– Bom dia.

Melissa ergueu os olhos abruptamente. Não acreditou no que viu, não acreditou em quem viu.

– Bom dia, Arthurzinho! – três ou quatro garotas guincharam no fundo da sala, rindo descaradamente com maldade.

– Olá, meninas. – um sorriso um tanto sarcástico pendeu nos cantos da boca do professor. – Manhã agradável, não acham?

– Bastante... – uma das adolescentes falou, dando uma risadinha em aprovação quando a camisa de Arthur se ergueu enquanto ele se espreguiçava.

– Retomando o assunto de seman... – o rapaz se interrompeu ao ver um rosto familiar na segunda fileira. – Você é dessa turma?

– Fui transferida. – Melissa, seca, respondeu.

– Verdade? – uma expressão divertida se abriu no rosto do professor enquanto o duplo sentido cobria suas palavras seguintes: - Seja bem vinda então, Melissa. Tenho certeza que você terá bons momentos nessa classe.

– Não estaria tão certa disso, se fosse você... – ela rebateu com um sorriso cínico, ao que o rapaz ignorou e deu início à sua aula.

* * *

– Isso é perseguição! – Melissa murmurava para si mesma enquanto deixava a sala onde sua última aula havia sido dada. – O ano inteiro tendo que aturar a Laísa falando de “como o Arthurzinho é perfeito” para chegar agora no último trimestre e cair na desgraça de uma turma dele.

Ao dobrar a esquina do corredor, a garota foi fortemente de encontro à uma camisa xadrez.

– Ei, olhe por onde anda, nervosinha. - o sorriso debochado de Arthur entrou em foco diante dos olhos de Melissa.

– Com licença. - ela murmurou, entredentes.

– Para quê tanta pressa? - o rapaz ajeitou os óculos de uma forma charmosa.

– Com licença. - repetiu, os punhos cerrados.

– Nervosinha, você precisa relaxar. - uma das mãos de Arthur fez o caminho do ombro até a mão de Melissa.

– Eu preciso que você saia da minha frente! - com um puxão, ela conseguiu deixar o aperto do professor.

– Tudo bem. - o rapaz deu um passo para o lado e deixou que a garota passasse... Claro que não antes de beliscar sua cintura.

– Mande um abraço pro Léo! – Arthur sorriu debochado antes de dar as costas à Melissa e desaparecer corredor abaixo.

Melissa revirou os olhos e seguiu na direção oposta à do rapaz.

Não merecia aquilo. Uma pessoa tão irritante quanto ele não deveria existir e muito menos ser amiga de seu primo, quiçá seu professor! Sua sorte, se é que podia ser chamada daquela forma, era que em pouco mais de dois meses o contrato dele expirava.

Mas ainda assim terei que aturá-lo nos churrascos e festa da família... Melissa bufou.

Ele era um amigo normal de Léo, como todos os outros, até que começou a dar aulas no colégio em que ela estudava e pronto, foi questão de tempo até passar a só ouvir elogios e “puxação de saco“ para o lado de Arthur.

Todos o julgavam quase um anjo por seu rosto sereno e o ar de intelectual que os óculos e as camisas quadriculadas lhe conferiam apenas reforçavam tal ideia.

Ele também sempre fora simpático, mas quando começou a reparar nos olhares diferentes que recebia dentro e fora de sala tornou-se um mestre em cantadas e paqueras, essas discretas e ao mesmo tempo perversamente maliciosas.

Sentiu um comichão de repulsa ao ver seus pensamentos mostrarem vida com a visão de Arthur abrindo a porta do carona para uma loira do primeiro ano.

– Tenha dó... - ela murmurou, rolando os olhos novamente.