No Rules escrita por drê


Capítulo 7
Traídos pelo desejo


Notas iniciais do capítulo

Nem sempre as coisas saem como a gente quer..



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Acabara de me acordar e fazia com que meus olhos se acostumassem com a claridade. Era domingo à tarde e na noite anterior eu havia tido a melhor noite da minha vida dentro da Madhouse. Foi insano. Me lembro perfeitamente de tudo o que aconteceu. Coisa que dificilmente acontece.

Procuro por meu celular, como de costume, para ver que horas são. São quatro da tarde. Vou ao banheiro. E fico na esperança de não encontrar ninguém deitado na banheira. Tive sorte. Desço até a cozinha, e Arthur está dormindo no sofá. Pego um copo de suco e apoio meu peito sobre o balcão da cozinha. Como algumas bolachas que estão ali por cima.

Eu e Arthur nunca comemos como se deveria comer. Nossa vida é tão agitada que não temos tempo para comer. Acho que faz uns dois dias que não como uma comida reforçada, fico apenas nas bobagens. O bom é que não temos nenhuma reação negativa sobre isso.

Vou até a sacada com um cigarro já aceso na boca. Observo Los Angeles se movimentar. Hoje o dia esta mais calmo. Gosto de domingos. Domingos me agradam por demais. E hoje, está um domingo preguiçoso. O Sol incendeia a cidade com seus raios e já me sinto com calor pelo corpo.

– Nate? - me viro rapidamente para olhar Arthur resmungando no sofá. - Que horas são?

– Quatro. - respondo, me apoiando na grade e ficando de frente para Arthur. - Não conseguiu ir pra cama, é? - rio.

– Acordei era meio-dia. Vim assistir TV e acabei nisso. - fala, coçando os olhos. Meio preguiçoso ele se levanta, indo direto ao banheiro. Poucos minutos depois ele retorna. - Qual vai ser a de hoje? - pergunta, vestindo uma camisa.

– Nem sei, irmão. Tô afim de relaxar hoje. Nada muito movimentado. - tragueio meu cigarro encarando Arthur. Penso em algumas coisas que poderíamos fazer. Mas nada que realmente me dê vontade.

Ele retorna a sentar no sofá, e acende um cigarro para si. Parece pensar em alguma coisa.

– Marquei de comprar maconha com uns caras aí. Tá afim de ir buscar comigo? - pergunta.

– Aonde?

– No San Jordano.

– San Jordano? - indago. - Tu sabe que porra de bairro é esse?

– Sei. - dá de ombros. - Foda-se, o bagulho é dos bons. - ele se aproxima de mim na sacada.

– Por que não comprou com a Melissa? Tu sabe que o dela também é bom.

– Mas esse aí é diferente, Nathan. - resmunga, um pouco exaltado. - Se não quiser ir, não precisa.

– Tudo bem, Arthur. Eu vou. - encaro o horizonte. - Eu vou. - repeti. Suspirei.

Não sei qual é a do Arthur, mas não vou questionar. Não gosto quando questionam as coisas que tive ou tenho vontade de fazer. Sei como ele se sente. Por isso, deixei o assunto morrer. Nós ficamos a tarde toda em casa, sem fazer nada, apenas fumando, bebendo e comendo Doritos. Descemos algumas vezes para ir até o mercado comprar mais cerveja. E isso resume nosso domingo.

Chegou perto da meia noite e Arthur disse que estava na hora de irmos buscar nossa maconha. Me perguntei por quê tão tarde. Mas não questionei. Colocamos alguns casacos porque o vento lá fora já tinha se tornado gelado. Pegamos a avenida e seguimos até o metrô, onde pegamos o primeiro que veio.

San Jordano era um bairro pobre e muito conhecido pela polícia. Assaltos, homicídios, tráficos.. Tudo acontecia no San Jordano. Uma vez fumei maconha de lá. Realmente, era incomparável. Eu não estava com medo. Mas eram pessoas que nós não conhecíamos. Hoje em dias, as pessoas sempre tem intenções erradas.

Nós descemos do metrô e tivemos que subir um pequeno morro. Paramos em uma esquina e esperamos. Logo, as mesmas pessoas que Arthur foi dar uma volta no parque com eles, na semana passada, apareceram. Eles nos cumprimentaram.

– E aí? Tá com o bagulho? - Arthur pergunta.

– Tá chegando aí. - um cara gordo se pronuncia.

Nós ficamos em silêncio. Eu olhava tudo, muito atento. Mas transparecia calma. Estava era ansioso pela maconha que estava chegando. Ouvimos alguns passos e um cara bem alto e magrelo se aproximou. Foi direto em Arthur e lhe entregou um saco plástico onde continha a maconha. Arthur conferiu e cheirou. Depois de sorrir, lhe passou o dinheiro. Estávamos pronto para ir embora, quando mais gente se aproximou.

– E aí Pacman. - falou um dos cara que se aproximou. Ele segurava uma pistola em sua mão, visível a quem quisesse ver. Encarava o cara mais gordo. - Acha que me esqueci do nosso trato? - ele encarou mais um pouco e depois voltou os olhos para mim e Arthur. - Quem são vocês?

– A gente nem é daqui, cara. A gente só veio comprar uma maconha. A gente tava até de saída. - Arthur falou, aparentava nervosismo.

– Não queremos confusão. - tentei acalmar. - A gente só quer o breu pra fumar na boa.

O cara com a pistola ficou calado. Ele tinha mais um bando de homens armados atrás de si. O magrelo que entregou a maconha para Arthur se pronunciou.

– Eu não quero mais saber dessa porra, a gente já resolveu tudo Charlie. - ele gritou e sacou de dentro das calças outra pistola. Ele atirou pra cima e depois mirou a arma para Charlie. Ele apenas riu.

– Tá zoando com a minha cara? Tá achando que eu sou o que? - ele falou, num tom ameaçador.

No que eu pisquei meus olhos, meus ouvidos doíam dos sons agudos que percebia. Com um instinto me joguei no chão, colocando as mãos na minha cabeça. Eu só sabia que aquela não era a hora certa de a gente estar ali. Quando cessou o barulho ensurdecedor, levantei minha cabeça que estava enterrada no chão.

Charlie corria ao fundo e muito de seus homens estavam mortos no chão. O magrelo também estava. Pacman se tremia tudo, encolhido em um canto próximo. Acredito que tenha urinado nas calças. Me lembrei de Arthur.

– Ai! - ele gemeu. Arthur estava deitado no chão, resmungando de dor. Sua mão estava sobre seu abdômen. Próximo ao coração. Ele berrava. - Nate.. Me ajuda.. - sua voz falhada. Sua respiração estava toda errada.

Comecei a tremer.

– Que caralho Arthur, falei pra gente não se meter com essa gente. É San Jordano, meu irmão, San Jordano. - falei, sem pensar. Levantei e comecei a chutar tudo o que via pela frente. Até o que não via. Por fim, tomei coragem e me aproximei de Arthur. Encarei sua mão e ele lentamente a tirou do lugar. Foi baleado. E aquilo jorrava sangue. - Agora me diz que porra a gente faz?

Estava com raiva de Arthur, mas ao mesmo tempo com medo do que poderia acontecer.

– Eu tenho um carro. A gente tem que levar ele pro hospital. - Pacman falou, se levantando desengonçadamente e correndo rua abaixo para buscar seu carro.

– Vai logo Pacman. Porra! Vai logo. - eu berrava. Sentia meus olhos queimando e sabia que lágrimas logo começariam a cair. Tentei impedi-las, mas ver meu irmão naquela situação não ajudava muito.

Pacman chegou com o carro queimando pneu de tão rápido que estava. Ele desceu e me ajudou a colocar Arthur nos bancos de trás. Ele arrancou com o carro. Sabia que ele estava andando rápido. Rápido demais. E mesmo assim eu berrava pra ele apressar. Ele nos levou até o hospital mais próximo e assim como me ajudou a colocar Arthur dentro do carro, me ajudou a tirá-lo também.

Entrei berrando no hospital carregando meu irmão pelos braços e Pacman o carregando pelas pernas. Uma enfermeira chegou com uma cadeira de rodas e eu o coloquei lá sentado. Ele estava acordado e gemia de dor. Ela não falou nada, me olhou e seguiu por um corredor, guiando meu irmão pela cadeira de rodas. Eu estava logo atrás, mas fui barrado antes de chegar na porta que dava acesso ao corredor.

Fiquei furioso. Saí pra fora do hospital e tentei controlar minha raiva. Chutei uns latões de lixo e algumas pedras que encontrei pelo chão. Ironicamente, queria matar Arthur. Mas sempre quando eu digo algo, eu sou o errado.

Pacman chegou próximo a mim e eu o encarei. Minhas emoções estavam a flor da pele. Raiva. Medo. Angústia. Tudo se misturava e me agonizava. Com um ato de fraqueza, chorei no ombro de Pacman. Não me importava com o que os outros podiam pensar. Eu só pensava em meu irmão. No que poderia acontecer com ele. Estava amedrontado. Pedia explicação à Pacman que nem ele podia me dar.

Contive minhas emoções e bati com a mão no ombro dele. Fumei um cigarro tão depressa que nem percebi. Voltei lá para dentro, sentei naquelas cadeiras em uma sala de espera e.. Esperei.

Tudo o que eu poderia fazer era manter a calma.

E esperar.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem. ♥



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