Traição. escrita por JessyErin


Capítulo 11
Traição.




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Não sei a necessidade de puxar a arma do coldre. Aquele homem claramente tinha problemas mentais. Eu o ajudei a levantar, e o acompanhei até a sala do esquadrão.

– Quem é seu amigo? – Tony perguntou, parando de escrever em um papel.

– Ele diz que matou as três vítimas.

Eu disse isso e todos automaticamente foram para trás. Mas o homem estava bem ao meu lado, sem algemas, aparentemente calmo.

– Então vamos prendê-lo! – Dinozzo disse, se levantando. O homem foi para trás, se sentindo ameaçado.

– Não. O que vamos fazer é interrogá-lo – eu disse e pedi para um agente preparar uma sala de interrogatório.

– Ele confessou. O que estamos esperando? – Tony disse, e Ziva levantou uma das sobrancelhas.

– Um motivo, Dinozzo. Nós nem sabemos o nome dele! – enquanto eu o entregava para os agentes levarem para a sala, ele pegou na minha mão – hey, eu já vou, ok? Espere por mim lá, vou o mais rápido que puder. Ele a soltou e continuou andando.

– Chefe, realmente, esse cara parece ser maluco. Deve ser perigoso mantê-lo aqui.

– Dinozzo, temos que interrogá-lo – Gibbs disse, me dando uma pasta com detalhes dos casos, mas eu peguei somente a do primeiro.

– Jess...

– Eu sei. Pode deixar.

Todos desceram junto comigo. Quando fui entrar, Mcgee me deu uma escuta.

– Use isso, que a gente te auxilia. Vamos todos esperar aqui. Esse cara é doente, ele pode estar calmo agora, e depois pular em cima de você do nada. Então, vai com calma. A advogada dele chegou.

– Oi – ela estendeu a mão – eu vim representar o Logan. Meu nome é Angela, mas podem me chamar de Angie. Logan é um caso especial – Ela me entregou uma pasta com os dados dele, que eu comecei a ler – ele tem a mente de uma criança de 6 anos, no máximo. Por isso, precisa ter muita paciência pra conversar com ele.

– Já interroguei crianças antes – eu sorri.

– Mas nunca uma criança assassina – Tony disse sério, e depois olhou pra baixo rindo sozinho.

Ziva estava checando o celular, com umas das mãos pousadas na barriga. Eu a cutuquei de leve e ela soltou. Eu entrei na sala acompanhada por Angie e me sentei do outro lado da mesa.

– Olá Logan, meu nome é Jéssica. Eu sou uma agente aqui. Tudo bem?

– Eu matei aquelas pessoas.

– Ok, vamos fazer o seguinte – eu disse, quando Gibbs pigarreou do outro lado – eu vou te perguntar coisas, e você vai só afirmar, ok?

– Tá.

– Certo, você mora com a sua mãe?

Ele olhou primeira para Angela, e depois para mim e acenou com a cabeça que sim.

– Como é o nome dela?

Ele repetiu o ato de olhar para Angela e só então responder.

– Carla.

– Carla. Pode me dizer o que houve com seu pai, Logan?

– Ele morreu.

Pude ouvir barulho de papéis na escuta.

– De quê? - nesse momento, Ziva me disse para aliviar um pouco, pois poderia ser ruim tocar em um assunto delicado como esse.

– Ele foi morto. Na minha frente.

Todos se calaram.

– Por que? – eu perguntei, e Angela disse que ele não precisaria responder se não quisesse.

– Queriam o dinheiro, mas ele não tinha. Eles atiraram nele. Eu vi.

– Você se lembra da cena? – eu perguntei, me inclinando pra frente com uma foto virada para a mesa.

– Sim.

– Então por que fazer outra criança passar por isso? – eu disse isso e virei a foto de Jonah na mesa.

– Quem é ele? – Logan perguntou, pegando a foto e colocando bem perto do rosto.

– Filho dele – eu mostrei a foto de Richard, morto, na sala de autópsia. Ele pareceu horrorizado, e Angie virou a foto imediatamente – quem te pagou pra estar aqui?

Eu ouvi vários “Nossa” e “WOW” do outro lado, e depois silêncio.

– Se eu disser, ele me mata – ele disse, quase chorando – essas pessoas estão mortas mesmo?

– O garotinho está bem, mas chora a morte do pai todos os dias – eu tirei minha arma do coldre e a coloquei em cima da mesa. Ele arregalou os olhos, e ficou claro que ele nunca esteve perto de uma arma antes – isto aqui é uma arma. Eu machuco pessoas más com ela, e as prendo. Você não é uma pessoa má, mas quem te disse para vir aqui é.

– Ele não me disse o nome. Mas eu lembro do rosto dele.

– Ótimo, se eu trouxer alguem aqui, você pode descreve-lo para essa pessoa?

– Tá.

– Ótimo – eu disse, pegando as fotos – e não se preocupe. Eu vou mandar uma equipe de agentes como eu tomar conta de você. Nós vamos pegá-lo.

Eu entrei na sala de observação, e todos lá estavam perplexos. Abby entrou lá com bloco de papel e lápis, e todos ficamos olhando do lado de fora. Dinozzo saiu e Mcgee foi atrás dele, Ziva e eu ficamos em um canto conversando com Lauren, enquanto Gibbs ia falar pra Vance e explicar que tudo fora um mal entendido. Abby saiu da sala com um papel em mãos.

– Eu não consegui desenha-lo.

– Como? – Eu e Ziva perguntamos ao mesmo tempo.

– Eu tentei, mas ele me descreveu com tanta... emoção. Ele não me disse, por exemplo, que os olhos eram grandes e azuis. Disse que os olhos davam medo, e pediam obediência. E a sobrancelha impunha mais severidade ao rosto.

– Caramba. – Ziva disse, colocando a mão na barriga novamente, e tirando rapidamente.

– Juro, então isso aqui foi ele quem desenhou.

Ela nos mostrou um rosto, totalmente disforme. Os olhos eram azuis, e gigantescos. As sobrancelhas grossas tomavam quase toda a testa, onde haviam duas rugas. Ele tinha uma pequena pinta acima do lábio superior, e alguma barba em baixo. Sua boca estava virada pra baixo de um jeito quase impossível humanamente. Eu suspirei.

– Só uma criança entenderia isso – Abby disse, dando de ombros.

– Por sorte, eu conheço uma que pode nos ajudar!

Eu liguei para Natalie, e pedi para levar Jonah para lá. Estava tarde, mas ela disse que levaria contanto que não demorasse muito.

– Agente Jessy! – ele acenou pra mim, sua carinha ainda amassada de dormir.

Eu sorri e ele estendeu os braços para mim. Eu o abracei, mas ele quis vir no meu colo. Eu me assustei na hora, pois nunca fui chegada em crianças.

– Me desculpe – Natalie disse, e eu disse que não tinha problema. Na verdade, era gostoso segurar uma criança daquele jeito, mesmo que estivesse pesado pra caramba. No fundo era bom.

– Ok – eu o soltei na cadeira da nossa sala de entrevistas, e ele apoiou seu rosto em uma das mãos, e o cotovelo na mesa.

– Minha amiga Ziva aqui, vai te mostrar desenhos, e quero que me fale do que eles te lembram, tudo bem? – eu disse isso e me levantei quando ele disse que sim.

– Jess! – Ziva me puxou – vai me deixar sozinha com ele?

– Vai se acostumando – eu disse e sorri, e ela se virou completamente em pânico. Não fiz de propósito, mas tinha que alertar Natalie sobre o que poderia vir a acontecer.

– Vamos começar – Ziva tremia ao tirar o primeiro desenho da pasta, que era de um pote de mel – o que isso te lembra? – ela perguntou, tentando sorrir.

– Ursos.

– Ursos? – ela sorriu, mais relaxada – ursos não comem mel, pelo menos não os que eu vi em Israel.

– O que eles comem? – Jonah arregalou os olhos.

– Verduras e legumes – ela disse quando eu a encarei por alguns segundos – Ok, e essa foto? – era o desenho do sol.

– Praia – ele falou, sonolento.

– E essa daqui? – ela tirou, finalmente, o desenho que Logan tinha feito.

Jonah se afastou imediatamente e seus olhos encheram de lágrima. Ele enxugou um deles com a manga do pijama e olhou para mim, atrás da Ziva, e depois para sua mãe.

– É o homem que atirou no papai – ele disse, parando de chorar.

– Como você sabe? – eu perguntei, me ajoelhando pra ficar da sua altura – ele não estava de máscara?

– Eu lembro dos olhos – ele pediu pra pegar a folha, e passou o dedinho contornando o desenho – ele ficava me olhando.

Eu me levantei e respirei fundo. Olhei pra Ziva e sorri. Finalmente tinhamos algo concreto para ir atrás de Oscar.

– Jonah, você foi muito corajoso – Ziva disse, sorrindo – o que acha de vir aqui um dia e passar um dia com a gente? Ver como tudo funciona, e talvez até nos ajudar?

– Eu ia... Posso mamãe? – ele se virou para Natalie, que acenou que sim com a cabeça – Eu ia adorar! – ele bocejou.

– Hora de levar esse garotinho pra cama, muito obrigada agentes – ela pegou Jonah, que coçava o olho lentamente e acenou para nós com a outra mãozinha.

Eu subi com Ziva, e vi Victoria de relance.

VICTORIA. Eu esqueci completamente do negócio dos resultados. Quando ameacei ir atrás dela, ela entrou no elevador. Ziva estava comigo, e eu não queria que ela subisse escadas correndo. Respirei fundo e esperamos por outro elevador. Gibbs estava ali dentro, e eu comecei a contar pra ele sobre o que tinhamos feito.

– Agora podemos chama-lo aqui – eu disse, cruzando os braços.

– Mas e todos os testes que deram negativo? – Ziva perguntou.

– Eu estou cuidando disso. Mas Gibbs, Jonah o reconheceu, isso não muda.

– Ele estava usando máscara, Jess – Gibbs disse, enquanto saíamos do elevador.

– Eu sei, mas isso não importa...

– O que não importa? - Lauren chegou perto de nós segurando um copo de café.

– Jess acha que pode provar que Oscar é o assassino.

Ele contou a ela e a Mcgee e Dinozzo o que eu e Ziva fizemos.

– Ele estava de máscara, Ziva! – Tony disse, de uma maneira que eu achei agressiva.

– Mas ele reconheceu os olhos dele! – Ziva respondeu no mesmo tom de voz.

O clima ficou pesado em um segundo.

– Mas isso não vai colar no tribunal! É uma criança de quatro anos e um doente mental falando, querem o quê?

– Ele se lembra! – eu entrei na frente da Ziva, e Mcgee disse para todos se acalmarem. Tarde demais.

– Os olhos? Isso é besteira!

– Eu me lembro dos olhos de Ari até hoje! – eu praticamente gritei – eu me lembro de como seus olhos estavam vidrados em mim, e me lembro de como podia imaginar que ele estava sorrindo por de trás da máscara, pois rugas se formaram em baixo deles. Eu me lembro da cor, do formato e do medo que senti ao olhar para eles. Então não venha me dizer que é besteira, porque não é.

Ele se calou, e Mcgee veio em minha direção com um copo de água. Eu sai andando.

– Jess! – Andrew veio em minha direção correndo, mas eu continuei andando.

– Não quero falar com ninguém agora – eu sussurei, enquanto ele se aproximava. Tocar no nome de Ari me lembrava de Kate, e eu tinha certeza que ela concordaria comigo se estivesse ali.

– Os resultados deram positivo! – ele disse sem ar.

– Como é que é? – eu me virei do nada e ele foi pra trás para não trombarmos.

– Os resultados – ele me entregou a pasta – eu refiz todos. Todos deram positivo. Eu fui até a fragmentadora – ele colocou as mãos no joelho, tentando recuperar o ar – e haviam resultados picotados lá. Ela está tramando contra nós, Jessica.

Aquilo foi demais.

Saí andando rumo ao escritório, mas ele me puxou.

– Eu tô rastreando o celular dela, e ela tá mandando mensagem pra alguém daqui de dentro. Tem alguém daqui ajudando ela, e eles vão se encontrar daqui a pouco no estacionamento. Não tem nome registrado, então acho que é um celular descartável.

Eu sai correndo até o estacionamento, e Andrew veio comigo. Ficamos os dois escondidos atrás de um dos carros, e quando eu vi aquela pequena garota ruiva, me segurei para não esganá-la ali mesmo. Eu fui até um carro mais a frente, e disse para Andrew ficar onde estava. Não poderia perder tempo me preocupando se ele ia se machucar. Eu me espantei de perceber que realmente me importava. Ele me deu o sinal de que a pessoa estava chegando, e eu peguei minha arma do coldre e a apontei por cima do capô do carro. Prendi a respiração por alguns segundos, e então eu vi, era um homem. Um homem que usava um terno cinza, e uma camisa polo por baixo. Ele estava usando calças que, eu sabia bem, eram bastante caras. E seu cabelo espetado pra cima, impecável. Anthony Dinozzo estava ali, na minha frente. Eu esperei que fosse um engano. Eu esperei que ele fosse embora e qualquer outra pessoa entrasse no carro com ela. Eu esperei. Mas ninguém mais veio. Ele era o traidor. Eu juntei minha arma contra o peito e me abaixei aonde estava. As lágrimas corriam pelo meu rosto sem que eu pudesse contê-las. Anthony Dinozzo, meu melhor amigo. Traidor.


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