Em Teus Braços escrita por DFenix


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

- Betado por: Akemihime_
— Fic de amigo oculto para: XxSAYURIxX
— Boa leitura!



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O instinto primitivo que corria por suas veias fervia até que sua sanidade aos poucos se esvaziava. No início, lutara pelo seu controle impecável. Mesmo que seu sangue ainda escorresse pelas feridas, uma vez que por causa de sua fome, até ele lhe parecia saboroso.

- AAA... – Seus pulmões rasgavam não por dor. Era por sangue.

                E a única resposta que ele teve fora aquela risada. Aquela risada singela e inocente, mas que no fundo, corria a voz de um demônio que tivera seu coração arrancado sem hesitação em seu nascer.

- Por quê? – Ele perguntou. – Por quê? – Era só o que conseguia dizer.

                Estava faminto. Estava louco. E tão pouco via bem a imagem que estava a sua frente. Mas com ela não precisa ver. Sabia como estava. Sua memória guardava cada traço de seu corpo feminino perfeitamente desenhado em mármore branco com cabelos longos e negros ao topo da cabeça, olhos azuis de safiras tão preciosas como se fossem diamantes e com simples lábios finos avermelhados em um sorriso simétrico.

- Por quê? – A risada ecoou aos seus ouvidos novamente.

                De inicio pensara seriamente que aquilo tudo começara como uma punição por seu amor proibido. Mas o tempo passou. E a morena apenas se divertia como se possuísse a pura alegria de uma menina de cinco anos.

                Estava confuso.

- Sangue. – Balbuciou finalmente em um tom que pudesse entender suas próprias palavras. 

                Aquela risada ressoou.

                Suspirou cansado demais para lutar e questionar o que a rainha dos olhos mais azuis que conhecia em toda sua maldita eternidade pensava.

- Fale comigo.                 

                E quase como um choque que destruía seu transe, alguém batia na porta branca. A mulher calmamente, pulando serenamente como pudesse voar, foi em direção à porta abrindo-a e a trancando logo em seguida.

                Alguns segundos se passaram e ela voltava. Feliz e cada vez mais saltitante e o loiro sabia bem o motivo. Aquele urso que tanto queria estava finalmente em suas mãos.

                De novo.

                Um urso amarelo quase bege com um lacinho preto estava intacto em suas mãos. Assim como tantos outros ursos do mesmo jeito estavam a cada semana anterior. De alguma maneira, todas as coisas que ficavam em suas mãos, sempre... Sempre eram destinadas a morte.

                Em pensamento, perguntava se também era uma “coisa”.

                Pensar daquele jeito sempre o trazia arrepios.

- Por quê? – Falou com tanta firmeza agora em sua voz que até ele mesmo se surpreendera. Não era um homem, ou um monstro, de palavras duras.

                Não com ela.

                E dessa vez...

                A morena não riu. Nem ao menos sequer sorriu.

                O que era bem estranho.

- Você está ai? – Tentou falar, mas duvidava muito se ela tinha entendido alguma de suas palavras.

                Não fora respondido. Mexendo seu corpo com dificuldade, o loiro tentou mais uma vez ficar de pé para que de alguma forma isso afetasse seus olhos não tão azuis quanto os dela.

                Tack.

                Caía mais uma vez. E outra. E outra.

                Não só as correntes dificultavam os seus movimentos, mas aquele maldito chão úmido e escorregadio lhe fazia cair. Ou apenas era uma desculpa que usava para consolar seu orgulho por estar tão frágil diante da mulher que mais amou um dia.

                Pelo pouco que conseguia enxergar, percebia o quanto era diferente e ao mesmo tempo igual aquele lugar. Aquele lugar que na primeira vez, tivera tanto medo de entrar. Por mais que o desconhecido lhe deixasse curioso, ele de certa forma, tinha medo.

                Medo do que poderia vir de uma pessoa como Amshel. Aquele homem nobre que guarda segredos tão profundos por debaixo dos panos apenas para favorecer o fracasso nas almas dos tolos. E infelizmente, o fracasso da dor que continha e contém a pobre da morena. Da Diva.

                E era ela que o mantinha ali. Trancafiado e frágil como um pequeno objeto de porcelana. Mais um de seus brinquedos que passeavam por suas pequenas mãos, até que um dia, sem querer ou querendo... Ela levasse ao chão e visse lentamente em seus olhos, o objeto quebrar em mil pedaços e não faria nada além de brotar um sorriso em seus lábios.

- Por quê...? – Ele ainda insistia naquela pergunta. Aquela pergunta que em sua mente povoava a cada segundo. Martelando. Cutucando. O destruindo. – Por quê?

                Como sempre, Diva não respondia. Solomon tremia. O frio não o incomodava, por mais que aquele lugar mataria um humano congelando-o aos poucos a cada centímetro do seu corpo até chegar a seu coração e parar de vez a corrida que o sangue sempre fazia em suas veias. O que perturbava era saber que alguém tão espontâneo quanto ela, estava apenas olhando seu corpo machucado.

                Fechou os olhos e pôs-se a lembrar de como ela estava vestida quando ainda podia a enxergar por causa dos pequenos flashes de luzes que vinha dos buracos das paredes. Diva tinha mudado o vestido, mas nunca o singelo branco que admirava.

                Os detalhes de azul tinham sumido para dar lugar a uma faixa vermelha abaixo de seus seios.  Ela dizia que amava aquela faixa. Era especial. Quando lhe perguntou o motivo, apenas sorriu com os lábios entreabertos e disse convicta: Ela foi feita do sangue de minha amada irmã Saya.

Aquilo lhe trouxera arrepios. Mas...

                SANGUE?

                                SANGUE?!

                                                SANGUE?!

- Você está sendo tão mal, Solomon querido. – Ela riu finalmente como uma melodia bela caótica aos seus ouvidos, quando o viu reagir feito animal no instante que fizera o sangue dela escorrer.

- Eu... Malvado? – Cuspiu o próprio sangue. - Não acha isso irônico?   - Solomon ia para frente fazendo as algemas criarem novos cortes em seu pulso.

                Instintivamente os lábios da morena formam um bico como os de uma criança triste e seu punho decepa o pobre pescoço do pequeno urso. Mais um morto.

- Olha o que você fez. – Concluiu magoada caminhando ainda elegantemente perto dele. – Você está sendo um garoto muito malvado. – Ela sorriu inocente com o rosto próximo ao seu. – E garotos malvados merecem serem punidos.

                Assim, por mais uma noite, a garganta de Solomon era rasgada por infinitos gritos. Porque assim como ela, seu corpo rasgava-se de acordo com o desejo de sua rainha Diva.

Literalmente.

                Os dias se passaram e até mesmo Diva estava impaciente. Caminhando de um lado para outro, sempre vinha lhe visitar quando não aguentava mais a presença de Amshel. Lentamente assim como uma leoa, ela se aproximava do loiro com um instinto de assassina. Não. Um instinto de fome.  E era só nele que a mesma se acalmava.

                Chegava sem palavras, apenas sorrisos. Desprendia seu lindo vestido e lentamente guardava a faixa que dizia ser o sangue de sua irmã.

                Lentamente aproximava-se dele quase completamente nua se não fosse pela meia calça negra e os longos fios do cabelo que teimavam em cair na frente dos seus seios. Puxando-o com suas mãos, ela devorava seus lábios. Seu pescoço, seu sangue e seu corpo. Não se importava com as correntes e algemas que machucavam ele.

                Afinal, nesses momentos, nem o próprio Solomon se importava com aquela dor. Ele não importava ao menos com fato de estar sendo violado. Afinal, necessariamente não estava. Não rejeitara ao menos uma vez o corpo dela. Não de sua rainha. Só queria poder tocar sua pele, fazê-la gemer mesmo que as algemas impossibilitassem seus movimentos.

                Por que era ali que a rainha era sua. E de mais ninguém. Não de Nathan. Não de Karl. Não de Amshel. Sua. Apenas sua. E no inicio das torturas, não entendera bem.

                Sabia que era para amá-la, mas acabara amando a Saya. Não importava quantas vezes à outra rainha de cabelos curtos o rejeitasse, ele não tirava o sorriso do rosto. E talvez por esse sorriso, ali preso, o loiro conseguia entender porque tantas vezes o sorriso de Diva não morria.

                Sua vida de rainha por toda a eternidade fora como seus anos de sono. Solitários. Às vezes, ele parava para pensar no por que de as pessoas considerarem Diva como um monstro. Ela jamais foi o monstro da história.

                Amshel. Sempre foi o moreno desde o início. E infelizmente, Diva foi apenas uma pessoa – Sim, uma pessoa – com um destino cruel. Fora escolhida para viver desde os primeiros dias de nascença trancafiada dentro de uma masmorra e ser servida de objeto de teste. 16 anos de sua vida sem ao menos enxergar a luz por detrás das grades da janela.

                Não era de se esperar menos de Diva o massacre que havia provocado depois de libertada. Não era monstro. Era alguém forçado a ser um monstro movido ao ódio. Ódio de “seu pai”, ou melhor, ódio “do pai” de sua amada Saya.

                Passara muito tempo confuso tentando entender como duas irmãs gêmeas tiveram vidas completamente diferentes por 16 anos na mesma casa sem ao menos se conhecerem. E mais quando como amou as duas e declarou seu amor a Saya, a rainha dos olhos de sangue, na frente de todos. Na frente de Diva.

                Vira dor em seus olhos naquele dia. E realmente, pela primeira vez, sentira-se um monstro. Um monstro não criado pela vida, mas um monstro de verdade. Aquele que nascia de sua própria natureza.

                Saya o rejeitara todos os dias. Seus olhos só eram de Hagi. E quando voltou onde morava, com todos os cavaleiros e com a própria Diva, foi o início em que seu corpo começaria a ser rasgado. Por ela. Diva.

                Estava invicto que amava Saya e que sua ligação com a rainha dos olhos de safira era só uma ligação de mestre e criador. Estava errado.

                Tack.

- AAAA... – Rugiu em dor. Estava tão perdido em seus pensamentos que não percebera a presença de sua rainha. Ela descontrolada tinha lhe provocado um terrível, outro terrível, ferimento no corpo seminu.

                Há muito tempo desistira de pedir que parecesse com a tortura. Não fazia ideia de como falaria sem forças. Nas vezes em que tinha o corpo supostamente violado, ela lhe dava de seu próprio sangue. Mas agora estava vazio.

                Um soco. Um chute. Outro ferimento profundo por sua terrível força. Estava descontrolada.

                Diva não parou.

                Continuou a fazer isso por um bom tempo. Não dava para contar quanto tempo durou até que ela caísse de joelhos a sua frente e Solomon começar a ouvir alguém chorar. Pensara que inconscientemente seu corpo tivesse tomado o controle e cedido à dor, mas não era dele que o choro vinha.

- V-você está chorando? – Sabia que estava sem a morena respondesse. – Di... – Ela agora o abraçava.

                Mas sabia muito bem que era ela quem queria ser abraçada. Era o que queria fazer se pudesse sair dali. Tentou alcançar uma das mãos em sua cabeça, mas do jeito que estava, ela mal pôde sentir seu toque.

                Então, ele tentou aproximar o corpo mais do que conseguia. De alguma forma, ela entendeu o que estava tentando fazer e pode sentir seu peito nu ficar molhado por suas lagrimas.

- O que aconteceu? – Perguntou fraco. Vazio. Sem quase nenhuma força em seu corpo.

- Por que você me abandonou, Solomon? Por que todos me abandonam? Por que todos sempre vão para a Saya?

                Ele queria dizer que era mentira. Queria poder dizer que ficaria tudo bem, mas não queria mais mentir para Diva. Tentando sorrir, olhando firme em seus olhos da maneira em que podia, ele quase tocou seus lábios aos dela.

- Eu ainda estou me redimindo, lembra? – Ele realmente queria encosta-se mais um pouco a ela. – Não irei mais embora.

                Os olhos da rainha estavam cansados e por um instante fracassaram em esconder o quanto aquela frase a fez bem. Por mais que Amshel a tinha dito para não confiar mais em Solomon depois do mesmo ter jurado seu amor por Saya, mas brigara até mesmo com Amshel. E agora estava sem chão.

                Ela sempre se perguntava em quem poderia confiar. O loiro por mais que a tivesse traído amando sua irmã, tinha que concordar que sempre fora sincero. Mesmo que a sinceridade a machucasse, mas sentia que era o único dali que não lhe guardava segredos.

                Estaria segura em seus braços?

                Sem parar muito para pensar, levantou-se até as algemas em seus pulsos e lentamente as tirou. Depois, as que prendiam seus pés. Solomon ficara surpreso pelo que ela fizera. Perdera noção do tempo que ali ficara e que em momento algum ela fizera isso.

- Se eu te deixar sair por aquela porta, você irá de encontro com a Saya? – Perguntou e vira a mistura de uma mulher e uma menina em uma só pessoa.

                Levantando-se com dificuldade, tentando enxergá-la melhor, o loiro sorriu. Ele finalmente podia responder aquela pergunta que o mesmo fizera a si há muito tempo atrás. Esforçando-se para trazer a mão direita em sua cintura e assim seu corpo ao dele, seu sorriso se alargou quando conseguiu fazer o feitio.

                Com a mão esquerda, encostou os dedos nos lábios de uma Diva paralisada.  Seu sorriso se alargara cada vez mais. Acariciou seu rosto e viu-a se arrepiar. Ela nunca tinha sido tratada com tanta ternura. Nervosa, refez sua pergunta. Era certo da parte dele, a responder.

                Tocando mais uma vez seus lábios com um único dedo para que a mesma se calasse. Ele se aproximou sua boca da dela que ainda o olhava fixamente e desejando que o mesmo fosse mais rápido. Até que por fim, Solomon a beijara.

                Pela primeira vez ele a beijara e a morena o correspondia. Nunca em sua vida beijara um de seus cavaleiros. Era normal que ela por uma noite ou mais, tomasse seus corpos um por um. Mas nunca beijara-os nos lábios.

                Seu coração acelerava.

                Tack.

                Um barulho soou como um choque que tirava do transe. Mas dessa vez para Diva e dessa vez para pior. Foi em segundos, que seus olhos acompanharam tudo. Foi em segundos que viu o corpo de Solomon cair frio no chão com os olhos verdes arregalados em choque e com um rasgo profundo em suas costas.

                Ele possuía vários cortes que foram até mesmo feitos por ela dias atrás, mas aquele era diferente. Sabia. Naquele corte, ela sentia o cheiro inebriante do sangue de sua irmã. Sabia que por Solomon ter nascido do seu sangue, o sangue de Saya era um veneno para ele.

- P-por que? – Perguntou ela para a pessoa a sua frente sem entender nada. E assim, correu em direção aquele ser com o instinto e a certeza de que iria matá-lo.

                Em resposta, a pessoa apenas sorriu. Um sorriso tão macabro que qualquer pessoa que não fosse a Diva, teria se apavorado. Concluíra perfeitamente que tivera muita sorte em ter conseguido uma amostra do sangue da inútil da Saya.


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Notas finais do capítulo

- Ando tão sumida na escrita fora faculdade que realmente me sinto enferrujada para escrever. Demorei muito e ainda estou postando depois do prazo. Complicado essa vida D:
— Espero que tenham gostado! *-*



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