– Não... Não, isso não está acontecendo...

Minha cabeça estava rodando e meus olhos estavam marejados pelas lágrimas que se acumulavam ali. Se Claudio não estivesse me segurando eu teria desabado no mesmo instante só pelo simples fato do que eu estava presenciando.

– Eu avisei... Não estávamos prontos...

Aquilo era como assistir um filme de destruição, porém muito mais realístico. Campistas mortos e feridos, chalés quase destruídos, fumaça saindo de prováveis pontos incendiados... Tudo aquilo não parecia real, não tinha como ser real.

Claudio me ajudou a andar por aquele horror, enquanto eu arrastava a perna. Alguns dos filhos de Apolo estavam cuidando de ferimentos dos campistas que se dispunham em lugares aleatórios, mas não conseguia ver nenhuma das pessoas que eu queria encontrar por ali. Claudio estava me levando para a casa grande que por algum milagre parecia ter sobrevivido a aquele desastre. Assim que entramos James, Fernando, Gabriela e Thays estavam reunidos com Quíron, Percy, Rachel e Annabeth. Nenhum deles parecia ferido seriamente e Fer foi o primeiro a me abraçar com força.

– Meus deuses, nunca mais faça isso, escutou? Nunca!

Ele estava sentindo um grande alívio por eu estar viva e sem nenhum dano permanente, mas ainda assim o clima no lugar era tenso.

– O que aconteceu aqui? - perguntei.

– Christopher aconteceu. - Gabriela se adiantou. - Ninguém estava preparado pra tudo isso, então tivemos sorte.

– Mas ainda assim. - Annabeth interrompeu. - Não podemos arriscar mais. Christopher quer uma guerra, isso é mais que um fato.

Assenti, pois sabia que era verdade.

– Então acho que já pode repetir a profecia Rachel. - Quíron cortou o silêncio.

– Espera, profecia?

Ouve uma rápida troca de olhares entre os outros antes de se voltarem novamente para mim.

– É Nath... Essa profecia foi de muito antes de você chegar ao acampamento. Mas agora temos certeza de que se refere a esse momento. - Percy começou e fez um gesto para Rachel.

Os olhos da ruiva se tornaram verdes, o espírito do oráculo estava assumindo o controle agora. Ela não olhava para nenhum ponto fixo ou para alguém específico, mas suas palavras pareciam me espetar como alfinetes.

As foices gêmeas são a chave

Uma alma corrompida será a salvação

O filho do Deus da Guerra quererá retaliação

E a mãe noite os levará a destruição

Um sacrifício de um filho do submundo poderá salvar

E os seis semideuses poderão triunfar

O Olimpo salvar ou destruir

Senão o mundo irá ruir

A estranha luz nos olhos de Rachel sumiu quando a ruiva desmaiou. Quíron a levou para fora enquanto eu assimilava todas aquelas palavras. Minha primeira profecia parecia um tipo de piadinha comparada a aquilo.

***

Fer tinha me levado até o que restara do chalé 13 junto com Claudio para que fizessem um curativo em minha perna. Gabriela tinha pedido para eu encontrar Isa no bunker 9, porém foi clara quando disse para eu ir sozinha. Minha conversa com Claudio teria que esperar um pouco mais. Quando me dei por satisfeita comecei a seguir para o bunker 9 apoiada em Athos.

"Eu cumpro ordens. Apenas isso. Adeus Nathalie."

Trinquei os dentes, pressionando os dedos nas têmporas. Acreditar que Diego foi a pessoa que iria me matar sem mesmo pestanejar ou fazer objeção era insuportável, mas para Isa... Eu não conseguia imaginar como seria. A encontrei sentada em um canto afastado no bunker com a espada de Diego em mãos e o arco jogado no chão. Seus cabelos loiros estavam presos em uma trança, mas seu rosto... Ela tinha um corte no lábio e seu rosto estava vermelho, ao que tudo indicava ela estava chorando.

– Toc, toc...

Ela ergueu o olhar para mim e foi ao meu encontro me abraçando com força. Quando nos conhecemos ela fez a mesma coisa, mas só agora eu retribui. Quando ela voltou o olhar pra mim seus olhos azuis estavam tristes.

– Ei, calma... - tentei reconforta-la.

– Não consigo Nath. Não posso acreditar no que ele fez.

Suas lágrimas rolavam e sentei ao seu lado. Eu sabia que ela estaria assim, mas era muito pior ver aquilo do que imaginar acontecendo, principalmente com ela.

– Você quer me contar? Digo, o que aconteceu? - perguntei.

– Ele não era mais o mesmo. Parecia outra pessoa, não reagia bem com ninguém, estava mais agressivo. Mas quando ele soube que eu tive um caso com a Gab ele ficou descontrolado.

Eu já sabia sobre aquele caso, a própria Gabriela me contou.

– E o que ele fez?

– Nós brigamos. Brigamos feio. Claudio e Thays tiveram que pedir ajuda pra fazer ele se afastar da Gab, mas ele acabou me batendo. - ela levou os dedos ao corte. - Ele nunca me feriu propositalmente... No mesmo dia ele foi embora e no outro estava atacando o acampamento junto a Christopher.

Ela voltou a chorar. A abracei com mais força tentando tranquiliza-la, tentando achar uma forma de amenizar as coisas, mas nada parecia ser o certo a dizer. Ela voltou a segurar a espada a sua frente perdida em pensamentos. Ou talvez lembranças...

– O nome dela é Ángelos. Diego deu o nome da espada dele de "anjo"...

Anjo era a forma como ele sempre chamava Isa, desde que os conheci. Sim, aquilo seria difícil para ela superar. Permaneci mais algum tempo ali fazendo companhia a ela e me preparando para a conversa que teria com Claudio. Minha perna já estava muito melhor, então decidi pegar a trilha da praia dos fogos antes de anoitecer.

Claudio estava encarando o céu noturno e parecia não ter notado minha aproximação. Estava errada de novo.

– Você já sabe não é?

Sim eu sabia. Na verdade eu tinha começado a desconfiar, mas ele tinha acabado de confirmar minhas suspeitas.

–Sei. - falei. - A quanto tempo você sabia que era meu irmão?

– Desde sempre... Eu queria ter falado, mas não era a hora certa. - ele se voltou para mim. - Eu sempre quis conhecer minha irmã.

Sorri. Em meio a toda aquela situação pelo menos eu estava feliz de alguma forma. Ele abriu os braços e eu o abracei com força. Finalmente, depois de 17 anos eu tinha encontrado meu irmão... Pera ai, 17?! Droga!

– Foi mal, não comprei seu presente. - Claudio falou com um sorriso bobo.

– Não precisa. Você já é um ótimo presente de aniversário.

Deixamos de lado a parte melosa e fomos ao que interessava. Começamos pelas foices. A dele era um anel, por isso ele conseguiu maneja-la tão rápido. O anel tinha uma corrente ligando o dedo indicador ao mindinho. Segundo o que ele dizia as foices eram as gêmeas da profecia, mas o problema todo era "a chave".

– As foices juntas podem abrir um portal direto para o Tártaro. - ele começo. - Mas pra isso se paga um preço. Quando se junta as duas você tem que estar ciente de que elas ceifarão sua alma.

– Então prometa, nunca iremos usar isso. Estou falando sério.

Ele assentiu desviando o olhar novamente. Suspirei tirando uma mecha de cabelo do meu rosto e o prendendo atrás da orelha.

– E o Diego? - ele perguntou de repente. - O que faremos com ele?

Aquela era uma pergunta difícil que eu preferia não passar tanto tempo pensando sobre. Comecei a mexer meus dedos inquieta sem olhar para nenhum ponto fixo.

– Se for preciso... Eu mesma o matarei.