Estava em meu quarto como sempre sentada na cama escutando Winged Skull.

Nathaniel havia colocado pra mim, ele sempre comprava uma variedade de CDs e Livros pra mim. Ele colocava as músicas quando eu pedia e lia livros pra mim.

Não sei como ele tinha tanta paciência.

Eu não enxergava, precisava de ajuda. Ajuda. Isso era uma coisa que eu nunca pensava em pedir antes para ninguém.

Exceto para meus pais, quando eu fazia alguma besteira ou precisava de mais dinheiro.

Desde o acidente eu me sinto miserável

Se eu não fosse daquele jeito meus pais estariam vivos...

When you feel you're alone

Cut off from this cruel world

Your instincts telling you to run

Listen to your heart

Those angel voices

They'll sing to you / they'll be your guide back home

When life leaves us blind

Love keeps us kind

It keeps us kind

Ouço alguém batendo na porta, pego a muleta e me direciono até ela.

– Boa Tarde Angel -Reconheci a voz, era de Nathaniel. Era tão agradável, me acalmava, me atraía. Antes eu faria de tudo pra ficar com ele. Mas agora vejo que não mereço nada, não mereço amar e ser amada, não mereço a vida. A Vida, quantas vezes já tentei tirar minha vida? Mas sempre alguém me impedia. Nathaniel, minha avó ou até mesmo um dos empregados.

– Boa Tarde -Respondo friamente.

–O Almoço esta pronto. Vamos almoçar lá em baixo hoje? Elizabeth não esta.

–Por que ela não esta?

–Tinha esquecido de te falar, ela precisou viajar e não quis me falar o porque.

–Mas ela não me falou nada!

–Ontem ela veio aqui no seu quarto... e... você meio que... expulsou ela daqui.

–Ah... ér, tudo bem.

–Mas e você vai descer comigo?

–Não.

–Vamos, você precisa sair desse quarto!

–ta ta!

Sai do quarto, só quando peguei no corrimão da escada percebi que tinha esquecido a muleta.

Nathaniel parecia estar alguns degraus abaixo de mim, pelo som da sua voz.

–O Que foi?

–Esqueci a muleta.

Houve um silêncio por um tempo, depois senti alguém pegar na minha mão e passar um braço em minha cintura.

Senti uma coisa estranha e meu rosto esquentando. Droga!

–Eu te guio... -Ele sussurrou em meu ouvido. Aquele garoto queria me matar é?

Ele me acompanhou até à mesa. Pelo cheiro, o almoço era espaguete.

Terminei de almoçar e já me levantei por impulso, não gostava de ficar em um lugar diferente do meu quarto por muito tempo.

–Ei! -Nathaniel me chamou.

–O Que foi? -Ele não respondeu

Senti ele segurar minha mão e novamente passar os braços em minha cintura. Mais eu não precisava de tudo isso! Não que fosse ruim...

–Por que você esta fazendo isso?

–Você não pode andar sozinha sem muleta pela casa, e eu quero te levar até o jardim.

–Mas eu já sai do quarto hoje! Eu quero subir.

–Por favor. Eu quero te mostrar uma coisa -Ele se aproximou do meu cangote.

–O-Ok.

–Depois eu leio para você.

Eu inesperadamente sorri. E Desmanchei o sorriso na mesma hora.

Tenho a leve impressão de que ele sorrio também, pelo som de sua respiração.

Senti o vento em meus cabelos, senti como se estivesse à anos presa e saído somente agora.

Senti alguém pegar em meu rosto, era Nathaniel. Ele levou alguma coisa para perto do meu nariz.

Tinha um cheiro maravilhoso.

–É uma rosa -Ele falou quebrando o silêncio.

–Tem o cheiro bom...

–Aqui tem vários tipos de flores, um balanço é lindo.

–É... -Fiquei cabisbaixa, as palavras "lindo" "bonito" "feio" não faziam mais sentido pra mim, eu não enxergava.

–Você enxerga mais do que as pessoas que possuem visão.

–O Que?

–As pessoas hoje em dia são fúteis, perdem sua inocência cedo, só veem o que há no exterior.

–Mas eu era assim...

–Não Angel, você nunca foi assim. Você só queria chamar atenção, mas nunca fez mal a ninguém!

–Eu fiz mal ao meus pais! Eu fiz mal à mim mesma! -Gritei

–Você não foi culpada de nada...

suspirei

–Vamos subir.

–Ok... Me desculpe. Mas você devia se preocupar menos.

–Não posso...

Já estava no meu quarto, toda noite Nathaniel lia pra mim, eu devia ser pra ele como uma criança...

Ouvi um pouco de música e decidi dormir, ou melhor tentar dormi.

A Porta rangeu, alguém devia ter aberto ela. Continuei com os olhos fechados.

–Angel? -Não respondi

Senti uma respiração bem próxima de mim, e depois alguém colando seus lábios nos meus.

Era Nathaniel, tinha certeza! Por que ele fez isso?

Foi apenas um selinho, mas teve um grande impacto para mim

Eu não queria sentir mais nada por ninguém e ele ainda faz isso.

Eu continuei com meus olhos fechados como se estivesse dormindo.

–Queria te dizer tanta coisa, pequena. -Ele falou. Como assim?

–Mas você não entenderia... -Continuou

Em seguida a porta se fechou, ele devia ter saído do quarto.