Irmãos De Sangue escrita por Luc


Capítulo 1
Capítulo 1 - Dia das Bruxas




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Era o último dia de Outubro. O clima tornara-se mais gélido do que o comum, chegando a ser forte o suficiente para formar uma vultosa neblina que se disseminava por toda a pequena cidade de New Cord. Naquela noite, os alunos do Internato Saint Rose, deixavam seus dormitórios e iam para o centro da cidade, aproveitar o feriado visitando suas famílias, ou se aventurando a entrar como maiores de idade por bares e clubes noturnos. Os poucos que restavam em seus alojamentos comiam pizza e ficavam assistindo televisão a noite inteira.

            ...Ou assim, parecia.

Por de trás do colégio interno, encontrava-se escondida pela floresta, uma assombrosa caverna onde um grupo de jovens gostava de se encontrar. Era um esconderijo, de certa forma. O “clube secreto” deles. No final não importava como chamassem, o propósito era um só. Encontrar um local para que pudessem praticar seus feitiços e rituais.

            Deveria se esperar também, que então não fosse uma simples caverna como todas as outras. E de fato não o era. Possuía velas e incensos por todos os lados, junto com estantes cheias de livros antigos que deveriam existir a muito mais tempo do que qualquer pessoa que freqüentasse ali. Poltronas de estofado velho e símbolos de ocultismo pintados nas paredes decoravam o ambiente. E por último, uma grande fogueira de pedra. Ela situava-se no meio da caverna, rodeada por almofadas onde geralmente todos se sentavam.

Agora mesmo três deles estavam lá.

            Scott, Brandon e Joshua.

            – Caramba, olha só pra isso! – Dissera Brandon enquanto estalava os dedos repetidamente. O olhar surpreso estava evidente em seu rosto.

Na noite de Halloween, o garoto decidira fantasiar-se de diabinho, usando uma capa vermelha nas costas e uma tiara de plástico com chifres que piscavam na cabeça. Aquela tivera sido a fantasia mais barata que ele encontrara na loja de departamento do centro da cidade.

            Scott e Joshua que estavam ali perto, voltaram-se curiosos para ele.

            A cada estalo que dava pareciam sair faíscas de seus dedos.

Logo Brandon abriu a palma de sua mão e uma bola de fogo se formara sobre ela, ajudando a iluminar junto com a fogueira já acessa, a vasta e escura caverna em que ele e os outros garotos se encontravam.

            O engraçado, é que não parecia queimar sua pele.

Scott, que estivera quieto até então, lhe respondera dando um meio sorriso. Ele de fato não se encontrava tão surpreso quanto o amigo.

            – É normal isso acontecer – dissera ele que estava sentado ao redor da fogueira como todos os outros.

            Scott usava uma capa também, só que diferente da de Brandon, a sua era preta e em sua boca podia-se perceber uma falsa dentadura de plástico com os dentes caninos mais compridos e afiados do que o normal. No entanto, seu rosto não precisava ser maquiado, pois já possuía uma pele que era tão pálida como a de um vampiro por natureza, junto com seus cabelos que eram completamente negros.

                        – É Dia das Bruxas, e a Lua está cheia... Nossos poderes tendem a ficar mais fortes – dizia ele pulando seu olhar entre Brandon e Joshua, seu melhor amigo que abria uma garrafa de uísque e a passava para ele.

             – Além do mais, à medida que formos crescendo, eles irão aumentar mesmo – Concluíra, pegando a garrafa de Ballantine’s da mão de Joshua, e se confortando em dar um longo gole.

            Brandon, mesmo assim, ainda parecia estar surpreso com a chama que se formava em sua mão. Geralmente entre as habilidades deles de bruxos, estavam apenas a capacidade de conseguir controlar e manipular os elementos da natureza.

            Só que, desta vez era diferente.

Brandon realmente conseguia materializar as chamas em sua mão, e não apenas controlá-las. Era como se Scott queria dizer que eles e os seus poderes realmente estavam sendo influenciados pela luz do luar que aquele poderoso dia emanava.

            Ou pelo menos, era algo parecido com isso.

Joshua aquela noite dizia ser um marinheiro por apenas usar uma camiseta listrada, branca e azul. Ele direcionara seus olhos para Brandon, concentrando-se na bola de fogo que o amigo possuía em mãos. E franzindo seus olhos azul turquesa, que deixavam todas as garotas do colégio loucas por ele, ainda mais pelo fato de ser loiro. Fizera com que se criasse uma forte brisa de vento por toda a caverna, a qual potencia aumentava cada vez mais. Livros e outros objetos das estantes logo começaram a sair de seus lugares e a voarem em círculos pelo ar. Um pequeno tornado tivera se formado sobre a cabeça deles, e todos olharam para cima.

            – Para com isso, seu idiota! – Gritara Brandon para ele.

A chama em sua mão estava ficando difícil de controlar. Até mesmo às da fogueira estavam quase se apagando, mas Joshua parecia estar se divertindo com seu pequeno truque de mágica. Ele olhara para Brandon com um enorme sorriso sagaz estampado no rosto, e apenas sibilara de volta – Com prazer.

            Então fizera com que todo o tornado sobre a cabeça deles descarregasse sua corrente de ar sobre o amigo.

Brandon, relutante, inclinara-se sobre si mesmo, concentrando-se em reforçar a chama que continha em mãos para proteger dos fortes jatos de ar. Mas tudo fora inútil. E o fogo que se materializava sobre sua palma logo se apagara em um piscar de olhos. Mais uma vez, como se fosse mágica.

            – Sem graça! – protestara o amigo após o ocorrido, lançando um olhar de desprezo a Joshua que na hora começara a rir.

            Brandon sabia que Joshua tinha feito aquilo de propósito por querer chamar atenção. Afinal era assim que a amizade deles funcionava. Um sempre tentando provocar ao outro, demonstrando-se superior e melhor. No fim, era difícil acreditar que se queriam bem.

            Fora então que as risadas do garoto de olhos azul turquesa pareceram se mesclar junto com as risadas de mais duas pessoas que se aproximavam.

            Uma voz diferenciava-se, era aguda e parecia mais com a risada de uma jovem garota. Enquanto a outra tinha um tom mais grave do que a primeira, e provavelmente deveria ser de um homem.

            Os três meninos que estavam de costas se viraram direcionando seus rostos para a entrada da caverna, onde avistaram Tory e Christopher chegarem juntos.

            Ambos não usavam fantasia.

Ela com um cardigan que chegava rente aos joelhos, usando por de cima de uma camisa pólo rosa, junto com mini-short jeans e um par de sapatilhas. No pescoço, seu colar com um grande pingente de ouro em forma de coração. Tinha sido seu namorado Scott, a dar-lhe de presente no primeiro ano de namoro, e Tory o usava sempre.

            Sua roupa parecia ser um pouco leve para a ocasião, mas por sorte, Scott estava lá.

            Para abraçá-la e esquentá-la.

Era isso que ele tinha lhe prometido. Que sempre quando ela estivesse com frio, ele estaria ao seu lado, para abraçá-la e esquentá-la com seu amor.

            Christopher estava com uma filmadora ligada na mão, e usava além da jaqueta do time de futebol americano da escola e dos pares desgastados de tênis, um velho jeans com uma daquelas camisetas em gola V que ele gostava tanto.

            Ambos com um visual tão urbano.

Joshua de longe era o mais esperto do grupo, e logo perguntara a Christopher sobre o objeto que ele segurava em mãos.

            – O que é isso na sua mão, Chris?

            – Uma filmadora! – respondera ele, ainda rindo com as caretas que Tory fazia para a câmera.

            – Hoje é o Dia das Bruxas, um dia especial para nós – continuou, enquanto ia se sentar ao redor da fogueira entre Brandon e Joshua. – Acho que vale a pena gravar esta noite. Você sabe... Para ficar de recordação.

            Scott havia anuído, concordado plenamente com ele. Victória, ou simplesmente Tory, que era sua namorada, havia se sentado ao seu lado, abraçando Scott bem forte e tirando sua dentadura de plástico da boca, para dar-lhe um beijo.

            Joshua, não conseguira evitar olhar para o ato do casal, e na mesma hora, sentira uma estranha sensação em sua garganta.

Há meses ele gostava de Tory, e seu maior desejo era beijá-la. Mas também sabia que ela era a namorada de seu melhor amigo e que ele nunca teria chances com ela. Mesmo se tivesse, não poderia se aproveitar. Afinal ele e Scott eram amigos desde sempre. Consideravam-se como irmãos. E Joshua, sabia que deveria evitar ficar perto de Tory até que conseguisse parar de gostar dela.

            Algo que seria difícil por ela ser sua melhor amiga.

            – E então? – Perguntara Christopher rodando a filmadora para gravar todos os integrantes do grupo que estavam sentados ao redor da fogueira junto com ele.

            – Estão todos usando roupas intimas?

            – Pode apostar que sim! – Respondera Brandon com um sorriso que podia ser entendido tanto como ansioso quanto malicioso.

            Hoje todos eles iriam invadir a piscina da escola e nadar apenas com suas roupas debaixo. Era o modo que tinham decidido comemorar esse Dia das Bruxas que chegara.

            Tory, que ainda estava beijando Scott, dera uma pausa para se voltar ao restante dos outros garotos do grupo. Para Joshua havia sido um alivio ver os lábios dos dois finalmente se separando.

            – Não acredito que a gente vai mesmo nadar com esse frio.

            – Qual é, Tory?! – Rebatera Christopher com um riso nervoso. Ele continuara a falar, enquanto direcionava sua câmera para gravar o casal agarrado. – A gente tinha combinado que ia comemorar esse ano fazendo isso!

            Scott que até então estava sentado ao chão com sua namorada se soltara dos braços de Tory, e ficara de pé.

            – Christopher está certo – Falara ele para que todos ouvissem.

            – Cada ano a gente combina uma forma diferente de comemorar o Dia das Bruxas – Agora Christopher só focava Scott com a sua câmera – E no começo de Outono já tínhamos escolhido que comemoraríamos esse ano assim, não vamos amarelar agora.

            Tory, que ainda estava sentada ao chão ao lado de seu namorado, fora a primeira a tomar a palavra do grupo depois que Scott havia terminado de falar, e por mais que havia decidido concordar com ele e Chris, não deixaria de lado a oportunidade de bufar.

            – Tá bom! Tá bom! Pelo menos, vamos logo então!

Scott sorriu para ela, achando engraçado o seu tom de voz ao ficar brava, e esticara sua mão para ajudá-la a se levantar.

            Com o tempo os outros que também estavam sentados ficaram de pé, apagaram a fogueira e se dirigiram para a saída da caverna onde juntos pegariam a trilha da floresta que os levaria de volta para o Internato Saint Rose.


* * * * * *

Fazia frio lá fora. O ar estava úmido e denso, com uma fraca neblina que confundia os garotos no caminho de volta.

            Scott notara sua namorada cruzando os braços para esquentar o peito. Ela provavelmente devia estar com frio. A meia noite já tinha passado, e parecia que a cada hora que aumentasse a temperatura abaixava ainda mais um pouco. Por sua sorte, a temperatura corporal dele ainda estava quente, mas Scott já conseguia sentir o frio abordando o seu corpo aos poucos e deixando a ponta do seu nariz gelada.

            Scott contornara as costas de Tory com seu braço, apoiando-o por cima do ombro da garota, e puxando-a para mais perto de si. Automaticamente ela apoiara a cabeça no ombro dele. Os dois juntos pareciam ter saído de um filme de romance.

            Joshua olhando para o casal a sua frente e sentindo-se impune tentou chamar a atenção da garota.

            – Ei! Não é justo! – Exclamara ele carrancudo.

            Scott ainda junto de Tory virou-se para olhar-lo e fizera um gesto de cabeça como se perguntasse ao que o amigo se referia.

            – Eles não estão usando fantasias! – Joshua apontara rapidamente para Christopher e Tory – Porque eu tenho que usar uma então?

Tory voltando-se dera apenas um leve riso sarcástico e depois sorrira para ele.

            – Como se você realmente estivesse usando uma fantasia, não é Joshua?

O garoto satisfeito por fazer com que Tory olhasse para ele, segurara o colarinho de sua camiseta listrada branca e azul e o esticara para frente, mostrando seu famoso sorriso sagaz.

            – Eu sou um marinheiro, você não vê? – Concluíra ele, piscando um olho para ela. Logo a garota voltara a rir.

            Christopher que estava atrás de todo mundo nem chegara a se importar com o comentário, estava ocupado demais gravando com sua filmadora os locais por onde eles passavam, mesmo que esses eram apenas galhos pelados de árvores dentro da imensa escuridão da floresta.

            – Esse lugar me dá arrepios a noite – Sussurrara para si mesmo. E fora então que um rápido movimento lhe chamara atenção. Tinha sido apenas de relance, mas ele jurava ter visto algo ou alguém se movendo entre as árvores. Christopher olhou para seus amigos, mas nenhum deles parecia ter visto nada, todos ainda caminhavam continuando a conversar animadamente. Menos um. Brandon. Que ao seu lado também estava quieto. Ele havia voltado a estalar os dedos tentando criar mais uma vez a bola de fogo.

Convencendo-se então que não deveria ter sido nada, Christopher voltara para sua gravação.

            Quando se aproximaram da escola ouviu finalmente a voz de Brandon perguntar.

            – Tory, você e Chris conseguiram mesmo roubar a chave da piscina da escola?

A garota colocara a mão no bolso de trás de seu mini-short jeans, e de dentro tirara uma grande chave dourada pendurada em um cordão vermelho.

            – Claro que sim. Sei fazer um trabalho muito eficiente – Respondera ela, girando o cordão da chave em seu dedo indicador, enquanto lançava a Brandon um olhar de autoconfiança com as sobrancelhas arqueadas.

            O garoto apenas revirara os olhos.

Antes de se encontrarem na caverna com o resto do grupo, Tory e Christopher tinham invadido o gabinete do diretor para roubarem a chave do ginásio da piscina.

            Era extremamente proibido o que haviam feito, mas eles haviam sido cuidadosos o bastante para não deixarem rastros e nem alarmarem alguém.

            Nos feriados e fins de semanas o internato inteiro ficava vazio, sem a presença de professores e coordenadores, o que tornara a tarefa dos garotos bastante fácil. O único ali era o zelador que morava de trás da escola, em um chalé dentro da floresta - basicamente era o Parque do Saint Rose, fazia parte do território do internato. Mas os seus confins eram tão grandes que ninguém sabia onde ele terminava - Até os alunos não estavam mais lá. Boa parte de todos eles deveriam estar comemorando o Halloween com suas famílias, ou os que permanecessem no Internato, provavelmente estariam na Amnésia, a boate mais cool de New Cord, que ficava do outro lado da cidade.

            Após pularem os portões dos fundos da escola que ficavam fechados, pois era proibido entrar na floresta à noite. E passarem pelo grande pátio, caracterizado por uma enorme fonte, com dentro uma estatua de mármore da Virgem Maria, os garotos se dirigiram para a piscina da escola. Ela situava-se no lado esquerdo do edifício escolástico, em um pequeno ginásio na ala menor do restante da escola. Era um prédio de tijolos como toda a construção, mas possuía apenas dois andares, com arquibancadas altas, janelas estreitas e uma piscina coberta.

            Com as luzes de seus celulares iluminando o caminho eles entraram pela porta de emergência dos fundos.

            – Só espero que a água aí dentro seja quente – Sibilara Joshua ao se debater com as largas portas duplas que davam acesso aos fundos da piscina.

            – Claro que tem água quente, bobo – Respondera Tory colocando a chave na fechadura. – Você acha mesmo que eu ia nadar ai se a água estivesse fria?

            Por fim ela destrancara a porta e uma sensação de medo e perigo invadira cada um deles. Aquele leve friozinho na barriga.

            – Prontos pra invadir? – Perguntara Scott, segurando uma das maçanetas da porta dupla, enquanto sua namorada ao seu lado segurava outra.

            Os dois se entreolharam, sorriam e respiraram fundo.

            Já sabiam o que fazer.

Em seguida empurraram cada porta para o lado de dentro, abrindo-as exatamente ao mesmo tempo.



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