[James]

-Você é lindo, amável e alto astral. É fácil amar você, eu amo. Mas como amigo. Por favor, James, pense racionalmente e não deixe nossa amizade acabar assim. Eu ainda preciso de você aqui.

Eu paro para olhar para ela. Deuses! Como ela podia ser tão linda? Mas eu já havia tomado minha decisão, se ela dissesse que ficaria com o senhor dos mortos eu iria embora sem olhar para trás. Está bem que ela não disse isso, mas ficou nas entrelinhas e o melhor que eu pude fazer era sair dali.

-Adeus Rov. Espero que seu senhor da morte cuide bem de você.

Saio correndo para o outro lado da clareira, de modo que eu não passe pelo refeitório que a essa hora devia estar lotado de semideuses esfomeados.

Vou para a casa de Allanis e converso com ela. Decidimos que essa é hora de começarmos algo novo, apesar de ela saber o porquê.

Decido que não quero mais nenhuma mulher/ninfa/ qualquer figura feminina na minha vida para amar. Meu novo lema é “Por um mundo sem amor”. Talvez eu vá para o mundo inferior e aprender a ser uma pedra com Hades.

Passo o resto da manhã com Allanis e almoçamos juntos, ela me ama e está disposta a abrir mão de mim se isso me faz feliz. Acho que posso aprender a conviver sem amor. Mas com Allanis por perto.

Depois do almoço com Allanis vou até meu quarto que fica num chalé junto com o de Elliot para arrumar minhas coisas. Pego algumas roupas, latas para lanches futuros, algumas armas, minha flauta e acabo derrubando sem querer um mini álbum que Rov tinha feito para mim no ano passado. Cheio de fotos nossas e em nenhuma delas parecemos tristes, ao contrário do hoje.

Pego uma foto que é especialmente dolorosa para mim, a nossa última foto em que estamos na praça central juntos comendo seus deliciosos biscoitos feitos a base de Nutella. Lembro-me de como ela pareceu enciumada quando uma menina passou e piscou para mim, e eu rindo acabei enchendo seu rosto de beijos até que sem me conter a beijei de fato. Não forcei nada, mas ela também não me afastou nem me puxou para perto, eu não sabia o que isso significava, então continuei nosso beijo. Não foi apaixonado nem ardente como aqueles da televisão. Foi doce, terno e esclarecedor. Vi ali que ela me amava, mas acabei interpretando errado seu amor. Hoje eu sabia aquele beijo não valeu nada para ela, apenas para mim.

Coloquei o álbum dentro de minha mala para futuras torturas quando estivesse longe daqui e acabei escrevendo em um papel e colocando junto á primeira foto do álbum “Por um mundo sem amor”.

Depois de tudo arrumado acabei caindo no sono e sonhei numa terra escura onde tudo era visto na penumbra. Poucas pessoas andavam na rua e pareciam cansadas como se não tivessem motivo para viver. Algumas poucas choravam, outras paravam no meio do nada e ficavam sentadas em posição fetal, como se faltasse uma parte delas. Tentei falar com algumas pessoas, mas nenhuma me ouvia ou respondia qualquer coisa que eu perguntava.

A terra era inóspita, não tinha nenhuma árvore e nem mesmo uma nuvem no céu. Nem mar para fortalecer a terra. Tudo era sombrio e sem vida, quando comecei a perder a razão da vida e da minha existência uma jovem e muito bela mulher parou em minha frente e disse numa voz irresistível “Assim seria um mundo sem amor e assim será você sem o fio que o liga a ela, você precisa dela e é a esse fio de amor que você tem que se apegar, não a esqueça jovem sátiro. No futuro sua vida dependerá de você”.

Acordei sabendo que aquilo era obra de um deus e não era qualquer deus. Era Afrodite e ela havia me dito que a vida de Rov dependeria de mim um dia, decidi que eu não cortaria aquele fio. Pelo menos não enquanto não salvasse a vida dela.