Quando Mais Precisava escrita por AnaMM


Capítulo 24
Inquietação


Notas iniciais do capítulo

Voltando aos poucos. Vamos lá.
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Adriano voltou lentamente à consciência. A família Martins em peso o rodeava, agora com Rômulo presente.

– Marujo! Até que enfim! – O velho celebrou.

Estava na cama de Lia, que segurava sua mão com força, observando-o angustiada.

– Onde ele tá? Você tá bem, marrentinha?

– A Lia nos contou que o Sal conseguiu entrar aqui em casa. Dinho, a honra de contar sobre aquilo é toda sua. A gente vai dar um tempo a sós pra vocês dois, comportem-se.

Um a um, os membros da família Martins deixaram o quarto. Do lado de fora, armava-se um cerco policial para melhor proteger o bairro de Salvador.

– Ele fugiu logo depois de te deixar inconsciente.

– E você?

Lia tremeu antes que Dinho pudesse tocá-la.

– Sobre o que o Lorenzo...

– Não me importa. Olha, Dinho, depois do susto que eu levei e depois de como você me defendeu... Eu entendo, você tem a sua família em Miami. Eu também ficaria dividida... Mas você tá aqui, eu tô aqui, e por enquanto a gente tá junto e eu ainda sinto o mesmo. A gente pode deixar pra se arrepender depois...

– A gente?

– Eu. Sei lá, só me beija.

Dinho rapidamente atendeu ao pedido, beijando-a apaixonadamente. Seu fôlego, felizmente, recuperado. Não por muito tempo. Beijou-a como se tivessem estado separados por meses. Não demorou para que estivessem ambos deitados sobre a cama de Lia, Adriano beijando-lhe o pescoço lentamente, causando-lhe arrepios. Lia sentiu o membro rígido do ex-namorado contra sua coxa interna, descoberta, e gemeu, enlouquecendo-o. Dinho arranhou de leve suas costas, que havia invadido pelos rasgos laterais da blusa de Lia. Seu estilo recente era bastante conveniente. Desceu a mão até a cintura de Lia, onde brincou com a barra de seus shorts. A porta se abriu antes que pudesse descê-la ainda mais.

– Parou! – Lorenzo exigiu furioso. – Agora! Dinho, pra sala! Mas será possível? Até agora há pouco vocês não podiam nem se olhar na cara! Vamos, Dinho. Francamente, Lia!

– Qual é, pai? Como se eu e o Dinho nunca tivéssemos...

– Debaixo do meu teto, não! Enquanto vocês dois estiverem nessa casa, vocês vão-

– O seu teto, seu Lorenzo, é o do casarão em cima do Misturama! – Lia lembrou o pai. – Aqui quem manda é a Raquel! – Sorriu.

– Ah, é? E a sua mãe aprovou, por acaso? A senhorita pediu permissão?

– Pra sua informação, doutor Lorenzo, não é a primeira vez e a Raquel nos liberou, sim.

– Pois a senhorita vai agora mesmo pra debaixo do meu teto! Até porque aquele monstro já encontrou a gente aqui!

– E deixar que o Sal nos veja saindo de casa? Ótima ideia!

– Ela vai ficar na Ju. – Raquel anunciou. – Eu acabei de falar com os Menezes. Assim a Lia não é vista saindo daqui e ele não a encontra.

– Há quanto tempo você tá aí?

– Se for em relação ao que deve ter acontecido, sim, eu liberei. Acabei de voltar ali do apartamento da frente, mas ouvi o final.

– Então você confirma que eles estavam de safadeza pelas minhas costas?

– Lorenzo, francamente... Você parece os nossos pais!

Lia e Dinho riram do comentário.

– Não aconteceu nada, Raquel, ele que fez um escândalo.

– Sei... – Concordou cética. – Lia, arruma as suas coisas, você vai pra casa da Ju.

– O Dinho vem junto?

– Depende. Você ainda precisa dele ou só quer o namoradinho por perto? Olha, você conversa com eles. Até porque o Dinho tá aqui em casa por sua causa.

– Pode ir, Lia. Você fala com eles, vê se se sente segura... Se precisar, eu vou dar um jeito de ficar em algum lugar aqui perto.

– Dinho, você pode ficar na cama da Lia.

– Na cama da Lia, Raquel?

– A Lia vai estar na casa da Juliana, eu não vejo problema nisso.

– Não! O Sal pode entrar atrás de mim e atacar o Dinho!

– Não seria uma má ideia...

– Pai!

– Ok, ok, Tatá vem comigo pro casarão e o Dinho dorme na sala, mas eu ainda acho melhor deixar o Dinho de isca.

– Muito engraçado, doutor Lorenzo! – Repreendeu-o sarcástica.

–x-

– Amiga! Você tá bem? Quando me contaram que o- que ele apareceu, eu nem acreditei! – Juliana atacou-a inadvertidamente.

Lia recém chegara à sala dos Menezes com uma pequena mochila e a presença de uma Raquel mais que preocupada. Lorenzo e Tatá já haviam voltado para o casarão. Embora não fosse grande mudança, apenas uma troca de lado do corredor. Dinho ficara no apartamento, prestando sua recente vocação de segurança noturno.

– Raquel, você não acha perigoso continuar ali? Você não pensou em procurar um hotel, um lugar pra ficar até que a situação seja resolvida? – A mãe de Ju inquiriu.

– Não é necessário, Marta, eu e o Dinho vamos ficar bem lá.

– O Dinho? – Olavo estranhou.

– Sim, ele vai continuar lá em casa pro caso de a Lia precisar. – Raquel explicou, tentando segurar um ou outro comentário irônico.

– Tele-Dinho 24 horas... – Bruno riu.

– E o que o Lorenzo tá achando desse moleque continuar cercando a filha dele? Eles não se largam há dias como se o fizessem de idiota.

– Pai... – Juliana o repreendeu.

– Mas é verdade, que história mais absurda...

–Fazendo sentido ou não, o importante é a Lia se sentir segura e, quando ela tava na pior, o Dinho que tirou ela de lá. A impressão fica.

– Bom, vocês se resolvam, eu tampouco pretendo deixar a Lia ficar aqui de pouca vergonha com o seu ex-namorado, filha. Aqui é casa de família. – Marta opinou.

– Você não tem que querer nada, mãe, se a Lia tiver outra crise de pânico ele vem.

– Bom, vocês se acertem aí, que qualquer coisa eu e o Dinho estamos na porta ao lado. Vai ser bom ter um pouco de tempo com o meu genro.

Juliana riu ao ver a reação de Lia, prestes a corrigir a mãe.

– Aham, aham, não é genro. Ok, Lia, como você quiser. – A amiga ironizou. – Faz as coisas e nega, como sempre foi em relação ao Dinho. – Continuou, deixando a pele da roqueira ainda mais rubra.

– Bom, eu vou indo. Lia, se precisar de qualquer coisa, eu e o Dinho estamos aqui do lado, ok? Muito obrigada, Marta, Olavo, bom saber que a Lia pôde contar com vocês durante todos esses anos em que eu não estive. – Agradeceu com a voz controlada, afastando-se depressa para esconder seu desconserto ao tocar no assunto.

–x-

Deveria se sentir segura. Estava na casa da melhor amiga, onde dormira tantas noites, sob a vigília daquela que fora mais sua família que a própria mãe por anos e anos. Juliana estava logo ao seu lado, enfim desacordada após horas de assuntos perdidos com o tempo postos em conversa fora. Sal jamais pensaria no apartamento como seu esconderijo, tampouco estaria vigiando aquelas janelas específicas. Não tinha o que temer. O tremor em seu corpo era infundado. A silhueta que a vigiava era mera sombra, uma lâmpada, um armário. Sabia que não estivera louca, que o vira todas as outras vezes em que tentara explicar a si a quem pertenciam os olhos que a observavam furtivamente noite e dia. Não havia motivos para temer, embora os tivesse todos. O bater incessante de seus dentes acompanhava seu coração em uma melodia nervosa. Revirava-se contra o colchão, olhos se alternando entre cada janela e porta. Ele iria descobrir, ele sempre descobria. Precisava fugir de novo, estar parada em um quarto tão próximo do seu era ser ingênua, irresponsável. Era capaz de discernir a gélida gargalhada do rufar de folhas noturno, das buzinas escassas de uma madrugada. Ele estava lá. Ele sempre estava lá.

Dinho não estava no sofá, não podia chamá-lo. Tinha que ser forte, resistir sozinha às peças que seu medo lhe pregava. Aproximar-se do apartamento atrás do ex seria mais perigoso que permanecer ali sem ele. Ainda assim... Precisava saber como ele estava, se estaria em perigo novamente... Levantou-se, permanecendo descalça para abafar seus passos. O corredor... Ainda que estivesse à frente das chaves do apartamento, não conseguiria sair ao corredor, bater no apartamento onde o bandido entrara tão recentemente. O celular tremeu sob seus dedos. Uma resposta, alguns minutos, duas batidas leves contra a porta para não acordar a família. Fechou a porta de volta às pressas e enterrou o rosto contra a camiseta surrada. Chorou contra o peito que tanto golpeara, suas mãos agarradas ao tecido de algodão, enquanto as de Dinho seguravam sua cabeça firmemente, entrelaçando-se com os fios loiros, e sua cintura, dedos encaixados perfeitamente no contorno de sua cintura. Porta devidamente trancada, conduziu-a até o sofá.

–x-

Dizer que Marta e Olavo levaram um susto ao acordar não faria justiça. Ainda que incomodados, no entanto, convidaram-no a comer. Juliana e Bruno se surpreenderam igualmente, Bruno fazendo as vezes de irmão protetor ao encará-lo. Fora um café da manhã silencioso. Não era necessária explicação acerca da presença do garoto, tampouco sentiam-se confortáveis o suficiente para tocar no assunto.

– Afinal, vocês estão juntos ou não? – Marta desfez o silêncio.

– Tecnicamente...

– Não exatamente. – Lia interrompeu.

– Hm... A gente sai um ano e os adolescentes conseguem ficar ainda mais complicados, Marta. – Olavo ironizou, quebrando o gelo.

– Como vai ser, então, você vai ficar dormindo aqui com o ex-namorado da minha filha como se nada tivesse acontecido? – Marta insistiu.

Adriano quase engasgou com o café, enquanto a pele de Lia atingia tons desconhecidos de vermelho.

– É...

–Bom, você sabe...

– Acontece que... – Falharam em responder.

– Mãe, corta essa. Faz tempo, já, já foi superada essa história... A Lia não conseguiu dormir essa noite, eu vi como ela tava inquieta. Se ela só consegue se acalmar com o Dinho, é assim que tem que ser.

Sem jeito, Lia balbuciou um agradecimento, torcendo para que sua pele se decidisse por alguma cor.

– Bom, Juliana, o quarto é seu e o ex também. – Marta encerrou o assunto a contragosto.

O som da campainha enfim salvou o trio do assunto constrangedor. Juliana e Bruno correram para a porta, esperando por Gil e por Fatinha, respectivamente. Um par de olhos azuis, no entanto, frustrou suas expectativas.


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