Acordei com aquela maldita gaita de fole. Pera aí! Eu não moro mais na Irlanda!

Saí correndo do meu chalé, Charlotte estava tocando o instrumento bem na porta. E como ela tocava mal...

–- E aí? Gostou da surpresa?

–- Eu vou te matar Charlotte Breakinglaw!

Comecei a correr atrás da garota, e como ela é rápida! Logo eu me cansei e despenquei no chão, detalhe, eu estava há somente três metros do anfiteatro.

Charlotte ria como louca ainda segurando a gaita de fole. Eu vou matar essa garota! Vários campistas começaram a nos olhar curiosos, pude ouvir até alguns risinhos vindos de umas filhas de Afrodite. A loira me ajudou a levantar ainda rindo.

–- Téigh go dtí Hades a soith!

–- Isso foi irlandês? – Charlotte me encarou com a sobrancelha erguida.

–- Ar ndóigh, bhí sé Irishman! Shíl mé go raibh sé cad é? Spáinnis?– Minha amiga sorriu e revirou os olhos.— Tá, parei...

Depois de voltar para o meu chalé e me trocar, eu e Charlotte fomos para o pavilhão do refeitório tomar café. Eu me dirigi para mesa dezenove enquanto Charlotte ia para a mesa onze, a mais cheia do lugar. A minha mesa não é muito cheia, além de mim só tem mais três filhos de Tique no acampamento.

–- Então, dormiu bem? – Milena, minha meia-irmã, tirou os olhos de seu sanduíche por alguns segundos.

–- Sei não, a Charlotte me acordou com aquela cac de gaita de fole de novo.

–- Você tem que parar de xingar as coisas em irlandês... Assim ninguém entende o que você fala!

–- Mas isso é o legal. Assim também ninguém sabe o que eu falei e não pode falar que eu xinguei ela. Por exemplo, eu posso chamar aquele garoto ali de álainn e ninguém sabe se eu xinguei ele ou elogiei. – respondi apontando para um gato da mesa de Apolo.

–- Querida, não tem como você xingar de feio uma pessoa da mesa de Apolo, obviamente você chamou ele de lindo.

–- Para falar a verdade foi exatamente o que eu disse, só que os irlandeses trocam “lindo” por “belo” na tradução... – sussurrei para mim mesma, obviamente, Milena ouviu.

–- Há! Não falei? – revirei os olhos...

Voltamos a comer nosso café da manhã que eu finalizei com um maravilhoso strudel de maçã. Não conversamos durante o café visto que para a Milena se você a incomoda enquanto está comendo é um bilhete direto para o Tártaro. Como era natural, o resto dos meus meios-irmãos estavam na outra ponta da mesa conversando sobre qualquer coisa nada importante para a minha pessoa. Char (como eu gosto de chamar a Charlotte quando não estou irritada) fazia planos com seus meios-irmãos para alguma pegadinha e da mesa de Afrodite vinham os intermináveis risinhos idiotizados, com exceção da Piper e de uma garota que eu não conheço todas estavam dando aqueles malditos risinhos. A garota desconhecida lixava as unhas sem nenhum interesse na conversa e de vez em quando trocava algumas palavras com a Piper, nada demais. Então eu vi o que estava no prato da garota, a refeição mais gordurosamente maravilhosa que uma filha de Afrodite pode desejar, a garota estava comendo morangos com chantilly e nutella! Assim que Drew viu o prato da garota deu um belo de um sermão que por causa do barulho do refeitório eu não pude escutar uma só palavra, o máximo que eu pude perceber foi a total ignorância as palavras de Drew que a garota mostrou. Por alguma razão agora tenho uma simpatia pela desconhecida...

O resto do dia foi cansativo, aulas de arco e flecha, luta na arena e um pouco de basquete (obviamente o meu time ganhou). No final do dia dei uma passada no bosque para ver Dílis, minha jaguatirica de estimação. Ela tinha um pássaro morto na boca, mas assim que me viu soltou-o e deu um pulo caindo em meus braços e me lambendo com sua língua felina.

–- E aí como vai garota? – disse enquanto acariciava o seu pelo macio. Sentei-me na relva enquanto Dílis deitava ao meu lado com a cabeça apoiada em meu colo. – O que você acha de nós caçarmos alguns patos para você? – A jaguatirica levantou e nós duas começam,os a caminhar pela floresta a procura de aves. Acho que fiquei ali um bom tempo por que só saí de lá na hora da fogueira, que foi quando os espinhos da minha zarabatana acabaram e Dílis não aguentava mais comer aquelas aves.

Caminhei calmamente pelo acampamento com Dílis ao meu lado roçando em minha perna direita. Quando cheguei à fogueira a maior parte dos campistas já estava lá. Sentei ao lado de Charlotte, seu guaxinim, Zorro, estava deitado do seu outro lado, eu aprendi da pior maneira possível que não se deve sentar perto dele quando se está com alguma coisa valiosa, ainda me arrependo daquilo, meu cabelo nunca mais foi o mesmo...

Dílis deitou-se entre eu e Char, pelo menos ela não é antissocial e aceitou um carinho da filha de Hermes, logo os campistas de Apolo começaram a cantar algumas músicas de acampamento e a jaguatirica resolveu ficar mais perto da fogueira. A mesma estava dourada e alegre, aquele foi um dia bom...

De repente um grito. Segundos depois um campista de Ares apareceu com uma garota semiconsciente nos braços.

–- Encontrei ela na orla da floresta desse jeito, alguém pode me ajudar?

Will Solace se levantou e meia dúzia de campistas de Apolo levaram a garota para a enfermaria deixando o campista de Ares de mãos vazias. Todos voltaram para seus chalés e com certeza ninguém dormiu bem essa noite...