Enquanto o Sol se Pôr escrita por murilo


Capítulo 16
Desfecho - Parte 2 - Fim.


Notas iniciais do capítulo

O fim pode não ser do agrado de todos, rsrs... nem Jesus agradou a todos. Eu, sinceramente, não me agradei do desfecho, mas é de praxe... eu NUNCA gosto dos fins... e bem, esse saiu triste e melancólico . Só não me atirem pedras.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/36934/chapter/16

            Rodrigo pulou na cama, ajeitando suas roupas, o estalo na janela apareceu de novo, mais forte. Eu me levantei e fui abrir a janela, confuso. A chuva ainda caía com força, a grama verde estava completamente encharcada, e lá em baixo eu podia ver Maria e Cláudia com algumas pedras nas mãos, os rostos assustados, estavam aflitas, estavam muito aflitas.           

            _O que foi? – Perguntei, gritando até sem querer

            Foi Cláudia quem respondeu primeiro, passando a mão pelos cabelos curtos e molhados:

            _O Rodrigo, cadê o Rodrigo? – A voz saía falha

            Rodrigo nem esperou que eu o chamasse e já apareceu do meu lado, a boca seca, o rosto mais claro que o normal. Olhou as duas, querendo alguma resposta, Maria parecia estar com o rosto inchado de chorar... alguma coisa muito ruim estava acontecendo. Rodrigo gritou:

            _O que foi? – Se eu não o segurasse, Rodrigo pulava ali da janela mesmo

            Maria e Cláudia mal podiam falar, mas as mãos mexiam sem parar, e a única coisa que consegui entender foi:

            _Sua mãe... – Foi Cláudia quem falou

            Não precisou de mais nada, Rodrigo saiu correndo da janela em direção à porta, e a abriu com pressa, podia ter idéia do que podia estar acontecendo, tanto quanto eu. Saiu pelo corredor, molhando o chão, ele ainda estava coberto pela chuva. Eu tentei o seguir, seus passos se tornaram uma corrida descompassada.

            Minha mãe esperava na escada, como que sabendo que alguma nós estávamos aprontando, não era uma boa hora pra ela começar com os sermões, mas ela não sabia daquilo.

            _Marcos! O que é isso? Como...? – Ela não disse mais nada e passamos por ela, mas ela nos seguiu, e na sala me puxou pelo braço, segura de si _Você não vai sair, Marcos.

            Rodrigo não parecia ouvir, não quis ouvir e mal olhava para mim e minha mãe.

            _Mãe eu preciso ir... aconteceu uma coisa com a mãe do...

            _Eu não quero saber o que acontece com a mãe de ninguém, o meu problema aqui é com você. – Ela não soltava o meu braço _Você não vai sair, não. Fica aqui, eu não quero que você se envolva com mais problema nenhum até a gente ir embora amanhã.

            Eu escutei a porta da frente bater com força, e de repente, estávamos sozinhos ali na sala, minha mãe e eu. Rodrigo tinha ido, sozinho. No meu peito veio uma incômodo enorme, tinha acontecido mesmo alguma coisa ruim... ou estava por acontecer, e eu iria fazer o que dali? Nada. Minha mãe me soltou, atônita. Aquela era a hora em que eu correria, mas aquela figura apareceu vindo da cozinha. Meu pai.

            _Que chuva! – Ele disse, meio sonolento

            _E seu filho querendo sair. –Minha mãe completou me olhando feio, eu a encarei e fiz o caminho de volta pro meu quarto, duas vezes mas rápido que da outra vez

            Bati a porta com força, e corri pra janela. Olhei pra baixo, ninguém. Tentei enxergar a rua, mas a chuva ainda caía em peso, e mal se via a casa dos meus vizinhos. Algumas sacolas de lixo eram arrastadas pela água na calçada. Eu tinha que fazer alguma coisa. Eu iria embora, eu tinha de quebrar as regras pelo menos uma vez que fosse.

            Subi na janela, as gotas frias da chuva acertando o meu braço. Como Rodrigo fazia pra chegar ali? Me apoiei na parede ao lado da janela, e logo depois numa escadinha envolta de plantas que ficava presa à parede. Desci com calma, o meu estômago talvez mais frio que as gotas que mais pareciam neve.

            Cheguei ao chão com pressa, sentindo as bochechas corarem, analisei todos os cantos pra ter certeza que ninguém me espiava. Corri pelo jardim, a água fazendo um barulho estranho contra os meus pés. Segui pela calçada, a rua estava vazia, as árvores pareciam os únicos seres que se mexiam, e pelo vento. E não demorei a chegar à porta da casa de Rodrigo, aparentemente vazia... diria ate desabitada, se não escutasse os gritos incessantes de Pauline, misturados aos trovões.

            Só parei quando estava em frente à varanda. Pensei em bater, pensei em chamar... pensei em entrar sem dizer nada, mas eu não conseguia pensar direito.

            _Rodrigo! – Gritei forçando a maçaneta, que girou e deu um estalo, abrindo à porta a minha frente, os gritos de Pauline saíram mais altos

            Olhei toda a sala, vazia, um rastro de água no chão me mostrava que Rodrigo tinha passado por ali e seguia para as escadas.

            _Rodrigo. – A casa me respondia com ecos incessantes

            Olhei para todos os lados, algumas coisas espalhadas pelo chão, alguns papéis rabiscados, talvez por Pauline, então eu segui a voz de Pauline, que parecia chamar lá de cima.

            Subi as escadas saltando alguns degraus, e comecei a andar devagar no corredor, sentindo uma repulsa enorme do lugar. Eu tinha medo, eu tremia inconscientemente, mas eu não podia voltar, o silêncio era demais pra não ser nada. Até Pauline parecia ter se calado. A porta do quarto de Rodrigo estava entreaberta, e o chão também molhado. Andei devagar até encostar na maçaneta.

            _Rodrigo. – Sussurrei, as palavras saltavam da minha boca e iam direto ao chão, pesadas

            Um barulho veio do quarto, um gemido talvez. Eu abri a porta, rápido, sem pensar e me assustei com tudo que vi, era demais pra ser verdade.

            Pauline me olhava, os olhos vermelhos de chorar, estava deitada sobre sua mãe, no chão, parecia desacordada e pálida, o cabelo completamente desarrumado e os olhos roxos e inchados. Ao seu lado, Rodrigo estava caído, de bruços, as costas tremendo um pouco, e embaixo de si, uma perfeita e densa poça de sangue.

            _Meu Deus! – Soltei, levando as mãos à boca, eu não podia crer

            Olhei o resto do quarto, desarrumado como sempre, nem sinal de Maria ou Cláudia. E agora? Corri para acudir Rodrigo, que a meu ver parecia o mais prejudicado, tentei levantar seu rosto, já frio e sem vida.

            _Rodrigo! Rodrigo! – Eu gritei, a plenos pulmões, Pauline choramingava ao meu lado

            _Não vai chorar agora, vai? – A voz grossa veio da porta atrás de mim, e eu virei, sentindo um arrepio instantâneo

            O pai do Rodrigo me olhava, estava molhado, sujo e manchado de sangue. Trazia em seu rosto uma expressão de ódio e ironia, parecia possesso e respirava com pressa e raiva.

            _Eu não acredito que... – Eu não conseguia completar a frase, me levantei rápido ficando entre Rodrigo e ele

            Ele sorriu com um canto da boca. Aquele sorriso era do Rodrigo, meu Deus... Como eles se pareciam e não se pareciam ao mesmo tempo.

Fiquei em posição de ataque, eu não sabia lutar, eu não conseguia lutar com ninguém mesmo... mas... me via obrigado àquilo. Da última vez eu estava em desvantagem, machucado, cansado e longe de casa... mas ali, toda a saúde do mundo não me fazia diferença, ele era muito mais forte que eu.

_Foi você que matou seu amorzinho, menino. Foi você! – Ele me disse chutando a porta com o calcanhar, os olhos faiscando raiva

Eu olhei Rodrigo mais uma vez, ele não podia estar morto.

_Não foi! Foi você.... seu... seu... assassino! – Eu podia ser melhor que aquilo, mas o nervosismo tomava conta

O homem me olhou e sorriu mais uma vez, dando uns passos pro meu lado. Eu quis não recuar, mas os passos pra trás foram involuntários.

_Você é muito medroso, Rodrigo lutou mais pela vida. Ele sim tinha sangue de homem. – O homem me disse,e eu senti mais uma vez o sangue correr pelas minhas bochechas, fechei a mão num soco e apontei-a para ele, eu estava mesmo perdido

Ele soltou uma gargalhada alta, e Pauline desatou a chorar de novo. Senti, num instante, Rodrigo se mexer um pouco, mas não o olhei.

_Eu não sou medroso.. – Eu disse, apertando os dentes com força

Ele me analisou por um instante, tentando entender se eu estava mesmo com coragem para enfrenta-lo. Eu estava, o choro de Pauline, ou a idéia de que Rodrigo ainda pudesse estar vivo me davam forças, eu só tinha que acabar com aquela situação o mais rápido possível, para ir ajudar Rodrigo.

Dei um passo a frente, rezando por um milagre supremo. E fiz o que seria uma das minhas atitudes mais corajosas de toda a vida. Dei um soco na barriga do pai do Rodrigo, não com muito sucesso, o soco parecia ter doído mais em mim do que nele. E o pior é que ele só recuou um pouco, antes de me empurrar com as duas mãos, e eu cair quase em cima de Rodrigo.

_Ai! – Soltei um grito, mais de raiva do que dor, aquilo estava me tomando por completo, eu tinha de ser forte naquele momento, não tinha tempo para o medo, ou qualquer outra coisa que me impedisse de ajudar Rodrigo

Me levantei do chão quase com a mesma pressa que caí e já me coloquei novamente em posição de ataque, as costas doíam só um pouco, dava pra suportar. Se eu tinha que apanhar, pelo menos cansar o homem eu cansaria, porque vontade de não parar era o que eu mais tinha, o medo estava sendo meu último sentimento da lista.

_Você quer mesmo apanhar... – O pai do Rodrigo me disse balançando a cabeça negativamente

_Mas você apanha primeiro! – Eu disse mesmo aquilo?

Corri pra cima dele, sem medo, eu era devagar, mas ele parecia mais, e antes mesmo que ele pudesse reagir eu chutei sua canela direita, meu dedão era bastante duro... osso era o que eu mais tinha. Ele soltou um som estranho, e mordeu o canto da boca com raiva, encolhendo um pouco o corpo. Pelo menos um pouco devia ter doído. Recuei arregalando os olhos, enquanto ele tentava me acertar com um soco atravessado... que não me acertou. Ele era mesmo muito devagar.

_Maldito! – Ele gingou no quarto, balançando um pouco a canela

Era muito cedo pra eu comemorar qualquer vitória, por maior que fosse pra mim, eu havia batido nele, era demais, mas... ele ainda estava muito bem para se dar por vencido. Mas eu tinha uma leve impressão que começara a me sair bem na briga. Saltei por Rodrigo, sem tirar os olhos do seu pai.

Ele caminhou pro meu lado, tentando ser rápido. Eu corri a visão pelo quarto, avistei a bagunça no chão, o sangue... tudo desarrumado. Pulei sobre as caixinhas de comida japonesa, e peguei tudo que podia segurar. E antes que pensasse, taquei sobre o homem raivoso, que começou a se proteger com os braços, grossos, como troncos de árvores. Tudo que podia eu jogava contra ele, era uma forma de atrapalhar sua visão, enquanto eu pensaria em mais alguma coisa.

Com os braços à altura dos olhos, o homem só rugia algumas coisas sem sentido, e não podia me ver, eu aproveitei para chegar mais perto, o acertando com algumas dezenas de revistas e papéis.

_Pare! – Ele dizia uma vez ou outra dando socos no ar, as coisas se mexendo rápido pareciam incomodar sua visão, então, quando eu estava perto a ponto de quase ser acertado, eu vi que o pai de Rodrigo havia fechado os olhos

Eu continuei jogando agora livros e antes que eles acabassem, peguei o guarda-chuva que estava bem do lado. E então soltei os livros. E respirei fundo, o homem ainda permaneceu um segundo tampando os olhos fechados, antes de abaixar a guarda, para ver o que eu estava fazendo. Eu estava a dois passos dele.

Num movimento digno dos meus conhecidos jogos de computador chineses, acertei a cabeça do homem com a ponta do guarda chuva, num ataque da direita para esquerda, o estalo foi mais alto que o esperado, e até Pauline calou-se antes de desatar a chorar novamente. Ele balançou de um lado para outro, os olhos caídos e quase fechados.

O guarda-chuva não saía da minha mão por mais que eu quisesse, era a minha arma fatal. Eu o olhava, sem mexer os olhos, esperando uma reação, e o homem começava a vacilar nas pernas, estava tonto, estava sangrando um pouco acima da sobrancelha. Eu estava de olhos arregalados, e as minhas pernas não saíam do lugar.

O pai do Rodrigo colocou a mão sobre os joelhos, tentando ficar de pé e disse:

_Eu vou te matar seu... – E tentou se erguer novamente para um soco, que não me acertou, ele estava muito tonto pra isso

Ele fez um novo ruído, de raiva, mais próximo a um grito. Eu tive de acerta-lo mais uma vez, agora um pouco acima da cintura, e ele caiu, tremendo um pouco o chão. Olhei-o, sem reação.

Ele pegou algum livro grosso e arremessou pro meu lado, o livro caiu um pouco à minha frente, sem força. Foi quando eu o vi, sem reação, sem movimentos. E só aí soltei o guarda-chuva, as lágrimas brotando nos meus olhos, com força.

Me afastei do homem, que gemia cada vez mais baixo e corri para acudir Rodrigo, ele não me respondeu... nem se mexeu. Chamei seu nome mais algumas vezes. Rodrigo pareceu mexer os olhos...

_Rodrigo! – E beijei-lhe a face

Os lábios mexeram mais um pouco, Rodrigo estava vivo! O chamei mais algumas vezes... balançando-lhe os ombros.

_Eu... – Um ruído saiu de sua boca, quase fechada _... eu... sempre... vou te amar.- e respirou fundo, com dificuldade

_Eu também. – Respondi sem conseguir conter as lágrimas _Enquanto o sol se pôr...
Rodrigo, mexeu a boca, mas nenhum som saiu de lá, e num susto, escutei novos passos, pesados, e apressados no corredor. Olhei pra porta e vi entrar aquelas pessoas, muitas.

_Rodrigo, é você?

_É ele. – E apontei Rodrigo, ele estava mesmo mal

Eram homens e mulheres, médicos, e policiais eu acho. Uns dez ali no quarto. Uma mulher me puxou pelo peito e me afastou de Rodrigo enquanto dois homens de branco o atendiam, pressionando-lhe o peito. Gritavam entre si, Rodrigo não estava bem. Eu chorava sem pensar em mais nada, só que eu o amava... e não queria o perder...

_Marcos! – Uma voz veio da porta, era Maria, e Cláudia ao seu lado, vieram correndo pro meu lado _A gente foi à polícia, ele quis entrar aqui...

Cláudia chorava tanto quanto eu, mas Maria se mantinha firme, apesar de assustada e nervosa.

_A gente passou aqui, e escutamos a mãe dele gritando... – Cláudia começou a falar em meio a soluços _... a gente chamou ele na sua casa, pra ir na polícia, mas ele quis ver o que estava acontecendo. Eu não podia ter deixado, eu não podia...

Claúdia desatou a chorar de novo, e Maria começou a falar algumas coisas no seu ouvido. Foi quando um homem grisalho disse ali perto.

_A mulher está morta! – Foi como se tivessem beliscado Cláudia, ela soltou um gemido e logo chorou ainda mais alto

Escutei um outro homem brigar com o primeiro que havia dado a notícia daquele jeito. Eu olhava a mãe de Rodrigo, parecia serena como sempre... eu gostava dela, e sabia que ela me queria bem também. Eu não podia crer que ela estivesse morta.

Pauline foi tirada do quarto aos berros, quando um homem veio pro meu lado. Vestia um terno preto e tinha a careca bastante reluzente.

_Garoto, como se chama?

_Marcos...

_Você é...? – E ficou me olhando, os olhos bem abertos

Eu olhei Rodrigo por um instante, inconsciente, ainda estava lindo, eu queria muito poder correr para abraçá-lo, sem medo de poder falar que aquele... era o amor da minha vida.

_Amigo da família. – Respondi baixo

_Eu sei que essa não é uma boa hora, mas você pode me contar o que aconteceu nesse quarto? – Ele me perguntou retirando uma caderneta e uma caneta do bolso

Eu respirei e respondi:

_Eu cheguei aqui e o homem já tinha atacado todos eles... Ele tentou me machucar também mas...

_Você o matou primeiro.

Aquelas palavras fizeram com que minha barriga gelasse um pouco.

_Não, eu só...

_Foi legítima defesa, meu caro. Você é muito corajoso, sabia? E tem muita sorte também... acertou uma parte da cabeça que apaga a pessoa com uma pequena pancada, é bem perto dos olhos...

Eu abaixei a cabeça, sabia de tudo aquilo... já aprendera sobre isso em uma das aulas de biologia.

_O Rodrigo vai ficar bem, não vai? – Perguntei, trocando de assunto

_Não é essa a minha especialidade, mas já vi melhores... – E enfiou a caderneta de volta ao bolso, virando as costas pra mim

As lágrimas correram fortes no meu rosto, enquanto eu via a mãe do Rodrigo ser tirada do quarto, logo após do marido. Eu senti uma leve tontura, talvez nervosismo... ou não... e mais uma vez, enxerguei o escuro. Desmaiei.

 

 

As vozes no quarto me traziam um certo desconforto. Abri os olhos, devagar e avistei todos ali, me olhando. Era o meu quarto... e ali estava a minha mãe, Maria, Cláudia perto da janela, meu pai à porta e mais alguns vizinhos que eu não sabia o nome.

_Quanto tempo eu...

_Algumas horas. – Maria me respondeu, minha mãe estava inconsolável, me sentei na cama

_Cadê o Rodrigo? – Perguntei analisando as expressões de todos

Cláudia soltou um gemido à janela, e começou a chorar mais uma vez... aquela frase não fez bem a ela.

Maria abaixou a voz, e me olhou triste, enquanto tirava uma mecha do cabelo de seu rosto:

_O Rodrigo não... não agüentou, Marcos.

Eu não podia crer naquelas palavras, era impossível. Rodrigo não podia... não podia fazer aquilo comigo. Eu o amava, eu o queria muito... Eu fazia qualquer coisa por ele, sim... eu desistia de tudo por ele, pra ficar do lado dele, eu o queria muito mesmo. Como eu o amava... Tinha de ser mentira, Maria não podia falar a verdade comigo, era mentira, ela não gostava dele, era isso...

Me levantei da cama, querendo sair do quarto, mas meu pai me segurou.

_Ele morreu, Marcos, ele não está aqui.

_Ele ta aqui sim, ele ta me esperando... eu... – Respondi tentando me soltar de seus braços, em vão, eu sabia quando meu pai mentia, e ele não estava mentindo naquela hora... como eu queria que estivesse

Minha mãe resmungou algumas coisas, algumas lamentações... e dizia que sabia que tudo aquilo iria acontecer, ela não sabia... se soubesse não deixaria que acontecesse. Eu tinha raiva, de tudo ali naquele momento, de todos, até de mim mesmo. Caí no chão de joelhos, sem forças, sem chão, inseguro, impotente, derrotado. De nada valera as minhas batalhas, a minha vida... Eu não precisava de mais nada no mundo. E chorei, chorei como nunca havia chorado na vida... Todos me abraçaram, e eu não podia gritar que eu estava perdendo a pessoa que eu mais amava no mundo.

 

~/ /~

Os dias se passaram lentamente e calmos, a mudança finalmente foi desfeita, meu pai desistira de se mudar. Eu ficara sem conversar com ninguém por três dias... até que Maria apareceu ao meu quarto, implorando uma conversa. Conversamos, ela me fez bem.... ela sempre me fazia um  pouco feliz, apesar do vazio.

Maria me disse que aquilo tudo era triste e ela sabia muito bem o que eu estava passando, afinal, ela também fizera parte das maldades do pai do Rodrigo... Mas a vida continuava, e que ela e Cláudia estavam ali do meu lado, sempre, e se importavam comigo.

No outro dia foi minha mãe quem veio conversar, e se redimindo um pouco, falou que gostava da Maria, e que eu deveria dar atenção à ela, que estava se importando tanto comigo, e que sentia a minha falta. Eu fiquei feliz, por ouvir aquilo, mas a minha maior felicidade, eu sabia que não iria voltar...

Não, eu não fui ao enterro do Rodrigo, só me faria mais mal, eu via enterros como a pior fase de uma pessoa... eu só queria ter lembranças do Rodrigo feliz, sorridente, engraçado... e não dele, ali... deitado no... Eu sentia tanta falta dele.

Os pais de Maria ficaram com Pauline, eu fiquei muito feliz quando meu pai me disse aquilo, a filha do homem que... que fez tudo aquilo.

E finalmente, eu saí de casa, em exatas duas semanas... e o meu coração ainda conseguia ouvir o barulho da moto de Rodrigo bem longe, me seguindo talvez... Eu estava desligado, mas me esforçava pra ficar bem. Fui à sorveteria com Cláudia e uma vez com Maria e Pauline... praticamente duas irmãs já. Pauline aprendera a falar “obrigado”, e nunca mais eu a vira gritando: “merda”.

E num dia em que o sol começara a se pôr, Maria chegou ao meu quarto sem avisar... eu estava lendo alguns livros, começara a conciliar o estudo com os passeios. Ela colocou a mão sobre os meus ombros e sorriu, eu estava sentado à mesa.

_Eu vou estar sempre com você. – Ela me disse, sorrindo um pouco, os olhos brilhando como sempre

_Eu também sempre vou estar com você. – Respondi, fechando o livro

E Maria passou a mão sobre o meu rosto e me encarou nos olhos, levantando o meu queixo... e sem exitar, me deu um beijo, eu quis evitá-la, mas acabei por deixar com que aquilo acontecesse... ela me fazia feliz, por estar do seu lado, pelo menos, seja da forma que fosse... eu gostava de Maria. E ficamos ali, até que a noite chegasse, juntos, abraçados... no escuro, perto da janela onde meu pai pregara algumas tábuas, eu não queria ver mais o pôr do sol.

Pra mim, ali... o sol nunca mais iria se pôr.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

the end '



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Enquanto o Sol se Pôr" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.