Dois dias depois

Violetta grunhia, batia no chão, xingava, mas isso não fazia com que Isabella parasse de pressionar as costas da menina contra o chão. Depois de obrigá-la a sentar-se no chão, começou a empurrar suas costas contra o mesmo às vezes brutamente, isso sem contar a desgraça do exercício do sapinho.

Isabella era a professora de ballet de Violetta; umas se não a melhor da cidade e sem duvida um dos seus pontos de precisão era a rigidez. Doce, afável e ainda podia ser uma bruxa caso quisesse. E ela queria.

– Vou te processar! Isso é quase que delito contra o meu corpo, quase não, é! – Violetta dizia enquanto tentava contar até 30 segundos mentalmente para que o exercício acabasse.

– Isso é coisa para iniciante Violetta. Tanto as suas queixas, quanto essa sua flexibilidade. Passa mais de um mês sem dar a cara por aqui e volta desse jeito? Estou decepcionada. – Isabella dizia, toda melodramática.

Isabella parou de pressionar as costas de Violetta que suspirou de alivio.

– Eu que estou decepcionada Bella-chan. Eu estava morrendo de asma e você me trata desse jeito na minha volta? Esta doendo, as minhas pernas, o meu coração, tudo! – mais melodrama. Se Violetta não quisesse ser bailarina com certeza seria atriz.

– Asma?

– É, Bella. Eu estava com ataques freqüentes, provavelmente morreria se fizesse essas suas aulas longas. Como pode ser tão malvada.

– Não quero que você sofra... – ela respondeu largando-se no chão – Soube dos seus casos de asma, mas pensei que tivesse me abandonado.

– Pare já com isso. Você me dá aulas desde os cinco anos! Não poderia te deixar, sua desalmada.

– Desalmada é você! – Isabella pegou água para as duas – Você não vai furar no próximo espetáculo não né?

– Não, eu já estou bem. Soube que você deu o papel principal pra Janaina, ela é boa.

– Eu sei, eu sei! Realmente se eu soubesse que você voltaria não teria feito isso.

Violetta não respondeu, estava ocupada tomando uns goles enormes de água. Isabella gritou para que todas as meninas voltassem da pausa para o estúdio principal, ela tinha um pronunciamento a fazer.

– Garotas, como vocês sabem a Violetta não estava vindo aos treinos, acabei de descobrir que foi por problemas de saúde. Como ela dança conosco a muito tempo, seria injusto não dar-lhe uma chance para participar do espetáculo, por isso terei uma audição especial com ela e assim alguns papeis na coreografia podem ser reajustados. É isso.

Houve uma muvuca depois disso, começaram uns cochichos e do meio pro fim Janaina começou a encarar Violetta com um olhar feio, intimidador. Pena que ela não era do tipo que se intimidava, sendo assim até sorriu.

Certo, parece que as coisas estavam a se endireitar, agora ela só precisaria sofrer para voltar a flexibilidade de antes, ensaiar a coreografia e por fim ter uma audição aceitável com Isabella.Talvez assim ela ao menos pudesse pisar no palco, só não esperava que tivesse que pedir ajuda para a sua arqui-rival Janaina. Ela não a odiava, nem de longe. Janaina é quem não queria papo de jeito nenhum sendo assim, só se falavam porque se viam na escola, no ballet e no próprio condomínio.

Isabella estabeleceu que as duas ensaiassem juntas, talvez até tivesse um plano em mente. Porém, como dizem por ai, se as coisas estão indo bem, preparasse vai ficar pior que antes.

Se não bastasse o atraso do avião, os problemas com as bagagens e aquela dor de cabeça terrível, Adam ainda tinha que enfrentar aquele transito super livre de São Paulo. Se tinha uma coisa que ele sentia falta era aquilo: aquele tráfego triste. Era por volta das seis e mais quando ele chegou ao Aeroporto de Congonhas; pegou um taxi e passou o endereço do apartamento de Fernando.

Já foi dele, ganhara o imóvel do pai aos 18, mas como não queria nada dele se desfez do local vendendo para Fernando. Com todo o orgulho de sempre tentou devolver o dinheiro pro pai que não aceitou de jeito nenhum; de toda forma o próprio Fernando ofereceu espaço para se hospedar em sua casa o tempo que quisesse.

Adam xingava dentro do carro, Violetta xingava enquanto andava, ou melhor mancava; parecia que tinha levado uma surra, nem brigou mais com Isabella já que a mesma havia lhe concedido uma nova chance. Teria que se esforçar pra aprender em uma semana o que as outras aprenderam em um mês. Ensaiaria toda tarde depois dos cursos com Janaina. Ainda tentava entendeu o porquê de Isabella só saber de seu problema de saúde agora, ela havia pedido para a mãe avisar.

Pelo menos não estava indo para casa sozinha, Thomas a acompanhava. Ele havia ligado mais cedo e avisado que iria buscá-la depois do termino da aula. Eles só andavam, não falaram mais do que três palavras depois de terem saído do estúdio. Sim, foi o maior bafafá na escola, todo mundo perguntou e por fim eles não negaram nada. Violetta tentava se acostumar com seu novo status, mesmo não sabendo ao certo qual era. Ela ainda estava com o collant do ballet, colocara uma calça e uma blusa tipo suéter, Oxford nos pés, coque no cabelo e maquiagem, Isabella exigia isso.

Esperavam o sinal fechar para passarem na faixa de pedestre. Fechou. Violetta começou a andar de vagar, ainda sentindo dor nas pernas. Thomas pensava se deveria segurar na mão dela e Adam viu uma bailarina familiar passando na faixa de pedestres bem a sua frente.

Abriu a porta do táxi as pressas, se ele não tivesse deixado as malas no automóvel o motorista pensaria que ele iria lhe dar um calote. A menina andava devagar ainda tinha 40 segundos pra chegar do outro lado, Adam deu passos longos para tentar alcançá-la. Thomas nem percebeu a presença do individuo até que Adam segurou o braço de Violetta que o olhou assustada. Ela podia estar tendo visões?