Let The Game Begin escrita por MoonlightRush


Capítulo 2
Promessas em movimento (o mentor)




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Carlos se distraia olhando o borrado do caminho percorrido pela janela do trem que ficava em sua cabine. Ele não tinha conversado com Kendall ainda, já havia se passado uma hora. Não tinha coragem de sair daquele quarto para falar com os dois irmãos, sabendo como as coisas iriam ser difíceis a partir daquele momento. Afinal, como ele pretendia ser mentor deles, se nem mesmo conseguia achar coragem para encará-los? Kendall e Katie estavam se maravilhando com as mordomias que enchiam o trem, Carlos se lembrava dessa sensação. Tão facilmente distraído pelas cores e diversidades das iguarias da Capitol. Ele sentia falta disso, de se distrair e ver tudo tão positivo. O garoto tinha voltado ao seu normal, ou ‘quase normal’ dependendo do ponto de vista, mas ao entrar naquele trem, suas atitudes mudaram. O ex-tributo estava repensando seus motivos para voltar aos Jogos Vorazes como mentor, mesmo não estando na arena, as lembranças que o assombravam, voltariam milhares de vezes mais fortes. E o fato de que seu melhor amigo passaria pelas mesmas coisas que ele passou era revoltante, ele queria ajudar de qualquer jeito, qualquer maneira para voltarem para casa seguros. Mas havia Katie, Kendall jamais descartaria a irmã mais nova, Carlos sabia que ele daria a vida para que ela ganhasse, e o jovem mentor não fazia ideia de como convencê-lo a jogar para ganhar sabendo que Katie pagaria com a sua vida. Carlos não estava tão confiante com as chances de vitória de Kendall, ele não era capaz de abater um gado se quer, muito mais uma pessoa, a honestidade e o bom coração de Kendall o matariam, sendo ao tentar proteger a irmã, ou dar uma segunda chance a um carreirista que por pouco não o matou... Carlos torcia para que esses poucos dias de treino ele conseguisse transformar o coração de Kendall em algo mais traiçoeiro e frio, um coração digno aos Jogos. E o partia o coração pensar em fazer tal coisa. Talvez a inteligência não fosse o bastante para a sobrevivência dele, mas assim como não estava certo da capacidade violenta de Kendall, as pessoas nunca botaram fé na capacidade de Carlos, e bem, lá estava ele voltando como mentor. As chances não estavam perdidas.

Kelly veio chamar Carlos para o jantar - o qual dificilmente ele se atrasa - logo se sentou ao lado dele em sua cama, cortando suas reflexões com o seu tão familiar “Está tudo bem querido?”. Carlos apreciava a preocupação dela, Kelly fora uma grande amiga para ele durante seu ano de tributo, aguentando os gritos de Gustavo e todos os milhares tons de voz que usava para falar “Cães” referenciando ele e Jess, o tributo feminino, irmã de Jo. Kelly era uma escolta um pouco menos extravagante do que as pessoas da Capitol, a única, em sua opinião. Eles se tornaram grandes amigos e ela dava conselhos muito melhores que os do Gustavo. Os dois criaram uma amizade e mantinham contato pelo telefone de sua casa nova.

“Sim” Carlos respondeu soltando um suspiro “Apenas revisando estratégias sabe...”

Ela deu uma leve risada e respondeu:

“Claro!” A obviedade em sua resposta soava a sarcasmo “Não quero te atrapalhar, mas...Você não deveria revisar estratégias com seus tributos?”

O garoto a olhou e tentou arranjar uma boa resposta para algo tão simples. Kelly riu da familiaridade da falta de palavras dele e disse:

“Você vai encará-lo de um jeito ou de outro, esse trem não é tão grande assim” Suas palavras correspondem aos pensamentos de Carlos e ele lança um meio sorriso afirmando:

“Eu sei”

Kelly lança seu suspiro compreensivo e diz:

“Agora venha! O jantar esta esfriando”

Kelly se levantou, acariciou seu cabelo e saiu, deixando Carlos agora, pensando em como era tão mais fácil quando ela ditava como agir e o que fazer em situações assim.

Não demorou muito para Carlos se levanta e ir até a sala de jantar, porém na mesma hora que levantava da cama, Kendall ia ao seu encontro, os colocando frente a frente, sem saber por onde começar suas explicações, desculpas e todos os assuntos inalcançáveis antes da Colheita.

Os dois se sentaram e nada foi dito durante uns segundos, até que Kendall quebrou o silencio:

“Por que você quis ser nosso mentor?”

A pergunta o deixou ainda mais mudo, pois Carlos apesar de todos os pensamentos claros tinha as palavras enroladas, sem explicação lógica para quem ouve.

“Apenas achei que você e o Gustavo num mesmo espaço, causariam a explosão do trem, você não desejaria isso não é?”

“Tem certeza?”

Kendall e Carlos riram.

Ambos não sabiam como chegar no assunto “matar ou morrer”. Kendall ainda tinha um pouco de receio de perguntar sobre os Jogos para o Carlos devido ao seu atual estado e Carlos ainda não sabia como falar para ele que não havia muitas chances de Katie sobreviver a pelo menos o banho de sangue. Mas Kendall tinha um assunto certo para falar com seu então mentor, sabendo que nem sempre seria possível vê-lo como melhor amigo, dificultando as coisas. Então o garoto loiro disse:

“Prometa-me algo”

Carlos o pergunta sobre o que se trata com o olhar.

“A sua atenção e dedicação de treinos ficarão com a Katie, eu vou protegê-la até onde der e garantir que ela volte para casa”

As palavras de Kendall, roubaram as palavras de Carlos, pois o que ia falar seria o oposto, naquele instante o pingo de coragem que ainda o restava se foi. Carlos não tinha nada contra Katie, eles se davam bem, mas não pensaria duas vezes em quem voltaria para casa se tivesse tal poder. Katie era jovem demais, sem nenhuma noção de armas, ou força, ou sangue frio o suficiente, as vezes mais corajosa e determinada que o irmão, ele admite, mas não havia chances de ganhar.

“Ela é só uma criança” Essas palavras foram tudo o que Carlos podia usar para insinuar sua opinião sobre isso.

“Capitol não se importa muito com isso não é?”

O garoto não sabia o que fazer, você deveria deixar sua irmã morrer não soaria bem.

“Prometa!” Kendall insistiu.

“Eu prometo” a mentira soava tão lisa em sua boca, tão familiar.

Kendall sorriu e disse que a Katie não precisava ficar sabendo. Ele levantou e os dois se direcionaram á sala de jantar.

A verdade era que Carlos estava ciente de como os Jogos podiam destruir um vitorioso, e ele não queria que a pessoa que acompanhasse o amigo, fosse um desconhecido. Carlos precisava apoiar seu melhor amigo, pois independente do seu estado emocional, ele faria tudo para ajudar Kendall, retribuir tudo que o loiro já fez para ele. Kendall, de todas as pessoas que o latino conhecia, era o único que não o olhava com pena, ressentimento, ou qualquer outro sentimento que o fazia sentir pior consigo mesmo a cada dia passado. Quando Carlos voltou vitorioso para o Distrito, os dois amigos não se falaram por um bom tempo. Talvez por conta de Jess, irmã da namorada do loiro. Carlos não passava uma noite sem lembrar dela. Ele, na verdade, não passava uma noite sem lembrar-se de tudo. Mas independente do seu estado nos meses anteriores, ele seria forte pelo melhor amigo.


 


 

Chegando a mesa, os dois irmãos deslumbraram-se com a sala de jantar do trem. O jantar chegava e os tributos do Distrito 10 se fartaram com comida. Como Carlos sentia falta daquela comida, em sua casa, ele evitava iguarias da Capitol para o bem de sua mente, mas se arrependeu profundamente daquela atitude ao provar-las outra vez. Apesar dessa ‘saudade’, Carlos não estava com muita fome – o que é estranho – e se retirou alegando-se cansado. Seu comportamento foi percebido pelo seu melhor amigo e Katie, que se entreolharam, mas não comentaram.

Kendall e Katie foram levados em outro compartimento para assistir o recapitulamento das Colheitas por Panem. Carlos entra um pouco depois e se acomoda no sofá ao lado de Kendall. Eles começam a observar os seus adversários, e Carlos se indigna um pouco com os comentários e sabia que Kendall compartilhava o mesmo pensamento. Alguns tributos se voluntariaram, mas pelo o que aparentava, era apenas honra para os distritos carreiristas. Como Carlos queria que alguém se voluntariasse por algum dos Knight... Faria as coisas menos complicadas. Traiçoeiro sangue Knight. Pensava ele

Um garoto alto forte e loiro do Distrito 1 com o ego tão visível que sorria de orgulho enquanto subia ao pódio, um menino de aparentes doze anos ruivo e baixinho do distrito 5, uma garota de cabelos negros e com aparência destemida do Distrito 7. Faziam Kendall se lembrar de algumas pessoas de seu Distrito e imaginá-los no lugar daqueles desconhecidos. Ao chegar a vez da Colheita do Distrito 10, foi quando a sala cessou os comentários. O nome de Kendall sendo chamado, alguns olhares desapontados são focados e comentados, inclusive o de Carlos que revive a angustia naquele sofá, o rosto de Jo é focado enquanto diz “Eu te amo”. Os comentaristas da Capitol anunciam o grande momento da Colheita: Quando o nome de Katie, a irmã do tributo é chamado. Ouve-se o grito de desespero da Sra. Knight ecoando perante o silencio que ficara o Distrito. Kendall se rebelava e foi segurado pelos Pacificadores, Katie cai aos prantos nos braços de Kendall e ele a consola com suas lagrimas também. Nesse momento, no trem, Carlos pousa sua mão no ombro esquerdo de Kendall e Katie apóia sua cabeça no direito. A multidão se recusou a bater palmas na Colheita. Apenas ficaram observando o momento, se perguntando - junto aos próximos dos tributos – Onde foram parar as tais chances?

Depois das Colheitas o programa acaba com o Hino da Capitol. Todos se separam e vão para lugares diferentes, de preferência, seus quartos.

Katie para Carlos no corredor logo depois que Kendall entrou no seu quarto.

“Hey mentor!” ela sorriu.

O garoto se aproximou se perguntando se ela iria querer falar sobre estratégias, comentar sobre as Colheitas ou qualquer coisa do tipo. Tudo o que ele menos queria fazer era falar sobre os Jogos naquele momento, só iria tomar um banho e mergulhar em sua cama, dormir, sonhar e poupar-se para o pesadelo ao amanhecer.

“Você já falou com o meu irmão?” ela disse.

“Sim” Carlos disse.

“E por acaso ele não teria te abordado com um papo de ‘Vamos nos concentrar em proteger a pequena Katie’ não é”?

Carlos riu. Ele até teria prometido não a contar sobre isso, mas Katie não era tonta e conhecia seu irmão, aquela ação era mais que previsível.

“Não deixe ele desistir, ele pode ser a manteiga mais derretida desse mundo, mas ele tem mais chances que eu”

A sinceridade e falta de confiança de Katie era estranha para Carlos, isso provavelmente seria algo que ela o mataria se comentasse.

“Ninguém disse isso” Carlos tenta algum tipo de consolação.

“Ninguém negou isso” Katie disse, sabendo que Carlos concordava com ela, mas não tinha coragem de confessar. “Não quero que minha mãe fique sozinha, Carlos. E você sabe que essa historia de ‘proteção’ só vai afundar os dois”

“Eu sei disso” Ele disse resolvendo desistir de negar sua opinião.

“Aproveita essa raridade, eu estou te implorando! Não deixe que ele desista!”. A voz dela escondia o choro que apertava sua garganta. Ela abriu a porta de seu quarto, naquele mesmo corredor, pronta para encerrar o assunto.

“E o que eu preciso fazer?” Carlos perguntou.

“Você é o mentor, eu que deveria te perguntar isso” Ela disse sorrindo.

Antes de fechar a porta ela disse:

“Prometa que fará dele sua prioridade!”

“Vocês dois são minha prioridade”

“Já pode deixar essa conversa de que eu tenho tantas chances quanto ele, ao contrario do que vocês pensam, eu não nasci ontem”. Ela suspirou “Eu não estou dizendo que sou burra o bastante pra desistir e me jogar na Cornucópia, eu vou tentar”. Ela riu “Só prometa que não importa o que aconteça ou o que tenha que fazer o mande de volta para casa”

Agora de um modo mais sincero e sereno, ele responde:

“Eu prometo”. Disse Carlos, mesmo já tendo prometido isso pra si mesmo desde a Colheita.


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