O inverno havia chegado e com ele o agradável clima frio, tão esperado por Nico di Angelo, o amargo adolescente magrelo, dos cabelos negros caindo-lhe aos olhos, do olhar de desprezo e do sorriso zombeteiro, sempre presunçoso e irritante.

Era assim que sua irmã o descreveria se ainda pertencesse a esse mundo e o visse daquela forma. Mas era certo que se ela ainda estivesse entre nós, as atitudes do garoto não seriam essas, aliás, ele havia se tornado o que era hoje em dia por perder quem ele mais amou em toda vida, sua querida e tão amada irmã, Bianca di Angelo.

Desde que perdeu Bianca, Nico nunca mais foi o mesmo garotinho brincalhão e ingênuo que colecionava esculturas e cartinhas de deuses mitológicos, muito pelo contrário, ao descobrir ser filho do poderoso Senhor dos Mortos, Nico usou todos seus poderes herdados do pai ao seu beneficio, em primeiro lugar, tentou a todo custo trazer sua irmã de volta a vida, porém não obteve êxito, Bianca recusou-se a voltar, o que deixou Nico ainda mais frustrado e decidido a ser o que ele era. Um nada.

Aos dezesseis anos de idade, via-se completamente perdido, não tinha uma família, não tinha amigos, não tinha um lar e muito menos alguém que pudesse ao menos contar. Ele não tinha ninguém.

Porém Nico conheceu uma jovem garota, seus olhos verdes brilhavam sempre que ele lhe dirigia a palavra, os cabelos azuis encaracolados o faziam lembrar-se de um pequeno carrinho de brinquedo que tivera na infância, foi presente de sua irmã morta e o jovem amargo jamais esqueceu aquele dia nada especial, porém que lhe ficou na memória.

— Nico — sorriu a irmã animada carregando um pequeno embrulho em mãos. — Trouxe um presente para você, afinal não é todo dia que alguém faz dez anos, não é mesmo?

O garoto pegou animado o pacotinho, jurando que encontraria uma mini escultura grega ou algumas cartas para seu jogo mitomagia e decepcionou-se quando percebeu um pequeno carrinho azul dentro do embrulho mal feito.

— O que é isso? — indagou o pequeno Nico olhando nada entusiasmado para o carrinho.

— Ué Nico, é um carrinho de brinquedo! — animou-se Bianca. — Você só coleciona essas coisas de deuses, decidi mudar um pouco, e aí, gostou?

O entusiasmo da jovem Bianca morreu quando seu irmão atirou o carrinho dizendo que aquele havia sido o pior presente que já recebera.

Porém Nico jamais imaginara naquele momento que este seria o ultimo presente de sua irmã para ele.

O que teria feito se soubesse?

Provavelmente nada, Nico era uma criança, embora sempre fora muito esperto, não agiria muito diferente.

Nico sentou-se, estava no Central Park, havia combinado um encontro com Louise, a jovem dos cabelos azuis que lhe causava os suspiros mais sinceros. Combinaram de fugir, juntos construiriam uma família e ficariam longe de tudo que os fazia mal, os pais dela, a vida medíocre dele...

Enquanto esperava ansiosamente por Louise, Nico pensou em Bianca, pensou em como ela reagiria se soubesse os planos dele, se soubesse que ele pretendia fugir com uma jovem que mal conhecia.

— Você não vai fazer isso Nicolas di Angelo! Eu o proíbo! — diria uma Bianca completamente furiosa com uma das mãos na cintura e a outra com o dedo indicador apontado para a face do irmão. — É só um rabo de saia! Você não fará isso, só por do meu cadáver. — Nico riu sarcástico da comparação inventada em sua mente, pois em outras palavras, sua irmã já era um cadáver.

Pensou em como ela reagiria quando ele contasse que tinha uma namorada, ou que estava amando alguém, como sempre fora muito ciumenta, provavelmente Bianca não gostaria muito da ideia.

Pensou também no que ela diria quando ele lhe contasse que pretendia se casar, em formar uma família com sua amada.

Quando lhe contasse que iria ser pai.

Pensou em como seria bom ter sua irmã mais uma vez consigo, em abraça-la, dizer a ela o quanto a amava, o quanto ela era importante em sua vida.

Pensou em como seria bom pedir um conselho a ela ou discutir coisas bobas e depois dar risada de tudo. Brigar com ela e a ver o ignorando por horas, depois o abraçar e o coloca-lo para dormir.

Ficou ali, por horas pensando em Bianca, até que se deu conta que Louise não havia aparecido.

Refletiu por horas até que por fim, chegou a uma triste conclusão.

O real é que as pessoas nem sempre precisam estar mortas para lhe abandonarem.

Levantou-se do gramado do gigantesco Central Park, despediu-se dali, do amor a Louise, das lembranças de sua amada irmã Bianca e seguiu adiante.