila que estava em um manequim. Ela era camuflada e de um tamanho nem grande nem pequeno.

–Essa é sua. - a joguei para Matt. - Pode encher ela de bugigangas se preferir, ou pode escolher outra. - Fiquei com a minha antiga mochila, e apenas saí pelo caminho procurando coisas necessárias.

As outras salas da loja tinham garrafas térmicas, colheres, garfos e facas embutidos em um, sacos de dormir dobráveis e outras coisas com que eu fui enchendo a minha mochila, até ela ficar cheia de mais e eu ter de economizar nos materiais com que iria ficar. Peguei uma jaqueta de couro preto e a coloquei. Peguei outra de tamanho maior para meu amigo.

–É mais difícil de atravessar o couro. Se um deles tentar nos infectar, o couro vai proteger o suficiente para que tenhamos uma reação.

Matt estava do outro lado da loja tentando colocar alguma coisa em sua barriga, não prestando atenção no que eu falava.

–O que está fazendo exatamente? - perguntei enquanto chegava mais perto e deixava o casaco a seu lado.

–Está vendo isso aqui? - ele me mostrou um grande cinto preto que parecia ter mais ou menos todas as "bat-utilidades". - Nele posso guardar a pistola, balas, facas e spray de pimenta.

–Ótimo. Se um zumbi tentar te estuprar, você pode jogar spray de pimenta nele. - falei soltando uma risada.

–Ah, ta bem Senhorita, então fale o que você vai escolher? - Eu encarei os olhos azuis de Matt. Percebi que não tremia mais, o que era completamente inteligível, afinal, eu estava cercada pelo que seria minha futura proteção.

Olhei para a parede novamente. O problema em si era que 1. Armas são recarregadas com balas, e não tínhamos nenhum mantimento infinito. 2. O barulho. Como qualquer pessoa e animal, um barulho poderia despertar a atenção dos infectados. Um tiro tentando desmembrar um deles, chamaria outros três .

–Quero uma arma antiga.

–Que? - perguntou Matt sem entender.

–É. Alguma que não precise de balas. Tipo um arco e flecha, uma besta ou um machado.

–Maggie, um taco de baseball é muito mais leve que um machado. Você não ai conseguir decepar um zumbi com a força que conseguia bater uma bola.

Matt estava mencionando quando eu jogava, ou seja, a um dia atrás, quando as coisas eram normais. Eu era a batedora da liga feminina da escola e torcia para os Yankees. Eu sabia o que fazer, era realmente boa.

–Ok. O que me aconselha então?

Mattel passou a mão pelas alças de minha mochila e a pegou. Depois de esvaziar tudo e colocar dentro da sua mochila, pegou um arco e uma aljava cheia de flechas.

–Este arco é de longo alcance, de fibra de carbono e 80% mais leve que o aço. O tiro sai muito preciso e a diferença desse arco para os de madeira é que a corda não treme tanto, fazendo com que a flecha atinja seu objetivo mais rápido. - Matt me olhou e sorriu, minha expressão estava provavelmente, incrédula. - Meu pai só sabia falar sobre isso na mesa de jantar. Qualquer arma para ele era totalmente fascinante.

Peguei o arco que meu amigo me estendera e a aljava. Prendi em minhas costas e esperei enquanto Matt tentava tirar outro daqueles cintos pretos de barriga do balcão envidraçado. A diferença do meu para o dele era que tinha três pistolas, três facas e munição.

Peguei duas bandanas, uma vermelha e outra preta. Joguei a preta para Matt e enrolei a minha no pescoço, deixando larga o suficiente para poder subi-la à boca.

–Vamos precisar disso para que? - disse Matt, segurando sua bandana.

–Eu não sei você, mas não quero me sujar com gosma de mordida de zumbi ou qualquer pingo de sangue. Pode me atrapalhar.

Matt deu de ombros e enrolou a bandana preta como eu tinha feito.

–Mais alguma coisa? - Matt me perguntou como se fosse o lojista.

–Me devolva a minha caixa de fósforos.

Matt sabia a história da caixinha, então rapidamente cavocou em sua mochila e me entregou. Eu a rapidamente guardei no bolso de minhas jeans surradas e segui para a porta.

–Ah, espera, eu vou ter que tirar esses tênis.

Corri para uma parte com botas de camurça e troquei rapidamente.

–Supermercado? - perguntou Matt. Eu apenas confirmei com a cabeça.

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Estávamos caminhando por um dos corredores do Wal-Mart. Claramente não éramos os primeiros ali. Meus olhos olhavam para todos os lados. Não estávamos mais em uma loja em uma rua, longe da atenção dos infectados. Estávamos em um imenso supermercado, com as luzes acesas como um convite chamativo. Era como uma armadilha. Matt estava enchendo sua mochila de água e enquanto eu chegava no corredor dos enlatados.

–Temos que pegar comida que dure muito, como barrinhas de cereal, enlatados, maças, bolachas e chocolate.

–Chocolate é uma boa. - disse Matt sorrindo, enchendo a mochila de sopa de ervilha.

Antes que conseguíssemos esperar, um tiro ecoou no corredor. Um tiro que não pertencia nem a minha arma nem a arma de Matt. Me joguei no chão e puxei o garoto comigo. Estávamos bem. O tiro atingiu um monte de carnes em um freezer. Olhei para o final do corredor. Um homem segurando uma pistola nos encarava. Sua mão tremia enquanto meu coração tamborilava em meu peito. Ele estava usando apenas um casaco e uma calça jeans. Seus tênis estavam manchados de sangue e tinha uma mordida em seu braço. Olhei para Matt, que também entendera. O homem deveria ter sido infectado a poucas horas. Arranhões em suas bochechas faziam com que pequenas gotículas de sangue brotassem de sua pele. Seu cabelo preto estava desgrenhado e a ponta de um lado de seu bigode parecia apontar para o teto enquanto o outro apontava para o chão.

–Não atire. - falei, minha voz falhava, mas eu tentava agir com a maior tranquilidade do mundo.

–Vocês vão...vão... roubar minha comida. - o homem falou, perdendo a linha do pensamento cada vez mais.

–Ei, temos comida para todos aqui. A gente pode pegar um pouco e você também.

–NÃO. - o homem berrou, enquanto tudo que eu desejava era que ele não fizesse. Ele atirou perto de minha cabeça, escutei o estouro atingir o chão.

–Abaixe a arma, eu também tenho a minha e se eu não lhe matar, meu amigo vai. Você vai morrer de qualquer jeito, então abaixe a arma.

O homem continuou com a arma erguida em nossa direção, mas em seus olhos mostrava que ele pensava. Depois de um tempo, ele deixou a arma cair no chão.

Então eu escutei. Mattel escutou e o homem também. Passos. Alguns corriam e outros se arrastavam, mas estavam ali. Era tarde para negociar agora.


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