Voltava lá todos os dias. Mesmo que sem esperanças, mesmo que sem sorrisos, mesmo que já não existisse mais nenhuma lágrima pra chorar ou palavras a dizer.

Na verdade, nem sabia o porque daquelas máquinas ligadas, o coma de Ronald já durava dois meses e os médicos já lhe disseram tantas vezes que somente havia 71% de chances dele sair respirando dessa fase do jogo da vida; Hermione morria, cada vez que abria aquela porta e via o ruivo com a pele tão pálida que podia ver o contorno das veias em seu pulso.

E ela chorava, chorava por dentro porque as suas lágrimas todas se foram quando ela se deu conta de quem fez tudo isso, jamais ela se perdoaria se Ronnie fosse embora sem lhe dizer adeus; sentia-se tão arrependida de não ter lhe dito tudo que sentia quando estava em vida, queria poder ter lhe falado o quanto havia borboletas em sua barriga quando ele sorria ou fazia piadas sem graça, quando lhe olhava discretamente, quando lhe fazia cartões de aniversário com sua letra de forma que ela fingia entender. Foi uma estupidez ter pego aquele carro aquela noite, foi uma estupidez ter levado-o junto.

A noite escura demais, a bebida, os risos, parecia tudo infinito aquela noite e de certa forma pra Ronnie estava sendo infinito, ele morreria com a lembrança boa de um sorriso alto com sua música favorita no rádio.

Hermione prendeu os cabelos desgranhados e abriu as janelas, tentando dar um pouco de vida ao quarto branco sem cores, existiam algumas flores do lado da cama do ruivo que Harry trouxe semana passada; algumas estavam morrendo, outras vivas, como suas expectativas em relação á Ronald.

Sabia que cedo ou tarde a família de Ronnie daria um fim nisso tudo, ninguém aguenta ver um filho morto respirando por máquinas, ela não aguentava; em um piscar de olhos, sem pensar, deitou-se ao lado do amigo que amava sem saber durante 10 anos, o abraçou sem ser correspondida e deu um pouco de calor ao seu corpo gelado.

Ele não ia voltar.

Isso era uma despedida.