Through Of Shadows escrita por Del Rey


Capítulo 3
II. Sete anos de azar


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora. Tive alguns problemas na escola, e ficou impossível postar. Mas o que importa é que estou de volta, certo?
Obrigada a todas que comentaram a fic e me insentivaram a continuar ^^
Enfim, boa leitura ;]



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Um detalhe importante sobre mim, é que escola não me agrada em nada. Isso não quer dizer que tenho algum tipo de desleixo em relação aos estudos, a questão é que eu definitivamente, não consigo me socializar com ninguém daquele lugar.

Tentar sair ilesa do corredor no horário em que o sinal bate é um verdadeiro desafio. Esbarrões, pisões de pé e algumas quedas, faziam parte de uma extensa coleção de acontecimentos desde que entrei na Red County.

Quando consegui, enfim, chegar a minha sala sem nenhum arranhão, me joguei na última carteira, onde de costume eu sentava todos os dias. Poucos minutos depois, uma garota de estilo punk-rock, com suas roupas estravagantes e o cabelo repicado até metade do pescoço, tingido de rosa, sentou-se na carteira a minha frente.

— Você me parece péssima — ela comentou, analisando a minha expressão.

— Travei uma guerra com a insônia, e para o meu azar, ela ganhou — respondi, tentando me animar.

— Bom, acho que isso vai animá-la — ela remexeu a bolsa de tiras e de lá, retirou um livro grosso de um tom vermelho vivo em algumas partes, e fosco em outras. Era o livro “O Pacto” pelo qual eu procurava há muito tempo. Ela o integrou a mim, e tentou descobrir se eu havia ficado feliz — Então, melhorou?

— Digamos que é revigorante — respondi, com o primeiro sorriso que havia conseguido se formar naquela manhã.

— Desde o lançamento em 2010, ficou difícil encontrá-lo tanto tempo depois. Mas quando quero algo, eu consigo — Kerli informou, com um certo ar superior, pelo qual eu já havia me acostumado.

Bom, sobre o fato de não me socializar, nunca quebrei tal voto. Talvez por pura sorte, Kerli era o tipo de garota que se socializava uma vez na vida. Nos conhecemos quando resolvi ter aspírações poéticas, resolvendo assim, entrar no grupo Konrat, onde alunos de diversos estilos se juntavam para recitar e escrever poesias uns para os outros. Mas claro que, mais tarde, descobri que poesias não poderiam ser de forma alguma, um de meus dons. Acho que a única coisa realmente boa que retirei daquela fase, fora a amizade de Kerli. Minha melhor e única amiga.

— Bom dia, alunos — ouvi a voz da professora Keyes ecoar pela sala, fazendo com que todos sentassem em seus devidos lugares. — Kerli, o que falamos sobre cigarros na sala de aula?

Encarei Kerli, e percebi que ela segurava entre os dentes um cigarro apagado. Era tão rotineiro, que não reparava mais esse detalhe nela. Na verdade, ela nunca fumou. Quando nos conhecemos, Kerli explicou que o cigarro apagado entre os dentes era uma espécie de metáfora, pelo qual ela nunca me explicou devidamente.

— A senhora sabe que não está aceso — Kerli disse, tentando apelar para a possível bondade da professora.

— O que acha de perguntarmos ao diretor se pode ou não cigarros em sala de aula? — a senhora Keyes olhou por cima dos óculos de grau.

Kerli deu-se por vencida e guardou o cigarro dentro do pacote intacto de maços.

Algumas risadas abafadas cessaram-se quando a professora começou a falar sobre o trabalho do final de semana. Era comum ela passar o mesmo trabalho na semana do festival das rosas. Tão monótono que comecei a encarar a capa do livro que Kerli havia conseguido para mim. Num desvaneio, me lembrei do diário de Ellie. O verdadeiro motivo pelo qual eu não conseguira dormir por um só segundo. Tendo substituido o sono por imagens aterrorizantes e pertubadoras de um passado que não era meu.

Mas como se minha mente não estivesse satisfeita em apenas lembrar, ela resolveu ser tomada pelos malditos flash’s que iam e voltavam, me fazendo arfar.

Eu tinha que sair da sala, seria impossível me controlar quando aquele pesadelo viesse com tudo.

— Senhora Keyes — chamei, e a professora se virou em minha direção, junto com boa parte da sala — Posso ir ao banheiro?

— Acabamos de começar a aula, Elise. Não pode esperar um pouco? — ela perguntou esperando que eu confirmasse.

— Por favor — insisti.

A professora suspirou e colocou a mão direita na cintura.

— Não demore, ainda quero explicar o trabalho.

Olhei para Kerli que me encarava preocupada, e levantei da carteira, deixando a sala em meio a alguns risos.

Não sei muito bem por onde passei. Tudo a minha frente passou como um borrão, onde eu estava em foco. Sem perceber, eu já estava no banheiro, segurando nas paredes para não cair. Fui em direção a pia de mármore preto e liguei a torneira. Talvez se eu molhasse o rosto, tudo aquilo passava. Mas eu estava mortalmente errada, pois antes de o fazer, senti fortes pontadas em diferentes pontos da cabeça. Um nó se formou em minha garganta, e minha respiração passou a ser descompassada.

A dor era insana. Minha cabeça parecia uma bomba relógio, pronta para ser explodida a qualquer momento.

Encostei na parede do banheiro e deixei-me escorregar até estar sentada no piso branco. As imagens foram ficando ainda mais nítidas e longas, até que entrei em transe. Retrocedendo a um lugar desconhecido.

Dessa vez, eu via a cena com uma terceira pessoa. Onde a protagonista era uma cópia perfeita de mim, diferenciando apenas o vestido de época e os cabelos que recaíam em madeixas longas e negras. Era noite, e o lugar parecia silencioso. A garota parecia fazer partes das sombras, pois a mesma andava pelo ambiente sem nenhum pudor.

O que ela não sabia era que duas figuras altas, com vestes inteiramente negras, a seguia silenciosamente. Um deles olhou em minha direção e com um susto vi seu rosto. A pele parecia não ter vida e os olhos era a parte mais assustadora. As íris eram de um vermelho vivo e no lugar da pupila, havia um “S” cravado.

Naquele momento, senti vontade de gritar para que a garota saísse daquele lugar e pedisse ajuda. Mas a voz ficara presa em minha garganta, e assim, percebi que meu papel naquele flashback era de espectadora.

As duas figuras se aprontaram para atacar, mas antes de fazê-lo, uma terceira figura que havia passado despercebida por mim, agarrou um deles pelo pescoço e o apertou até que o mesmo explodisse em poeira densa e negra. O segundo se virou ferozmente em direção ao companheiro que havia virado pó. Depois disso fora travado um embate entre a criatura e o vulto do qual eu ainda não tinha a menor ideia de como era.

A luta parecia covarde, pois a figura que parecia estar com o intuito de defender a garota, levava golpes atrás de golpes. Até que o mesmo caiu no chão, fazendo a figura salivar com sua própria risada.

Em um movimento rápido, a figura vestida de negro dos pés a cabeça, reuniu todas as suas forças e girou sobre o próprio corpo, com a perna direita esticada deu uma rasteira na criatura, fazendo-a bater no chão sobre as próprias costas. Se sobrepondo em cima da mesma, o vulto rosnou e levantou o braço, onde pude ver garras surgir em sua mão.

— Mexestes com a humana errada, servo inútil — dito isso, ele cravou as garras no rosto da criatura que logo depois virou poeira, assim como seu companheiro.

Pondo-se de pé, a figura parecia ainda mais misteriosa do que antes. Principalmente pelo fato de estar usando um capuz puxado sobre a sua cabeça, impedindo-me vislumbrar seu rosto. Ele caminhou até a garota que assistia tudo parada, em estado de choque. Parado a poucos centímetros dela, a criatura tirou o capuz, revelando madeixas loiras e bagunçadas. Foi nesse momento que meu ponto de vista mudou de terceira pessoa, para protagonista. Naquela hora, eu era a tal garota indefesa.

Mil sensações percorriam o meu corpo. Predominava mais o medo e a adrenalina, que me faziam ofegar. Fiz que ia gritar, mas o jovem colocou o dedo indicador em meus lábios.

Suas órbitas douradas me traziam uma tranquilidade, que há muito, eu não tinha.

— Ficará tudo bem, irei vos proteger — ele disse em tom amigável.

Depois disso, fui levada de volta à minha realidade. Eu continuava no banheiro da escola. Com muito esforço, levantei do chão e fui até o espelho, vendo que um líquido vermelho escorria pelo meu nariz, e que minha cabeça continuava latejando.

Escorei as duas mãos na pia, tentando voltar à respiração compassada.

— Elise — uma voz feminina chamou.

Virei-me em direção a porta, e não havia ninguém lá. Quando voltei a olhar o espelho, vi um segundo reflexo meu. Com as mesmas características da garota do sonho.

— Ótimo, estou ficando louca — disse nervosa.

— Pare de ler — o segundo reflexo disse com uma voz arrastada.

Olhei novamente para trás e não havia ninguém, mas ainda assim o reflexo continuava ali.

— O que está acontecendo comigo? — perguntei com os olhos marejados. Sem nem ao menos ligar para o fato de estar falando com um reflexo sem dono.

— Eles vão achá-la — a garota disse. — O diário foi só um jeito de você adiantar o inevitável.

Ela estava falando do diário que encontrei? Só poderia ser ele.

— Se for por medo de descobrir os segredos da tal Ellie, fique tranquila, eu só li a primeira página — me defendi.

O reflexo rolou os olhos e riu com desdém.

— Eles vão encontrá-la e tudo a sua volta irá desmoronar — ela disse.

— Eles quem? Quem vai me encontrar? — perguntei.

E a frase “pare de ler” foi desaparecendo junto com o reflexo. Ela havia me tirado do sério, tateei o vidro do espelho gritando para que a garota volta-se, mas isso não aconteceu. Em um ato impensado, esmurrei o espelho, criando rachaduras no lugar e abrindo um enorme corte em toda a região da mão até pouco abaixo do pulso. Não dei atenção à dor que minha atitude causou. Pois a seguinte pergunta não queria sair da minha mente.

De quem o reflexo estava falando? Quem iria me encontrar?

— Não! — ouvi um grito vindo do corredor. Por impulso, sai do banheiro às pressas e corri para o ponto onde saíra o grito.

Parei abruptamente quando me deparei com o inimaginável.

Uma multidão se formava em volta de uma pessoa. Ela estava com uma corda envolta do pescoço e presa ao teto. Havia uma capa que cobria o seu corpo deixando a mostra apenas as mãos, deixando apenas o esmalte preto a vista. Abri caminho entre o grupo de alunos que se formavam ali e vi a garota de frente. Quem quer que seja que tenha feito aquilo, deu-se ao trabalho de cobrir a identidade dela. No peito da vítima havia uma horrível queimadura. Ela fora marcada a fogo, com uma palavra que levei alguns segundos para entender.

Exitium.

Era essa a palavra marcada em letras desenhadas. As letras ainda tinham vestígios de fogo, o que me assustou ainda mais.

Como se não bastasse, olhei fixamente para a mão da vítima. Havia um anel de Ank. Um anel que eu conhecia bem, muito bem. Incrédula, constatei quem era realmente a pessoa.

Era Kerli. Haviam matado a minha melhor amiga.


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Notas finais do capítulo

"Kerli explicou que o cigarro apagado entre os dentes era uma espécie de metáfora, pelo qual ela nunca me explicou devidamente." Peguei emprestado de "A culpa é das estrelas" super recomendo esse livro pra quem ainda não leu. Ah, e recomendo O Pacto também, sou mais o livro do que o filme e.e
Como assim a Kerli? Af, fiquei chateada com isso... pera... eu sou a autora disso tudo e.e
O que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado, mas mesmo que não, comentem com suas devidas opiniões. ^^
Voltarei ainda essa semana, pois para a nossa alegria ♫ Estou de férias :B
Bom... Vejo vocês nos reviews.