Cecília escrita por Claire Capelotti


Capítulo 14
Capítulo 14




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Ficamos assistindo TV e comendo pizza até a “amiga” de Mark chegar. Quando ele atendeu a porta ela entrou deixando um rastro de perfume por onde andava. Tinha uma bunda empinada e dura bem marcada na saia bandage vermelha, seios grandes também, mas proporcional a seu corpo e cabelos loiros lisos até o meio das costas.

- Essa é Cecília, minha hospede. – Mark nos apresentou – E essa é Ivy.

- Oi! – “Aivi” me deu dois beijinhos.

- Oi. Estou indo para meu quarto. Boa noite.

Tranquei a porta, vesti um pijama e dormi. Quer dizer, dormi por duas horas até acordar com gritos e gemidos. A voz de Mark gritava xingando Ivy e ela pedia por “mais” e gemia alto. Isso seguiu por uma hora, então pude dormir novamente.

Acordei com meu celular apitando, era uma mensagem no aplicativo da minha mãe.

Como você está? Dormiu bem?

Estou bem, mãe.

O garoto é legal? Eu não aprovei muito a ideia de te largar com um garotão só três anos mais velho que você!

Está tudo bem, mãe. A gente jantou e tal, relaxa.

Te amo.

Eu também...

Saí do quarto na ponta dos pés e dei de cara com Mark bebendo leite sentado na cadeira alta e apoiado no balcão da cozinha, coloquei um pouco de leite e cereais em um prato e sentei ao lado dele sem dizer nada.

- Ela ainda está aí. – Ele disse e olhei para o quarto dele, a porta estava aberta e dava para vê-la deitada nua de bruços na cama. Não disse nada. – Ela transa bem, mas não gosto de meninas dormindo aqui, ela devia ter ido embora. Também não quero te deixar constrangida e tal...

- Constrangida? Eu escutei seus gritos, isso é constrangedor, não ver uma mulher dormindo na tua cama. Mas foda-se a casa é sua, eu sou quase uma desabrigada ou alguma coisa assim.

Ele riu.

- A gente vai fazer umas coisas legais hoje, se quiser.

Nesse momento Ivy acordou e chamou por Mark, ele foi até ela e lhe deu um beijo, então ele fechou a porta e quinze minutos depois ela estava vestida e saindo pela porta depois de um beijo demorado.

- Foi ótimo, quero repetir. – Ela piscou pra ele e acenou dando tchau para mim.

- Quem sabe... – Mark disse e fechou a porta. – Ei, vai se arrumar, a gente vai sair.

Engoli os cereais o mais rápido que pude e corri para o quarto para trocar de roupa, em menos de quinze minutos eu estava pronta e esperando por Mark perto da porta, quando saiu do banheiro com os cabelos molhados, vestindo bermuda cargo marrom e uma camisa preta, confesso que fiquei um pouco sem ar. Mas porra, quem não fica quando um garoto sexy que você escutou gritando de prazer sai de um banheiro com os cabelos molhados e te olhando?

Mark pegou as chaves do carro e saímos pela cidade até o Central Park, provavelmente meu pai comentou alguma coisa sobre eu ser louca para conhecer etc. e tal. Era enorme, bem maior do que eu imaginei tipo claro que você sabe pelos filmes quão grande é, mas cara, quando é você ali naquele espaço todo, pisando naquela grama e vendo aquelas pessoas fazendo um piquenique ou crianças correndo e casais andando casualmente por ali e grupos de pessoas da sua idade com camisa de empresas de turismo andando para lá e para cá tirando fotos... É inacreditável.

- Quer sentar? – Mark perguntou – A gente pode conversar e se conhecer mais.

- Certo...

Andamos um pouco até uma arvore e sentamos embaixo dela, tinha um casal ao nosso lado se beijando, mas ignoramos e ficamos olhando as criancinhas correndo e um pai brincar de jogar a bola para o filho. Parecia até cena de filme, não imaginava que fosse realmente assim.

- Você tem dezesseis anos, não é? – Ele perguntou olhando para frente.

- É e você?

- Dezenove quase vinte.

- Eu podia perguntar se você tinha namorada, mas depois dessa noite acho que a resposta é não. – Disse e ele riu. – Você vive rindo de mim...

Lembrei-me de Chay. Eu sempre ria dele e ele também falava isso. Balancei a cabeça apagando a lembrança da minha mente.

- É. Eu não tenho namorada. E você? Tem namorado?

- Nunca namorei. Não oficialmente. – Respondi mexendo nas unhas.

- Conte-me sua decepção amorosa. – Olhei para ele e revirei os olhos – Ok. Não precisa contar, mas para te deixar melhor vou te contar minha história de “porque não namoro”. Eu tinha quinze anos, minha primeira namorada, era louco por ela, aquela coisa de primeiro amor e tal... Para resumir, a garota me traiu com sei lá, uns dez caras? – Ele riu dele mesmo – Mas é isso aí, me envolvi com outras garotas, não desacreditei do amor nem nada as pessoas não deviam desacreditar dele, mas depois disso nunca mais me senti atraído o suficiente para manter um relacionamento.

- Bela história. Bem... Inspiradora. “Não desacreditei do amor, as pessoas não deviam desacreditar dele”.

- Ta afim de uma festinha hoje?

- Confesso que por causa dos filmes tenho medo das festas americanas. Mas é melhor que ficar trancada no seu apartamento com a possibilidade de alguma garota bater lá.

- Relaxa. Eu cuido de você. – Mark colocou a mão no meu joelho.

- Claro que cuida.

Eu não tinha medo de festas americanas. Não de verdade. Sabe, eu tenho medo de ventiladores, mas não de festas americanas. Eu estava muito excitada com tudo isso, sabe? Ficar chapada, beber até vomitar, beijar uns garotos e nem lembrar meu próprio nome no dia seguinte, essas coisas. Sempre quis experimentar essa sensação louca, Malu sempre me convidava para umas festinhas, mas eu não gostava muito por que:

1-   Ela sempre ficava com o namorado

2-   Eu ficava deslocada

3-   As garotas eram vulgares demais (não que eu espere meninas finas por aqui ou sei lá)

4-   Os caras não eram muito interessantes (pelo menos não nas festas que Manu me arrastou)

Enfim, eu estava animada pela primeira vez para ir a uma festa. Não sabia se era certo querer curtir com um cara que eu mal conheço, mas de um jeito muito estranho meu pai confia o suficiente para me largar em uma cidade que eu nunca fui, nem tenho parentes e etc.

Durante a tarde o pai de Mark passou na “nossa” casa (se é que posso chamar assim) para saber como eu tinha sido recebida e essas coisas. Claro que antes do pai dele chegar demos um jeito de deixar a casa incrível. Segundo Mark nem eu nem ele iria querer que eu fosse morar provisoriamente com aquele cara chato e empresário que era o pai dele então precisamos deixar a casa linda e eu teria que mentir dizendo que ele foi super atencioso.

Eu não fui convencida pelas palavras do meu amiguinho, mas tinha certeza que seria um saco ficar com o pai dele por experiência própria como uma vez meu pai teve um surto de paternidade dizendo que eu ficava muito largada e sozinha em casa e inventou de me mandar para a casa de um desses amigos empresários dele por um dia e foi enlouquecedor ficar sorrindo a todo tempo e aposto que o cara também achou um saco, de qualquer jeito eu também sabia que ir morar com o pai de Mark não me daria acesso a festinhas legais, então concordei em mentir.

Quando o pai de Mark chegou, eu mesma atendi a porta para demonstrar que eu estava “super à vontade, já me sinto até em casa! Mark é ótimo!” que era a minha frase gravada para dizer. Mas para minha surpresa o pai dele não estava usando terno, nem usava óculos de grau e sapato de bico fino como eu imaginei, nem era um cara que sofria muito com calvície e me deparei com um cara de bermuda cargo caqui como Mark usou pela manhã, camisa do Pink Floyd e chinelos e tão bonitão quanto meu pai. Quase caí para trás.

- E aí Cissy... É Cissy não é? – O pai de Mark disse e eu balancei a cabeça para confirmar porque estava incapacitada de falar. – Prazer, meu nome é Julius, melhor amigo do seu pai, cara que vai resolver seus problemas, coisas de estudos por aqui e pai desse carinha irresponsável que você está sendo obrigada a dividir apartamento.

- Prazer...

- Como estão indo as coisas? Ele não trouxe nenhuma vadia para cá enquanto você estava, trouxe? Forneceu comida? Porque esse idiota só tem bebida na geladeira! – Julius disse entrando na casa e indo para a cozinha dar uma olhada no estoque de comida e ele mesmo respondia as próprias perguntas – Pode responder sinceramente, ele trouxe, não é? Hm... O que é isso? – Ele pegou um pacote de biscoitos e em seguida abriu a geladeira encontrando comida congelada – Comida de verdade. Pelo menos isso.

- Não, senhor Julius, ficamos sozinhos, ele não trouxe ninguém.

- Cissy... – Ele veio até mim e passou o braço por cima do meu ombro – Eu sei que ele trouxe, conheço meu filho, e também sei que ele esta te fazendo mentir e que vocês arrumaram o apartamento de ultima hora. Eu sei.

Olhei para Mark pedindo socorro e perguntando em sussurros o que devia fazer, ele só tinha ficado parado encostado na parede observando os acontecimentos e não tinha se manifestado ainda.

- É, pai. Eu trouxe uma garota aqui, nada demais, não vai acontecer novamente enquanto ela estiver aqui.

- Até porque ele vai tentar te comer, fica esperta – Julius sussurrou no meu ouvido e eu só pude esboçar um sorriso. Ele era um cara muito legal, nem acreditava que era amigo do meu pai. – Eu espero que não, Mark. Cissy é uma garota legal e preciso que cuide bem dela, até porque eu estou te pagando bem para isso, o suficiente para você manter comida boa e pagar suas festinhas.

- É eu sei, mas tem comida, não é? Você mesmo viu. – Mark disse – Agora que você já fez seu papel de pai chato e tal pode ir embora.

- Preciso mesmo... Já fugi demais daquele terno por hoje. – Julius disse me dando uma tapinha nas costas – Cissy, qualquer coisa pode me ligar, deve ter meu numero espalhado por aí. Fiquem bem.

Quando Julius saiu do apartamento ficamos em silêncio e Mark correu para a janela e esperou o pai sair com o carro da rua, então pegou um cigarro, colocou na boca e acendeu.

Fiquei olhando para ele. “Até porque ele vai querer te comer”. Sem chance.

- O que foi? – Mark disse.

- Julius é bem legal para um pai.

- Deve ser por isso que sou assim... Meio pervertido, vagabundo e tal. – Ele disse dando de ombros e sorrindo. – A gente vai sair para a festa logo, logo, quer dizer é um aquecimento e mais tarde é a festa, tenta não se drogar ou beber muito, eu normalmente sou o cara bêbado e não o cara que lida com os bêbados, ok?

- E a história de “eu cuido de você?”.

- Cara... Você realmente confia em mim? Eu acho que não. Mas farei o possível.

- Como quiser senhor. – Ironizei.

***

Fomos andando até a casa de um amigo de Mark, onde encontraríamos com o pessoal, não era muito longe. Quando chegamos no apartamento encontramos três garotos e uma garota, eles estavam bebendo e fumando maconha, eu acho. Nenhum era da minha idade, todos com certeza até um pouco mais velhos que Mark.  O apartamento era um chiqueiro de humanos, a casa de Mark era um palácio de tão limpo caso fosse comparar. Era suja pra caralho, tinha cuecas por todos os cantos (inclusive em cima da TV), fedia a xixi e cerveja, mas os caras pareciam nem ligar.

- E aí galera - Mark disse cumprimentando um gordinho loiro que bebia uma garrafa de vodka, sozinho. – Essa é Cissy, minha amiga. Não peguem pesado com ela.

- Ela é lésbica? – A garota perguntou.

- Não Anne, ela não é. – Mark hesitou um minuto – Quer dizer, eu acho.

- Sou hetero – respondi rápido. – Sem preconceitos, mas... Só curto garoto.

Anne fez uma cara meio desapontada e tragou mais. Então percebi que tinha varias garrafas no chão em volta deles, ou seja, eles tinham bebido bastante antes mesmo de nós chegarmos. O loiro gordinho esticou a mão entregando uma garrafa de vodka a Mark que pegou e colocou o outro braço na minha cintura, como se me segurasse para eu não fugir ou sei lá.

***

Mark me apresentou aos garotos. O gordinho loiro se chamava Simon, o outro ao lado desse era um loiro forte com cara de jogador de futebol americano do colegial que é desejado por todas as garotas se chamava Bruce e o último era um que estava sentado no chão (pela cara já estava muito louco) era um oriental magricelo com cabelos espetados que se chamava Kota.

Eles estavam bem animados conversando sobre as ultimas festas e quem tinha beijado quem, ido para cama com quem e essas coisas enquanto eu ficava ouvindo calada, não queria beber, mas Anne me obrigou a tomar um gole bem longo de cerveja, mas prometi não passar daquilo.

Quando estava escuro nós saímos andando pela rua, Mark não me soltou um minuto sequer, colocou o braço por cima do meu ombro com a mão que segurava a garrafa de bebida e toda vez que levava a boca esmagava minha cara contra o peito dele.

Entramos em um beco escuro, no fim dele tinha uma portinha onde Bruce fez uma sequencia de socos e um brutamonte de cabeça raspada e roupas pretas apareceu e sorriu ao ver nosso grupo, só quando olhou para mim fez uma cara feia e apontou.

- Quem é essa? – O homem disse.

- Está com a gente. – Anne respondeu e na mesma hora o rosto dele suavizou.

- Qual seu nome, garota?

- Cecí...

- Não precisa dizer seu nome de verdade, aqui você cria uma nova identidade, escolha. – O homem me cortou com simpatia.

- Ann... Dita?

- De Dita Von Tesse? – Anne disse – Aquela mulher é linda pra caralho! Mas não acho que combine com você, que tal... Angie. Sexy e inocente.

- Angie é uma boa. – O homem concordou.

- Porra, dá para vocês adiantarem? Eu quero curtir! – Bruce disse irritado e Mark repreendeu-o com um olhar, ele revirou os olhos.

- É Angie está bom.

Ao decidir meu “novo nome” entramos por uma porta de metal que dava acesso a um corredor com luzes no teto a cada metro, como um convés de navio de guerra e no fim do corredor entramos por outra porta. Quando Bruce a abriu o som invadiu minha cabeça e eu não conseguia escutar meus próprios pensamentos ou lembrar o que estava pensando.

As pessoas pulavam animadas ao som de uma música eletrônica – Acho que era alguma do Skrillex, sempre é -, Bruce ia à frente, nos guiando entre o mar de pessoas até chegarmos ao meio e encontrarmos um espaço suficiente para nós.

Mark segurava meu pulso com força como se eu fosse fugir. Kota e Simon se afastaram da gente indo para o bar que – pelo que eu conseguia ver da distância da qual estava – parecia uma barraquinha com luzes em volta e ficamos apenas Bruce, Anne Mark e eu. Quando comecei a me animar dançando de frente para Mark olhei para o lado e vi Anne beijando uma garota com cabelos curtos e azuis, era um beijo nojento e esquisito que me fez repreender uma risada. Um garoto forte esbarrou nas minhas costas, mas antes que ele pudesse me xingar ou sei lá - mesmo a culpa sendo dele – Mark puxou meu corpo para perto dele.

Bruce me entregou um papel enrolado que levei a boca e deixei-o acender cuidadosamente com o isqueiro, quando puxei o ar e senti aquela droga – literalmente falando – por minhas vias respiratórias comecei uma crise de tosse que fez minha garganta ficar dolorida como quando você passa horas gritando em um show ou em um jogo de futebol. Bruce tirou o papel enrolado da minha boca e colocou na sua com um sorriso quase dizendo “que bobinha!”.

Algo como “Bitches love cake” saía em volume máximo das caixas de som gigantes próximas ao palco onde o DJ estava, as pessoas ao meu redor cantavam esse refrão a todos pulmões bem animados.

- Bitches love sex! - Mark disse com a boca próxima ao meu ouvido no mesmo ritmo das pessoas.

Ele estava bêbado? Acho que sim.


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