Adam e Zoey já caminhavam por Plummore. Em volta deles, havia prédios de até dois andares. Todos abandonados. O vidro das janelas estavam quebrados, e uma vez ou outra era possível ver portas que tinham sido arrancadas.

O jovem se perguntava o que podia ter acontecido ali para que deixasse de ser habitado. ''Os trouxas nunca notaram nada?'' pensava Adam.

Desde quando entraram na cidade, os dois não haviam trocado palavras. Adam não sabia o que dizer depois que Zoey ''agarrara'' ele após a luz ter-se apagado.

A cada minuto que passava, o frio aumentava. O garoto pensou em tirar sua blusa e emprestar a Zoey, que mesmo estando com o casaco, dava ligeiras tremidas. Porém, Zoey não era do tipo que aceitava algo quando a ofereciam. Era orgulhosa.

Entravam mais a fundo na cidade, e o medo só aumentava. Será que alguém poderia habitar lá ainda? ''Impossível'' era o que Zoey achava. Apenas se ofereceu para ir, pois não queria que Adam corresse o risco de ir sozinho. Por mais que não aparentasse, se preocupava com ele.

– Zoey? - Chamou Adam. Iria sugerir que fossem embora, e voltassem outro dia. O frio só aumentava.

– Sim?

– Está ficando frio.. Não encontramos nada, e.. - Zoey voltou-se para ele e franziu a testa.

– Você está com frio?

– Não, é que.. Podemos ficar doente, é.. Você pode ficar doente.

– Não se preocupe comigo. Viemos até aqui para buscar sinais de bruxos, e é isso que iremos fazer. - A verdade era que Zoey estava realmente com frio. Mas seu orgulho era tanto, que não quis demonstrar estar com algum problema.

Caminharam então até uma praça. Era tudo tão silencioso, que conseguiam ouvir a respiração um do outro. Um cenário fantasmagórico, que mesmo se não estivesse frio, faria qualquer um se arrepiar.

Havia um único banco no centro da praça. Zoey respirou fundo, e foi até lá. Adam a acompanhou. A garota sentou-se, e Adam sentou-se ao lado. Zoey rapidamente se afastou, ficando encolhida no banco.

''Qual o problema dela?'' pensou Adam.

– Adam, aquela hora que eu segurei seu braço.. - Começou Zoey, com a cabeça abaixada, como se olhar para seu tênis fosse a coisa mais interessante do mundo.

– Não precisa me explicar, é que.. - Adam foi interrompido.

– Ah, cala a boca e me deixa falar! - Zoey suspirou, e prosseguiu - Eu tenho medo de escuro. Sempre tive, desde pequena.

– Você o que?

– Adam, se me interromper mais um vez, vou embora daqui. - O garoto, assustado, apenas balançou a cabeça sinalizando que sim - Meu pai.. Ele era um bruxo, sabe? E minha mãe era uma trouxa. Ele não se importava com a gente. Chegava em casa aparentemente bêbado, pegava a varinha e destruia tudo. De vez em quando estuporava minha mãe. Jogava ela com força contra a parede, e ela desmaiava. Sempre que eu me colocava no meio da briga, ele me pegava pelo braço e me trancava no quarto escuro que tinha no fundo da casa. Eu me sentia sozinha. Não conseguia pensar no meio daquela escuridão. Eu sentia que passava horas lá. Minha mente ficava vazia e o medo tomava conta de mim. Hogwarts era o meu conforto. Meu verdadeiro lar. Foi assim por muitos anos. Bom, até meu sétimo ano. Quando eu voltei para casa, minha mãe disse que meu pai havia saido e nunca mais voltou. Então começou o boato dos bruxos das trevas estarem se reerguendo e..

– E..? - Adam estava curioso e ao mesmo tempo surpreso com a história de Zoey.

– E minha mãe faleceu. Fiquei naquela casa sozinha, até você aparecer. - Zoey ergueu a cabeça e encarou Adam nos olhos - Até você aparecer e nascer uma esperança em mim. A esperança de poder ter uma nova vida, Adam.

O garoto estava sem reação. O que poderia dizer? Desde conhecia Zoey, ela nunca tinha falado com ele daquele jeito. Adam fez nascer uma esperança em Zoey. Ele era a esperança de uma nova vida para Zoey. Não poderia falhar.