POV Percy

Atlas era traiçoeiro e dava golpes baixos. Nós já havíamos nos encontrado uma vez, e ele sabia meus pontos fracos. Eu achava que sabia os dele, mas os poderes de Urano fizeram-no ficar mais forte e com menos pontos mortais. Consegui me defender muitas vezes com a água, porque a Contracorrente sozinha não era eficaz. Olhando ao redor, pude ver que os deuses travavam lutas corpo a corpo com os monstros de Urano. Grover os ajudava, mas não encontrei mais nenhum semideus no campo.

Deviam estar com Annabeth, formando alguma tática. O cérebro de um semideus funciona com várias coisas ao mesmo tempo, e eu, desde que começara a lutar contra Nico, tentei inutilmente encontrar algum plano para acabar com tudo aquilo. Por mais que eu me esforçasse, minha mente se bloqueava quando eu pensava em Annabeth. Era ela que sempre tinha uma solução, sempre encontrava uma brecha, por mais absurda que pudesse parecer. Nós sempre éramos elogiados como a dupla perfeita, porque a sua inteligência com a minha agilidade nunca eram vencidas por ninguém.

Mas agora ela era uma caçadora.

Se conseguirmos vencer, essa será a nossa última luta. Talvez será a última vez que eu verei Annabeth.

Tentei espantar esse pensamento da cabeça. Atlas se aproveitou do meu vacilo e me deu uma rasteira e um golpe na cabeça. Caí no chão desorientado, enxergando tudo embaçado. Tentei levantar, mas ele pisou na minha perna.

Comecei a sentir meu osso partindo, mas antes que quebrasse completamente, a dor diminuiu e eu ouvi seus passos pesados recuando.

- Mas que fofura. – Atlas ironizou – Tenho outro casal para destruir!

Rolei para a direita e pude ver Annabeth com seu novo arco de caçadora na mão. Ela havia acertado o braço de Atlas. A flecha havia entrado na carne dele, mas infelizmente aquele não era um ponto vulnerável. Ele arrancou a flecha como se arrancasse um pelo de seu braço. Ela correu para a esquerda e atirou uma flecha em seguida da outra. Atlas se esquivou de todas e começou a caminhar em sua direção.

Tentei ficar de pé, mas minha perna não obedecia os comandos. Obriguei a minha outra perna a me levantar, e até consegui por alguns instantes, mas caí novamente no chão.

Ouvi alguns gritos, parecia Nico e Thalia chamando por Urano. Então a gente tinha um plano!

- Mas você é uma caçadora, não é Annabeth? – Atlas disse com uma falsa dó – Perdoe-me pelo equívoco, vocês nunca mais serão um casal. Trágico.

Annabeth jogou o arco-e-flecha no chão e sacou sua adaga.

- Tola. – Atlas rosnou e partiu para cima de Annabeth.

POV Annabeth

Percy estava com uma perna fraturada, e não conseguia levantar. Eu só contava com a minha adaga e o meu cérebro que já estava funcionando a menos de 50% da capacidade. Ao menos, Atlas não era tão esperto, e eu consegui dar alguns golpes em seu abdomem e sua perna. O problema é que mesmo enfiando a lâmina da adaga em sua carne, ele não sentia dor, e nenhum icor saía, a ferida rapidamente se fechava. Eu tinha que encontrar o calcanhar de Aquiles dele, e tinha que ser rápido. Atlas me golpeou no braço esquerdo, eu recuei. Fiz o movimento que Connor havia me ensinado para enganar o oponente. Dei alguns passos para a esquerda e fingi um golpe, mas assim que ele desviou e revidou, girei o corpo e me lancei pela direita, tendo visão total de suas costas. Rasguei desde a nuca até o cox dele com a minha adaga, mas infelizmente percebi que as costas não era seu ponto fraco.

Atlas se virou e chutou minha coxa, eu caí. Vi Percy tentando levantar sem sucesso, e algo me ocorreu: Atlas poderia facilmente matá-lo daquele jeito. Antes que ele pudesse ter essa ideia, corri para a frente de Percy numa posição de defesa. Atlas deu uma risadinha e veio correndo.

Previ equivocadamente um ataque dele, e ele me enganou e me golpeou no estômago. Caí vários metros para trás.

- Não vou matá-lo primeiro. – Atlas ignorou Percy – Quero que ele veja a sua morte sem poder fazer nada.

- Você deve ter levado um chifre e tanto para odiar casais, Atlas. – eu provoquei-o para ganhar algum tempo – Ou será que foi rejeitado antes mesmo de qualquer coisa?

Pude ver Percy me olhando como se eu fosse louca, antes que Atlas se enfiasse entre nós. PENSA Annabeth. Durante éons Atlas ficou segurando o céu em seu ombro e seus braços. Então o ombro, os braços e as costas eram bem fortes. Seu ponto fraco estaria nas pernas? Não, não... As pernas também teriam que ser fortes para suportar todo aquele peso. Os pés também. Sobrou...

A cabeça.

Atlas gritou furioso. Legal! Ele tinha um sério problema com o amor.

- Own, não fica assim não.

- Pelo menos sua amiga será minha escrava depois que isso aqui terminar. – ele disse, se aproximando.

- Pém! Resposta errada – eu fui recuando com o corpo, tentando pensar em algum modo de levantar e atacá-lo na cabeça – Piper jurou pelo Rio Estige que seria sua, se você poupasse a vida de Jason. E você, nervosinho, tentou matá-lo. O juramento não foi concretizado, que pena.

Atlas arregalou os olhos. Ele não havia pensado nisso, mas percebeu que era verdade. Ele estava bem perto de mim. Preparei-me para levantar e golpeá-lo de uma vez só.

- Tudo bem, acho que é você quem merece ver alguém morrer por sua causa – ele disse, e girou o corpo para Percy.

Saquei minha adaga e me levantei. Tentei um golpe em sua cabeça, mas ele me enganou, e virou novamente para mim, segurando o meu pulso. Ele bateu seu cotovelo de aço em minha cabeça e eu caí, completamente zonza.

- Sabe... Urano compartilhou alguns poderes comigo e... o raio foi um deles. – Atlas ergueu as mãos, que começaram a soltar faíscas.

Recuei o corpo e fui me arrastando para trás, mas qualquer movimento poderia dar errado. Eu estava tão tonta que talvez fosse desmoronar antes mesmo de ficar em pé. Meu coração batia tão forte que meu peito começou a doer. Eu estava literalmente sem saída.

Um aglomerado de raios estalou em suas mãos.

- Fique tranquila, isso nem vai doer. É morte súbita – ele apontou as mãos para mim e disparou a descarga elétrica.

Fechei os olhos. O barulho dos raios foi ensurdecedor, mas não senti nada em meu corpo. Abri os olhos, e não acreditei no que vi.

Percy estava caído no chão, imóvel, com as roupas e a pele chamuscadas.

- Garoto burro. – Atlas gargalhou e olhou para mim – Mas foi melhor assim, deixarei-a viva amargando esse momento.

Arrastei-me aos tropeços até Percy. Ele estava de olhos fechados. Chacoalhei-o, gritei, mas ele não reagiu. Comecei a chorar. Coloquei meu ouvido em seu peito. Esperei o barulho das batidas de seu coração, mas elas não soaram. Posicionei as minhas mãos e forcei uma massagem cardíaca.

- Vamos, Percy...

Pressionei seu peito inúmeras vezes. Um, dois, um, dois... Passado algum tempo, meus braços começaram a reclamar, e minha cabeça voltou a girar.

- Por favor... – eu não consegui dizer mais nada, e larguei meu corpo sobre o dele.

Minha respiração intalou na garganta, meu coração parou de bater por alguns segundos, e uma dor avassaladora espremeu tudo dentro de mim. Era pior que qualquer outra dor que eu havia suportado, pior até mesmo que a dor que eu sentira quando Atlas torturou a minha mãe... A dor estava em minha alma.

- E finalmente... Percy Jackson está MORTO! – Atlas deu-me as costas gritou para o Rio de Janeiro inteiro escutar.

Os monstros de Urano comemoraram. Muitos gritos, e muita exaltação. Ergui a cabeça. Atlas estava tão absorto em sua glória, que estava completamente vulnerável.

Levantei-me, saquei a minha adaga e afundei-a na cabeça de Atlas, depositando toda a minha fúria, e rasgando o maior corte possível. O icor negro começou a jorrar e Atlas urrou.

Ele cambaleou para frente, e tombou no chão. Em poucos segundos o brilho de seu corpo se esvaiu. Urano, que estava lutando com Nico, gritou e transformou-se em um pó negro. Os deuses instantaneamente começaram a se regenerar, e suas auras divinas voltaram a brilhar.

Caminhei de volta ao corpo de Percy.