E lá estava ele, do outro lado da grande mesa de carvalho. Cintilando em minha sala de jantar, eu podia sentir seu aroma mesmo estando consideravelmente distante. Nem os pratos, cuidadosamente preparados, conseguiam amenizar seu aroma adocicado e hipnotizante.

Will Graham era de fato uma grande fraqueza, uma grande curiosidade. Seus olhos, sempre se desviando dos meus, como se tivesse medo que eu o hipnotizasse. Aquilo era torturante, no entanto, eu continuava á fita-lo com diversão no olhar.

Ele, que desviava o olhar frequentemente, parecia se sentir incômodo. Seu maxilar estava visivelmente tenso, e suas mãos tremiam de leve. Ansiedade. O pequeno e frágil Will, sempre ansioso, sempre tenso. Na minha percepção, aquele homem não tinha seu descanso, sua alma estava tão anciã quanto a minha.

Eu entendia completamente a loucura de Will, ele estava se transformando em um monstro. Jack Crawford e ele poderiam discordar, mas estava explícito em suas feições cansadas, que Will já não era mais o humano normal de sempre.

Continuava apesar de tudo, frágil. Seus olhinhos marejados em nossas consultas, como se pedissem “Pelo amor de Deus, me ajude, Doutor”. Ah eu sonhava com aquelas íris verdes cintilantes, que me despertavam dos maiores devaneios. Will Graham estava se transformando em um monstro e juntamente, me transformando em humano.

Difícil era conviver com as reações físicas que o Investigador me provocava. Há décadas não sentia o coração na garganta á não ser por exercícios físicos. Will Graham estava me deixando mais insano do que já fui algum dia.

E eu tinha aquela necessidade... De devorá-lo. Não no sentido literal, apesar de que seria interessante, julgando pelo aroma suculento que exalava do menor. Mas eu queria devorar sua alma, primeiramente. Não poderia, não conseguiria descansar sem ao menos pensar em dilacerar sua alma por inteiro.

Seus lábios doces. Sua pele gélida. Seus olhos cintilantes. Seu rosto de feições finas e delineadas. Will Graham era uma refeição e tanto, com a alma tão grandiosa, antiga, cheia, pura. Com o corpo tão esguio e apetitoso.

Meus lábios salivaram, e não por causa do prato devidamente preparado em minha frente.

– Algum problema Doutor? – Disse Will, estranhando meu fitar fixo nele.

Sorri bem humorado e direcionei meu olhar para o prato, ignorando Will.