Scarlett Dragon escrita por RoxyFlyer21


Capítulo 5
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Não peguei um táxi dessa vez. Fu direto para a Biblioteca Publica de Nova Iorque, algumas paradas de metrô para o leste. Já estava escurecendo, e quando saí na Riverside, o sol estava quase completamente coberto pelo horizonte poluído do rio Hudson. Depois de caminhar apressadamente por mais algumas poucas ruas, avistei o edifício gigantesco da biblioteca. Subi as escadas, e notei felizmente que haviam mais pessoas saindo do que entrando.

“Isso tudo é tão confuso,” pensei, suspirando alto. O que me resta agora são suspeitas sobre um passado que eu fui alertado a esquecer. Eu sabia demais na época, e temo que essa sabedoria ainda exista. No entanto, foi por essa razão que fui o único sobrevivente dentro da minha equipe, o único que teve a oportunidade de apagar o passado dos registros e entrar no “outro time”.

Meu coração bate rápido enquanto repito a sequência de dígitos mentalmente, a que estavam gravadas no sapato: A7C9I14. Essa sequência foi criada com um propósito, apenas: para servir de ponte com o nosso trabalho, quando fossemos descobertos. Para quando nossas missões e informações não fossem mais secretas, estivessem ameaçadas. O que leva a me perguntar, por que não foi usada anteriormente? Por que não 7 anos atrás, quando o homem que começou tudo isso desapareceu, deixando para trás toda uma equipe, toda uma história, para ser classificada e exterminada?

Eu sei da minha história. Eu era muito jovem, um agente que tinha acabado de se formar, recrutado para a Diligencia Nacional Secreta. Nem eu sabia que essa agencia existia, mesmo com todas as conexões que possuía como um agente de campo recém-formado. Mas depois de entrar, percebi o quão poderosa ela era. Tínhamos tudo, um background enorme, influência global em todos os campos, os melhores agentes, analistas, e cientistas. E um líder brilhante. Eu o vi encarando a Suprema Corte mil vezes devido a suas apostas ousadas, o vi fazendo planos e organizando sistemas geniais, missões, arquivos. Desde que eu me lembro ele ameaçava quebrar os parâmetros, destituir a influência imperialista que a CIA exercia. Ele foi o cientista mais brilhante do nosso tempo, e por sorte pude dividir um pouco de seu vasto conhecimento, e me tornei seu aprendiz. Me pergunto se foi por isso que me mantiveram sobre controle por tanto tempo, tentando apagar minha memória ou roubar meu conhecimento.

Depois veio a Reforma. Eu assisti colegas meus sendo perseguidos, e classificados. Algumas vezes eu participei, não porque queria, mas porque fora obrigado. Na noite da invasão, quando não tínhamos noção do que estava acontecendo porque não tivemos qualquer aviso prévio, eu fui levado para a central da CIA em Connecticut. Fiquei preso lá por dias, consciente de que todas as centrais da DNS espalhadas pelo país estavam sendo detonadas. Depois me levaram para uma corte judicial, onde apenas três homens sentavam em altos balcões, olhando para mim dentro das sombras. Eu fui dado uma escolha. Eu poderia perder tudo, e ser condenado a morte por traição ao país. Ou poderia negar meus votos de fidelidade, e recomeçar na Central de Inteligência Nacional. Teria que jurar minha lealdade, apagar meus registros, fazer testes e passar por exames. Essa foi a parte fácil. Então tive que ficar quieto quando eles mandaram uma carta a minha família alegando a minha morte. Liderei uma equipe de busca para todos os lugares registrados nos sistemas da DNS, para exterminar agentes classificados. Eram meus colegas de trabalho. Não viajei para Istambul em busca de Reed Marlow, o líder da DNS, mas fui notificado de seu “desaparecimento” depois. Quando me pego lembrando de tudo isso, percebo que o canto dos meus olhos estão molhados. “Recomponha-se. Isso já é o passado,” aconselhei-me, duvidando da sabedoria do meu conselho.

Uma bibliotecária em pé atrás de uma pilha imensa da livros em cima do balcão me oferece ajuda. Eu recuso, educadamente. “Sei onde preciso ir.”

Eu lembro uma vez, parece mais um borrão na memória, mas as palavras de Reed ainda ecoam fortes. “Essas serão as últimas palavras, as mais importantes. Tudo o que todos os agentes precisam saber, antes de serem classificados. Por isso, se precisarem usar, sejam breves, mas concisos.” Peguei o elevador, e apertei o número 3.

O andar estava vazio a esta hora, e o silêncio reinava absoluto. Caminhei por algumas estátuas que decoravam o salão entre as prateleiras de livros, na direção de um grande corredor amplo. No fim, vejo uma alta prateleira de livros, possivelmente contendo os mais antigos daquele lugar. Entre 54 milhões de livros dentro daquela única Biblioteca, ele tinha escolhido o mais lógico. Aquele era o único canto, dentro do espaço publico mais protegido de Nova Iorque, onde nenhuma câmera captava movimentos. Perfeitamente calculado. “Como esperado, Marlow.”

A7C9I14. Prateleira A, 7º coluna. Constituição dos Estados Unidos da América, 9º impressão. I Amendment, 14º linha. Ironicamente, era a Liberdade de Expressão. Preso entre as paginas, um pequeno recorte de jornal. Eu o levantei um pouco, e vi do que se tratava. O recorte não mostrava todo o artigo, mas soube que vinha do The New York Times, de 2005. “Reed Marlow, cientista premiado e PHD em física, desaparece em conferencia em Istambul,” dizia o subtítulo com letras grossas. Foi o primeiro artigo que permitiram ser impresso sobre seu desaparecimento, e carregava uma foto sua.

Mas quando ergui o papel em busca de algo mais, notei uma sombra refletida pela luminosidade. Virei o recorte, e do outro lado não havia mais a noticia do jornal, apenas um espaço em branco. No meio, datilografado, as palavras:

        

       O tempo não mudou nosso objetivo.

       As desculpas não apagaram o erro.

       Ache minha filha, e proteja-a.

            R.M.


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