Quando Mais Precisava escrita por AnaMM


Capítulo 10
Sem Preocupações


Notas iniciais do capítulo

Ia postar ontem, mas deu erro :p aqui vai mais um capítulo grande que eu amei fazer.

Trilha sonora indicada:
http://www.vagalume.com.br/grouplove/tongue-tied-traducao.html
http://www.youtube.com/watch?v=JwB-iVAfnMo
"Festa do pijama" e final

http://www.vagalume.com.br/live/call-me-a-fool-traducao.html
http://www.youtube.com/watch?v=WO48FEOakow
Reflexão do Dinho e momento fofo lidinho

http://www.vagalume.com.br/birdy/skinny-love.html
http://www.youtube.com/watch?v=aNzCDt2eidg
Briga e pós briga



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Não haviam notado que a música acabara. Estavam perdidos em olhares, na sensação elétrica da proximidade de seus corpos. Não havia tempo, espaço ou população mundial para Lia e Dinho naquele momento.

Tatá e Ju pulavam do sofá para o chão, divertindo-se como duas crianças. Raquel surpreendia ao acompanhar a filha e Juliana. Era a primeira vez que aquele apartamento testemunhava uma Raquel tão livre e feliz desde que a médica voltara. Lorenzo sorria com a cena, esquecendo-se de seus dramas mais recentes. A atmosfera alegre do apartamento amenizou suas dores, mascarou seus problemas. Lia brilhava como em seus melhores tempos, Ju e Tatá gargalhavam pela sala, Raquel estava animada como a jovem mulher pela qual se apaixonara anos antes, Gil sorria pela primeira vez em dias, e Dinho fazia de tudo para deixar sua filha feliz. Era como o final de um livro. Estava tudo perfeito, e temia que acabasse cedo demais, da pior maneira.

– Essa noite, a gente dorme aqui! - Lorenzo anunciou.

Lia, Tatá e Ju comemoraram a permanência de Lorenzo e Gil no apartamento, e organizaram colchões pela sala, onde caberiam todos. O que agora havia se tornado uma festa do pijama seguiu pelo resto da noite, com mais músicas. Repertório de Tatá que Lia não contestou.

Fizeram brigadeiro, Ju e Gil namoraram escondidos nos quartos, Lia e Tatá se implicaram, Lorenzo e Dinho também. Era uma noite sem preocupações, como todos mereciam. Em determinados momentos, Ju e Tatá apontavam alguma aproximação entre Lia e Dinho e riam, empolgadas com o antigo casal. A roqueira e Adriano ou não notavam, ou fingiam não perceber. Estavam em uma órbita própria que não visitavam desde os tempos felizes de namoro. Ao sorriso de Lia na presença de Dinho, Lorenzo teve que se render. Temia o futuro, mas aquela era uma noite de alegria.

Sentados entre sofás e colchões, Dinho e Raquel compartilharam experiências de viagens.

– Um dia a gente vai viajar junto, marrentinha. - Dinho confidenciou já deitado em um colchão, acariciando o braço de Lia, que se acomodara ao seu lado, cabeça apoiada no peito de Adriano. - Como a gente combinou. Eu vou te mostrar cada lugar, cada experiência.

– Quem disse que eu vou querer viajar com você? - Lia retrucou.

– E quem disse que eu vou dar permissão? - Lorenzo questionou de outro canto da sala.

Todos riram. Certas coisas não mudavam nem mesmo na noite de trégua. Assistiam a um filme de comédia leve, que não remetia a nenhum drama, e Lia se distraiu com uma cena antes que pensasse em se afastar do ex para que não retomasse a ideia de reconciliação amorosa. Assim, permaneceu nos braços de Dinho.

Aos poucos, Lorenzo se retirou para um quarto, assim como Raquel e Tatá. Ju e Gil se acomodaram nos colchões ao lado dos que Lia e Dinho usavam. O ex-casal não saiu de onde estava. A roqueira havia caído no sono, e Dinho passara a maior parte do filme a observando. Estava onde devia estar, percebeu. De todos os lugares que conhecera, apenas ali, em um colchão na sala dos Martins, com Lia em seus braços, sentia-se completo, feliz. Nunca fora muito bom em saber quem e o que queria ser. Agora sabia: estava onde queria estar. Não precisava do mundo, apenas de Lia. Precisou conhecer cada canto do planeta em busca de uma resposta que sempre estivera em seu bairro. Jamais se perdoaria por tê-la perdido. Que tolo havia sido em pensar que outra mulher poderia ser como Lia. Ainda que estivesse na fase mais escura do namoro, ainda assim Lia Martins era incomparável, insuperável.

Agora sabia, e jamais cometeria o mesmo erro. Estar com Lia lhe bastava. Se pelo menos ainda pudesse consertar... Talvez fosse tarde demais para recuperá-la. Sendo assim, aproveitaria cada momento como se fosse o último. Que aquela noite durasse para sempre, era só o que queria para o resto de sua vida: estar abraçado com uma Lia serena sob a luz do luar. Sentia-se pleno.

–x-

O dia amanheceu no apartamento da família Martins, e pouco a pouco seus habitantes e visitantes acordaram. Lorenzo sentiu um incômodo ao ver sua filha dormindo abraçada com Dinho, porém não interviu. Sua filha parecia tão tranquila... E precisava trabalhar. Tentou pegar algo para comer no caminho sem fazer barulho e saiu. Raquel acordou, vislumbrou a cena e partiu logo em seguida. Ju e Gil foram os seguintes. Juliana acordou e deu de cara com a cena do ex-casal. Sorriu e cutucou o namorado em silêncio, porém empolgada. O grafiteiro não gostou da imagem tanto quanto a it-girl, mas não a contrariou. Tatá apareceu na sala pouco depois, sendo calada por Ju ao quase gritar em comemoração por ver sua irmã dormindo abraçada com o "grande amor de sua vida", como rotulava a menina. Emocionada, Tatá tirou fotos com seu celular e acordou o casal cantando.

Lia e Dinho dormindo em um colchão, tiveram muitos filhos e a marrenta disse não. Mas não importa, o Dinho disse sim, dobrou a marrenta e nasceu o Serafim!

– Cala a boca, pirralha! - Foi a primeira manifestação de Lia ao acordar com a musiquinha.

Para provocá-la, Adriano beijou o rosto da ex, abraçando-a por trás novamente. Apesar de Tatá e Ju terem adorado a cena, a ação "fofa" de Dinho resultou em uma cotovelada da roqueira, que se levantou e foi até a cozinha.

– O que vocês querem comer? - Perguntou com uma caixa de cereais em uma mão e um pacote de pães em outra.

– Você. - Dinho respondeu inocentemente.

– Dinho! - Lia exclamou possessa, enquanto os outros gargalhavam, e Ju tapava os ouvidos de Tatá com as mãos, para que a menina não escutasse o que não deveria.

– Sai, Ju! Eu já tenho 13 anos, pra sua informação.

– Isso aí, Ju, a Tatá já tem até namoradinho! - Brincou Gil.

– Fez bem, Ju! A dona Constância não deve ser influenciada pelas palavras desse indecente! - Lia concordou.

– Você gosta... - Dinho sussurrou. Foi quando a roqueira percebeu que ele havia se aproximado novamente.

– O que você tá fazendo aqui na cozinha? - Lia questionou incomodada.

– Vim te ajudar a preparar o café da manhã, não posso? - Adriano respondeu piscando para a ex. - Então, Lia, qual vai ser o X-quase-tudo de hoje? - Perguntou do balcão da pia, onde a roqueira havia organizado ingredientes disponíveis.

Pararam o que faziam por um instante, a lembrança da madrugada na casa de Adriano vindo à tona. Eram felizes e não sabiam. Ambos dariam tudo por ter aqueles momentos de volta, porém "tudo" não era o suficiente para Lia. Sua confiança havia sido severamente abalada. Percebeu que, naquela época, Dinho já estava mentindo. Afastou-se da cozinha de repente, sem dizer uma palavra, e se retirou para seu quarto. Percebendo a mudança brusca, Ju acompanhou a amiga, deixando Tatá e Gil confusos na sala e um perturbado Dinho na cozinha. Adriano sentia saber o motivo da mudança. Era o perigo das antigas lembranças, e sabia melhor que Lia a sequência de fatos. Era o fantasma de Valentina novamente. A roqueira havia juntado os pontos.

–x-

– Lia... - Juliana se aproximou da melhor amiga, que chorava contra seu travesseiro.

– Como eu pude ser tão burra? - Exclamava. - Me deixando levar assim, como se nada tivesse acontecido, sabendo que ele vai me trair com a primeira gringa desgraçada que aparecer?! - Berrava entre lágrimas.

–x-

Cada palavra que Adriano escutava ser gritada do quarto era uma punhalada. Como pôde ser tão ingênuo? Sua felicidade plena da noite anterior jamais seria possível. Estragara tudo.

– Você errou feio, Dinho. É esse o preço. A Lia não é boba, não. - Criticou Gil.

– Agora não, ok? Agora não... - Adriano implorou, sentando-se no sofá com a cabeça escondida em seus braços.

– Não tem como consertar. Eu sempre soube que acabaria assim, esse é você. Agora a Lia sabe. - O grafiteiro acusou severamente.

Incomodado, Dinho arranhou a própria cabeça com força. Cada palavra de Gil era uma tortura.

– Ela nunca vai te perdoar, e com razão.

Os olhos de Adriano começaram a se avermelhar. Transtornado, balançava o corpo tentando ignorar as palavras de Gil, que as repetia e repetia e repetia. Enfim o despertaram do transe. Era Lia batendo a porta do quarto e marchando decidida em direção a Dinho, após desabafar por quase uma hora com Juliana.

– Seu merda! - Gritou. - Cômo você pôde, seu canalha? Eu era feliz com você! Eu abaixei a minha guarda, me permiti amar, me permiti viver, e você... Você triturou os meus sentimentos, cada pedaço de mim! Me humilhou na frente do colégio inteiro! Filho da puta, idiota, imbecil! - Desabafou furiosa, alternando socos contra o peito do ex-namorado, consumida pelas lágrimas.

– Me bate! Continua! Mais forte! - Dinho gritou, também exausto pelas palavras que escutara por quase uma hora de Gil. - Eu mereço! Eu estraguei a minha e a sua felicidade, ferrei com a minha vida e destruí a única relação que fazia eu me sentir pertencente a algum lugar! Me bate! Me castiga como quiser! Vem, Lia! - Adriano implorou alterado, conforme a roqueira atacava fisicamente o ex.

Lia acatou os gritos embargados de choro do aventureiro. Chutes, tapas, socos, choro. Muito choro, dos dois lados. Ju, Gil e Tatá assistiam à cena em choque.

– Tatá, eu acho melhor você sair daqui. - Ju sussurrou, mas a menina sequer se mexeu. Estava em choque, hipnotizada pela cena, ela mesma tendo o rosto encharcado por lágrimas de tristeza e de medo.

– Não mata ele, Lia! Pessoas erram, e vocês se amam! - Tatá gritou, na esperança de um final feliz.

A roqueira não parou o que fazia, mas sentiu um nó na garganta. Queria tanto que a vida fosse simples como a caçula enxergava... O que mais queria era poder confiar em Dinho como Tatá confiava. Adriano deixou uma lágrima escapar. Uma de várias, mas uma de Tatá. O apoio inocente da menina o comovera, aliviando sua dor por um momento.

Estava já com ferimentos em seu rosto quando a situação se alterou. Exausta, Lia caiu no mesmo colchão onde haviam dormido, lembrando-se por um momento do que sentira à noite.

– E mesmo assim, - A roqueira se acalmou aos poucos, com Dinho também destruído ao seu lado no colchão. Ju e Gil haviam deixado a sala com Tatá após a manifestação desesperada. - mesmo sendo quem mais me faz sofrer, - Lia controlou a respiração. - você é o único que me faz tão feliz, tranquila e segura como essa noite. - A loira completou contornando o rosto vermelho de Dinho delicadamente com os dedos. - Por que a gente é assim?

– A gente não é assim, Lia. Eu que sou um idiota imaturo, como você diz. - Dinho respondeu triste, beijando a mão que o afagava.

– Não é verdade... - A roqueira admitiu, surpreendendo Dinho. - Eu também sou uma idiota imatura que fez da sua vida um inferno.

– Lia, você nunca... A minha vida jamais seria um inferno com você. - Respondeu com a voz falha.

– Eu descontei toda a minha frustração por outros problemas da minha vida em você, coisas pelas quais você não tinha culpa. Eu insisti tanto que você fosse o culpado por aquilo, que você acabou realmente sendo.

Estavam novamente deitados lado a lado, Adriano levemente inclinado sobre Lia, que levava novamente a mão à cabeça de Dinho, agora acariciando os cachos que tanto lhe fizeram falta durante a ausência do ex.

– Você ficou com a Valentina porque eu te afastei, e mentiu porque sabia que eu te mataria. - Lia riu, arrancando um sorriso divertido de Dinho.

– Não é verdade.

– Eu te mataria, sim, não duvide. - Lia respondeu séria, fazendo Dinho rir.

– Com certeza, mas não é verdade que foi culpa sua. Eu não devia ter ficado com ela, muito menos te enrolado. Eu sabia que era de você que eu gostava, e fiquei com ela por capricho. Eu fui idiota. Muito idiota. Pode continuar me batendo se quiser! - Adriano ofereceu sorridente, embora ainda estivesse se recompondo do choro seguido de estouro.

– Tem certeza? Acho que já fiz um bom trabalho te destruindo por hoje. - Lia sorriu desafiadora.

– Marrentinha, desde quando nós somos de um round só? - Vermelha, Lia concordou com a constatação de Adriano.

Dessa vez, atacou-o de outro jeito. Cócegas inauguraram o segundo round, ainda no colchão, fazendo com que Dinho se levantasse para escapar. Lia o perseguiu pela sala alternando cócegas e tapas e chutes, como uma criança brincando de lutinha. Estavam leves novamente e gargalhavam pelo cômodo, chamando a atenção de Ju, de Gil e de Tatá, que voltaram do quarto onde estavam. Juliana aproveitou para abrir a porta, enquanto Gil se divertia vendo Dinho apanhar e Tatá gritava na torcida.

Eram os pais e o irmão de Ju, assustados com os gritos que haviam escutado de seu apartamento. Ao entrarem, no entanto, deram de cara com Lia derrubando Adriano em um colchão, sentando-se sobre o corpo estatelado do garoto e o esbofeteando com um sorriso vingativo no rosto. Para confundir a família Menezes ainda mais, Dinho parecia estar se divertindo. Gargalhava, apesar dos hematomas no rosto.

Ao perceber o público que se formara, Lia parou onde estava, constrangida pela cena, ainda que não conseguisse controlar o riso. Aproveitando a distração da loira, Dinho ergueu o tronco e beijou a ex-namorada no rosto, quase na trave. Rápida, Lia deu um último tapa no garoto em resposta. Adriano voltou a cair contra o colchão, desequilibrado e exausto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo ^^ Surtos, críticas e sugestões ali embaixo no quadrinho pra comentar ^^ bjssss