Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra escrita por Pedro


Capítulo 92
42 - O Velho “Mestre”


Notas iniciais do capítulo

E aí pessoal, demorou mas saiu.
Espero que gostem, esse quase fez meu cérebro explodir, por incrível que pareça.

Aproveitem!

Ps: deixa um review aí pra nós



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42 – O Velho “Mestre”

 

Senhor dos abismos — Dédalo dizia ao coçar a mesma barba branca aparada do antigo corpo artificial, Quintus.

No meu tempo esse era o nome ressonante nas histórias de crianças na Trácia. O nome que as mães invocavam pros filhos pararem de chateação. O monstro embaixo da cama, bicho-papão, com seus olhos vermelhos como sangue e pele escura como a noite, feito fumaça e com cheiro de enxofre.”

—E precisamos eliminá-lo de novo — Percy desviou o olhar de Sextus e encarou o divisor de ambientes floral que escondia parcialmente a cama e os aposentos do velho inventor, debruçada sobre os lençóis estava a adormecida Annabeth Chase. 

O homem estava começando a se preocupar com a namorada. Desde a tática kamikaze que ele havia implantado na luta contra Lou Ellen, a voz irritante e mandona que ressoava em sua mente havia se silenciado por mais de trinta segundos. Não que ele sentisse falta da irritação, mas à altura, depois de tudo pelo o que passaram, qualquer minuto juntos valia a pena. 

—E você vai nos ajudar, como fez no seu tempo — Percy se virou para o esgrimista e levantou-se abruptamente da poltrona felpuda — E vamos nos certificar de que no meu tempo este mal não retorne. Após isso você pode continuar enganando a morte como sempre fez, e eu poderei seguir minha vida e esquecer qualquer profecia e responsabilidades que não pedi. 

O homem retirou do bolso a  sacola que escondia a rocha acizentada que fizera Annabeth cair naquele sono profundo — Começando com isso — ele jogou a sacola em cima da mesa de centro de frente para Sextus — O que é essa pedrinha? e por que ela transformou novamente minha namorada naquele porta-voz de Tártaro? E por que diabos você montaria sua oficina num lugar repleto dessa coisa? 

 —Acalme-se, garoto — Sextus o olhou complacente — Já disse que a garota vai acordar em breve. O efeito é temporário, mesmo tendo sido exposta a uma quantidade considerável. 

Percy colocou as mãos nos bolsos da jaqueta que Sextus emprestado à ele. A muda de roupa que ele havia comprado em Iráklio estava ensopada e rasgada, deixada num varal de chão onde outras peças de tecido e moldes de ferro estavam pendurados secando ao sol tímido vez ou outra que entrava pelas janelas panorâmicas e claraboia arredondada. 

Aquela era a mesma oficina de Jacksonville que ele havia adentrado anos antes, exceto a paisagem, se antes as colinas verdejantes do meio oeste americano cobriam a visão, agora um fiorde profundo e congelado tomara o seu lugar. A oficina era no alto de um farol largo, com mecanismos feitos em bronze, elevador de carga e, até mesmo, um heliponto.  

—Vejo que achou um novo locatário, onde estamos? — Percy vasculhou o fiorde procurando por algum sinal de civilização, uma vila de pescadores que fosse. O gelo cobria toda a encosta das altas colinas e penhascos, e a água escura se revolvia com os ventos violentos que assolavam a montanha congelada — Está bem diferente das águas límpidas e planícies de sal gregas. 

—Perspicaz — Sextus se levantou da poltrona e foi ao encontro de Percy. O mais jovem olhava apreensivo para o céu de nuvens acizentadas como a estranha rocha problemática — Na verdade é curioso, esta paisagem costuma refletir a alma dos convidados, os sentimentos que os cercam. 

“Diga-me, Sr. Jackson, por que sua alma se parece com um fiorde longínquo? Eu vejo apenas a planície deserta de Las Vegas, o quarteirão do Bellagio e do MGM Grand ao entardecer.”

—E eu vejo Alexandria, é para lá que as Moiras nos disseram para procurar, mas Annabeth como sempre quis desviar a rota e fazer uma turnê até sua casa em Creta. Resultado: Lou Ellen nos achou, e a senhorita irritante acabou desacordada.

—Está refazendo os passos de Perseu — Sextus retornou à mesinha de centro para pegar a sacola com a rocha — Ele também procurou a biblioteca perdida, em vão. 

—Não importa, as Moiras disseram — o garoto continuou a olhar o fiorde. 

—O Percy que conheci não seguia profecias tão cegamente — Sextus cobriu o rosto com uma bandana suja de graxa e deixou a pedra tocar a pele de sua mão biônica. 

Aquele Percy está morto, eu só desejo derrotar o abismo, se isso significa seguir cegamente uma profecia, que seja. 

—E acha que o metal de Têmis pode ajudar — Sextus foi andando até a bancada de madeira lustrosa coberta de mais engrenagens, pregos e quinquilharias, como as da oficina em Creta.

Percy o seguiu. 

—Você não está completamente errado em pensar isso — Sextus retirou do avental um cinzel e uma pinça prateada. Ele depositou a pedra em cima da mesa e fincou o cinzel no meio da estrutura porosa. A pequena névoa se dissipou levemente — Formidável! Desde a primeira vinda do senhor dos abismos não tive notícias de que o metal voltou a florescer. 

“Porém… é perigoso. O metal pode derreter a mente de quem o empunha, tudo depende da intenção, do seu pensamento ao usá-lo. O Perseu quase perdeu a guerra por causa disso, mas receio que é nossa única saída.”

Sextus mexeu mais um pouco na pedra e a partiu em duas, revelando uma camada interna dona de um brilho esverdeado semelhante ao da centelha. Percy já nem se lembrava mais como era sentir o poder de Gaia, desde a queda da no coração do abismo. 

—Se parece com a centelha — Percy repetiu o gesto de Sextus e cobriu o rosto com a bandana preta que ainda circulava o pescoço. 

—Na verdade isso é só um reflexo do que você tem, ou tinha. Você havia me dito que Annabeth teve sua mente tomada pelo Veneno de Tártaro quando estiveram em minha oficina, não é mesmo? — Percy assentiu ao ser questionado. 

“Pois bem, como disse, o metal reflete a sua intenção. Eu posso preparar um elixir para você se reconectar com este poder, mas devo alertá-lo dos riscos. Você pode ter sua mente apagada e sua intenção desviada.”

—Não seria a primeira vez — Percy sorriu de lado e assentiu de cabeça. 

—Vá ver como está a garota, ela deve acordar em breve — Sextus olhou para o relógio de parede velho e continuou a mexer com o metal. 

 

*** 

 

Percy quase adormeceu ao observar a namorada desfrutando o sono causado pelo tal “metal de Têmis

Ele via Perseu pelo canto do olho trabalhando na mesa e revirando armarinhos de canto salpicados por toda a oficina, volta e meia o esgrimista o encarava meio pesaroso, como se estivesse trabalhando contra sua vontade. 

Pouco tempo depois, Percy o viu acenar com a mão para que se aproximasse, o garoto foi ao encontro de Sextus

—O gosto não é dos melhores — Sextus se afastou de lado revelando a pequena cuia de terracota revelando um líquido acinzentado e borbulhante — E torça pra eu ter replicado a receita corretamente, já se passaram alguns milhares de anos desde a última vez. 

Percy franziu o cenho mas mesmo assim avançou na direção da mesa. Ele levou a mão ao vaso de barro e mentalizou uma prece a seu pai antes de virar o líquido gosmento de uma só vez goela abaixo. 

O primeiro instinto foi: “gosto de pedra”. No momento seguinte ele sentiu um gosto característico de ferro na boca, idêntico ao gosto de sangue.

O homem se forçou a engolir tudo, se debruçando e se apoiando pelas mãos na mesa de Sextus. Sua mente estava derretendo, com flashbacks de seus primeiros anos no Acampamento, o rosto de Annabeth sendo focalizado dentre os outros. O rosto de Zeus e de Tártaro também foram evidenciados. 

Percy estava tentando se lembrar das palavras de Sextus, sobre colocar a intenção certa ao tomar o líquido, um deslize e sua mente se perderia para sempre. 

Ele tentava a todo custo forçar sua mente a pensar em Perseu, na guerra, na profecia que sempre sussurrava em seus sonhos. 

O garoto teve uma breve lembrança antes de seus olhos rolarem e ele cair de cara na mesa. 

A Estátua da Liberdade.

Percy quase vomitou, mas impediu Sextus de ajudá-lo erguendo o braço esquerdo. Ele continuava se esforçando para manter a mente em seus objetivos, destruir os pilares do abismo, encontrar a biblioteca perdida e esquecer os deuses para sempre.

A visão da estátua continuava se repetindo, chegando ao ponto da própria Lady Liberty dar uma piscadela pra ele, como se já soubesse do que se tratava. 

Percy não tentou lutar contra a mente, ele se permitiu focar na paisagem costeira de Nova York, da voz de seu mestre esbravejando para que o enfrentasse. O desafio de Réia, parecia uma vida inteira atrás, antes dele saber sobre a profecia, ter sua mente apagada, ser treinado por Perseu, antes da volta do caído

 O brilho amarelo tomou conta de toda a oficina, era tão forte que começou a derreter o fiorde congelado, como luz solar.

Percy sentiu um repuxo no abdome há muito esquecido.

Aquele brilho amarelo era uma faísca de esperança, e ele foi diminuindo até que os dois conseguiram abrir seus olhos novamente.

Percy Jackson olhou para sua ardente mão direita, nela jazia o presente de Reia, a Pedra de Onfalos


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Notas finais do capítulo

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