Enquanto o Sol se Pôr escrita por murilo


Capítulo 14
Começo de Um Fim


Notas iniciais do capítulo

Juro que este é o penúltimo. Que bom (que pena). Bem... a história ta tensa, ta triste... mas é mais ela que manda em mim, do que eu mando nela !E ainda que lute (LUTE) pra ser diferente, ela caminha para o lado que ela quer. Flui, assim... fácil. Espero que gostem. Estou passando o melhor de mim. (LÊ ATÉ O FIM)



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Soltei um grito, não de dor... mas de medo. O carro seria derrubado a qualquer hora, ou cairia em cima de mim, ele era forte, meu Deus, como aquele homem era forte. A caminhonete chacoalhava sem parar, meus olhos mantinham-se fixos naquelas pernas que mexiam, compulsivamente.
_Sai daí! Sai daí se for homem! – Ele me desafiava, logo ele, que nunca me chamava de homem, e esperava o que? Que eu saísse agora?
Me mantive calado, tentava fazer barulho algum.
_Eu vou te matar, muleque. – Foi aí que eu fiquei mais assustado, porque o carro simplesmente parou de se mexer, o homem tinha novos planos, isso me dava medo
O que seria agora? Ele tentaria entrar debaixo do carro? As pernas estavam imóveis, o silêncio durou alguns segundos. O homem se virou, os calcanhares pro meu lado... Devagar ele caminhou pro lado de Maria, sentia tanto medo quanto quando ele vinha pro meu lado. E Maria, lá, tão indefesa... talvez morta.
_Para! Deixa ela em paz! – Era um desabafo, mais que uma ordem
_Então sai daí de baixo. – Ele me propôs, parecia uma troca, Maria ou eu
Eu me calei. Porque Deus agia daquela forma? Eu errara em alguma coisa? Eu tinha errado com Ele? Logo eu que... que... sempre fui politicamente correto, e educado. Que castigo meu Deus, que castigo. Eu me decidi. Iria ficar no lugar de Maria, apanhar no lugar dela, morrer se fosse preciso, desde que ele não encostasse um dedo nela mais sequer. Era a única coisa que podia fazer... por ela, que tanto me amou, por Cláudia, que tanto gostara dela, pela família... por aquele sorriso... que eu amava. Meu Deus, eu amara ela, muito. Eu sentia aquilo lá no fundo, mesmo que ofuscado pela paixão pelo Rodrigo, mas eu sabia... que aquela menina mexia comigo, desde o primeiro dia. Desde a primeira vez que conversamos...
Eu não podia vê-la sofrer tanto. Me arrastei até a beirada do carro, ao lado do pneu. Dane-se Rodrigo, eu não podia esperá-lo. Eu tinha uma vida pra salvar. E isso havia de ser na hora.
O pai do Rodrigo, me olhou, frio, no fundo dos olhos, a alguns metros de distância, estava cheio de si, os pulsos fechados. Tinha uma expressão indecifrável, talvez surpreso por eu ter saído dali... Estava mesmo disposto a me matar. A raiva que ele sentia por mim até então ultrapassara a raiva de pai preocupado, éramos inimigos declarados naquele momento. E naquela hora, eu pude saber, que um de nós dois não sairia dali bem... era ele ou eu.
O que aconteceu em diante foi tão rápido que mal posso contar. Me lembro que ele correu pra cima de mim, o mais rápido que conseguia, assisti-o chegar sem reação alguma, eu não podia lutar... Ele fez como os melhores atacantes de futebol, e me acertou o rosto, com o joelho direito. Caí, com as palmas da mão sobre a terra, o nariz sangrando um pouco. Ardia, e o sangue descia quente.
_Maldito. – Eu disse, não, eu sussurrei
_O que? – Ele gritara, agora batendo o calcanhar na minha coluna, forçando-me a cair de bruços, indefeso
Urrei de dor, eu iria morrer... mas ele não viveria sem que eu o dissesse tudo aquilo que queria. Eu não tinha forças, mas tinha voz... e minha boca ainda abria, o sangue se misturando à saliva.
_Você... você... é um monstro – Isso ele já sabia _...é a pior das espécies. O seu filho... o seu filho é uma pessoa... tão... boa...
Ele me chutou a costela, gemi baixo e tentei continuar:
_... a sua mulher... sua filha, eles... são perfeitos demais. Eles não merecem você. – Era minha última força, eu tinha que acabar antes de me entregar completamente, morto _ ... e você ainda vai pagar por tudo isso. Por tudo isso. Vai sofrer muito ainda!
Eu ainda tinha muito que falar, mas não conseguia. A vista embaçava... era o meu fim, o galpão já se transformava em figuras disformes e fora de foco... Eu não agüentaria mais um minuto que fosse. Senti mais uma pancada na cabeça, que mexia, sem vida. Fechei os olhos, tudo escuro... Só escutava o som da terra, das folhas, e sentia o sangue, ainda quente pelo meu queixo. Não me mexi. Longe, o barulho de Maria, se contorcendo com as correntes, isso era bom, ela estava viva. Tanto quanto eu... Eu já não sabia quem estava pior... Os barulhos iam se cessando, devagar... ficando longe, sem sentido. Eu não distinguia os que vinham dali dos que saíam da minha cabeça. Escutava a voz de Cláudia, a me chamar, Rodrigo... Eu realmente estava morrendo, agora era a certeza.
_Marcos. – Rodrigo parecia tão perto, ali, quase tocável para mim _Marcos!
_Rodrigo. – Forcei mais uma palavra
_Marcos! Abre o olho, você ta me ouvindo? Marcos.
Eu estava. Mas não conseguia abrir o olho... Era fraco demais praquilo.
_Marcos, não desiste. – Era Cláudia agora, eu estava mesmo morrendo, era fantasia da minha cabeça?
Fiz uma força...forçando a respiração e os olhos. Minhas pálpebras doíam... muito. Abri os olhos. Cláudia e Rodrigo estavam sobre mim, desesperados. Rodrigo segurava minha cabeça, as lágrimas caíam sobre meu peito. Era verdade, eles estavam ali. Tentei virar minha cabeça, o pescoço ainda doía... Olhei o galpão, e lá no fundo Maria amparada por alguns homens de uniforme... e logo ali, perto de mim, o pai de Rodrigo, sendo agarrado por nada menos que uns oito homens, tão fortes quanto ele.
_Tá tudo bem. – Rodrigo falou passando a mão pelo meu rosto, o sangue manchando sua palma, delicada
Mas não estava, eu ainda não me mexia. Os homens gritavam a todo tempo:
_Não deixe ele dormir, não deixem ele dormir!
E Rodrigo me examinava... assustado. Mas eu iria dormir, eu estava precisando fechar os olhos. Para sempre. A cabeça pesou... eu fui fechando os olhos, devagar.
_Alguém ajuda! – Cláudia gritou _Ele ta morrendo, ta morrendo...
Escutei passos apressados pro meu lado, milhares deles. E alguém me levantou, rápido, eu podia sentir, mas não me mexia... Correram comigo nos braços, como uma criança.
_Não! – Era a voz de um homem _Não descuidem dele! Ele ta fugindo... Voltem, peguem ele!
E eu não escutei mais nada.

~ / / ~

Um apito agudo soava de tempo em tempo... irritando a minha cabeça. Uma luz forte permanecia sobre mim. Eu escutava murmúrios, muitos murmúrios. Abri os olhos, forçando a vista. Estava deitado, num quarto branco e bem iluminado. Levantei a cabeça com um pouco de dificuldade, não estava tão mal, mas já estivera melhor.
_Ele acordou! Ele acordou! – Cláudia gritou, saindo de algum lugar que eu não vira, estava com os olhos inchados e parecia cansada _Marcos. Eu não acredito, o Rodrigo vai pirar.
_Cadê o Rodrigo? – Minha voz saía forte novamente
_Foi ali fora buscar um refrigerante - Cláudia me tocava o rosto, talvez não acreditando que eu estivesse ali, eu também não acreditava
Olhei o resto da sala, alguns homens, os mesmos que me salvaram, em pé, perto da porta. Sorri. Eu estava bem... A porta se abriu, rápida... Quem quer que fosse tinha escutado Cláudia gritar. Encarei a porta, esperando. E de lá veio, com os olhos repletos de lágrimas, os cabelos balançando, e o rosto, novamente cheio de vida, Maria... Estava linda, como costumava vê-la.
_Mas... Maria. – Eu mal acreditei, meus olhos ainda arregalados _Você já está... assim, bem?
Maria me olhou nos olhos, um sorriso tímido no canto da boca. Segurou meu queixo e disse:
_Marcos, tem duas semanas que você ta aqui!
Eu arregalei ainda mais os olhos e encarei Cláudia que confirmava. Eu ficara tão mal quanto eu esperava mesmo. Me olhei, por um instante. As pernas enfaixadas, alguns panos sobre os braços e outros curativos.
_O ferimento pior foi aqui. – E Maria colocou a mão sobre o meu coração, sorrindo sincera _E isso ninguém cura.
E sorriu, um sorriso alegre e empolgante, continuando:
_O resto todo se cura... Perna, braço, cabeça... – Olhou para minha bermuda, um sorriso malicioso _Tudo mesmo!
Eu ri, e Cláudia também. Como aquilo ali me fazia falta, nossas conversas, as risadas, mesmo que em um quarto de hospital!
_Marcos. – A porta se abriu novamente com um estalo, aquela voz que me fazia sorrir, instantaneamente
Olhei, Rodrigo vinha, sorrindo, os olhos cheios de lágrimas... Quase chorei ao vê-lo também. Ele me amava, e não tinha culpa de me amar... E isso, esse sentimento acabou por causar aquilo tudo... a prisão do seu pai. Talvez pra ele fora a pior parte, como disse Maria, o ferimento maior é no coração. E não há ferimento maior do que no coração de um filho que vê o pai fazer tudo aquilo...
_Rodrigo! – Respondi num suspiro
Rodrigo se aproximou da cama e colocou a cabeça sobre o meu peito, chorando, baixinho... Coloquei a mão sobre a sua cabeça, prendendo o choro. Maria e Cláudia nos olhavam, compreensivas.
_Me desculpa, Marcos. – Ele não tinha porque de pedir desculpas _Me desculpa, ele vai pagar pelo que fez, ele ainda vai ser preso...
Senti um aperto no coração.
_Ainda vai ser preso? – A voz saiu aguda demais
Maria e Cláudia me olharam, arregalando os olhos, de braços dados. Foi Cláudia que continuou:
_Marcos... o pai do Rodrigo... fugiu. Você tava muito mal, o povo correu pra te acudira, te animar... e descuidaram dele por um segundo.
_Mas... Fugiu, pra onde? A pé? Ninguém viu ele? Ele não deve ter conseguido ir longe, não a pé, ele foi a pé, não foi? Esses homens... eles vão achar ele, não vão? Ele não pode ficar solto. Ele... – Olhei para Maria, inconformado _Ele é um monstro.
Maria, Cláudia e Rodrigo me olhavam, pacientes... ainda tristes um pouco. Eu tinha convicção que aquilo ali não era história alguma, era a realidade fria e cruel. E eu não podia fazer nada, mais uma vez.

~ // ~
Os dias se passaram devagar ali naquele quarto. Maria e Cláudia me visitavam com freqüência, mais Maria, sempre trazendo algumas pequenas lembranças, e o sorriso encantador no rosto. Ficávamos horas segurando nossas mãos, nos olhando, agradecendo silenciosamente por estarmos bem.
Rodrigo vinha sempre, às vezes com sua mãe. Conversávamos, não muito. Eu sentia pena dele, e ele talvez sentia pena de mim. Mas mesmo assim, eu estava bem... Me recuperava rápido, e não demorou muito tempo até eu me levantar dali daquela cama e encarar a porta de saída.
Os médicos me fizeram algumas recomendações e uns dos policiais também. A minha mãe viera me buscar naquele dia. Era ela quem passara todas as noites, ali, do meu lado... mesmo dormindo numa cadeira desconfortável. Só saía à tarde quando outra pessoa chegava, quase sempre um dos meus amigos.
Fomos pro carro, minha mãe apoiando meu braço, mas eu estava bem, conseguia andar.. só me esquecera como fazia aquilo bem. As pernas doíam um pouco, mas pela falta de prática. Entrei no carro, encarando minha imagem no retrovisor... eu era diferente, meu cabelo crescera bastante e meu rosto estava tão pálido.
_Marcos. – Minha mãe cortou o silêncio _Meu querido... Estamos fazendo uma coisa para o nosso bem, estou te avisando, pra que você não se assuste muito... e...
_O que foi? – Eu a olhei nos olhos, estava cheio das surpresas
Ela respirou e completou:
_Vamos nos mudar. – As palavras saíram secas
Eu a olhei, tentando entender o que aquilo queria dizer. Para o nosso bem? Mas aquilo tudo, era a minha vida... eu, eu não podia deixar pra trás... amigos, a história que eu construí ali. Pela primeira vez na minha vida, eu me importava com mais alguém... e gostara de algum lugar. Eu me adaptara ali.
_Mãe... mãe, eu gosto da nossa casa. E os meus amigos...
_Marcos. Você não pode ficar aqui... olha só o que aconteceu. Você não enxerga? Você quase morreu, esses garotos, já te trouxeram muitos problemas, eu não quero ver o meu filho morrer... não quero mesmo. Eu decidi e seu pai também, tem uma casinha numa cidade aqui perto. É boa, você vai gostar... e...
_Eu não quero ir.
_Você vai.
Minha mãe parecia decidida, mas não me encarava mais nos olhos. Ela só queria o meu bem... eu sei, mas aquilo não era o meu bem. Ela não viu as lágrimas que corriam pelo meu rosto, ela não me via, nunca vira as minhas escolhas. E mais uma vez eu deixaria que ela me convencesse... eu nunca fazia a minha vontade valer. Então.. eu me mudaria, mais uma vez.
Quis chegar em casa logo, pra avisar à Maria, à Claudia... e por último... Rodrigo. Ensaiava cada palavra, e como elas deveriam sair... eu tinha essa mania, mesmo sabendo que na hora seria completamente diferente.

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Notas finais do capítulo

Ta acabando... hehe, então Reviews pliiz ! kkk'
Até o último capitúlo, praticamente pronto... Já rascunhado ! ;] Peço sugestões para o título do último capítulo, mesmo que não saibam o que acontece, queria interagir um pouco mais com todos que leram até aqui essa fic. Então... Falem aí... e eu escolho um deles ! Posso gostar de TODOS, mas sempre haverá um MELHOR (mal eu, não?) O título pode siim, interferir na trajetória dos personagens, e o rumo que a história toma... por isso, tomarei o título como um desafio. Amo desafios...



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