Coma escrita por SophieG


Capítulo 5
Capítulo Quatro


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora!



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– Então, o que há pra fazer aqui além de assistir Grey’s Anatomy ao vivo? – Erik perguntou se deitando na grama bem cortada do parque enquanto assistíamos a uma família se divertir em seu precioso piquenique.

Já fazia mais de uma semana desde que Erik havia chegado. A amizade tinha fluido entre nós, mas é claro que aquele jeito zombeteiro dele me irritava às vezes e eu não conseguia me impedir de ser irônica e impertinente de vez em quando.

Nós nos sentávamos e conversávamos sobre várias coisas, descobrindo gostos em comum e compartilhando memórias de uma vida que parecia distante. Ele não tinha mais feito perguntas que eu não quisesse responder. Por enquanto. Mas ele não parecia ter reserva alguma em falar sobre sua vida.

Em pouco tempo, eu já sabia que ele tinha duas irmãs. Hanna, aquela que eu havia visto chorando, e uma pequena de cinco anos, chamada Emily. Erik a adorava, pelo que dava pra perceber. Ele sempre falava da pequena Emily com muito carinho, mas sua expressão se entristecia quando percebia que não a veria por um bom tempo.

Descobri que ele adorava cozinhar, mas tinha vergonha de admitir, e seu grande sonho era cursar uma faculdade de música, contrariando os planos de seus pais de que ele fosse um brilhante advogado.

Grey’s Anatomy? – perguntei, tentando segurar o riso.

– É. Você sabe, enfermeira transando no almoxarifado com o médico bonitão enquanto a esposa dele está se pegando com o cirurgião no banheiro feminino – ele disse entediado.

Não consegui conter uma risada, a qual Erik acompanhou em seguida. Ficamos um tempinho rindo, e eu percebi que realmente gostava do som da risada dele. Era uma risada... pura. Quase inocente. E, acredite, Erik não parecia ter nada de inocente.

– Então? – ele perguntou quando nosso acesso de riso tinha parado.

– Então o quê? – questionei confusa.

– O que mais tem pra fazer por aqui?

– Bem... – tentei pensar em algo, mas nada me veio em mente. – Nós só podemos observar e... conversar.

Erik levantou uma sobrancelha naquele gesto inconscientemente sexy que eu também tinha descoberto que gostava. Muito.

– Ah, qual é! Qual a graça de sermos quase fantasmas se não poder fazer nada divertido? – ele bufou.

Reprimi um sorriso e abracei meus joelhos, apoiando minha cabeça sobre eles.

– O que você sugere?

– Eu não sei, nós podemos... mover objetos?

– Erik, eu já disse, isso aqui não é como nos filmes, essa é a vida real. Você não está vivenciando uma cena de Ghost – rolei os olhos.

– Podemos ou não mover objetos? – ele repetiu a pergunta, impaciente.

Ignorei deliberadamente a pergunta, fingindo estar mais interessada na família que lanchava ali perto. Erik estava cada vez mais impaciente com suas perguntas não respondidas. Logo ele iria brigar. Mas o que eu podia fazer? Gostava de vê-lo irritado.

– Eu não entendo você! – ele explodiu, se levantando pra me encarar. – Por que você não pode apenas responder? Por que tem que ficar fazendo tanto mistério?

O encarei e vi que, além de raiva, em seu olhar brilhava alguma coisa diferente, a qual eu não consegui identificar imediatamente. Eu estava determinada a brigar e fazê-lo entender definitivamente que eu não iria responder aquelas perguntas e que ele deveria desistir de tentar arrancar respostas de mim à força.

Ele era tão diferente de Daniel. Apesar de ter se tornado meu melhor amigo, Daniel não fez questão nenhuma de saber cada detalhe sobre a minha vida. E continuava sendo meu amigo. Por que Erik não podia fazer igual?

– Erik, por favor... – pedi, tentando me controlar.

– O que me incomoda é que você sabe praticamente tudo sobre a minha vida, enquanto eu não sei nem ao menos seu nome! – ele reclamou.

– Tudo o que você me contou sobre a sua vida, você o fez porque quis. Eu não te pedi, nem te perguntei – repliquei mordaz.

Ele pareceu chocado – e talvez até magoado com a minha resposta – e apenas se calou.

– Cassie – falei depois de um tempo. Erik me lançou um olhar inquisidor. – Meu nome. É Cassie.

xxx

Duas semanas. Completavam exatos 14 dias desde que Erik havia chegado. Ele e eu estávamos um pouco distantes agora. Ele começou a me evitar desde o dia em que brigamos por causa daquelas malditas perguntas dele, as quais eu não podia – queria – dar as respostas.

Sua família vinha visitá-lo quase todos os dias, e Erik passava as tardes com eles, e quando não era isso ele sempre evitava ficar perto de mim.

Teria eu o magoado? Eu vi, em seus olhos, algum tipo de mágoa quando o respondi de forma mal-educada da última vez. Por que ele se importava? Ele nem ao menos me conhecia!

Eu estava sentada no meu lugar preferido no parque outra vez, observando as tão alegres famílias comemorarem o fim de semana quando vi algo diferente. Erik caminhava determinado para algum lugar. Nada bom.

– Erik! – chamei.

Ele não se voltou. Eu não sabia por que tinha a sensação de que ele iria fazer algo estúpido. Então, mais do que rapidamente, fui em sua direção.

– Erik, o que você está fazendo? – indaguei ao chegar perto e ver que ele tentava, inutilmente, mover algumas folhas secas que estavam no topo de um monte cheio delas.

– Você não quis me responder. Estou tentando descobrir por mim mesmo se posso ou não mover as coisas. Estou cansado de esperar pelas suas respostas – ele disse seco, sem nem se voltar para me encarar enquanto falava.

De repente eu entendi por que ele estava me evitando. Palavras duras magoavam de verdade. Especialmente se forem vindas dele. Eu só não conseguia compreender bem por quê. Afinal, ele ainda não podia ser considerado um amigo próximo... ou poderia? Por que eu estava tendo essa reação?

– Lembra de Ghost? Quando o Sam pede pra aquele fantasma maluco ensiná-lo a mover objetos? É a mesma coisa – dei a dica.

– Eu não sei, não vi o filme todo, só algumas partes – ele retrucou, se fingindo de desentendido.

Reprimi um sorriso antes de respondê-lo. Eu sabia muito bem que ele tinha visto o filme inteiro, só não queria admitir.

– Tente com a mente – falei.

Ele ficou imóvel por um tempo. Achei que ele fosse me encarar, mas ele continuou com os olhos fixos no monte de folhas secas caídas no chão.

– Você pode movê-las. Desde que seja com a mente. Sua mão vai passar direto, porque você não é feito de matéria. Mas sua mente tem poder. – expliquei.

– Você poderia... me mostrar? – Erik pediu suavemente, ainda sem me encarar.

– Não. – respondi. Ele se voltou tão rápido pra mim que eu imaginei se dessa vez Erik ia ficar tão furioso que nunca mais ia querer falar comigo. – Eu não posso mover objetos.

– Por que não? – Erik me olhava com a sobrancelha arqueada.

– Porque... não posso – balbuciei indecisa.

Eu ainda não estava pronta pra dizer a ele. Não estava pronta pra dizer a ele que eu estava morrendo. E que por isso meu espírito estava cada vez mais fraco.


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