Meus pais não estavam em crise e aquela notícia me aliviou muito, era como se fosse menos um problema na minha vida, mas ao mesmo tempo um novo tinha surgido: O convite do meu pai para ir morar em Nova Iorque com ele. Parecia mais pesado que uma provável crise entre meus pais.

Se meu pai estava indo passar uma temporada em Nova Iorque não demoraria muito até minha mãe ir e, consequentemente, eu também e definitivamente não queria ir. Sei que é o sonho de muita gente, é o meu também, mas não agora, não posso simplesmente largar tudo no Brasil aos dezesseis anos, não quando estou me descobrindo e começando uma vida.

- Coma sua lasanha – Meu pai disse – Não estou dizendo que você tem de vir comigo, ok?

- Ok...

- Preciso me arrumar, vou encontrar sua mãe no trabalho dela. Não nos espere, tente não aprontar. – Ele disse indo para o quarto.

- Acho que vou encontrar Chay mais tarde.

Silêncio.

- Só não durma fora – Ele finalmente respondeu.

Talvez meu pai saiba que de algum modo Chay vai ser ou é bom para mim e se meu pai realmente sentisse isso, significa que estava indo tudo bem, para o caminho certo.

O Renan despojado – e raro de se ver – deu lugar a um Renan habitual de terno e gravata, cabelos com gel e o sorriso que sempre tinha ao ir encontrar a esposa.

- Como estou? – Ele perguntou dando uma voltinha.

- Ótimo, pai, você está ótimo. – Respondo com um sorrisinho – Minha mãe vai adorar.

Meu pai sorri e beija o topo da minha cabeça, depois bate a porta e mais uma vez estou sozinha. É ótimo ver meus pais assim, nossa família assim, sem brigas. Até alguns meses atrás a casa era um inferno, eu detestava passar a tarde presa no apartamento, porque meu tempo se resumia a ficar navegando na internet.

- Meu Deus Cecília! Como você consegue ser tão irresponsável? – Minha mãe gritava andando de um lado para o outro.

- A única coisa que você faz é estudar e nem isso é capaz de fazer direito! – Meu pai completava exaltado e balançando minha prova com uma nota baixa em frente ao meu rosto.

- Vou estudar mais, eu prometo!

- Estudar mais? Eu não vejo você tocar nos livros! – Ela falava em prantos – Sabe quanto eu e seu pai nos esforçamos para te dar essa vida? Muito!

Bom, ainda bem que esse tempo passou e meus problemas agora são outros: A falta de paciência com Marcela e como NÃO ir para Nova Iorque aos dezesseis anos, mas agora estava indo ao cyber café antes que o turno de Chay acabasse ele fosse embora e nós não conversássemos. Peguei uma mochila e coloquei tudo que poderia precisar, vai que ele inventa de ir a algum lugar louco tipo aquela casinha de novo?

Por sorte cheguei bem na hora que Chay estava saindo e como no dia anterior estava incrivelmente perfumado, me deixando meio incomodada como acntecia ao vê-lo sem avental. É alguma crise meio idiota. Naquele minuto parei para pensar realmente nos meus atos: Eu estava sendo grudenta e sufocante indo atrás dele um dia atrás do outro.

- Ei! – Ele disse – Tudo bem?

- Tudo... Passei aqui só para comer alguma coisa, pensei que ás sextas você não trabalhava. – Menti.

- Ah... Trabalho de segunda a sexta. Que sorte a minha e encontrar aqui, ia ter que te procurar por todos os cantos já que não trocamos os números.

- Ia?

- Sim – Ele riu. – Então, por favor, me diga seu número!

Chay entregou o celular para mim e digitei.

- Muito obrigada, isso me poupa bastante trabalho... Hoje vamos para um lugar muito foda, você vai adorar, tenho certeza.

- Lá vem você com suas ideias! – Digo enquanto andamos – Só para constar: Não posso dormir fora de casa hoje.

- Não se preocupe você não vai dormir hoje.