Eu continuei parada, tudo o que tinha acontecido, ocorreu tão rápido, todas as cenas corriam pela minha cabeça como imagens dispersas.

- Vic! – Josh correu até mim e me segurou pelos braços.

- Josh, eu... – ele me apertou contra o peito o que me fez chorar mais ainda.

- Via ficar tudo bem... Ele só está estressado. Me desculpe.

- É que – eu desencostei dele e o olhei desesperada. – eu não queria ter dito aquelas coisas, ele... Gosta de mim. – eu baixei o olhar. Aquelas palavras pesaram na minha boca. Nunca tinha percebido o quão importante elas eram. Principalmente para Walt.

- Está tudo bem. Olhe, - ele hesitou um pouco, mas continuou. – volte para a cabana. Vá falar com ele, e deixe o coelho comigo.

- Josh...

- Não. Está tudo bem, eu já cacei algumas vezes com meu pai, quando ele ainda era... Sóbrio. – ouvi tristeza em sua voz, mas ele piscou rapidamente e me deu um beijo na testa.

- Obrigada. – eu sorri.

...

A cabana estava em silencio. Andei até o quarto onde Kate estava e encontrei Emma sentada em uma cadeira de madeira velha ao lado da cama, lendo o livro de feitiços.

- Emma? – empurrei a porta que estava entre aberta. – Walt esteve aqui?

- Não... – ela apertou os olhos. – Pensei que ele estava com vocês...

Eu engoli seco. Não queria contar para ela que discutimos e que ele fugiu para um lugar na qual eu não sabia onde era.

Sentei do lado de Kate na cama e olhei para Emma concentrada no livro.

- Ele estava, hm... Ele disse que viria aqui pegar outra faca, iríamos se dividir pra achar o coelho mais rápido.

- Vocês não deveriam. Eu mandei vocês juntos porque seria mais seguro, um teria a companhia do outro. – ela ergueu uma sobrancelha. – E... não, Walt não esteve aqui.

Silenciamos por alguns minutos.

- Obrigada. Por tentar salvar Kate e por... Tudo. – eu sorri.

- Está tudo bem. – ela sorriu. – Nunca concordei com nada do que meus pais e meu irmão fizessem.

- Seu irmão? – estranhei.

- Sim, mas ele não esteve a sua procura. Ele está em New York. Não se preocupe. – disse ela olhando minha expressão. – Ele não vai conseguir te rastrear. Porque, este é um dos “privilégios” de ser um Feiticeiro Completo. Somos gêmeos, então saberei quando ele se tornar um Feiticeiro Completo. Por enquanto, não tem com o que se preocupar.

Eu assenti e levantei.

- Onde você vai? – ela disse.

- Vou ajudar, hm... O Walt. – eu sorri nervosa.

- Tudo bem. – ela voltou para o livro.

...

Os poucos minutos que eu passei na cabana pareciam ter sido horas. O céu estava em um tom alaranjado, atrás de mim um tom mais escuro indicava que a noite já estava chegando, e estávamos separados. Não sabia onde Josh ou Walt estavam.

Eu andei para trás da cabana pensando que talvez Walt estivesse sentado nas lenhas reserva que guardamos, como ele sempre fazia. Ele não estava lá.

- Walt? – falei. Não quis gritar, pois não queria que Emma ouvisse que eu estava o procurando. – Walt!

Não me lembro de ter andado tanto, mas aquela caverna assustadora estava bem na minha frente. Atravessei os galhos secos e as plantas que estavam no chão e parei diante da caverna.

- Walt? – minha voz ecoou. Nada.

Resolvi então sair, mas então percebi que aquela luz se acendia de novo. Agora ela incomodava minha vista, e iluminava um pouco do local.

Assustada, sai correndo para a clareira onde eu encontrei Walt sentado na mesma pedra que eu sentara, na noite que havia sido atacada por Scott.

- Walt! Onde você esteve? Eu... – eu ofegava.

Ele me olhou com um jeito frio e triste. Então, me sentei ao seu lado.

- Me desculpe... – sussurrei. Ele não respondeu. Olhou para o Sol de pondo e apertou os olhos como se aquilo o incomodasse. – Eu sei que não deveria ter dito aquelas coisas. Fui indelicada demais. Você não merece isso. E quer saber? Você realmente cuida de mim. – eu tentei sorri. – Eu te amo. – não da forma como ele me amava, mas ele era meu melhor amigo, não tive o direito.

- Tudo bem. – ele abaixou a cabeça e mexeu na ponta de seu casaco de algodão. – Eu merecia aquilo. Fui um idiota.

- Não...

- Eu fui sim. – agora ele olhava pra mim. – Eu... Só me sinto covarde por nunca ter... Conseguido. Te conseguido. Só sinto que eu fiz alguma coisa errada. – ele olhou para a grama baixa e seca. – Desde que éramos pequenos, eu tentava. Eu sempre fiz de tudo. Mas... – ele riu forçado. – O que as pessoas devem pensar? O capitão do time de futebol não consegue uma namorada...

- Você não deveria pensar assim...

- E como eu deveria? Se deveria... Passei maior parte da minha vida tentando conseguir ficar com você, e agora Josh chega e em poucos dias vocês estão namorando... Sou um idiota. – ele passou a mão nos cabelos.

- Walt eu... – não sabia o que dizer. Talvez nada pudesse consolar ele, mas eu queria de alguma forma que ele se sentisse bem.

Ele respirou fundo e olhou pra mim.

- Me desculpe. Eu não deveria ter te colocado em uma situação como esta... – ele tentou sorrir.

- Está tudo bem. – eu o abracei.

...

Voltamos pra cabana e Josh havia chegado com o coelho de um pelo que fora branco, que agora estava sujo de sangue e terra, assim como Josh.

- O que houve? – perguntei a ele.

- É... Foi meio difícil, mas... Consegui. – ele sorriu.

Emma pegava um pouco do sangue do coelho e colocara em uma tigela de vidro. Eu não sabia de onde ela teria arranjado aquilo, mas estava muito cansada pra perguntar.

- Está pronto. – ela anunciou ao se virar. Seus olhos estavam arregalados, como se tivesse acabado de descobrir alguma coisa muito importante.

Na tigela um líquido azul-turquesa cintilava na luz das velas.

- E agora? – perguntou Walt.

As mãos de Emma tremiam. Naquele momento pude sentir sua aflição. Ela estava responsável pela vida de Kate. Ela estava responsável pelo o que ia acontecer. Eu respirei fundo e assenti com a cabeça.

- Eu confio em você. – disse a Emma.

- Eu também. – disse Walt.

- Eu também. – falou Josh.

- Vamos lá... – e todos nós fomos para o quarto.