Eclipse Negro - O Retorno Do Imperador escrita por Mr BS


Capítulo 4
Primeiro Dia — Denis




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Era normal as faculdades terem dois sistemas de dormitórios, os particulares, que eram mantidos por um ou vários alunos com suas próprias regras desde que não violasse nenhuma lei ou regra da faculdade, e tinha os públicos, separados por tipos, as poucas universidades que tentaram deixar misto acabaram tendo que limpar alguns corpos antes de mudarem de ideia.

Todos os dormitórios, tirando os públicos para guardiões, deveriam fechar as portas às vinte e três horas, isto se dava devido ao fato de que a maioria das instituições tentava fazer com que nós, guardiões, arrumassem um mestre enquanto frequentávamos as aulas, fazendo assim com que qualquer um pudesse entrar e tentar a sorte.

A maioria dos quartos para pessoas de rank D que eu tinha visto eram iguais : um conjunto de oito camas separadas por um pequeno gaveteiro e no canto oposto à porta tinham três janelas de ferro. Aparentemente os quartos melhoravam quanto maior o nível, mas não evitava o risco de encontrar um desconhecido no seu quarto.

Levando em conta que, contando comigo só tinham 10 guardiões sem parceiros na faculdade, 7 abaixo do rank A e 3 acima, e muitos desses atuavam como mercenários, então conseguiam ficar longe dos dormitórios. Já estava esperando acordar e encontrar alguém me observando, porém, quando me virei de manhã, vi uma garota dormindo ao meu lado sobre as cobertas. Fiquei um pouco surpreso e, não vou mentir, a sensação até que era boa, porém não era algo esperado.

Cutuquei-a para acordar e ela se levantou bocejando.

— Então você é o guardião novato? Devo dizer que você é bem vulnerável enquanto dorme.

— Obrigado pelo aviso, mas pode fazer o favor.. — Apontei para fora da cama encarando-a para ver se ela entendia.

— Pensei que você ia gostar da surpresa — ela tirou o cabelo do rosto —, acha que devo ser mais ousada na próxima vez?

— Isso se houver outra vez!

Ela era até que bonitinha, olhando bem. Usava uma camisa azul com gola em V estampada com uma rosa branca e um short curto, os cabelos eram lisos e castanhos chegavam até o meio das costas, pele branca e os olhos castanhos claros.

— Claro que vai ter, ainda estou tentando arrumar um guardião e os novatos são sempre mais fáceis de convencer. — Ela se aproximou lentamente na direção do meu rosto. — Então não está a fim de formar um contrato comigo?

— Desculpe, mas não! — Disse afastando-a. — Nesse momento não estou muito interessado em formar contrato com ninguém, principalmente com alguém que eu nem conheço!

— Erro meu. Sou Kris, sua futura mestra. — Ela subiu em cima de mim.

Fingi dá uma risada e disse:

— Duvido muito! Sou Denis, e faça o favor de sair de cima de mim!

— Não antes de tentar algo!

— E o que seria?

— Me beija. — Não era necessário ser um gênio para descobrir o motivo por trás daquelas palavras, ela era uma bruxa e o simples pedido foi feito para avaliar minha resistência, embora normalmente tentassem algo mais simples.

— Desculpe, mas não vai rolar. — Empurrei-a enquanto me levantava.

— Interessante. — Ela parou na minha frente. — Os outros não resistiram. Qual o seu rank?

— Isso não é da sua conta, garota! — Desviei do olhar dela quando alguém tocou no meu ombro.

— Pelo visto você conheceu a Kris, novato. — Virei e encontrei um garoto de por volta de um metro e setenta e seis, olhos laranja, cabelos vermelhos e algumas sardas no rosto. — Não se importe, ela desiste depois de um tempo.

— Pelo visto você acordou, Gui. — Tinha um leve tom ofensivo naquele comentário.

— Simpática como sempre. — Dava para perceer o sarcasmo na voz dele —Você dá em cima de todo novato que aparece. Por acaso tem algum um pingo de vergonha na sua cara?

— Tenho culpa que a maneira mais fácil de conseguir um de vocês é seduzindo?

— Em parte sim, espera ele pelo menos se acostumar com o ambiente antes de dar em cima dele!

— Certo. — Ela olhou para mim e disse: — Vou tentar pegar mais leve na próxima, mas não me subestime. — Kris se aproximou sussurrando com uma certeza absoluta daquelas palavras: — Você vai ser meu. — Logo depois encarou Gui e mostrou o dedo — Tenha um bom dia, faísca apagada.

— Bom dia pra você também. — Gui devolveu o gesto enquanto ela saía pela porta — A simpatia em pessoa, não acha? — Ele foi até a porta e olhou o corredor, então disse mais baixo — “Rei dos Corvos”.

Mesmo não sendo conhecido como “Imperador” ainda era bem conhecido como rei dos corvos. Isto devido ao meu período escolar meio agitado, mantive minhas habilidades magicas escondidas, mas quanto as de guardião nem tanto, liderei o time de sobrevivência da escola ganhando por cinco anos seguidos, mas só cheguei a lutar mesmo umas sete ou oito vezes, a maioria dos adversários não conseguia passar pelos meus guardiões.

Esses simples fatos, junto com a simples coincidência de que muitos dos membros dos “corvos” que me seguiam tinham bastante influência e não quiseram assumir uma posição no topo da sociedade, mantendo a lealdade a mim. Isso gerou a minha posição de guardião real. Como guardião ser considerado Rei não era possível, pois em algum momento alguém podia aparecer e eu me tornar parceiro dele, então aquele que eu servisse, se tornaria um rei ou rainha.

— Pensei que ia demorar mais tempo para alguém que conhecesse meu passado aparecer. Fiquei bastante tempo sumido, pensei que não me reconheceriam.

— Você não iria conseguir passar despercebido por qualquer guardião maior de 16 anos. — Ele andou na minha direção, então esticou a mão para cumprimentar. — Guilherme Maximilliano Terceiro ou simplesmente Gui para você.

Apertei a mão dele e respondi:

— Ela já sabia?

— Cara, se a Kris desconfiasse ela não iria largar do seu pé até que você arrumasse um par e de preferência que seja ela! Porém, ela não vai desistir ainda, você foi um dos três guardiões a resistir a ela.

— Um dos três únicos que não se aproveitaram, é o que você quer dizer.

— Não vou nem discutir, você viu como ela era gata.

Ri daquele comentário. Não me preocupava com a aparecia daqueles que conhecia, entretanto não podia negar aquele comentário e não me parecia que ela era alguém ruim, mas não seria a primeira vez que eu me enganava.

— Só uma dúvida, ela é o que chamam de caçadora? — Caçadores eram pessoas que avaliam guardiões para outros de grande influência, geralmente os “poderosos” reis e rainhas.

— Exatamente, pra ser mais específico, ela é a caçadora da rainha da noite.

— Rainha da noite, jura? — De tanta gente, tinha que ser justo um dos poderosos.

— Não gosta dos poderosos?

— Reis sempre tentaram se meter nos assuntos do nosso clã, principalmente em relação a minha casa, não é alguém com quem eu queira ter muito contato.

Ele me encarou, então desviou o olhar.

— Que pena, ser guardião de um rei ou rainha é garantia de um futuro tranquilo, pelo menos em relação à parte financeira.

Não valia a pena começar um diálogo sobre meu gosto de me tornar parceiro de um dos poderosos.

— Melhor mudar de assunto. Como é que funciona o sistema de ranks por aqui?

— É mais simples do que parece. 10 vitórias seguidas com alguém do mesmo nível fazem você subir um, ou 50 vitórias contra oponentes de ranks mais baixos e uma derrota zera a contagem.

— Certo, não me parece muito diferente da minha antiga escola.

— Isso é quase que padrão, tirando nas escolas especificas para lutadores e aquelas altamente competitivas. — Ele deu um leve bocejo. — Derrotar alguém de rank superior te dá o mesmo nível que ele, 20 derrotas consecutivas decrescem seu rank.

— Quantas lutas obrigatórias?

— Uma por semana e o oponente é aleatório entre as pessoas do seu rank. Rankers S e SS podem escolher os adversários, desde que sejam pelo menos um rank A. — Ele sentou na cama mais próxima. — Caso queira lutar, você deve colocar o nome na lista de disponíveis, vai poder escolher o adversário entre os disponíveis ou arriscar na roleta-russa.

— Roleta-russa?

— Aleatoriedade sem controle de ranks.

— Parece problemático.

— E é, os sortudos como eu acabam por cair com alguém de rank S toda vez que falta uma luta para subir de nível ou com alguém com parceiro.

— Permitem parceiros em lutas de guardião?

— Só nas não obrigatórias. É um saco isso, eles acabam dominando a arena.

— Guardiões são permitidos nas obrigatórias?

— Claro, é da nossa natureza proteger aqueles com quem formamos um vínculo. Embora um guardião de guardião não seja algo tão comum de encontrar — ele respirou fundo então se levantou e disse — Esqueci de mencionar que se você interromper uma luta sem um bom motivo você é rebaixado imediatamente para rank E.

— Vou me lembrar, embora não tenha a intenção de fazer isso!

— Só disse por dizer, vai que você quer ficar com rank baixo.

Ele passou pela porta e disse num tom mais alegre:

— Não vá se atrasar para o seu primeiro dia de aula!

Naquele momento eu me toquei que, desde que tinha acordado, não olhei no relógio. Quando olhei eram 6h30, me arrumei correndo para não chegar atrasado à primeira aula e mesmo assim cheguei atrasado, embora não tivesse perdido muita coisa e nem me importava com isso.

Durante a parte da manhã até por volta das duas da tarde não houve nada demais, porém foi depois das aulas relacionadas ao curso que a coisa complicou, durante o período destinado ao treino de habilidades e batalhas.

Além do complexo da faculdade com as salas de aula normais, para abrigar esse sistema, foram construídas diversas arenas pelo terreno, algumas até subterrâneas e bem resistentes para evitar estragos muito graves.

Tirando a luta obrigatória, você poderia optar treinar por conta própria ou frequentar uma aula onde um professor iria te ensinar algumas técnicas de combate, mas entre nós, guardiões, era normal o orgulho impedir de deixar outra pessoa dar dicas no nosso estilo de luta.

O sistema de lutas era bem simples, as lutas obrigatórias eram primeiramente dos “mágicos” — bruxos, feiticeiros, domadores e magos — que só podiam competir com contra outro tipo quando alcançassem o rank B.

As lutas obrigatórias de guardiões teoricamente eram realizadas por último, a fim de permitir que os outros vejam as forças do guardião, praticamente uma feira livre para as pessoas exibirem seus guardiões ou ver quem pode ser o melhor para formar um vínculo, mas quando se tinha muitos guardiões elas começavam antes.

Passei entre as arenas observando discretamente, procurando reunir informações, embora tenha percebido que existia uma grande divisão entre bruxos e feiticeiros a ponto de influenciar alguns domadores.

Não estava muito a fim de adiar até sexta a minha luta obrigatória, então fui logo para arena de guardiões de ranks D e E. Era praticamente uma quadra de tênis coberta, a arquibancada tinha um leve campo de força para caso os guardiões usassem armas de longa distância ou arremessassem muito forte o oponente. No centro da arena, pendurados no teto, haviam telões que mostravam a luta em tempo real para os espectadores e no canto norte da arena ficava a parte para controle de lutas e onde a maioria dos juízes observavam a luta.

Apresentei meu nome para luta obrigatória para o responsável, ele me passou um papel com o nome do meu adversário enquanto o atendente dizia:

— Temos poucos apressados às segundas, sua luta começa daqui a uma hora.

Não tinha muito que questionar, já estava me virando quando senti alguém colocar a mão no meu ombro.

— Então resolveu lutar logo na segunda, imaginava que seria na quinta.

— Quanto mais rápido, melhor — tirei a mão dele do meu ombro e disse — e quem te deu essa liberdade, Guilherme?

— Desculpe — ele recuou um pouco e olhou para a minha folha. — Quem você pegou?

— Fernando Liserdeo, conhece?

— Um pouco. — Ele me puxou até um canto então sentou num banco próximo. — É guardião vinculado a uma feiticeira de rank A, e quase mestre no estilo de luta antigravidade.

— Não faz muita diferença numa luta entre guardiões.

O estilo antigravidade era dependente de um feiticeiro que manipulasse a própria gravidade. Embora poderoso, era um dos estilos que eu mais odiava ver um guardião aprender, deixava-os preguiçosos e dependentes dos parceiros.

— Não acho que vai ser problema para você, ele só é forte quando está próximo da protegida dele. — Tinha certo desprezo no tom de voz dele.

— Não se dá bem com aqueles que arrumaram um parceiro?

— Não gosto daqueles que se tornam dependentes dos protegidos. — Ele me encarou. — Faz com que aquele maldito apelido de “chaveirinhos” que os poderosos usam para nos descrever, seja verdade.

Os guardiões podiam até ser uma força influente quando surgiram, porém atualmente as pessoas faziam pouco caso da influência de um guardião, devido ao fato de não poder ferir a quem ele estava ligado. Depender puramente dos protegidos era algo que não devia ser comum entre nós, porém a maioria não tentava resolver isso.

— A qual casa ele foi vinculado?

— Pelo que eu sei, 73º. Ele é da primeira geração, a maioria acaba sem se filiar a vida toda.

Existiam 72 grandes casas de guardiões, teoricamente todo guardião teria que pertencer a uma, porém as primeiras gerações, como eram chamados aqueles que nasciam de famílias sem incidência anterior de guardiões, acabavam não conhecendo isso, gerando assim a casa 73.

De repente percebo um aumento nos números de pessoas que estavam na arquibancada, olhei em volta então disse num tom de dúvida:

— É sempre cheia assim, essa arena?

Ele riu, então apontou para o canto esquerdo.

— O motivo são elas.

Tinham duas garotas naquela direção, a garota da esquerda tinha um metro e sessenta e cinco, cabelos pretos longos e ondulados, os olhos eram roxos e pele branca. Enquanto a outra tinha cerca metro e sessenta e cinco, cabelos vermelhos até a altura dos ombros e olhos verdes, pele branca e uma pequena cicatriz na mão direita.

— Gabi, o Rouxinol Real e Jaqueline, a Mercenária Escarlate, as guardiãs mais poderosas da faculdade, ambas sem protegido, por isso, quando elas vêm para a arena, normalmente lota.

Olhei fixamente naquela direção e disse bem baixo:

— Ela tinha que trazer a Gabi.

— Você disse algo? — Guilherme me olhava com uma cara de dúvida.

— Nada não.

Aquelas duas eram minhas guardiãs, embora nenhuma apresentasse a minha marca. A marca de um guardião é o símbolo que surge no momento em que o guardião encontra a quem deve servi, muitas marcas ainda ajudam a mostra um pouco da personalidade do protegido. Ela simplesmente surge no nosso corpo e não pode ser apagada e poucas coisas conseguiam esconder uma marca, o que resultava delas aparecerem por cima das roupas, porém tinham maquiagem especiais e tecidos que a escondiam. Jaque ocultava a marca dela com maquiagem enquanto com Gabi eu tinha arrumado uma maneira de anular nosso contrato.

— Quanto tempo falta pra minha luta?

Ele olhou o relógio:

— Cerca de quarenta minutos, por quê?

— Me diga mais sobre esse Fernando para matar o tempo.

— Não acho que vai precisar, ele é tão ruim lutando individualmente que se você perder vai ficar muito na cara que a luta foi entregue de bandeja.

— Mesmo assim conte.

— Você quem sabe.

Não que aquelas informações iam fazer muita diferença, porém necessitava de algo para passar o tempo além de jogar tetris no celular. Entretanto, quanto mais eu ouvia sobre ele, mais certeza tinha que algo tinha de ser feito, “chaveiros” eram perigosos tanto para que eles deviam proteger tanto para o clã.

Quando chegou o momento do início da luta e os nossos nomes foram anunciados, pensei bem simplesmente “ótimo, agora acho que metade da arena já sabe quem eu sou”.

O protocolo de uma luta de guardião era simples e raramente mudava: ambos começavam se cumprimentando logo no início; qualquer arma devia ser registrada para uso, checada antes e não podia possuir corte; e munição para armas de fogo seriam fornecidas pelos juízes antes de iniciar a luta.

Fernando tinha cerca de um metro e oitenta, pele morena, cabelos escuros e cacheados e olhos azuis, carregava com ele uma gládio romana. Eram raros os guardiões que exibiam suas armas, a maioria preferia esconder num bolso dimensional, mas gosto não se discute.

O juiz olhou para cada um por alguns segundos.

— A luta acaba até um dos lados desistir, ficar inconsciente, for imobilizado ou for atingindo de maneira que simule um golpe fatal, entendido? — Nós dois concordamos com a cabeça. — Se ambos participantes estão de acordo então se cumprimentem e lutem. — Ele praticamente sumiu antes que pudéssemos dizer algo.

Antigamente os juízes ficavam muito próximos dos lutadores, porém, dependendo do tipo de luta, isso se tornava perigoso então eles passaram a monitorar através de diversas câmeras blindadas as lutas, enquanto a arena podia ser considerada um enorme ponto para teletransporte.

Fernando avançou desferindo um soco de esquerda contra meu rosto, embora o golpe parecia rápido para a maioria dos mágicos, era lento até mesmo para um guardião do tipo vidente. Simplesmente inclinei a cabeça, deixando o punho dele passar, e dei um leve chute na perna esquerda dele, que o desequilibrou, e saí da frente.

Fernando deu alguns passos cambaleando para frente então assumiu uma postura de luta similar ao boxe me encarando seriamente, logo em seguida ele voltou a avançar só que com mais cautela, até começar a desferir uma sequência de socos de esquerdas alternando com alguns chutes baixos.

Meu objetivo não era vencer, porém entregar a luta, além de atrair suspeita, feria o orgulho de guardião do oponente, então o deixei assumir o ritmo, os chutes eram os que tinham mais força, por isso acabava bloqueando mais os chutes, enquanto fazia parecer que escapava dos socos por pouco.

A sequência continuou por um minuto embora ele tentasse variar a ordem dos socos e chutes para parecer menos previsível, foi quando ele pensou que eu não ia conseguir desviar e tentou a maior besteira para alguém que usa o estilo antigravitacional poderia fazer, o rollout.

Basicamente é um giro de 360 graus começando com um gancho, acertando um chute na cara e terminando com um soco, chamavam de rollout porque era como acabava a maioria dos que tentavam esse golpe em lutas um contra um, rolando de dor no chão.

Para conseguir acertar essa técnica eram necessários dois fatores: o oponente estar completamente imóvel e um feiticeiro que controlava a gravidade para ajudar efetuar o giro, mas em alguns substituíam com uma força de impulsão capaz de dar um 360 graus no ar e não parar no primeiro acerto. O problema estava aí, o gancho normalmente acertava, mas se bloqueasse ou desviasse do chute, deixava o usuário totalmente desprotegido para um golpe guilhotina.

Desviei do chute então, tentando controlar o máximo da minha força, desferi um soco no estômago fazendo-o cair no chão, reclamando de dor.

— Você deve ser um imbecil pra tentar usar a rollout numa luta um contra um — Não sabia se dava uma surra nele pra dar uma lição ou ignorava e o deixava se afundar cada vez mais.

— Não é da sua conta saber se posso usar ou não um golpe — ele se levantou com um pouco de esforço —, vai estar estirado no chão daqui a pouco mesmo.

Às vezes eu sentia vergonha da maneira que nós, guardiões, poderíamos nos tornar orgulhosos e, consequentemente, ignorantes, porém tinha uma maneira de mostrar isso para a maioria desses casos, “destruindo-os” completamente.

— Já que não vai ouvir, então vamos fazer uma aposta.

— O que você tem para oferecer?

— Se conseguir me acertar 3 vezes, eu transformo sua protegida em Rainha — Ainda bem que as arenas para guardiões abaixo do rank B não tinham microfone, por que se alguém tivesse ouvido aquilo eu estava ferrado.

— Como você conseguiria essa proeza?

— Tenho meus meios... ou você é covarde demais para encarar esse desafio?

Ele avançou vindo na minha direção o mais rápido que ele pôde, então tentou desferir um chute na altura do estômago, segurei a perna dele com a mão direita então girei meu corpo e arremessei-o para longe.

— Vai ter que fazer melhor para me acertar — não iria lutar a sério com ele, só provocar o suficiente para fazê-lo mostrar o seu potencial. Fernando seguiu com uma sequência de cinco socos de esquerda finalizado por uma direita, bloqueei os socos e deixei a direita passar pelo meu lado esquerdo, desviando o rosto, e logo em seguida segurando apliquei um shiho nage, técnica onde conduz a mão do oponente até o ombro dele fazendo o perder o equilíbrio e cair.

Deixei-o no chão, então peguei distância para tentar irritá-lo, e o que eu ia tentar, se fosse com um guardião mais forte, poderia ser considerado suicídio. Existem duas coisas para um guardião que não se pode ofender: Primeiro (e funciona para todo mundo) é falar da mãe; a outra é falar do protegido dele, deixa qualquer um puto.

— Sua protegida deve ser muito burra para manter um chaveiro inútil como você!

— Cale a boca! — Ele avançou contra mim, tentando desferir um soco direto na minha face, bloqueio então chutei a perna esquerda dele enquanto o empurrei para trás, fazendo-o ir ao chão novamente.

— Pensando bem, ela deve ser é mesmo uma débil mental, pois qualquer outra pessoa teria arrumado um jeito de se livrar de você.

— Ora, seu... — Acho que tinha chegado no ponto ideal, pois ele sacou a gládio e avançou contra mim movendo ela num movimento de arco mais rápido do que eu tinha calcula forçando eu ter que inclinar meu corpo para trás para desviar do golpe e mesmo assim a lamina acertou de raspão meu rosto. — Um golpe já foi!

Porém naquele momento eu não estava preocupado com aquilo, no meu desvio acabei fazendo algo que não devia, entrei em contato visual com Gabi por menos que dois segundos, mas o suficiente para quebrar as modificações de memória.

É impossível apagar alguém da mente sem causar um dano cerebral irreversível, isso tornava quase impossível quebrar o vínculo de guardião, porém há um meio, modificação de memórias. Mudar cada memória relacionado ao protegido principalmente o momento em que foi feito esse laço.

Porém para manter a modificação ativa o guardião não pode ter contato olho no olho, pois acaba que o instinto de guardião acaba quebrando todo o trabalho feito. Devia ser fácil, no entanto Gabi tinha um certo magnetismo para achar o meu olhar.

Chutei Fernando pra longe, então disse, colocando as mãos para trás:

— Fim de jogo — Estava a cerca de dez metros dele, fechei meus olhos pois sabia muito bem o que aconteceria e quanto tempo levaria: Cinco segundos.

Um, Fernando se levantou pegando sua espada enquanto Gabi quebra meu feitiço e se prepara para correr. Dois, ela começa a vir a toda velocidade na minha direção e Fernando investe contra mim. Três, desvio do ataque e desequilibro-o enquanto Gabi saca uma foice e corta o escudo da arena. Quatro, Fernando recupera a postura e volta avançar contra mim enquanto Gabi se aproxima rapidamente.

E finalmente cinco, a gládio de Fernando para a cerca de dois centímetros do meu pescoço enquanto Gabi deixa a foice dela a rente a garganta dele e eu digo:

— Recolha a sua arma Gabi. — Era uma foice do tipo gadanha, o cabo dava a altura dela e a lamina tinha cerca de noventa centímetros com uma curva bem acentuada impedindo Fernando de escapar.

Três juízes se teletransportaram para arena pegar a explicação para o ocorrido, enquanto isso observei a marca do yin-yang aparecendo na bochecha direita da Gabi. Chamei o juiz mais próximo e quando estava prestes a explicar a situação, meu celular tocou.

Bem, o toque era único, e sabia a quem aquela música estava ligada muito bem e sabia que, por padrão na minha família, tirando a minha mãe, só ligávamos para outros quando o assunto era urgente, ou seja, minha pequena estava com problemas.

Puxei ele do meu bolso dimensional e fiz um sinal para o juiz aguardar um pouco.

— Bom dia, minha flor, o que ouve?

— Acho melhor passar para a senhorita Karol!

Ótimo, a K e a Mai provavelmente se revelaram, o assunto não podia ser bom.

— Certo, passa para ela!

— Denis?

— Sim.

— Aparentemente ela começou a despertar a parte da mãe.

Conversas de telefone podiam ser monitoradas, por isso quando era algo em relação à Angi usávamos algo que não dedurasse muito.

— Quer dizer que ela está começando a usar magia negra. — Olhei para o lado. — Coloca ela na linha, por favor.

— Pai?

— Você pode vir aqui hoje, depois da escola?

— Vou falar com o vovô para me levar — ela parou para respirar um pouco. — Mas pensei que não podia receber visitas.

— Não se preocupe amor, eu dou um jeito!

— Certo, até mais tarde, pai!

— Tenho que desligar, papai te ama!

Certo, às vezes eu era um pouco ridículo em relação à Angeli, mas não chegava a ser um absurdo extremo. Olhei para o juiz que me encarava com uma cara de dúvida. A fim de evitar vazamento de informações para outras universidades dentro da arena havia um bloqueador de sinal, o que eles não sabiam que eu que produzia a maioria desses bloqueadores. Guardei o celular então disse:

— Se vocês verificarem, Gabriela é minha guardiã então a interferência dela é válida e depois foi registrado duas foices como armas, tornando o uso da foice dela possível nesta luta — Gabi guardou a foice no bolso dimensional dela enquanto Fernando prendia novamente a gládio.

Os três juízes se olharam por alguns segundos então um deles se teletransportou para conferir os dados, ao mesmo tempo Gabi se aproximou de mim e disse, fazendo uma referência:

— Gabriela Rivian Osuio aos seus serviços, meu rei!

Esse era o motivo de ter modificado a mente dela, por mais que ela fosse a segunda mais forte das minhas guardiãs ela era também a mais orgulhosa e impulsiva, junto com o fato de ser uma das poucas pessoas com quem eu ainda me importava com a segurança.

— Não começa, Gabi — Odiava quando ela fazia isso ia dizer algo quando ouvi.

O juiz que tinha saído voltou a arena conversou por alguns segundos com os outros então veio na minha direção ao mesmo tempo que outro se dirigia até Fernando que estava a uns dois metros de distância.

— Verificamos os vídeos e as informações que você passou, então foi decidido que você ganhou a luta pois a lâmina da sua guardiã alcançou seu adversário antes da dele — a minha foto no telão voltou a aparecer, só que com a palavra vencedor. — Por favor, agora libere a arena para dá continuidade com as outras lutas.

— Certo — Olhei para Gabi então caminhei na direção de Fernando, pegando um cartão e entregando. — Vá a esse endereço no seu dia livre, eles vão te ajudar e explicar algumas coisas que você já devia saber, entregue esse cartão para o líder de lá.

No cartão continha o endereço de uma das filias da decima sétima casa que era a mais especializada para o estilo antigravitacional, tinha também minha marca só para dá uma leve referência para ele.

— Não necessito de ajuda.

— Um guardião morto não ajuda ninguém, lutar sem auxílio do protegido é a forma mais básica — Ele abaixou o olhar quando eu disse isso —, se você não consegue se proteger não espere proteger outra pessoa.

Virei de costas e me dirigi para a saída enquanto Gabi me acompanhava, assim que saí olhei para ela e disse:

— Se for me bater, bata logo.

Guardiões normalmente não podem machucar seus protegidos, mas Gabi era uma exceção.

— Não tenho motivo para isso, você fez o que devia, mesmo que isso fosse apagar minhas memórias.

De repente uma voz num tom mais baixo e direcionada a nós, a interrompeu.

— Aqui não é lugar para isso, Gabi! Leve-o para um local escondido agora ! — Era Jaqueline escondida à sombra da coluna e ocultando a presença dela. — “Aquela” pessoa está aqui e não queremos uma tragédia. — Gabi segurou o meu pulso então Jaque completou a frase. — E De, não se preocupe com a An, já adiantei os papeis para permitir a entrada dela hoje à noite.

— A Mai te avisou?

— Não, sua irmã, agora vai antes que ela chegue. — Ela saiu detrás da coluna e entregou uma chave para Gabi — Vou ficar de olho nela, enquanto isso é melhor você dois ficarem escondidos.

Gabi pegou o meu pulso, então disse:

— Tome cuidado, Raven! — Ela começou a caminhar em direção a saída oeste enquanto Jaqueline voltava a se esconder na sombra da coluna.

Quando tínhamos acabado de sair da arena, ela se virou pra mim e disse, dessa vez mais calma:

— Acho que você vai ter que me contar o que aconteceu desde a data da minha recente amnésia.

— Pelo visto vai usar isso contra mim futuramente.

— Isso mesmo. — Tirou as lentes de contato dela, mostrando um belo par de olhos cinzento. — Agora me siga, pois, vou te levar para um local mais calmo.

— Senti falta desses olhos.

— Então é melhor se acostumar porque eles não vão se afastar de você tão cedo!

Ela continuou a caminhar tranquilamente enquanto a seguia pensando em como resumir o que tinha acontecido nos últimos anos e no que ia dizer para minha filha.


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