Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra escrita por Pedro


Capítulo 86
36 - Reconexões


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal, mais um pra vocês!
Agora é um por dia!
Voltei!

Boa leitura, deixe comentários, favorite, recomende.



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36 — Reconexões 

 

 

O veleiro Alcione navegava graciosamente pelas águas calmas do Egeu. A paisagem de destruição que o mais novo vulcão em atividade na Grécia havia causado estava distante demais para se ver. Só a coluna de fumaça era vista como lembrete da pequena vitória dos semideuses sobre o senhor dos abismos.

Percy Jackson manejava o timão habilmente e ajustava as velas seguindo as correntes de ar que os levavam para o sul. A noite já estava quase no fim, Percy observava o céu crepuscular enquanto o sol nascia à bombordo, mergulhando as ilhas gregas em um brilho dourado resplandecente. 

A bacia do Mediterrâneo se erguia até aonde os olhos podiam ver, com ilhas cobertas de verde, salpicadas com casas brancas de cal.

Durante a Idade Antiga, o mar Egeu propiciou o desenvolvimento da navegação marítima pelos gregos. Suas costas montanhosas e irregulares formavam abrigos naturais e seu grande número de ilhas permitia navegar sempre à vista de terra.

Os ventos açoitavam as roupas de Percy, ele havia tirado a camisa, era verão no hemisfério norte, as correntes sopravam uma brisa morna agradável. 

Eles já navegavam a bastante tempo, o garoto tentava manter-se de pé, o abraço de Morfeu tentava se agarrar à ele em cada bocejo de sono. Ele se perguntou se Annabeth saberia controlar o pequeno veleiro sem colidi-lo contra alguma rocha ou ilha. 

A garota dormia no convés inferior. Havia uma suíte com cama queen size espaçosa, travesseiros de pluma e um pequeno guarda roupas de madeira. Dentro dele haviam algumas mudas de roupas e biquínis coloridos. 

Ela estava dormindo sem as roupas, esparramada na cama em uma juba loura entre os lençóis da cor das águas cristalinas. Annabeth babava um pouco, a convivência com Percy trazia consequências, afinal.

A semideusa desfrutou de um sono tranquilo, sem pesadelos ou visões, agradeceria a Hipnos quando retornasse ao Acampamento, se retornasse. As horas alongaram-se e revigoraram todas as energias dela, quando os olhos cinzas recobravam a luz do sol que entrava por uma pequena escotilha redonda na parede. 

Ela se levantou vagarosamente, espreguiçando-se e bocejando renovada. 

Annabeth foi até o guarda-roupas e pegou um biquíni na cor verde água. Percy com certeza iria ter um gatilho, ela não se importava, talvez no fundo quisesse isso, mesmo não admitindo.

Ela vestiu uns shorts crepe cinzas com estampas de flamingos por cima da parte de baixo do biquíni, seria covardia com Percy aparecer apenas vestindo o filete de tecido azulado cobrindo a bunda dela.

Annabeth saiu do quarto e passou pelo corredor estreito, haviam mais duas portas, um depósito e despensa, uma pequena sala de estar com sofás redondos e uma cozinha modesta equipada com um frigobar. Além da escada que levava ao deck.

Ela subiu e se aprumou pra fora do convés inferior, a luz da manhã brilhava fortemente, os olhos dela demoraram alguns segundos para se acostumar. 

—Quem é vivo sempre aparece — o tom travesso na voz de Percy sempre a irritou, Annabeth mostrou língua sem olhar para ele. 

Ambos coraram quando os olhares cruzaram. Annabeth quase caiu pela amurada ao ver o filho de Poseidon. 

Percy estava sem camisa, usando só um short azulado de estampa praiana, com coqueiros e plantas rasteiras. Ele usava óculos Rayban Wayferer pretos e sorria de orelha à orelha para ela. Os pés descalços se remexiam inquietos. Ela tentou desviar o olhar do físico atlético do garoto, mas se pegou fitando o abdome dele por tempo demais — pensou.

—Quanto tempo eu dormi? — ela foi na direção de Percy. Ele estava devorando-a com o olhar, Annabeth fingiu plenitude e ignorou a ardência nas bochechas.

—Olha, o sol já está quase na metade do percurso — ele disse analisando o céu — Umas doze horas, diria. 

—Desculpa, você deve estar morto de cansaço — ela se aproximou do deck superior, onde Percy manejava o timão. 

Annabeth já foi logo tomando o controle da roda do leme e empurrando Percy com o quadril. Annabeth ficou na frente dele, de costas, próximo até demais. Ele levantou as mãos em defesa.

—Você sabe o que está fazendo? — ele ergueu uma sobrancelha — Não é como pilotar um carro, não que você também saiba fazer isso. 

Ela deu uma cotovelada para trás e acertou a barriga dele, que deu um muxoxo de reprovação — Ai, não acredito que senti saudades até de apanhar pra você.

Annabeth deixou um sorrisinho escapar, mas continuou de costas. 

—Você pode me ensinar — ela girou o leme com violência, o barco deu uma guinada abrupta para o lado.

—Não nos mate, por favor — ele brincou. Percy colocou esticou o braço por baixo do braço de Annabeth e apoiou a sua mão por cima da dela. Annabeth arrepiou com o toque.

Percy girou carinhosamente o timão até a posição onde estava, Annabeth se deixou levar pelos comandos do garoto. A respiração dele fazia cócegas na nuca da garota, os pelos estavam eriçados.

—Você tem que manter estável — ele sussurrou no ouvido de Annabeth — Tem que sentir as águas, sentir o vento açoitar seus cabelos. É uma dança lenta, como uma valsa. Sem movimentos bruscos.

Ela estava com os olhos fechados em transe, depois de tudo pelo que haviam passado juntos, parecia que estavam de férias navegando sem destino. Por um momento ela desejou ser uma mortal com todo seu ser. Annabeth se segurou para não pular em cima de Percy naquele momento. 

Annabeth sentiu os ventos balançarem seus cabelos louros, ela respirou o ar límpido e abriu os olhos, olhando para as ilhas que se estendiam à frente. Ela se imaginou atracando o barco em alguma delas, indo nadar com Percy e brincar na areia, se espreguiçar ao sol do verão em alguma praia deserta. 

Percy afastou a mão e a deixou controlar Alcione. Ele continuou próximo à garota, depois de tudo ele tentava afastar a Arma de Tártaro dos pensamentos, preferia pensar em Annabeth Chase, a garota por quem ele era apaixonado desde os 12 anos. Sua amiga leal, conselheira e namorada. Ele se pensou se ainda eram isso, mas não queria complicar as coisas. Preferia curtir o momento ao lado dela.

—Estou com fome — Ela disse — Não tem comida naquele frigobar. E eu não quero aqueles figos que você pegou na fazenda em Leptokarya.

Percy foi até a amurada do veleiro, talvez fosse canibalismo o que ele estava pensando em fazer, mas seu pai com certeza o perdoaria. A necessidade faz a situação. 

—Não nos mate — ele fez um sinal de prece juntando as duas mãos.

Ela o olhou e fechou a cara. Os ventos fizeram o barco guinar um pouco para a direita, Percy quase se desequilibrou e passou por cima do parapeito — Olhe pra frente, Sabidinha

Annabeth sorriu genuinamente ao ouvir o apelido carinhoso que Percy usava para a irritar desde que eram crianças. Ela não se sentiu incomodada, pelo contrário, sentiu uma felicidade imensa ao escutar aquela palavra. 

Percy se apoiou nas cordas que que equilibravam a quilha das velas e olhou para as águas cristalinas — Já volto, eu alcanço você. Só mantenha pra frente, a não ser que tenha que desviar de alguma ilha. Aí os deuses vão ter que nos ajudar.

Haviam alguns arpões prateados amarrados em um dos mastros de Alcione, Percy pegou um deles e o apoiou na amurada.

Percy subiu na amurada e se equilibrou segurando a retranca do veleiro. Ele respirou fundo e fechou os olhos. Ele jogou o arpão na água primeiro.

O filho de Poseidon deixou o corpo bambear e se projetou como um míssil, indo de cabeça ao encontro das águas do Egeu

Percy afundou com velocidade no mar grego, ele não usou seus poderes para ficar seco, mas continuava mantendo seus movimentos em velocidade normal, um dos muitos dons que havia herdado de sua parte divina.

As águas cristalinas permitiam uma visão ampla e privilegiada para Percy. Ele conseguia enxergar perfeitamente à medida em que afundava rapidamente no mar. A fauna marinha era exuberante e variada, águas vivas, golfinhos e tubarões amistosos. Havia também uma flora lindíssima, corais coloridos refletindo a luz solar em tons brilhantes. Verdadeiras florestas de algas em tamanhos e cores diferentes se estendiam nas faixas de areia e pedras vulcânicas que se erguiam como montanhas subaquáticas.

Ele não precisou procurar muito, avistou um pequeno cardume de garoupas cinzas e com bolinhas pretas nadando cautelosas à sombra de um recife de corais avermelhados. 

Percy pediu desculpas mentalmente antes de atirar o arpão em uma enorme garoupa, ela deveria ter mais de dois metros de comprimento e uns cem quilos, no mínimo.

O arpão atravessou uns 30cm na cabeça do bicho, que não se contorceu e morreu na hora. Percy se desculpou com Poseidon e com as outras garoupas do cardume, que não se demoraram a fugir desesperadas.

Ele foi até o arpão e o catou com cuidado. O sangue do peixe atraiu alguns tubarões famintos, Percy se projetou à frente de sua presa. Ele retirou Contracorrente do bolso e clicou o botão. A espada de noventa centímetros de bronze celestial brilhou ameaçadoramente. Os predadores logo se dispersaram nas águas, reclamando e xingando.

Percy transformou a espada novamente na caneta esferográfica e a guardou no bolso. Ele se pôs a subir pelas águas. Na superfície o Alcione velejava a 5 nós de velocidade, eles chegariam em Alexandria dentro de três dias, se os cálculos do garoto estivessem corretos. Ele era filho de Poseidon, não de Euclides, talvez errasse por um ou dois dias. Tanto faz, se errasse para mais, pelo menos poderia aproveitar mais tempo com Annabeth.

Ele se aproximou da superfície e emergiu das águas. Os cabelos cobriam parte de seu rosto. Percy retirou o arpão cuidadosamente da água, não queria partir a pobre garoupa em duas.

Ele se apoiou com uma das mãos na escada que levava ao deck e subiu os degraus com o arpão na outra mão.

Percy deixou o almoço no chão do convés e subiu logo depois. Annabeth manejava o leme com destreza, os olhos fixos no horizonte. A filha de Atena era esperta, mais que ele.

Ela notou o retorno de Percy.

—Ei, isso teoricamente é canibalismo, não? — ela riu da própria piadinha

Percy deu de ombros e pegou o arpão no chão, exibindo a garoupa como um prêmio.

—Eu já tinha comido peixe antes de saber que meu pai é Poseidon — Percy se ajoelhou ao lado da garoupa e retirou o arpão com cuidado, ela estava intacta. Os olhos arregalados. 

Ele pegou Contracorrente novamente no bolso e começou a retirar as escamas do peixe com a lâmina de bronze — E vai matar nossa fome, Poseidon se importa mais comigo do que com um peixe, eu acho. 

Annabeth riu e fez um sinal concordando com a mão. Percy continuou trabalhando nos preparativos do almoço deles.

 

***

 

O sol já havia se posto no horizonte, o Alcione estava ancorado na praia de uma pequena ilhota deserta. As estrelas cobriam todo o céu da Grécia, com constelações que nem Annabeth saberia dizer o nome de todas. A lua cheia fazia os cabelos dela brilharem intensamente. 

O almoço dos dois havia sido bastante agradável, na despensa do veleiro haviam iguarias e temperos de todo tipo, além de um pequeno braseiro e grelhas para churrasco. Percy havia carregado tudo para o deck superior, preparando a enorme garoupa a céu aberto. Os dois passaram o dia se deliciando com a carne salgada do peixe, eles comeram até se empanturrar, e ainda havia muita carne branca guardada no frigobar da cozinha. Percy não havia se esquecido de oferecer um pouco da comida para o gigante Órion, além de oferecer a Poseidon, se desculpando pelo canibalismo

Durante a tarde eles nadaram, brincaram e velejaram pelas águas límpidas do Mediterrâneo. Estava sendo um ótimo dia, sem pesos de profecias, de guerras e monstros. Só os dois. Percy e Annabeth, nada mais importava.

Os dois estavam relaxando nas espreguiçadeiras brancas do Alcione, bem próximos um do outro. Os ventos quentes da noite de verão permitiam a ambos continuarem com as roupas da manhã, Percy não conseguia tirar os olhos das curvas que o biquíni azul de Annabeth explicitavam. A garota não tinha mais vergonha, e tampouco pediu Percy para parar de admirá-la. 

Ela olhava para as estrelas volta e meia apontava para algumas constelações que Percy perguntava o nome. As Plêiades, Centauro, Sagitário.

Uma das únicas que o garoto sabia o nome era a do marido de Alcione. O gigante Caçador se erguia nos céus cortando toda a extensão da grande mancha da Grande Nuvem de Magalhães. O cinturão, o arco e ponta da flecha, destacando-se no céu. A ausência do brilho que as cidades emitiam com suas luzes piscantes permitia uma observância singular do céu noturno.

Annabeth quebrou o silêncio que já perdurava a algum tempo.

—Eu não te agradeci por me salvar — ela continuou olhando pra cima — De novo

Percy se mexeu desconfortável, ele fitou Annabeth pelo canto do olho. Ela estava deitada de lado, com o tronco virado na direção dele, mas continuou sem olhá-lo.

—Não precisa — respondeu ele — Eu sempre estarei aqui. Quantas vezes forem preciso. 

—Precisa sim — ela finalmente o encarou. Os olhares se cruzaram, ela estava com os olhos cheios d’água.

Annabeth suspirou ao encarar a expressão calma de Percy — Mesmo eu te atacando, te torturando e deixando você com fome e com sede… mesmo assim você não hesitou em me salvar. 

—Não foi você, Annabeth — Percy sustentou o olhar dela, ao vê-la com os olhos marejados. Ele quis deitar-se ao lado dela e partilhar a espreguiçadeira, ela era espaçosa. 

Annabeth se virou de costas, ela estava envergonhada demais para encará-lo. A grande referência do Acampamento, capturada por um descuido e sendo feita de marionete pelo senhor dos abismos. Nada mal para uma líder. Depois que Percy havia sumido para treinar com Perseu ela havia se tornado o farol que guiava os semideuses na guerra contra Tártaro, e falhou miseravelmente. Ao invés de liderá-los, ela os atacou, zombou deles e traiu os deuses. Não que tivesse escolha, o Veneno de Tártaro parecia ofuscar as qualidades e enlevar os defeitos. 

Ela era teimosa, amargurada com o pai e havia acabado de perder o namorado, este que havia desaparecido sozinho seguindo uma estúpida profecia, sem apoio, sem ela. Annabeth também se sentia traída por Percy quando ele foi para o Michigan, o garoto não havia feito questão de enviar uma mensagem de Íris sequer. Simplesmente desapareceu sem deixar vestígios. 

Percy escutou ela fungar levemente. O coração dele apertou-se no peito. 

O garoto fez o que estava pensando e deslizou o corpo até encostar em Annabeth. Ele passou um dos braços pela cintura dela e apertou com força, em um abraço de urso. Enterrou o rosto nos cabelos dela, o cheio de água salgada inebriou as narinas dele.

—Não é sua culpa, Annie — ele sussurrou aos pés do ouvido dela com ternura — Eu fui egoísta ao te deixar, queria protegê-la de mim, não podia arriscar perdê-la novamente. Que ironia, não é? Quase a perdi para sempre, por isso. Eu precisei perder a memória e ver você brindar com o inimigo para perceber o quanto fui estúpido. Jamais vou deixar você de novo, Annabeth, e eu vou dividir minha alma em mil vezes se for preciso, para tê-la comigo, não importam as consequências. 

Annabeth relaxou ao ouvir aquelas palavras, a garota segurou a mão de Percy e entrelaçou as pernas nas dele.

—Nunca mais me deixe de novo — o tom de súplica na voz dela fez o estômago embrulhar. A voz dela estava embargada e cheia de peso.

Percy beijou levemente a nuca dela. Annabeth se arrepiou.

—Jamais — ele respondeu firme — E você também, nunca mais me ataque daquele jeito na floresta, eu tenho uma reputação a zelar. Você me mataria facilmente, pega mal ser o tal Escolhido, herói de profecias, quando a namorada dele o derrota com dois golpes de faca. 

Annabeth deu uma risada, só o humor ácido de Percy conseguia fazer ela acreditar que tudo ficaria bem. Percy não se importava de fazer piadas só para fazê-la sorrir, este era o trabalho dele.

Namorada? — ela arqueou uma sobrancelha, se aninhando em Percy — Se me lembro bem, aquele anel que você me deu ficou lá no Pinheiro de Thalia. 

Percy sorriu, ela nunca facilitaria as coisas pra ele. 

—O que temos vale mais que um anel de prata, não? — Percy retrucou.

Ela deu uma leve cotovelada nele e riu. 

Idiota, é claro que vale. 

Annabeth girou o corpo na espreguiçadeira e colou o rosto no dele. As respirações se misturando.

Eu te amo, Percy — ela corou.

Percy ficou atônito por alguns segundos, se fosse um sonho, ele não iria querer acordar nunca.

Ele não respondeu com palavras. 

Pressionou os lábios contra os dela suavemente. Eletricidade percorreu de sua cabeça a seus pés, o coração dele quase parou. Ele sentiu como se fosse a primeira vez, as emoções estavam explodindo dentro de seu peito, seu cérebro parecia estar derretendo e escorrendo para o resto do corpo. 

Os dois se beijaram por muito tempo, e, ao se separarem, sorriram genuinamente, as testas coladas e as respirações misturadas. As almas, sincronizadas. 

Reconexões.


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Notas finais do capítulo

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