Zona - A última gota escrita por Ricardo Demétrio


Capítulo 5
Capítulo quatro - Olhos vermelhos




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Capítulo quatro – Olhos vermelhos


 

26 de fevereiro de 2015 - Quinta-feira (Vinte dias antes do encontro entre Oliver e Walls)


 

- Phileas? - Repetiu Mickey, distraído. Oliver contara tudo o que aconteceu em seu encontro com Phileas, um tanto receoso. - Ele costuma fazer esse tipo de coisa. - Concluiu, despreocupadamente.

- De que lado ele está? - Oliver andava um pouco insatisfeito com as respostas vagas que recebia.

Mickey estava quase sempre sentado sem fazer nada em sua casa embora parecesse sempre estar atento a tudo o que acontecia ao seu redor. Ainda assim, Oliver não o considerava uma boa pessoa para segredar, ele sempre ouvia mas nunca dizia o que aquilo significava. Comparado ao primeiro encontro dos dois, Oliver sentia que pouco ou nada havia mudado.

- Ele falou sobre os olhos vermelhos, não? É uma seita. - Falou Mickey, após algum tempo refletindo.

- E isso significa...?

- Que você tem mais inimigos do que o seu caderno roxo pode contar, uma vez que eles mostram apenas os que são como nós. Por mais surreal que seja, Phileas é um ser humano comum. - Ele sorriu. Um sorriso cansado que combinava com a sua aparência melancólica. Ultimamente seus cabelos estavam menos rebeldes e a sua aparência mais desleixada do que nunca. Oliver se perguntava o que ele andava fazendo quando não estavam reunidos. - Mas esqueça isso por enquanto. Phileas é uma espécie de messias para os fanáticos, não é bom bater de frente com ele agora.

Oliver agora lembrava-se de algo. Mickey realmente tentava a todo o custo deixá-lo de fora do que quer que fosse. “Essas partidas são tradição entre os olhos vermelhos. É uma boa história, Mickey poderia lhe contar, se tiver tempo.”, Phileas havia dito. E ele não esquecia como Mickey valorizava o jogo :

- Mickey. - Oliver passou a mão na própria franja, um pouco desconfortável. - Por que você sabe tanto? Por que o Phileas sabe sobre você e fala de você como se o conhecesse?

O homem suspirou. Agora parecia mais velho e doente do que nunca. A sua barba, Oliver notava, estava crescendo e ele parecia não fazer menção de se livrar dela. Mas ainda era Mickey, ainda tinha o peso dos planos que propusera para Oliver ainda que guardasse segredos deste. Mas não dessa vez :

- Religião não combina muito comigo, mas poder sim. - Ele se levantou e passou vagamente a mão pelos cabelos loiros de Oliver. - Você parece com o seu pai. Eu queria ser rico, droga, viver bem. Eles prometeram que isso, como você diz...?, que essa Zona seria boa para mim. Eu me assustei quando vi o que era realmente aquilo. Você também viu o inferno que é. Eu sequer poderia me aproximar das pessoas ou de qualquer coisa sem destruir ela.

- Você não tinha controle, fugiu. - Comentou Oliver, lembrando de quando Mickey lhe dissera para não usar isso sem que ele ordenasse. Evitar chamar a atenção, já que ele nunca havia feito parte da seita, o rosto de Mickey, no entanto, já era reconhecido. Reparou nos seus cabelos que sempre pareciam ser guiados pelo vento e viu como a maldição o consumia, por mais que ele não a estivesse usando, ela o usaria. Então ele finalmente entendeu o que diferenciava ambos. - Mickey, você está morrendo!

Ele assentiu, como se Oliver houvesse afirmado que o céu estava nublado :

- Eu também ainda não sei o que é isso, mas não morrerei tão cedo. Você pode escolher entre se tornar como eu ou viver uma vida um pouco atribulada, com um assassino diferente na sua porta a cada dia.

- Ou eu sou assassinado, ou sou consumido vivo. Boas escolhas. - Concluiu, desanimado, antes de puxar mais uma recordação. Molly dissera antes do jogo começar, e ele não havia lembrado até agora. - Phileas faz faculdade de teatro.

- E daí...? - Mickey ergueu uma sobrancelha, com um pouco mais da vivacidade que lhe era comum. Elizabeth Ries, uma detetive que ele conhecera, estava preparando uma apresentação teatral no dia em que ele quase foi morto. E se...? Oliver encaixava os pontos agora, como só ele era capaz de fazer :

- Robert. - O amigo loiro de Elizabeth que conspirava para o matar ainda atormentava seus pensamentos, contudo ele agora afirmava : - Podemos pegá-lo, Mickey.

Mickey era cético para diversas coisas então se limitou a desencorajar o que Oliver dizia :

- Robert não seria como o Eduard. Ele não vai simplesmente se revelar atirando facas em você. A fins de comparação, Robert seria um cavalo enquanto Eduard não passaria de um peão.

- Ele é apenas um. - Contrapôs Oliver, sentindo-se menos humano enquanto sua mente progredia no plano que pretendia tomar. Ignorou a incômoda sensação de que faria algo errado, matar seria realmente tão difícil? - Além disso, eu tenho uma ideia. - Ele puxou o celular do bolso. Havia salvo o telefone de Elizabeth ainda que não pretendesse ligar, mas agora isso seria útil.

- Que tipo de ideia? - Perguntou Mickey, curioso, esgueirando-se para ver o que a tela mostrava.

- Usaremos uma isca. - O relacionamento entre Elizabeth e Robert era duvidoso, contudo, ele a chamava por um apelido e eles pareciam íntimos o suficiente para um responder ao chamado do outro. Se ela fazia parte da seita ou não, se possuía zona ou não, ele agia em função de um fim.

Você os vê como humanos ou objetos?”, ele surpreendeu a si mesmo pensando. Olhou para Mickey, parecia menos humano do qualquer pessoa que ele já houvesse visto, e a própria personalidade não ajudava. Pensava o que o tempo poderia ter feito para transformar alguém em uma pessoa tão fria e sarcástica. Ajudar Mickey ao invés de Elizabeth? E se as aparências enganassem, afinal?

Uma certeza encheu seu peito, encorajando-o em sua decisão : Molly. Molly não era como eles, não tinha tais preocupações e seu maior pecado teria sido se envolver com alguém marcado por um fardo. Certamente ela não merecia conhecer pessoas tão desumanas. Phileas ingressara na faculdade com essa intenção?

Xeque-mate ou não, o triunfo final será meu. Refém por refém.”, com uma ferocidade fora do comum, seu olhar encontrou o de Mickey. A linha que traçava os seus planos chegou ao final, como em uma partida de xadrez, sentiu-se muitos lances adiantado prevendo o desfecho favorável que se seguiria. Oliver até se permitiu uma sombra de sorriso, trocara os ideais pela perfeição.


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