Distorted Love escrita por Fran Carroll


Capítulo 1
Distorted Love (Capítulo Único)


Notas iniciais do capítulo

Bem, nunca escrevi nada desse gênero, então tenham paciência comigo.
Espero que gostem!



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Distorted Love



Lucy era uma menina quase comum. Com seus quinze anos, vivia com os pais e o irmão mais novo em uma cidade calma e rodeada por uma bela floresta. Estudava em uma escola comum e era mais tímida que a maioria das garotas – conversar com rapazes não era o seu forte. A única coisa que a tirava da homogeneização adolescente eram seus longos e lisos fios acinzentados e olhos azuis, características que lhe davam uma aparência um tanto exótica. Porém ela não ligava, não mais. Depois de um tempo, parou de se sentir triste pelo fato das pessoas evitarem se aproximar de si devido a isso e se conformou com o fato de que seus familiares seriam as únicas pessoas que se aproximariam de si.


Mesmo com todas essas dificuldades, Lucy tentava ser uma menina comum. Mas depois de determinado acontecimento, percebeu que nunca mais conseguiria tal paz pessoal.


Era manhã de sábado e todos seus familiares se encontravam sentados no sofá vendo as noticias. O apresentador, com ar sério e voz firme, relatava aos telespectadores uma série de assassinatos que rondava a região. Pedindo a todos que tomassem cuidado, pois o assassino ainda não havia sido pego.


— Onde esse mundo vai parar... — comentou sua mãe, Helena, completamente horrorizada.


— Por isso eu digo, filha, nunca fique até muito tarde nas ruas. Você pode até estar acompanhada, mas nunca deixa de ser perigoso. — advertiu seu pai, Walter.


— Tomarei cuidado, pai. — Lucy respondeu. Não que ela tivesse amigos para ficar até tarde na rua, mas preferia não dividir sua desastrosa vida social com sua família.


Em silêncio, a família continuou assistindo ao telejornal. No chão, sentado no carpete, seu irmãozinho Max olhava apático para seus carrinhos de brinquedo, sem nem mesmo tocá-los.


— Está com medo, pequeno? — ela perguntou para o irmão. — Ora, não se preocupe, sua irmãzona te protege!


Respondendo ao comentário, ele deu um sorriso fraco. Percebendo a quietude pouco comum do menor, ela desceu ao chão e sentou a sua frente.


— O que foi, Max? — Lucy perguntou com olhar preocupado.


Seus pais, notando aquilo, também olharam para baixo.


— Vamos, rapaz, não precisa ter medo, logo a policia prende esse patife. — Walter tentou confortar.


Um pouco mais sensível ao que acontecia aos filhos, a mãe colocou a mão no rosto do garotinho, notando o quanto estava quente.


— Oh, querido, por que não disse que estava se sentindo mal? — Helena perguntou, pegando-o no colo. — Acho que é um resfriado, melhor cuidarmos disso antes que piore.


Levando Max dali, a mulher o carregou até seu quarto, que ficava no andar de cima. Preocupada, Lucy olhou para o pai.


— Ele vai ficar bem, querida. — respondeu.


— Espero que sim — murmurou, olhando para a janela que mostrava o quintal da casa, cercado apenas por uma robusta floresta.



Lentamente nuvens escuras começaram a tomar conta do céu noturno, não dando espaço nem para a lua. Gotas pesadas de chuva iam de encontro ao chão, dando uma gostosa sonoridade ao ambiente.

No entanto, tranquilidade era a única coisa que não havia na casa daquela família. De forma rápida, Helena pegava sua bolsa e os documentos do filho, enquanto Walter procurava as chaves do carro. Em pé, no meio de tudo aquilo, Lucy carregava seu irmão, sentindo o intenso calor do pequeno corpo contra o seu. O que parecia ser um simples resfriado, revelara-se bem mais grave, piorando o estado do pequeno garoto.


— Tem certeza que quer ficar? — a mãe perguntou a filha. — Sei que não gosta muito de hospitais, mas talvez seja melhor do que ficar sozinha.


— Tenho, mãe. Só vou atrapalhar se ir junto. — respondeu, entregando Max a ela.


— Tem certeza mesmo? — insistiu aflita.


— Claro — olhou para o pai, tentando enviar um recado silencioso de que se não intervisse sua mãe só se daria por satisfeita quando Lucy desistisse de ficar.


— Vamos, querida, Lucy é responsável — ele se aproximou.


Acenando, os dois se retiraram da casa, deixando a filha na companhia apenas do barulho dos trovões. Suspirando, ela tentou se acalmar. Sabia que Max ficaria bem, era um garotinho forte. Uma rápida consulta e alguns remédios e ele logo ficaria bem.

Com tal perspectiva em mente, tentou sorrir. Porém logo sua calma foi jogada para longe ao perceber que estava sozinha em casa, de noite em um dia de chuva com trovões.

Achando que precisava de distração, ligou a televisão, tentando focar-se em um filme que passava, na tentativa se esquecer das coisas à sua volta.


Durante longos minutos a estratégia funcionou, o barulho das trovoadas parecia distante e sem importância. Até que um clarão acompanhado de um estrondo ensurdecedor tomou conta dos céus, levando consigo toda a energia daquela casa e provavelmente do bairro inteiro.


Lucy encolheu no lugar, apertando com força os punhos e com os olhos arregalados. Com as pernas tremulas, tentou colocar-se de pé no meio da escuridão.


— Preciso de uma lanterna ou, ao menos, ascender uma vela — externou, talvez pensando que o som de sua voz daria a impressão de que não estava sozinha.


E realmente não estava.


Às cedas, foi até a cozinha e tateou dentro dos armários. Não achou uma lanterna, como queria, mas ao menos conseguiu encontrar um isqueiro.


— Pronto, agora é só...


Barulho de vidro se quebrando.


Quando se está sozinho em um lugar escuro, a mente costuma pregar-lhe peças, inventando vozes e barulhos que na verdade não existiam. Porém aquele não era o caso, Lucy tinha certeza.

Ela sentia o suor frio escorrer por suas faces, sua respiração era pesada e o corpo parecia ter dificuldade de responder aos comandos da mente. Ficou parada no mesmo lugar, tentando apurar ao máximo seus ouvidos.

O barulho de vidro quebrado continuou, mas parecia que dessa vez alguém estava pisando nele. Em seguida, silêncio.


Com as mãos trêmulas, tateou o bolso de seu casaco azul, à procura do celular.


— É melhor não fazer isso, menininha.


Lucy gritou. Em um movimento de puro instinto, ela tentou socar o que quer que estivesse próximo de si, mas algo segurou seu pulso.


— É assim que recebe suas visitas? — era a mesma voz sádica. Ela sábia que era um homem, mas a escuridão não lhe permitia mais detalhes.


— Me solta! — pediu estridentemente, tentando puxar seu braço de volta, mas o homem apenas riu.


— Por que eu deveria? — deleitou-se, agarrando os longos fios acinzentados e fazendo força para baixo.


Com lagrimas nos cantos dos olhos, ela bateu com a mão livre em cima da pia, sentindo uma ponta de uma faca espetar seus dedos. No mais puro desespero, pegou-a e a enfiou no braço do homem.


— Sua vaca! — grunhiu, soltando-a com brusquidão.


Sentindo-se livre, Lucy afastou correndo do homem, seguiu até a porta dos fundos e a abriu. A floresta úmida e solitária erguia-se do outro lado do quintal. Sem pensar se era a melhor opção ou não, ela simplesmente correu em sua direção.

Tentando não tropeçar, ela corria por entre as árvores, sentindo os galhos baixos cortarem sua pele e ouvindo o assassino gritar barbaridades alguns metros atrás de si.

O trecho lamacento desacelerava seu passo e por crueldade a fez perder o equilíbrio. Caiu de joelhos no chão, trincando os dentes devido à dor.


— Achou mesmo que ia escapar, menininha? — o assassino perguntou, postando-se ao seu lado. Ele pegou seu cabelo novamente, puxando-o para cima. — Sabe, você é a primeira vitima que conseguiu me ferir. Vou ter recompensar por isso, deixando você decidir como quer ser tortura.


Soluços escaparam por sua boca e as lagrimas se misturavam com a chuva. Lucy fechou os olhos, desejando ter forças para fazer algo.


— Vamos, diga! — ele insistiu, colocando a lamina de um facão contra a sua garganta. — Ou será que eu...


A frase não teve continuação. A sensação gélida contra a garganta de Lucy sumiu e já não mais sentia seus cabelos sendo puxados.

Um clarão novamente tomou os céus seguido de um trovão, fazendo-a finalmente abrir os olhos. Do peito do assassino, laminas brancas se projetavam. Em seu rosto, o mais puro pavor. Com força, as pontas brancas forma puxadas para trás, fazendo o corpo do homem tombar contra a lama, que logo começou a ser colorida de vermelho.


— Quem está ai? — perguntou. Mesmo não vendo, sentia uma presença ali.


Sem resposta, algo começou a se enrolar por seu corpo. Ela tentou se mover para escapar daquilo, mas começou a sufocar. Algo apertou seu pescoço, até incapacitar sua respiração e fazê-la perder a consciência.


***


Sentia um estranho desconforto na região da garganta e o cheiro de mofo entrava por suas narinas. Lucy remexeu-se no lugar e abriu os olhos lentamente, ainda confusa com o mundo ao seu redor.

De súbito, lembrando-se do assassino que a perseguira, sentou-se no lugar. Porém, quando prestou mais atenção, percebeu que não estava mais na floresta e, sim, em uma casa. Um quarto, para ser mais preciso. Possuía apenas uma cama e um armário. Uma janela tampada por jornais pregados o protegia da chuva do lado de fora.

De forma silenciosa, Lucy saiu da cama e caminhou com cautela até a porta aberta do outro lado do cômodo. Ela espiou do lado de fora, percebendo que dava para uma sala e que não havia ninguém ali. Acreditando que aquela era a sua chance de escapar, correu até a outra porta que dava para fora dali. No entanto, quando sua mão tocou a maçaneta, tentáculos negros enrolaram-se à ela, prendendo o movimento.

Lucy gritou, sem ter coragem de olhar para trás, mas sentindo a mesma presença de antes atrás de si.


— Quem é você? — perguntou com a voz trêmula.


Mas, novamente, não houve resposta. Os tentáculos negros soltaram sua mão e se enrolaram em sua cintura, puxando-a lentamente para trás. Lucy sentiu suas costas encostarem-se à algo alto e esguio. Mãos gélidas e com dedos pontiagudos tocaram seus ombros, fazendo-a vira-se com brusquidão e bater contra a madeira da porta.


A exclamação de pavor ficou presa em sua garganta, ao vislumbrar a estranha figura a sua frente. Parecia, não tinha certeza, com um homem. Extremamente alto, usava terno negro e, para seu desespero, não possuía rosto. Era apenas uma face branca, sem olhos ou boca. E das suas costas, tentáculos negros saiam.


— O que... O que é você? — sua voz saiu aflita.


Aquele estranho ser continuou em silencio, mas ergueu uma de suas brancas e esqueléticas mãos na direção de Lucy.


— Não me toque! — gritou empurrando a mão e fechando os olhos.


Ela ficou parada, até sentir uma mecha de seu cabelo, que caia sobre seus olhos ser afastada.


“Lucy...”


Ela voltou a abrir os olhos, encarando aquela esguia figura.


“Lucy”


A voz repetiu, mas não vinha daquele ser. Ecoava por sua mente, de forma arranhada, rouca e sombria.


— Você... Me conhece? — perguntou.


“Sempre estive te observando”


— Mas quem é você?


Slender Man, é assim que me chamam”


Lucy parou um segundo. Sua mente começou a resgatar pequenas conversas que ouvira de seus colegas – nunca direcionadas para si, é claro. Lembrava-se de comentários, principalmente dos garotos, relacionados às lendas urbanas. E uma delas, que parecia ser a favorita da maioria, era sobre um homem alto com longos tentáculos que gostava de raptar e matar cruelmente qualquer um que entrasse em florestas muito densas durante a noite. E o nome de tal monstruosidade era...


— Eu posso ir embora?


“Não...”


— Por que não...? — sua voz saiu sôfrega.


Estava ficando ainda mais assustada. O que aquele ser queria consigo? Já a havia salvo, por que não a deixava ir?


Os tentáculos negros foram até a porta, trancando-a e recolhendo a chave.


“Você irá ficar”


Colocando a chave no bolso, Slender afastou-se dela e entrou no quarto. Lucy ficou parada no mesmo lugar, tentando entender tudo aquilo. Ele não parecia querer machuca-la, mas também não demonstrava ser inofensivo. Talvez... Apenas estivesse se sentindo sozinho e quisesse um pouco de companhia. Era suicídio, mas sentia-se como seus colegas de classe, rindo e zombando dela só porque tinha uma aparência diferente.


À passos incertos, foi até a porta do quarto. Slender estava sentado na cama.


— ... Obrigada por me salvar. — disse, aproximando-se. — Como sabia que eu corria perigo? Afinal, como sabe o meu nome?


“Eu sempre te observei”


— Desde quando?


“Desde sempre”


Lucy tentou dizer algo mais, aproximando-se, porém as cobras negras que saiam das costas dele seguraram seu pulso e a puxaram para mais perto. Seu rosto ficou de frente para a face em branco.


“Você é linda”


Um dos tentáculos roçou em sua bochecha e desdeu por seu pescoço.


“Seria uma grande perda se te matassem”


— Então...


Ela tentou se afastar, mas parecia impossível.


“Eu salvei sua vida. Agora ela me pertence”


— O que? Não, eu preciso ir! — Lucy o empurrou com força, mas quando tentou dar um passo para trás, notou que aqueles grossos fios negros haviam se enrolado em seu corpo.


“Você não vai embora”


Ela tremeu, havia um tom de ordem em sua macabra voz.


— Por que não posso ir? — tentou. — Você me salvou, agora preciso voltar.


“Sua vida pertence a mim”


Ele se colocou de pé. Seus dedos afiados passaram pelas faces de Lucy, acariciando-as. Porém, ao invés de ser um toque terno, causaram pequenos arranhões.


“Você é minha recompensa”


Com brusquidão ela foi jogada contra a cama e quando tentou se levantar, Slender se pôs acima de seu corpo.


— Saia de cima de mim! — ela se debateu, mas cada vez mais sentia-se presa por aquelas ondas negras. Uma delas desceu por seu casaco, pegando o celular ali guardado. Ele foi erguido ao seu lado na cama, até ser partido em dois com facilidade pelo tentáculo.


— Vai... Vai me matar? — seus olhos azuis demonstravam o mais puro pavor.


“Não...”


Lucy olhou para ele, ainda com medo.


“Você é como um prémio que há muito eu almejava. Não há sentindo em mata-la”


As projeções negras começaram a rondar todo o corpo de Lucy, fazendo-a tremer sob aquele toque.


“É a primeira vez que toco uma pela humana. É tão macia...”


Os dedos em forma de garra passearam por seus cabelos, puxando-os.


“Você é tão bela e diferente”


Mesmo com a pouca liberdade de movimento, ela tentou empurrá-lo, mas sem muito sucesso. Tentou se debater, mas o medo não a deixava fazer movimentos precisos.


“É só cooperar e logo saberá aproveitar disso assim como eu”


Os olhos de Lucy se arregalaram; em seus cantos, lágrimas começaram a se acumular e descer por sua face. Estava completamente impotente, com medo e perdida. Não sabia ao certo o que aquela criatura queria fazer consigo, mas seus instintos gritavam para que se libertasse e fugisse.


“Uma humana que é tratada como monstro só por ser diferente. Ah, Lucy, você não tem ideia de como somos parecidos”


A face branca de Slender aproximou-se de seu rosto, fazendo-a encolher-se e soltar um soluço estrangulado. Ela o encarou, notando que a pele pálida começou a se repuxar na região inferior, até que uma fenda cheia de vales pontiagudos abriu-se, formando o que parecia ser um sorriso bizarro e macabro.


“Não há motivos para você querer voltar. Fique aqui e se torne minha”


O hálito que saia daquela fenda era podre e ácido, fazendo Lucy apertar os olhos que começavam a arder.


— Me-me solta... eu tenho que voltar...!


“Você não precisa. E nem vai”


Os olhos dela abriram-se novamente, completamente arregalados ao sentir aquelas ramificações sombrias deslizarem por baixo de suas roupas, arranhado sua pele clara sem preocupação alguma.

Aquilo era demais para ela. No entanto, não havia muito o que fazer. Estava sozinha, com um monstro forte e letal sobre si, com capacidade de mata-la em apenas um segundo. Talvez devesse desistir e deixa-lo terminar.

Seus colegas muitas vezes chamavam-na de monstro, fantasma, assombração... E talvez realmente fosse. Então ser tomada por outro monstro parecia até algo lógico. O problema era que seu corpo não queria relaxar, não se deixava ser convencido por esses pensamentos. As lágrimas não paravam, sentia-se tremer e lá no fundo a insegurança do que iria acontecer consigo naquele instante deixava-a apavorada.


Lucy tentou acalmar a respiração e relaxou a cabeça no travesseiro, olhando para o lado.


“Desistiu?”


Conseguia notar uma pontada de satisfação em seu tom. Ela não se moveu.


“Muito bem. Assim é mais fácil”


Sentia-se sendo tocada cada vez mais e tanto sua pele quanto sua roupa recebiam cortes. Tentou morder o lábio inferir para conter a dor, mas as lágrimas não paravam. Aos poucos, notando a passividade de Lucy, Slender diminuiu o aperto sobre seus membros. Ela não se moveu, mas olhou para um de seus pulsos estendidos sobre a cama, notando marcas arroxeadas nele. E foi nesse comento que viu algo que fez seu olhar brilhar.

Caído no bolso de seu casaco, estava o isqueiro que pegara em sua cozinha. Não se lembrava de tê-lo deixado cair no chão quando acertou o assassino com a faca, provavelmente o havia guardado ali sem perceber.

Tentou não demonstrar reação diante do fato, mas por dentro gritava: Uma chance!

Lentamente, ignorando a dor que estava sentindo com as ministrações de Slender, ela levou a mão para dentro do bolso, pegando o objeto. Agora era hora de finalmente usá-lo.


Ela voltou a olhar para as faces brancas.


“O que foi?”


— Nada... — respondeu.


Antes que ele voltasse a atenção para o seu corpo, Lucy acendeu o isqueiro e ateou a chama contra as faces pálidas. Um grito arranhado ecoou pelo quarto e Slender levou as mãos até seu rosto sem face. Com isso, ela o empurrou com os joelhos, tirando-o de cima de si.


“Como... Como ousa?!”


Sem esperar, ela saiu da cama e correu para fora do quarto. Ao entrar na sala, olhou para a porta, praguejando ao lembrar-se que a chave estava com Slender.


“Você não vai fugir!”


Ela o viu entrando na sala. Atrás de sua figura alta e esguia os tentáculos negros balançavam de forma nervosa.


— Não se aproxime! — ela tentou erguer o isqueiro aceso, mas com apenas um tapa dos tentáculos, ela ficou completamente desarmada.


Em pânico, ela deu alguns passos para trás, olhando em volta. Aquela era uma sala comum, só que muito abandonara. Havida pedaços de telha, madeira, estofado e vidro espalhados pelo chão. Vidro...


“Não devia ter feito isso, Lucy. Mesmo apreciando seu comportamento corajoso, agora não tenho mais intensões de poupa-la”


Ela deu alguns passos para trás, chegando próximo à um pedaço maior de vidro quebrado. Ao senti-lo espetar seus pés, abaixou-se de súbito e pegou-o. Podia ouvir uma risada presunçosa ecoar por sua mente.


“O que vai fazer?”


Trincando os dentes, ela avançou contra ele, enfiando o caco de vidro em seu abdômen. Ela se forçou contra o corpo esguio, até derrubá-lo no chão. Sem se importar com as cobras negras que se enrolavam ao seu corpo, ela enfiou a mão no bolso do paletó, tirando a chave de lá. Porém, algo se enrolou em seu pescoço, forçando Lucy à olhar para a face em branco.


“Muito corajosa”


Ela podia sentir ele rindo, seu tom era satisfeito.


“Muito bom para um começo”


De repente nada mais a segurava e Slender continuava parado no chão. Pela ferida, um líquido negro saia, mas ele não parecia se importar.


“Em breve nos veremos, Lucy. E com você vindo até mim”


Apavorada e sentindo todos os seus pelos eriçarem, ela colocou-se de pé e correu até a porta, destrancando-a. Ao abri-la disparou floresta afora, sendo guiada apenas pelo instinto.

Atrás de si, ainda podia ouvir uma risada macabramente satisfeita. Tapando os ouvidos ela continuou a correr, até finalmente conseguir ver as luzes de sua casa.


Cruzou o quintal dos fundos e adentrou na cozinha. A energia havia voltado e seus pais continuavam fora, mas ela não se importou com isso, apenas seguiu diretamente para o segundo andar, entrando no banheiro. Arrancou as roupas e enfiou-se debaixo do chuveiro gelado. Não se importava com a dor dos machucados, seus pulmões que clamavam por descanso ou o frio que tomava seu corpo. Queria apenas esquecer aquilo.


— Esqueça! Esqueça! Esqueça! — gritava, passando o sabonete sobre o corpo. — Esqueça tudo isso!


Quando terminou o banho, catou suas roupas sujas de terra e sangue e levou para o andar inferior. Olhou para a lareira apagada e as jogou lá. Foi na cozinha, pegou o álcool e fósforo. Espalhou o líquido sobre as roupas e jogou fogo nelas. A chama instantaneamente surgiu, forte e ardente.

Logo depois ela foi até a cozinha, trancou as portas e desligou todas as luzes da casa.


Respirando fundo, ela voltou para cima e foi para o seu quarto. Depois de trancar a porta atrás de si, ela foi até a janela, olhando para a floresta. Apertou o pano das cortinas e cobriu a vista.


— Esqueça... Esqueça... — murmurando para si, ela se jogou na cama e fechou os olhos, tapando os próprios ouvidos.


Em sua mente, repetia: Esqueça tudo isso. Esqueça-o! Até tudo ficar escuro e o cansaço embalar sua mente e corpo em um sono forçado e inquieto.









— Filha... — ela ouviu ao longe. — Vamos acorde.


Lentamente sua mente começou a despertar. Lucy abriu os olhos, visualizando as faces serenas de sua mãe.


— Mãe... — sussurrou.


— Finalmente você acordou — Helena sorriu. — Já é quase hora do almoço. Troque-se, fiz um prato especial para comemorar a melhora do Max. — falou, antes de sair do quarto.


— Max...?


Como se fossem flashes, as cenas da noite passada começaram a voltar para sua mente. Lucy soltou um murmúrio nervoso, tentando se convencer de que eram apenas partes de um pesadelo.


— Não, foi só um sonho... — tentou. — Depois que a luz acabou eu subi e fui dormir... Um sonho, apenas um sonho.


Ela olhou para o próprio corpo, coberto pelo roupão e o abriu. Sua pele pálida estava completamente coberta por arranhões e roxos. Trêmula, ela se levantou da cama.


— Não poder ser... — as lágrimas voltaram aos seus olhos. — Não pode ser...


Ela caminhou pelo quarto, notando então algo em cima de sua escrivaninha. Era uma folha de papel com algo escrito. Ela a pegou e levantou na altura dos olhos.


Nela estava escrito:


CAN’T RUN






Lucy era uma garota quase normal, até descobrir que havia um monstro distorcidamente apaixonado por si.



“Em breve nos veremos, Lucy. E com você vindo até mim”




Fim


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Como eu disse, não tenho experiência nessa área, mas confesso que gostei de escrevê-la.
Caso tenham gostado, talvez eu escreva uma continuação de 4 capítulos. x)
.
Diga-me o que acharam. Críticas são bem vindas.
.
Essa história foi baseada em um sonho que eu tive. Havia assassinos na minha casa e o Slender apareceu pra me salvar, pois estava apaixonado por mim. Mas no sonho ele só tentou acariciar meu rosto ._.
.
Bem, comentem! Se gostou, ao menos, da escrita, visitem meu perfil, tenho mais fics de animes e originais.