Save Game escrita por kulilinehfoda


Capítulo 1
Capítulo 1




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            Marcos era um fenômeno. Com seus 15 anos, tinha nota máxima em todas as disciplinas. Era amigo de todos os garotos e paixão de todas as garotas. Craque nos esportes. Sempre dizia o que as pessoas queriam ouvir. Foi até mesmo herói certa vez, ligando o alarme minutos antes de um incêndio destruir parte da escola. Em toda a cidade, e até fora dela, se falava do garoto gênio. Apesar disso, sempre se mostrou um garoto quieto e talvez um pouco tímido.

            Lucas era o melhor amigo de Marcos. A amizade dos dois começou antes de Marcos mostrar seus talentos; talvez por isso tenha se firmado. Ao contrário de Marcos, Lucas era extrovertido, falava o que vinha à mente, o que muitas vezes lhe rendeu a fama de chato e desbocado.

            Um dia saíam da escola com o resultado de uma avaliação nas mãos. Tinha acabado de chover, e a rua ainda estava molhada.

            Lucas: Cara, você precisa me dizer como você faz isso.

            Marcos: Eu estudo.

            Lucas: Não estou falando disso. Como sabia exatamente qual seria o conteúdo da prova?

            Marcos: Bem, é só prestar atenção nas aulas. Os professores sempre aparentam o tipo de conteúdo que irão cobrar nas aulas. Quando eles dizem “Atenção para isso!” é uma boa dica, sabia?

            Lucas: Ah, vai pra merda! Impossível cara... Bem, não importa. Graças à sua dica, tirei 8.

            Marcos: Se tivesse estudado um pouco mais teria fechado a prova como eu.

            Lucas: Não enche. Aí, vamos lá para casa jogar videogame? Com essa nota eu garanti jogo com minha mãe até a semana que vem.

            Marcos fala algo baixinho pra si mesmo.

            Lucas: O que você disse?

            Marcos: Eu, nada.

            Lucas: Sei... Você sempre resmunga baixo... Se não quer ir, fale logo.

            Marcos: Qual é, Lucas! Claro que eu quero ir.

            Nisso Marcos estica o braço e faz Lucas parar. Um carro em alta velocidade passa em uma poça de água, jogando a lama na calçada, alguns passos à frente dos dois. Lucas xinga o motorista, então se dá conta do que Marcos havia feito.

            Lucas: Cara... você me assusta!

            Marcos: Eu sei. Inclusive quanto detono você no Fighter Strike.

            Lucas: Você? Me detonar? Você é mó ruim, aliás, a única coisa em que você é ruim é em videogame.

            Marcos: Ninguém é bom em tudo. Vamos logo, vou lhe ensinar o combo que aprendi.

 

            Quase todos os dias Marcos mostrava algo intrigante, às vezes extraordinário. Ganhou uma aposta de acertar 10 cestas seguidas do meio da quadra de basquete. Adivinhava o que as pessoas tinham nos bolsos. Quando questionado de algo, mesmo um assunto estranho, tinha a resposta na ponta da língua. Conseguia convencer as garotas mais populares a conhecerem Lucas, apesar de Lucas não fazer a sua parte e sempre acabar estragando tudo. Cada dia, Marcos tinha uma novidade. E a cada dia, Lucas mais percebia que algo estava estranho.

 

           

            Naquele dia, jogando videogame na casa de Lucas.

            Lucas: Cara, seus pais são videntes?

            Marcos: Claro que não. Você os conhece: meu pai é oficial do exército e minha mãe é pesquisadora no centro de tecnologia da cidade.

            Lucas: Humm...

Passam-se alguns minutos.

Lucas: Você acredita em aliens, disco-voador e essas coisas?

            Marcos: Cara... acho que o universo é muito grande pra ter só um planeta com vida, mas acreditar em disco-voador é pegar pesado.

            Lucas: Humm...

            Mais alguns minutos depois...

            Lucas: Sua mãe é pesquisadora... Que tipos de experimentos ela faz?

            Marcos: Algo sobre melhoria genética em plantas, não sei certo. É meio chato.

            Lucas: Humm...

            Após alguns minutos, Lucas tenta falar, mas é interrompido.

            Marcos: Cara, eu não sou vidente, nem um alien, nem o resultado de uma pesquisa de melhoria genética da minha mãe, e nem mesmo um andróide que veio do futuro para lhe proteger de outros andróides enviados para lhe destruir.

            Lucas: Droga... Ei, como sabia que minha próxima teoria seria sobre o andróide do futuro?

            Marcos: Você disse.

            Lucas: Não, eu não disse...

            Marcos: Não? Puxa, sei lá. Você deve ter me dito outro dia.

            Lucas fica intrigado por uns instantes, mas logo volta ao seu “estado normal”.

            Lucas: Já descobri seu segredo!

            Marcos: Err... Descobriu?

            Lucas: Você é um andróide vidente alien geneticamente modificado do futuro.

            Marcos: Lucas, me diz uma coisa: se eu sou um andróide, como posso ser geneticamente modificado?

            Lucas: Detalhes, detalhes...

 

            Apesar de sempre levar na brincadeira, Lucas desconfiava que algo de estranho acontecia com Marcos. E Marcos sempre dava um jeito de afundar todas as teorias malucas, ou não, de Lucas. Contudo, a amizade continuava como sempre.

 

Alguns anos se passaram. Lucas e Marcos, agora com 18 anos, estavam na Universidade. Lucas como sempre tinha dificuldades nos estudos, mas com a ajuda de Marcos conseguia levar com notas um pouco acima da média. Marcos já havia recebido prêmios pelo seu desempenho e propostas de trabalhar em áreas específicas, mas nunca aceitou. As teorias de Lucas sobre Marcos amadureceram, ou não, com o tempo. Agora, estava convicto na teoria de um cérebro superdesenvolvido.

 

Enquanto andavam pela universidade...

Lucas: Tenho certeza que se você aceitar fazer a ressonância magnética, vou descobrir que usa bem mais que 10% do seu cérebro.

Marcos: E onde acha que vai conseguir uma máquina de ressonância?

Lucas: Ora, no departamento de medicina. Com certeza tem um lá.

Marcos: E, claro, eles vão deixar dois alunos de outro departamento usarem o brinquedo de muitos milhares de reais...

Lucas: Detalhes, detalhes...

Marcos: Meu amigo, você se tornará um bom pesquisador se deixar de ser tão cabeça dura com suas teorias. Vê se me deixa em paz!

Lucas: Eu sei que tem um segredo aí escondido, e um dia vou descobrir...

Marcos: Desde criança você insiste nisso. Não cansa?

Lucas: Você tem várias habilidades. Às vezes parece que você manipula as possibilidades de alguma forma a seu favor...

Marcos: Puxa, eu tenho o poder da “super sorte”. Legal...

Lucas: Mas uma delas que mais me intriga é premonição de curto prazo.

Marcos: Premonição... de curto prazo?

Lucas: Isso. Você prevê coisas que vão acontecer a algumas horas, ou alguns dias no máximo. Mas nunca previu algo que vai ocorrer em um ano, ou se previu nunca me disse...

Marcos pára uns instantes e respira fundo.

Marcos: Estou prevendo algo agora.

Lucas: Sério? Eu sabia! O que é?

Marcos coloca as mãos na cabeça, como que se concentrando.

Marcos: Alguém próximo a você... vai lhe atingir de forma inesperada...

Lucas: Droga cara... O que vai acontecer?

Lucas olha preocupado para trás e Marcos acerta um tapa na sua nuca.

Marcos: Pronto, mais uma “premonição de curto prazo” com sucesso, hehehe.

Lucas: Ah cara, vai pra merda!

Nisso Lucas vê uma garota loira muito bonita se aproximando.

Lucas: Cara, preciso “daquela” dica sua.

Marcos olha para a garota e resmunga algo em voz baixa para si mesmo. Depois fala com Lucas.

Marcos: Esquece. Essa daí namora com um aluno de estudante de educação física, que aliás faz jiu-jitsu.

Lucas: Conhece?

Marcos: Não.

Lucas: Então, já que você não tem premonição de curto prazo e não a conhece, vou tomar como falso a sua afirmativa. Vou lá.

Marcos: Cara, eu não faria isso...

Lucas: Dane-se! Vou mostrar como eu faço do jeito “Don Lucan”, sem suas dicas.

Lucas vai conversar com a garota. Marcos fica de longe, observando. Ele vê Lucas puxar assunto com a garota de forma meio “inconveniente”, quando o namorado dela chega.

Horas depois, estão os dois em um quarto de uma república. Lucas está sentado em uma cama, colocando gelo em um olho roxo, e Marcos ri da situação.

Marcos: Odeio dizer isso, mas... eu avisei, “Don Lucan”.

Lucas: Já mandei você ir para a merda hoje?

Marcos ri e se senta na outra cama.

Marcos: Desde os quinze anos tento lhe ensinar como se faz. E você teima em fazer tudo o contrário. Depois, fica aí chorando com o olho roxo.

Lucas se aborrece um pouco por um momento.

Lucas: Cara, a verdade é que... sempre tive um pouco de inveja.

Marcos: Inveja?

Lucas: É cara. Você é bom nos estudos, bom nos esportes, bom com pessoas. Eu, pelo contrário, só sei falar merda o tempo todo. Se não fosse sua ajuda já teria me ferrado na vida com certeza.

Marcos: Cara, não sou tão bom quanto acha que sou.

Lucas: Bah, ainda por cima quer dar uma de humilde e modesto...

Marcos fica sério e olha para baixo.

Marcos: A verdade é que você é o único amigo de verdade que eu tenho.

Lucas: Qual é cara, você é “o senhor popular”, pode sair com quem quiser quando quiser!

Marcos fica um instante em silêncio.

Marcos: Você estava certo o tempo todo. Eu tenho um segredo. Um segredo que nunca contei a ninguém. E só vou contar para você.

Lucas faz uma expressão engraçada.

Lucas: Se você disser que é gay eu juro que vou lhe bater até seus dois olhos ficarem piores que o meu!

Marcos: Escute cara, é sério!

Lucas pára de rir ao ver o tom sério de Marcos, que começa a falar.

Marcos: Existe uma razão para eu ser bom nos estudos, bom com as pessoas, e até ser bom nos esportes. A mesma razão me faz parecer saber o que vai acontecer. A verdade é que eu posso...

Nisso alguém bate na porta do quarto e a abre, interrompendo a conversa. Era uma garota morena clara, onde pela roupa e maquiagem nota-se que estava indo a alguma festa.

Suze: Oi moços, vocês não vão?

Lucas: Err... e onde nós vamos mesmo?

Marcos: Caramba, esqueci totalmente! Ganhei convites para um rock aqui perto, e a Suze nos ofereceu carona. Mas... achei que fosse começar mais tarde!

Suze: O rock começa quando chegarmos, gatinho...

Lucas: Uhul, vamos lá!

Marcos: Err... não me leve a mal, mas... vai mesmo sair com o olho desse jeito?

Lucas: Dane-se meu olho, vamos para o rock!

 

Então Marcos e Lucas vestem outras roupas e saem para a festa.


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