Ao entrar no time de basquete, eu logo percebi que as coisas mudaram. Não mudaram drasticamente, mas em coisas inicialmente pequenas.

Por exemplo, agora era frequente que algumas garotas o parassem para puxar conversa pelos corredores, mesmo que não tivessem um assunto realmente bom para falar. Os professores subitamente decoraram o meu nome e até pessoas que ele não fazia ideia de quem era o cumprimentavam pelo colégio.

A única coisa que mudou realmente foi a sua relação com o time de líderes de torcidas. Até então praticamente nula (falava geralmente apenas com Silena e Katie, e algumas poucas vezes com Miranda Gardiner), passou a falar com elas regularmente, embora com certo receio pelo que Rachel falara de Drew. Entretanto, era esta quem mais procurava conversar com Percy.

Certa vez, no primeiro domingo em que estava no time, estava conversando com Rachel no ginásio. O treino seria mais tarde, mas eu já estava arrumado e matando o tempo conversando com a ruiva. As líderes de torcida tomaram o lugar para treinar, mas continuamos alheios na torcida até que Drew veio falar comigo.

- Oi, Percy - com um sorriso estampado no rosto. - Tudo bem? Veio ver os treinos das meninas?

- Eu, hã, não. Na verdade, só estou matando tempo com a Rachel até o treino do time.

- Ah, olá. Acho que ainda não nos conhecemos - disse Drew, como se tivesse visto Rachel apenas naquele momento. Estendeu a mão, que a ruiva lentamente apertou.

- Rachel, prazer.

- Sou Drew - então se virou para mim. - Então, Percy, só vim dizer que você pode assistir o meu treino e o das meninas quando quiser que não tem problema., ok?

- Hã, obrigado, eu acho - disse, murmurando sem saber exatamente o que ela queria dizer.

- Drew, vamos recomeçar? - chamou Silena. - Olá, Percy. Rachel, quanto tempo que não te via por aí. Depois falamos mais, temos que ensaiar uns movimentos.

Drew deu mais um sorriso para mim e seguiu Silena, que já discutia algo sobre alguma posição com Katie Gardner, que acenara timidamente para mim.

- Eu achava que a Drew te conhecia.

- Só de vista, eu acho - respondeu Rachel, indiferente. - Eu raramente me misturo muito, gosto de observar as pessoas mais de longe.

- E porque comigo você não ficou observando de longe.

- É, bem... É que você estava meio isolado naquela festa e eu percebi que a gente tinha isso em comum, essa coisa de ter dificuldades de se entrosar - disse, dando um sorrisinho sem graça.

- Você percebeu isso olhando pra mim numa festa?

- Bem, acho que sim - falou, lentamente. - Além disso, você deixa claro que tem uma vontade absurda de fazer amigos.

- Acho que é uma vontade universal, não? - comentei.

- Sim - ela riu. - Mas com você é diferente. E devo dizer que você se saiu bem, já está cheio de amigos.

- Acho que tive sorte - respondi, feliz. - Grover, Tyson e Nico, meus companheiros de quarto, me ajudaram a conhecer todo mundo. Luke também. Você sabe quem eles são?

- É, eu já observei eles - ela disse. Eu dei uma breve risada, mas ela seguiu séria e não notou minha reação. - Luke é o capitão do time de basquete, não é? Os outros fazem informática com a gente...

- Você está falando sério quando diz que gosta de observar as pessoas de longe? - perguntei, perplexo.

- Sim - disse, com um sorriso contido. - Sou estranha, não sou?

- É, mas estranha de um jeito legal, eu acho - eu disse. Ela fez um som engraçado, como se risse pelo nariz, o que pôs nós dois a gargalhar.

O tempo foi passando com calma, sem se apressar e sem se demorar. Setembro começou e, com ele, veio a expectativa do primeiro jogo na temporada, contra um colégio pequeno e razoavelmente distante que gastaria quase uma hora de ônibus até a quadra deles, com a torcida toda contra. O time titular era quase o mesmo: Tyson, Beckendorf, Luke e Octaviam continuavam, mas Jason Grace foi barrado. Em seu lugar, surgiu Jake Mason. O treinador Hedge me elogiava bastante, mas sequer cogitou me colocar no time titular.

- Tudo ao seu tempo, Perseu Jackson.

- Percy - murmurava, um pouco chateado. A atitude de Hedge era compreensível, já que queria aproveitar o entrosamento dos jogadores antigos, mas nem por isso minha vontade de jogar sempre ainda não diminuía.

Eu estava até me saindo bem nas aulas, o que era surpreendente, exceto em Física, que eu precisava de toda a ajuda de Annabeth possível.

Ela fazia todos os exercícios dessa matéria comigo. Bem, na verdade, eu copiava o que ela fazia na maior parte do tempo.

- Percy, para de copiar e presta atenção no que eu faço - dizia.

- Mas é que eu não consigo entender, simplesmente não consigo - eu retrucava, infeliz. - E assim o professor vai ver que eu acerto nos exercícios, pelo menos.

- Mas e na hora da prova?

- Eu colo de você.

- E quem disse que eu vou deixar? - ela desafiava.

- Eu sei que vai, você é minha amiga - eu respondia, procurando fazer a cara mais pidona possível. Annabeth acabava cedendo e deixava eu copiar tudo de uma vez.

Finalmente, o dia do jogo chegou. Eu estava um pouco desanimado, sem perspectiva de entrar em quadra. Antes de pegar o ônibus, Rachel me animava.

- Vamos lá, Percy Jackson, vocês vão ganhar - ela disse.

- Provavelmente - eu respondi. - Mas é que estou louco para entrar no time.

- E quem disse que você não entra hoje?

- Bem, o treinador Hedge - eu falei, e ela riu.

- É, complicado. Com o tempo você consegue entrar no time. Lembre-se que apressado come cru.

- Mas que espera demais come frio.

- É só dar uma requentada.

- Mas não fica o mesmo sabor.

- Ah, você tem resposta pra tudo - ela disse. O treinador Hedge chamava todo mundo da porta do ônibus.

- Bem, já está na hora - eu disse, enquanto um pensamento engraçado e corajoso tomava minha mente.

- Boa sorte de qualquer jeito - ela falou, baixinho. Eu me aproximei, cauteloso. Ela não recuou. Eu me aproximei mais um pouco, ela dessa vez avançou também.

Nos beijamos.