Ele poderia ter gritado porque um monstro invadiu nossa casa e estava prestes a nos devorar. Porque a Samara telefonou e disse que ele tinha apenas sete dias de vida. Porque passou Pitch Perfect na tevê e ele perdeu. Porque os monstros no Minecraft destruíram a casa que ele levou horas para construir. Ou porque a boneca dele no The Sims 3 estava entrando em trabalho de parto. Ou até porque Marlene estava só de peças íntimas bem na sua frente.

Mas não.

O Acéfalo gritou porque viu uma barata.

— Seja homem! — o Potter deu um tapa na cara dele, bem merecido. 

— Mas ela é monstruosa — o Black disse quase borrando as calças. 

O Potter ia falar mais alguma coisa quando a barata levantou voo. E ai vocês já devem imaginar a loucura. O Black começou a gritar e saiu correndo. O Potter começou a se debater e gritar quando a barata voou em cima dele, e então seguiu o mesmo caminho que o Black. O Remus não gritou mas também correu. A Dorcas deu um tchauzinho para a barata antes de Remus puxa-la. 

A barata finalmente veio para cima de mim e eu arregalei os olhos e saí correndo, temendo pela vida de Fantasma. Tá, eu estava temendo pela minha vida. Mas se eu morresse quem iria alimenta-lo e fazer cafuné atrás de sua orelha do jeito que somente eu sabia fazer? 

As baratas poderiam dominar o mundo se soubessem o quanto as pessoas têm medo delas quando elas abrem aquelas asinhas nojentas e começam a voar por aí. 

Estávamos todos encolhidos atrás do sofá, escondidos esperando a barata voar para o lugar de onde ela saiu, que era o quinto dos infernos, é claro, quando percebi que Lene ainda estava parada no meio da sala. Gritei para que ela viesse se esconder, mas eu não arriscaria sair dali para busca-la. 

Quando a barata se aproximou de Lene, ela simplesmente se abaixou, pegou sua bota no chão e bateu com tudo na barata, que caiu no chão, espatifada. Depois ela fez a coisa mais nojenta do mundo: pisou na barata para terminar de mata-la (e ela estava descalça!) e limpou os pés no tapete. 

Olhamos boquiabertos enquanto ela se virava para nós e atirava os cabelos para trás enquanto fazia uma bolha de chiclete. Só faltava os óculos escuros. 

— Eu.Sou.Foda. 

Todos saíram de trás do sofá gritando e parabenizando Lene. Limpei minhas lagrimas de emoção e a abracei também. 

— E é por isso que eu te amo.

— Eu sei, eu sei — ela disse dando tapinhas na minha cabeça como se eu fosse um cachorrinho. 

— O que esta acontecendo aqui? — virei para encontrar uma Elena furiosa com as mãos na cintura.

— Mãe, é que... — comecei a falar e depois arregalei os olhos —VOCÊ ESTÁ SÓ DE CALCINHA E SUTIÃ COM ESSE ROUPÃO SUPER FINO? — gritei.

Ela corou furiosamente e fechou o roupão. Alguém me mata, por favor. É muito trauma para uma pessoa só. Alguém aí tem uma faca? Ah esperem, antes de morrer eu quero comer um Doritos.

— Esse não é o assunto, mocinha! — ela resmungou ainda vermelha. 

— Belo corpo, srta. Evans — o Black disse e logo ele estava desmaiado no chão.  Porque eu havia jogado o abajur da mesinha de centro nele.

— Vou checar o pulso dele — Lene suspirou e foi até o Black desmaiado, como se estivesse acostumada a fazer isso o tempo todo. E estava mesmo, minhas vitimas sempre acabavam desmaiadas ou internadas no hospital. 

— Sirius viu uma barata, só que ela voava e queria dominar o mundo. Então todos corremos e nos escondemos atrás do sofá. Só que a Lene não se escondeu e matou a barata com sua bota, depois limpou no seu tapete, srta. Evans, e salvou a gente. — Dorcas disse sorrindo e fiquei meio espantada por ela contar tudo de uma forma não-retardada, como de costume. 

Mamãe encarou seu tapete com a barata esmagada e fez uma careta de nojo, mas não se mexeu. Ela provavelmente deixaria ali para que Margareth limpasse, era o que eu faria. 

— Vai dormir, mocinha! — eu exclamei, pondo as mãos na cintura e impersonificando minha mãe quando ralhava. 

Mamãe negou e eu cruzei os braços, a encarando feiamente até que ela fosse se deitar. Se ela queria agir como uma adolescente, seria tratada como uma criança. Não fazia sentido, mas é assim que os pais pensam, então quem sou eu para questionar? 

Por fim, ela se rendeu e voltou para o seu quarto, onde eu esperava que ela não fosse fazer nenhum tipo de safadeza com o Senhor P.

Puxei Lene e Dorcas para o meu novo quarto, enquanto os garotos ficaram na sala com um Black desmaiado.

***

Sabe como é bom acordar com café na cama? Não? Nem eu.

Me espreguicei e levantei sonolenta, desviando do colchão onde Lene e Dorcas dormiam por pouco. Fui até o banheiro do Potter e fiz minha higiene matinal, agradecendo pelo fato das revistas que haviam lá não serem pornográficas. 

Depois acordei minhas amigas de um jeito muito doce e carinhoso. Pulei em suas costas sem parar, enquanto berrava em seus ouvidos, até que elas acordassem. 

Lene levantou imediatamente, enquanto retirava os fios de cabelo emaranhados do rosto e me lançava um olhar assassino, indicando que teria volta. Mostrei minha língua para ela, enquanto ela se dirigia para o banheiro. Dorcas sorriu e pediu para eu fazer de novo. Revirei os olhos e saí do quarto. Segui por um longo corredor até achar as escadas e as descer, com Fantasma em meu encalço. 

Finalmente encontrei a cozinha, depois de me perder umas 10 vezes. O Potter já estava lá, assim como seus amigos, devorando panquecas de uma forma nojenta. Remus era o único que comia como um ser humano normal, enquanto lia um livro chamado Percy Jackson. 

O Black ergueu os olhos de seu prato quando eu entrei. Havia uma marca enorme e muito vermelha em sua testa que formaria um galo. 

— Ninguém mandou você cantar minha mãe — dei de ombros e sentei do outro lado da mesa. 

Logo Margareth me serviu panquecas e um pouco de suco de laranja. Depois colocou várias opções de caldas diferentes para eu colocar nas minhas panquecas. Ela estava querendo que eu ficasse gorda. E provavelmente a mando do Black, para se vingar por eu ter acertado ele com um abajur. 

Mas não fazia diferença, eu não engordava fácil, graças a minha genética. Obrigada mamãe! 

Lene apareceu na porta da cozinha e se jogou na cadeira ao meu lado. Margareth colocou um prato de panquecas na frente dela também, e ela caiu de cara no prato e começou a babar. Ainda bem que não era cereal.

Dorcas entrou na cozinha pulando e sentou-se ao lado de Remus. 

— Bom dia, amigos! — ela disse e começou a rir.

Todos responderam com 'ois' que mais pareciam resmungos. Ela sorriu e começou a comer suas panquecas. 

Á tarde Lene, Dorcas, Remus e o Black foram embora. Me deixando sozinha com o Potter, já que mamãe saiu para pegar umas revistas de casamentos e o senhor P. havia ido trabalhar. Mamãe prometeu que me levaria para provar os doces do casamento, escolher flores e o vestido. Mas a única coisa que me interessava eram os doces. 

Como eu estava extremamente entediada acabei me jogando no sofá, ao lado do Potter. Ele estava jogando videogame, algum jogo onde ele matava muitas pessoas com serras elétricas e muito sangue espirrava na tela. 

Eu já falei que preciso de atenção? Pois eu preciso. 

— E aí — eu disse cutucando-o com meu ombro.

— Hm — foi a resposta do acéfalo.

— O que você esta fazendo? — perguntei, mesmo que fosse óbvio que ele estava jogando. 

— Jogando — ele disse sem tirar os olhos do jogo.

— Que jogo? — perguntei chegando mais perto.

Ele olhou para mim de uma form estranha, como se eu fosse uma espécie de alienígena muito estranha que havia saído do esgoto e invadido sua casa. 

— Você tá flertando comigo? — ele perguntou erguendo as sobrancelhas. 

— Claro que não seu idiota — falei e me amaldiçoei por estar ruborizando — Eu to necessitando de atenção e você é a coisa mais próxima de um ser humano aqui em casa nesse momento. 

Depois eu simplesmente o empurrei do sofá. 

Por que eu corei? Por que eu fiquei nervosa? Por que eu empurrei ele do sofá? Não sei.

— AI! Por que me empurrou do sofá? — ele perguntou, espatifado no chão e fazendo uma careta. 

— Porque... Porque eu quero jogar! — peguei o controle que ele havia largado quando o empurrei do sofá e comecei a apertar os botões freneticamente. 

Eu nem mesmo sabia o que eu estava fazendo. Só via cabeças voando na tela da tevê e muito sangue sendo espirrado para todo lado. O Potter levantou e tentou tirar o controle das minhas mãos, mas eu continuei puxando. Ficamos brincando de cabo de guerra até que eu dei um puxão tão forte que ele acabou soltando o controle e eu caí no chão. E o idiota ainda fez o favor de cair em cima de mim. Tudo bem que ele não tinha muita escolha, mas ainda sim. 

Notei que seu rosto estava extremamente próximo do meu e nossas respirações chegavam a se misturar como uma só. O que era totalmente nojento, se você me perguntar. Mas não foi o que eu prestei atenção no momento. E sim no fato de que seus olhos tinham um tom de castanho muito bonito de perto e que ele tinha sobrancelhas grossas. E eu gostava de sobrancelhas grossas. 

O Potter também me encarava nos olhos como se estivesse hipnotizado, então desviou seu olhar para minha boca e eu fiz o mesmo, por puro reflexo. Antes que eu pudesse perguntar porque ele estava se aproximando mamãe abriu a porta e gritou alto.