Quando Mais Precisava escrita por AnaMM


Capítulo 18
Diferente


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI! Estive atarefada, mas louvadas sejam as férias! Zoeira lidinho pra vocês, e ambos como manchete de jornal do Botafogo hahaha

Trilha:
https://www.youtube.com/watch?v=sBDLaAoXnQE



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– Ué, o Dinho não dormiu aqui? – Gil perguntou a Raquel, que punha a mesa para o café da manhã.

– Ele não dormiu no quarto da dona Paulina? – Raquel indagou.

– Não, eu dormi lá. Ele ia dormir no sofá, tá arrumado e tudo.

– Posso saber qual é o problema? – Lorenzo perguntou ao chegar à sala.

– O Dinho não dormiu nem no sofá, nem no quarto da dona Paulina. – Raquel explicou.

– O Dinho voltou com vocês? – O médico tentou raciocinar.

– Claro que voltou, ele não desgruda mais da Lia...

– Por falar em Lia... – Raquel sorriu sugestivamente.

– Você diz que eles...?

– Que ele está dormindo em um quarto. – Raquel afirmou categoricamente.

– Não! A minha Lia? Dividindo cama com o Dinho? Mais fácil ela ter atirado ele pela janela! – Lorenzo brincou.

– Não seja tolo, Lorenzo, eles andam cada vez mais próximos, ela não anda mais sem ele... Vai ver a Lia tava com medo e pediu que ele dormisse com ela. A Tatá dorme na cama do lado, eles não iam transar com ela ali.

– RAQUEL! – O homem interrompeu apressadamente. – O que eu fiz pra merecer isso? – Dramatizou.

– Lorenzo, você quer que eu veja se ele está ali? – Gil perguntou hesitante.

– Não, eu mesmo vou, obrigado, Gil. Ah, mas esses dois vão ouvir poucas e boas! – Lorenzo anunciou.

Caminhou a passos contidos em direção ao quarto das filhas. Não estava preparado para o que imaginava que veria. Abriu a porta lentamente, receoso. De fato, ali estavam. Dinho deitado sobre sua filha, para seu pavor. Aproximou-se em choque até poder ver melhor. Estavam vestidos. Sentiu-se aliviado, todo o medo de antes se transformando em risos abafados, logo interrompidos pela lembrança da posição em que estavam Lia e Dinho. Tatá avistou o homem parado ao lado da cama de sua irmã.

– Que foi, pai?

O som da voz da caçula acordou a mais velha, que se ergueu em direção ao corpo de Dinho, despertando-o. Desajeitado, Adriano girou para o lado, sentando-se ao lado de Lia na cama. Sem jeito, encararam o médico, arrancando risadas de Tatá, que entendia a situação pouco a pouco, conforme o sono a deixava.

– É... Eu posso explicar, pai. – Lia começou, observando a expressão do médico.

– Não rolou nada, doutor Lorenzo. – Dinho continuou.

– Vocês voltaram? – Perguntou sério.

– É... Bom, é... A gente... – Tentaram responder em uníssono.

– Deixa pra lá. Pelo menos vocês tiveram a decência de estarem vestidos. O café da manhã está na mesa. – Comentou sem rodeios. Quanto menos ficasse ali, melhor.

Tatá se aproximou do casal assim que o pai deixou o quarto.

– Podem começar a contar! Vocês voltaram, não voltaram? – Perguntou empolgada, pulando para a cama da irmã.

– A gente não voltou a namorar, se é isso que você quer saber, pirralha.

– Não voltaram a namorar... Isso quer dizer que rolou alguma coisa?

– Isso quer dizer o que isso quer dizer. – Dinho sorriu enigmático.

Irritada com os sorrisos cúmplices de ambos, Tatá insistiu.

– Então por que vocês dormiram tão abraçados?

– Tatá, você sabe como a Lia anda medrosa ultimamente, foi só isso. – Adriano riu, prevendo a reação da roqueira.

– Medrosa é a sua avó! – Defendeu-se. – Eu só estava me precavendo.

– Aham. – Dinho ironizou.

– E você tava com medo que alguém invadisse o nosso quarto pelo teto, por acaso, dona Lia?

– Sim, dona Constância, nunca se sabe! – A roqueira respondeu divertida, sem contradizer a desculpa anterior.

– Lia, o Homem-Aranha é do bem.

– É, mas o Dinho exagerou no ciúme. – Lia riu.

– Então vocês estão juntos?

– Você tá sentindo o cheiro de café, Dinho? Acho melhor a gente ir antes que esfrie. – Desconversou.

Puxou o garoto pelo braço apressadamente em direção à sala, passando aos risos por uma insatisfeita Tatá. Não mais, no entanto, que Gil ao vê-los saindo de mãos dadas do quarto.

– Resolveram continuar o que começaram? – Perguntou sarcástico.

– Não é da sua conta. – Dinho respondeu.

– Do que ele está falando, Lia Martins? – Lorenzo questionou desconfiado.

– De nada, pai, o Gil não está falando de nada em particular.

– Lia, o seu pai é lento, mas não é burro. Vocês estavam na mesma cama, obviamente. Aconteceu o que eu acho que aconteceu? – Raquel indagou.

– Eles estavam vestidos!

– Tatá! – Lia repreendeu, surpresa pela observação da caçula. – Não rolou nada, e eu não faço ideia do que o Gil está falando. – Completou, lançando um olhar irritado para o amigo.

– Então o que foi que aconteceu na festa de ontem? Quer dizer, estava boa? – Lorenzo tentou entender.

– Você é muito paranoico, Lorenzo. – Raquel criticou. – Como você se sentiu, Lia? Não teve nenhum ataque de pânico?

– Deu tudo certo, mãe. – Lia respondeu aliviada pela troca de assunto. – Ou melhor, tudo sob controle. – Levou a mão à cabeça com expressão de dor.

– Acho que entendi o que te tranquilizou. Dinho, você arranja um kit-ressaca pra sua namorada, por favor? – Lorenzo pediu.

– Ele não é meu namorado, pai.

– Você quer mesmo voltar a esse assunto? – O médico ironizou.

– Dinho, procura na segunda gaveta! – A roqueira pediu apressada, interrompendo o pai o quanto antes.

– Já vai, amor! – Brincou o garoto.

– Vai se...!

– Lia! – Lorenzo censurou.

– ... catar. – Completou com voz fraca, arrancando gargalhadas dos presentes.

– Só se for com você! – Gritou do balcão.

– Dinho! – Lia repreendeu vermelha.

– Opa, foi mal, família. A Lia é uma moça casta e virgem, desculpa.

– Adriano Costa, considere-se um homem morto! – Lia gritou da mesa.

– Se eu trouxer a cura para os seus problemas, marrentinha, você cancela a minha pena de morte?

– Talvez.

Dinho entregou o que lhe havia pedido, beijando o rosto de Lia em seguida, que sorriu discretamente.

– Você é muito abusado, mesmo. – Gil criticou.

– E você sempre morreu de inveja do nosso amor. – Lia entrou no jogo de Dinho, segurando a mão do ex e se sentando em seu colo.

– Gil, você cuida da sua namorada, e eu cuido da minha, pode ser?

Irritado, o grafiteiro desistiu. Não entendia como Lia conseguia entrar na onda de Adriano sem medo de se ferir. Talvez ainda não tivesse compreendido a dinâmica de ambos. Observava o garoto levar pedaços de frutas à boca da “namorada” e não conseguia entender como Lia conseguia se manter protegida de seus sentimentos por Adriano mesmo se comportando como um casal com ele. Tampouco compreendia como ambos sabiam os limites, como saberiam a que ponto encerrar a encenação, onde seria cruzada alguma linha. Talvez conseguissem por não serem um casal normal. Eram Lia e Dinho, voltando a um mundo interno desde sempre incompreensível aos olhos de terceiros.

–x-

– Você acha que eles vão voltar?

– Hein? – Bruno perguntou confuso.

– O Dinho e a Lia. – A irmã completou.

– Não sei, você os conhece como casal melhor que eu, mas depois do que rolou ontem... Digo, parece que a Lia tava bem consciente do que tinha feito, por mais... Bom, por mais inconsciente que estivesse.

– O que aconteceu entre a Lia e o Dinho? – Marta indagou.

– É... Nada! Nada, né, Bruno?

– Coisa de adolescente, mãe. Lia e Dinho sendo Lia e Dinho, desmedidos e inconsequentes, como sempre.

– Ô... – Juliana ironizou.

– Eles são sempre assim... Intensos? – Marta perguntou preocupada, terminando de tomar seu café.

– Intensos como a vida. – Bruno riu.

– Bom, nenhum namoro da Lia poderia ser normal, né...

– Ela e o Vitor pareciam bem normais. Conscientes, responsáveis... Ela voltou com o Dinho, foi?

– Ela e o Vitor eram normais até demais, e provavelmente por isso esse namoro não tenha resistido à volta do Dinho. A Lia não gosta de nada muito responsável. – Juliana riu. – E se ela voltou com o Dinho, acho que nem ela sabe. – Concluiu, respondendo sua própria pergunta de mais cedo.

– Uma pena. A Lia pelo menos tranquilizava o Vitor...

– Talvez, mãe, mas só o Dinho tranquiliza a Lia.

– Eu que não aguentaria ver a minha namorada com o ex em casa, entendo o Vitor perfeitamente! – Bruno comentou.

– Acho que mesmo que a Lia não estivesse dependendo do Dinho agora, o namoro com o Vitor não resistiria. A Lia e o Dinho... Bom, eu sou a prova viva de que nada impede aquele casal de acontecer, até contra a vontade deles.

– Nem com todo o público de ontem... – Bruno completou sugestivamente.

– Afinal, o que aconteceu ontem?

– Nada, mãe! – Responderam em uníssono.

Juliana se afastou da mãe em direção à porta, agradecida pelo sonar da campainha. Provavelmente estava vermelha pela amiga.

– Gil?! – Sorriu ao ver o namorado.

– Eu não tava aguentando mais um segundo vendo aqueles dois! – O grafiteiro reclamou.

– Como assim, Gil, o que aconteceu?

– Deixa eu adivinhar: Dinho e Lia. – Bruno suspeitou.

– Afinal, o que aconteceu para que eles sejam assunto de todos vocês assim? – A mãe dos Menezes cobrou impaciente.

– A verdade, dona Marta, é que eles tiveram uma recaída ontem e agora estão bancando o casalzinho só pra nos provocar.

– Como assim? Para e volta! A Lia e o Dinho de casalzinho? E provocar quem? Você ainda tem ciúme dela? – Ju cobrou.

– A Lia diz que eles não estão juntos, mas o Dinho, que nunca prestou, resolveu provocar o Lorenzo, e até a própria Lia, chamando ela de “amor”.

Juliana gargalhou. Um típico café da manhã com o casal mais polêmico do Quadrante. Marta, que pouco havia convivido com Lia na época do envolvimento maior com Adriano, divertia-se com a faceta por ela desconhecida do casal.

– Só que a Lia entrou no jogo dele e estava até agora no colo do Dinho! – Gil continuou, arrancando ainda mais risadas de Juliana e de Marta. – Eu não aguentei!

– Então eu deveria me preocupar com o seu ciúme, Gilberto? – Ju cobrou.

– Me admira você estar tão tranquila! Eu só me preocupo com a minha melhor amiga, ao contrário de você.

– Gil! – Juliana repreendeu divertida. – Relaxa, você se preocupa demais com a sanidade amorosa da Lia. Se eu bem conheço a minha amiga, ela não vai se deixar levar completamente até que esteja devidamente convencida das boas intenções do Dinho. Enquanto isso, deixa eles se divertirem!

– Desde quando você se tornou tão liberal? – Gil perguntou desconfiado.

– Foi o convívio com aqueles dois malucos. A Lia já está sofrendo demais, sem o Dinho seria pior. Eu sei o que faz a minha amiga feliz, por mais que ela mesma não admita, e eu também sei que o Dinho não vai falhar com ela de novo.

– Como você sabe?

– Porque eu sei. Porque eu sei mais que ninguém como ele olha quando só gosta de alguém, e como ele olha pra Lia, tanto que já sofri muito por essa diferença.

– E a traição?

– O Dinho podia estar até agora viajando o mundo e conhecendo todos os tipos de garotas que existem, ficando com uma em cada canto do planeta, mas ele preferiu voltar. Voltou sem promessas, com todo o dinheiro que conseguiu juntar, com um emprego improvisado e pra longe da família, podendo estar com eles em Miami. Você acha mesmo que ele veio só pra enrolar a Lia? Ele não é um psicopata, ele só erra, como qualquer um, mas ama a Lia como nenhum outro amaria. Ou você não acha que ele esteja se dedicando o suficiente pela felicidade dela? Ele vive naquele apartamento, de olho em qualquer sinal de insegurança da Lia, quando poderia estar com os amigos aproveitando o Rio de Janeiro. Ele encara cada surto e não sossega até acalmá-la. Me admira você, que praticamente está morando com eles, não saber. O Dinho veio com um só motivo, e agora está claro que não foi só reencontrar e reconquistar uma ex-namorada. Ele voltou porque não vive sem ela. E ela tampouco vive sem ele, ou você não notou como os olhinhos da Lia voltaram a brilhar, mesmo com toda a tensão inicial que rolou entre eles? O Dinho e a Lia foram feitos um pro outro, e eu cansei de lutar contra isso há muito tempo, já.


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