Peço, por favor, para que seja forte, corajoso, até um pouco louco, e lute contra o impulso de simplesmente sair correndo antes de terminar de ler esse texto. Por que faria isso? Porque estou prestes a falar sobre terror, sofrimento, sobre o pior pesadelo que possa possivelmente aparecer na vida de um escritor: o bloqueio criativo.

                Não adianta fingir, eu sei que você sabe do que estou falando. Você pode até fugir, mas não pode se esconder. E mesmo se conseguir, vai ser por pouco tempo. Afinal, se você se encontra na privilegiada sociedade dos que leem e escrevem (e eu deduzo que sim, senão não estaria lendo estas palavras nesse exato momento.), com certeza já se deparou com uma situação como essa.

                Imagine o seguinte: é uma singela noite de quinta-feira. Lua cheia, estrelas brilhando no céu escuro. Você está relaxado, sentado na sua linda cama. Aliás, sentado não. Está deitado de pernas para o ar enquanto usa seu computador, tablet, celular... Enfim, qualquer coisa que possa ser conectada à internet. De repente, você se levanta com um pulo, quase que imediatamente, os olhos arregalados. Lembrara que precisava escrever uma redação para sexta-feira. Com o desespero estampado na cara, você pega um caderno, um lápis, uma borracha e uma caneta. Senta na escrivaninha, olha rapidamente para a janela, entra em equilíbrio com seus chacras. Chegou a hora.

                Aí você escreve, escreve, escreve. Com o tempo, vai percebendo que o facebook não para de te chamar pelo canto do olho. Ou que o som daquela mensagem “ultra importante” no whatsapp fica voltando para martelar sua cabeça. Ou que aquele filme que você queria tanto assistir está finalmente passando na televisão. Quando menos esperar, lá se vai toda a inspiração. Então, começa o verdadeiro problema.

Você tenta de tudo: se levanta e começa a andar de um lado para o outro, reza para são longuinho, vai à cozinha, faz um sanduíche, come, lê e relê sua produção, que não importa o quão boa seja, aos seus olhos será sempre horrível. Mas pode apostar, no final você estará frustrado e encarando o papel de parede azul do seu quarto, o qual de uma hora para outra se tornara muito mais interessante do que todas as coisas que você fez antes. Eu sei que nessas horas sobe uma vontade insana de sacar uma pistola, apontar para sua cabeça e atirar, na esperança de quebrar o enorme muro de concreto que te separa de uma boa ideia. Mas não faça isso, relaxe, pois aí vem a melhor parte.

Ao observar o vazio, alguma coisa vem surgindo em sua mente. Será? Sim! É a tal da inspiração! Um breve instante se passa, e logo você já está elaborando sua história. E escreve, e escreve. E escreve mais um pouco. Vê um pedaço daquele filme, pois ninguém é de ferro. Mais alguns retoques aqui e ali e pronto! Você tem seu texto! E é aí que toda sua trajetória começa a valer a pena. No dia seguinte, você vai todo feliz à escola, e entrega seu trabalho para o professor. A partir daí, só alegria, pelo menos até sua nota chegar. Mas não vamos nos preocupar com isso por enquanto.

No começo do texto eu fiz um pedido, e agora, faço outro: se essa crônica está tão ruim como penso que pode estar, por favor não me culpe. Eu mesma estava passando por um bloqueio criativo ao escrevê-la.