Não vou dormir!

- Capitão, capitão! – Bepo exclamou contente, entrando no quarto onde o médico passara confinado nas últimas duas horas – Tem um navio bem à frente!

- E daí? – Law rosnou com péssimo humor, levando mais um onigiri aos lábios e lendo, talvez pela décima vez naquele dia, a mesma página de um livro velho. Simplesmente não conseguia se concentrar. E isso tinha uma razão. Não! Tinha várias razões:

Não conseguiram parar na última ilha, pois havia muitos marinheiros e todos prontos para lutar, tudo culpa de certo pirata com um chapéu de palha, e os mantimentos estavam acabando. Havia dias que estavam presos naquele submarino, cujas únicas distrações eram ler livros de medicina, inúteis, na opinião do capitão, que já praticamente decorara todos eles, olhar o oceano completamente azul e jogar cartas ou conversar com a tripulação. Isso, somado ao fato de que o único mapa que tinham da próxima ilha estava borrado em alguns cantos, dificultando a leitura, e também, no caso de Trafalgar, à saudade de certa ruiva, que não via há quase cinco meses, estava acabando com o já raro bom humor do Supernova. Maldito seja o dia em que se tornara pirata. Ainda mais maldito seja o dia em que não matara Mugiwara no Luffy, ainda em Sabaody, poupando tempo e situações irritantes. Mil vezes mais maldito seja o dia em que não levara a navegadora dele consigo. Continuou amaldiçoando tudo e todos, até receber a resposta da sua pergunta mal criada:

- É o navio do Mugiwara no Luffy, capitão. – O urso disse com um sorriso, afinal, os cálculos eram simples: Sunny = Luffy + Nakamas = Gata Ladra + Cirurgião da Morte = Fim do mau humor do capitão = Deixar de receber olhadas congelantes, palavras com sarcasmo e ameaças amedrontadoras.

- E...? – Tentou parecer indiferente, porém havia duas pessoas que o conheciam bem demais e sabiam que estava mentindo. Bepo era uma dessas pessoas.

- E que acho que tem alguém lá que quer te ver... – Comentou como quem não quer nada, atiçando ainda mais, se é que era possível, a vontade do moreno de ver sua ruivinha. Law ficou em silêncio – E então, vamos subir? Eu estou morrendo de calor! – E estava mesmo, era possível ver as grossas gotas de suor em sua testa peluda.

-... Faça como quiser. – Cedeu. Maldito seja o dia em que descobrira ter saudades dela. E um milhão de vezes mais maldito seja o momento em que percebera não saber lidar com as saudades.

- Eu sabia que ele ia falar isso! – Shachi gritou, saindo de trás da porta num salto – Me deve dez berris, Penguin!

- Maldito... – Penguin, também saindo de trás da porta, tirou dinheiro do bolso e deu ao nakama – Toma. E suma da minha frente, seu idiota.

- Disse alguma coisa, imbecil? – Bepo apenas observou em silêncio, um arrepio violento sacudindo sua espinha quando a presença mortal de um pirata psicopata se fez presente. Pobre Shachi. Pobre Penguin. Ele se lembraria da bravura e idiotice daqueles homens.

-... Room... – Traffy pronunciou, fazendo a briga parar no mesmo instante em que o círculo azul surgiu – Shambles...

- H... HYYYYYYYYYYYYYYYYYYAAAAAAAAA! – Os dois gritaram desesperados, com suas partes flutuando em volta do moreno e do urso branco. Pobres idiotas.

Algum tempo depois, eles já iam a bordo do Sunny, Shachi e Penguin cabisbaixos e depressivos, inteiros graças ao resquício de bom humor que se alojara no coração do capitão, quando a chance de estar novamente com a navegadora dos Mugiwara bateu em sua porta, depois de tanto tempo.

- BEPO! – Luffy, escandaloso como sempre, berrou e se atirou no urso, o enroscando com os braços de borracha – Ah, yo, Traffy!

- Animado como sempre, Mugiwara-ya.

- Olha se não é nosso suuuuuupeeeer aliado! – Franky exclamou, fazendo aquela pose que Law só conseguia classificar como bizarra. Logo, todos os Mugiwara estavam lá, todos... Menos uma.

- Traaaaffy! – Luffy chamou – Você é médico.

- Evidentemente.

- Então você pode dar um jeito na Nami? Ela não sai do quarto faz três dias! – Fez bico – Ela não sai nem pra brincar com a gente, e o Sanji tem que levar a comida pra ela.

- Capitão-san, a Navegadora-san está bem. – Robin informou – Não está doente, não é, Doutor-san?

- Ela tá bem. – Chopper concordou – Quer dizer, ela vai ficar bem se voltar a dormir direito. Nami tem passado as noites em claro para poder terminar os mapas e conquistar seu sonho. Está com olheiras e visivelmente cansada, mas se força a continuar desenhando.

- É uma bruxa teimosa. – Zoro resmungou entre um bocejo e outro.

- O QUE VOCÊ DISSE DA MINHA AMADA NAMI-SWAN, SEU MARIMO MONSTRUOSO?! – Sanji berrou com uma veia saltando na cabeça.

- Nada além a verdade, Sobrancelha de Miojo.

- Ei, ei, parem de gritar, ou... – Usopp tenta parar a discussão, porém Nami foi mais rápida. Numa fração de segundos, ela abriu a porta e jogou dois frascos de tinta vazios nas cabeças dos homens, que caíram no chão, nocauteados.

- E com um só golpe... – Tony murmurou – Nami é mesmo assustadora...

- B... Bruxa... – Roronoa comentou baixinho, com a voz abafada pela grama no convés do navio.

- CALEM A BOCA, IDIOTAS! – Ela gritou furiosa – EU ESTOU TRABALHANDO, SABIA?! COMO MEUS MAPAS VÃO FICAR PERFEITOS SE VOCÊS NÃO... – Os olhos castanhos pousaram na figura esguia de Trafalgar Law e o resto da frase morreu em seus lábios – Law!

- Olá, Nami-ya. – Ele sorriu de canto, observando bem a mulher.

Ela usava um short branco e um top de biquíni azul escuro, onde, em um dos lados, se lia a palavra "Sea" em letras grandes e brancas, estava descalça e com os cabelos presos num rabo de cavalo. Chopper tinha razão, havia profundas olheiras debaixo de seus olhos cansados. Nami foi até ele, o abraçou e depositou um beijo casto nos lábios dele, beijo que logo virou um profundo e demorado martírio para certo cozinheiro.

- Vocês não podem fazer isso longe da minha presença? – O loiro questionou. Ainda estava se acostumando com o fato de sua amada Nami-san estar namorando um pirata tão cruel quanto aquele moreno. Bem, pelo menos era um aliado, imagine se fosse Eustass ou algum outro?

- Tá reclamando do quê? Fui eu quem ficou aguentando o mau humor do capitão. – Bepo comentou.

- É... A Nami também estava muito irritadiça... – Usopp confessou – A cabeça do Zoro que o diga. – O casal se separou, ambos ofegantes, e fitaram-se olho no olho por alguns segundos, até a jovem encostar a cabeça no peito dele.

- Onde diabos você estava?

- Por aí. – Murmurou contra a cabeça laranja – Trouxe alguns tesouros para você. Pode pegar mais tarde. – Segredou num sussurro que só ela ouviu.

- Obrigada.

- Nami-ya, fiquei sabendo que não dorme direito faz uns três dias.

- Chopper... – Ela retrucou com certa irritação.

- Giku! – A rena engoliu seco e se escondeu atrás de Franky.

- Nami-ya, eu sou um médico, sei quando acontece alguma coisa com as pessoas. – "Te devo essa", Chopper pensou aliviado – Posso saber o motivo dessa decisão repentina idiota.

- Adivinhe isso também, Oráculo. – Nami alfinetou, se separou dele e voltou para o quarto, não sem antes deixar um último comentário – Vai que algum ser falante abençoado te dê a resposta.

- Sempre arredia e teimosa.

- E agora? – Penguin perguntou para ninguém em especial.

- O que você acha? – Law devolveu e foi atrás de sua ruiva. Queria uma explicação plausível e não sairia sem ela, mesmo sabendo dos riscos de acabar arranhado pela Gata Ladra. Ou eletrocutado.