Entre Horóscopos E Green Day escrita por ohhoney


Capítulo 1
Entre Horóscopos e Green Day


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa! Dando continuidade à série, aqui vai o terceiro capítulo com o meu tsundere favorito ♥



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         Ele era o maior arremessador de longa distância que o Japão viu em 100 anos. Além disso, sua defesa não tinha aberturas e ele nunca errou uma cesta em todo o campeonato. Jogava basquete por Shutoku.

         Midorima Shintarou vivia com os dedos enrolados em bandagens e era viciado em horóscopo. Tinha cabelos e olhos verdes, cílios longos e usava óculos. Seu humor, em geral, era péssimo. Naquele sábado, Shintarou tinha saído de casa logo cedo, pois não aguentava mais ouvir sua irmãzinha mais nova chorar. Tomou café da manhã numa padaria e resolveu olhar o horóscopo do dia para o signo de Câncer. Eis o que dizia a mensagem que recebeu: Ótimo dia para você, canceriano! Novas pessoas poderão surgir ao longo do dia, e por causa da alta umidade do ar alguma coisa especial pode acontecer. Só tome cuidado para não afastar quem te quer por perto. Seu item da sorte de hoje são fones de ouvidos laranja!

         Midorima suspirou, revisando mentalmente todos os lugares que conhecia que poderiam vender fones de ouvidos laranja. Seria difícil encontrar um, mas teria que achar nem que isso custasse sua vida.

         Pagou o que tinha que pagar e saiu da padaria. Passou de loja em loja procurando algum fone laranja, mas só encontrava brancos ou pretos. Até verdes achou, mas nenhum sinal daqueles que precisava. Shintarou já estava ficando desanimado.

         Cortando caminho por um parque do distrito de Tokyo, Midorima sentia seus cabelos balançarem por causa do vento que batia. Apesar disso, era um dia de sol e estava calor. Ele vestia calças jeans escuras e uma camiseta branca com alguns rabiscos em preto. Do outro lado do parque, avistou uma lojinha de eletrônicos e resolveu tentar a sorte mais uma vez. Seu horóscopo era o primeiro do dia, então sua sorte estava no máximo. Atravessou a rua e entrou.

         O estabelecimento era bem pequeno e cheirava estranho. O esverdeado resolveu ser rápido, então foi direto para a seção de fones de ouvido. Olhou cuidadosamente uma prateleira, mas ali só havia brancos. Agachou um pouco, passando os olhos pela prateleira de baixo. No canto esquerdo, avistou o que procurava.

         -Achei – riu consigo mesmo enquanto pegava a embalagem.

         Midorima notou que outra mão também segurava os fones. Ele levantou o olhar, meio surpreso.

         -Desculpe, eu realmente preciso desses fones.

         A garota que estava na frente dele talvez tivesse quase a altura do garoto. Ela tinha a pele morena e cabelos cacheados escuros presos em um coque frouxo no topo da cabeça, e um lenço colorido segurando alguns fios no lugar. Ela vestia shorts rosa vibrante e uma camisa azul fosforescente. Um tênis de cano alto preto e prata completava o look. Os olhos dela eram de um castanho bem claro.

         -Eu também preciso destes fones. Desculpe, eu vi primeiro – Shintarou ajeitou os óculos.

         -Mas eu peguei primeiro – a garota estava meio séria.

         Midorima ergueu-se e constatou que sim, a garota tinha a mesma altura que ele. Eles se encaravam nervosamente.

         -Eu preciso desses fones, meu horóscopo... – o lançador começou, mas a garota o interrompeu rindo.

         -Câncer, é?

         -Sim.

         -Eu também. – ela riu de novo, mas ficou séria – Não vou desistir desses fones, eu rondei o maldito distrito atrás deles. Agora que eu achei, não vou dá-los a você.

         -Bom, eu também não vou desistir deles.

         Os dois ficaram se encarando por alguns longos segundos. A garota estava admirada com os cílios daquele garoto que ameaçava roubar seu item da sorte. Midorima, apesar de achar a garota um pouco extravagante, notou que ela era muito bonita.

         -Olha, deixe-me ficar com esses fones que eu compro outros pra você – Shintarou tentou negociar.

         -Tsc, tsc – a garota desviou o olhar – Caaaaara, acho que você não entendeu. Eu procurei em todo canto e só achei nesse muquifo. Eu definitivamente vou ficar com eles. Vá procurar outros.

         -Nem pensar, desista.

         -Desista você.

         O esverdeado suspirou, ajeitando os óculos. Estava muito abafado dentro daquela loja e os óculos escorregavam por causa do suor. Ele teve uma ideia e contou a menina. Ela pareceu relutante no começo, mas vendo que era a única saída, aceitou. Assim, o lançador e a garota dividiram o preço dos fones e saíram da loja.

         -Bom, eu queria comer alguma coisa agora – a garota coçou a nuca.

         -Então vá.

         -E você vem comigo.

         -Por quê? – Shintarou com certeza estava de mau humor.

         -Porque meu item da sorte está com você, então não posso deixá-lo ir – a garota abriu um sorriso enorme e ameaçador. Midorima estremeceu – Sacou, cara?

         -T-Tudo bem então. Isso quer dizer que vamos passar o dia inteiro grudados por causa desses malditos fones?

         -Aham. – a garota olhava ao redor – Vamos ali – ela apontou para uma lojinha simpática – O donnuts é maravilhoso.

         Com Midorima segurando um lado e a garota segurando o outro dos fones, partiram para a lojinha. A garota estava alegre aquele dia, e não se importaria de passar o dia com o esverdeado se ela pudesse fazer tudo o que tinha que fazer.

         -Bom, já que vamos passar o dia inteiro juntos... – a garota olhou para o garoto – Prazer, Endo Miki. – e ergueu uma mão para o garoto, sorrindo.

         -Midorima Shintarou nanodayo – o garoto apertou a mão dela enquanto arrumava os óculos com a outra mão.

         -Nanodayo?! – Miki caiu na gargalhada – Que jeito estranho de falar!

         -E você tem um sotaque estrangeiro. – Midorima estava perdendo a paciência.

         -Claro, não sou daqui se você não percebeu – Miki abriu a porta da loja e entrou, ainda segurando sua metade do fone.

         -E de onde você é? – Shintarou passou os olhos pelo cardápio gigante em cima do balcão.

         -Meus pais são americanos, mas eu nasci aqui no Japão. Então eu meio que fiquei com um pouco de sotaque mesmo. Vou querer esse donnuts de chocolate com cobertura de chocolate e... Hm, granulados. Uma água também – a garota pegou a carteira e pagou o pedido. Puxou o esverdeado para o lado enquanto esperava sua comida.

         -Entendi. Você não parece muito japonesa, se quer saber. – Shintarou olhou novamente as roupas de Miki, estranhando todas aquelas cores chamativas. A garota riu vendo que o garoto a observava. O garoto ficou surpreso com as pernas intermináveis da morena.

         -Honestamente, não curto saias – a garota pegou a bandeja e arrastou Midorima até uma mesa do lado de fora. Os dois sentaram, cada um ainda segurando seu fone – E as meninas daqui são muito sóbrias, sabe? Gosto de cores. Ficam bem com a minha pele.

         -Tem razão nanodayo. – o garoto admitiu.

         Miki quase cuspiu seu donnuts ao ouvir de novo Shintarou dizendo nanodayo. A garota achava aquilo muito engraçado. Começou a engasgar e chorar enquanto tentava rir, mas o ar não chegava aos seus pulmões.

         -Oe, você está bem?! Engula esse troço primeiro nanodayo! – Midorima levantou e começou a dar alguns tapas nas costas da garota, mas ela só conseguia rir cada vez mais e lágrimas escorriam pelos seus olhos – Miki, engula isso de uma vez!

         A garota se esforçou e mandou a comida garganta abaixo. Respirou fundo para recuperar o fôlego, e começou a rir. Midorima não achava a menor graça.

         -Desculpe, desculpe – a garota limpou as lágrimas de baixo dos olhos, e suspirou algumas vezes para parar de rir – É que é muito engraçado.

         -Não acho.

         -Desculpe, de verdade. Tome aqui um pedaço – Miki arrancou um teco do seu donnuts e ofereceu a Midorima – Está muito bom.

         -Não, obrigado. Já comi.

         -Ah, qual é cara, prova aí.

         Mesmo relutante, ele resolveu pegar o doce e o enfiou na boca. Era muito doce, mas muito gostoso.

         -Hm, escute. Tenho umas coisas para fazer hoje, e pelo visto você vai ter que vir junto, pode ser? – Miki olhou fundo nos olhos de Shintarou.

         -Faz parte do trato, né? Então tá bom. Onde teremos que ir?

         -Primeiro, vamos passar numa escolinha aqui perto porque eu tenho que pegar meu sobrinho. Depois, eu tenho que ir para o campeonato de judô.

         -Você faz judô? Que interessante.

         Os dois levantaram da mesa e começaram a caminhar pela rua calmamente. Midorima contou que fazia basquete e que era muito bom, e Miki disse que era uma das maiores lutadoras de judô de todo o Japão, e que estava disputando a última semifinal de todo o campeonato. Midorima reparou que a garota levava uma grande bolsa verde fosforescente pendurada no ombro.

         Ainda conversando, os dois garotos chegaram na frente da escolinha de primário. Algumas criancinhas corriam pelo pequeno pátio. Miki procurou seu sobrinho no meio das crianças, e então berrou:

         -Ei, Danny! Danny! – Miki acenou para um garotinho que era muito parecido com ela. Ele a viu e correu em sua direção. A garota abaixou e pegou o garotinho no colo – E aí, Danny! Como você tá grande!

         Midorima percebeu que a garota conversava em inglês com o garotinho, e com seu pouco conhecimento conseguiu entender uma frase só. O garotinho olhava fixamente para ele e sussurrou para a tia:

         -Quem é ele, Miki? É seu namorado?

         -N-Não! – Midorima corou violentamente, ajeitando os óculos com os dedos trêmulos. Virou para Miki – Ele entende japonês?

         -Um pouco. Eu falo para ele.

         -Eu a conheci hoje.

         A garota traduziu o que o garoto disse. O garotinho riu um pouco.

         -Vocês são só amigos então? – Danny falou em japonês, escondendo o rosto no ombro da tia.

         -Não é isso também...

         -É, ele é só meu amigo – a garota esclareceu – Vamos indo então, Danny? Sua aula de japonês deve começar daqui a pouco.

         -Ok!

         Então o garotinho segurou na mão de Miki e na de Midorima, sorrindo enquanto pululava pela rua. O esverdeado ficou constrangido com a situação, mas estava acostumado por causa de sua irmãzinha.

         Quando atravessavam a rua, Danny acabou caindo e ralando o joelho. Começou a chorar em alto e bom som, e Miki não sabia o que fazer. Midorima, cansado de ouvir choros de crianças, pegou o garotinho no colo e sussurrou algumas coisas para ele. Danny foi parando de chorar e começou a rir. Shintarou fez cócegas em sua barriga e o garotinho caiu na gargalhada. Miki achou a cena extremamente fofa e achou o sorriso de Midorima um dos mais legais que ela já viu. Seu coração palpitou um pouco.

         -Que foi? – o garoto perguntou ao perceber que a garota o observava.

         -V-Você leva jeito com crianças – ela observou.

         -Eu tenho uma irmãzinha da idade dele, então eu sei como fazê-los parar de chorar. – ele esclareceu.

         Midorima colocou Danny no chão e todos continuaram caminhando até uma casinha amarela pequenininha, onde uma plaquinha informava que era uma escola de japonês.

         -Chegamos, Danny. Dê tchau para o Midorima.

         -Tchau, tio! Tchau tia! – o garotinho sorriu e acenou para o garoto.

         -Tchau Danny, boa aula. – Shintarou acenou de volta.

         -Tchau bebê. – Miki abaixou e deu um beijo na cabeça do garotinho – Sua mãe vem te buscar no final da aula. Estude direitinho, tá? Tchauzinho.

         Danny entrou na escolinha, acenou de novo, e fechou a porta.

         -Ele é muito fofo, não é? – Miki riu – É claro que é, é meu parente.

         -Nem se acha.

         -Ai, Midorima, você tem que aprender a rir mais!

         -E-Ei! Quem disse que você pode me chamar pelo primeiro nome assim? Isso é muito desconcertante nanodayo.

         -Foi mal, é que eu não sou muito de usar san ou kun. Então posso te chamar de Midorin? Claro que posso. Vamos, Midorin, tenho que ir agora e você vem junto.

         Midorima já estava com a paciência no limite, mas resolveu manter a calma. Miki com certeza era uma menina extravagante e agitada, totalmente o oposto dele. Além disso, seus modos o irritavam. Mesmo assim, até que ela era legal e o papo fluía bem. Já Miki achava que Midorima era super legal, só deveria sorrir mais e descontrair em vez de ficar sempre tão sério. A garota o achava muito interessante e alguém legal de se passar o tempo.

         Cada um pegou em uma ponta dos fones de ouvido e saíram caminhando até o ponto de ônibus. Miki explicou que o ginásio ficava do outro lado do distrito e que teriam que pegar o transporte se quisessem chegar a tempo. Esperaram uns cinco minutos e conseguiram entrar no ônibus. Felizmente estava vazio, então os dois adolescentes sentaram no último banco.

         -Além disso, sou uma das participantes mais novas do torneio, então acho que tenho um pouco de desvantagem contra essa garota com quem vou lutar.

         -Mais nova? Quantos anos você tem?

         -17. A maioria das garotas tem quase 20.

         Então Miki era o tipo de garota que Midorima gostava: mais velha, mas não tão velha assim; inteligente; divertida, apesar de Miki ser um pouco demais; que aceitasse o vício dele em horóscopos, afinal ela também era viciada; e estilosa, apesar de usar cores em excesso na opinião do garoto. Miki era muito bonita, o garoto admitia. Ele gostava de ouvir a risada dela.

         -Parece ser difícil então nanodayo – Shintarou enrolou sua metade do fone nos dedos.

         Miki riu de leve, desviando o olhar.

         -Desculpe, ainda acho muito engraçado. É difícil sim, mas eu consigo, se quer saber. – a garota sorriu e mostrou-lhe o polegar erguido.

         Os dedos de Shintarou tremeram ao arrumar seus óculos.

         Desceram do ônibus na frente de um ginásio. Várias pessoas entravam pelas grandes portas, e Miki estremeceu. Estava muito nervosa.

         -Relaxe, pelo menos você conseguiu seu item da sorte hoje nanodayo.

         -É, pelo menos isso – a garota sorriu nervosa e engoliu em seco.

         Os dois entraram e se despediram. Midorima deixou com que a garota levasse os fones, e escolheu algum lugar para sentar. O tatame não estava tão longe dele, e várias pessoas conversavam ao seu redor. Ele se perguntou o porquê de estar acompanhando Miki, mas aí lembrou do trato. Abriu uma discussão consigo mesmo se aquilo realmente tinha valido a pena.

         No vestiário, Miki já tinha vestido seu kimono e estava prendendo sua faixa na cintura. Guardou os fones de ouvido na parte de dentro da roupa, calçou seus chinelos, prendeu o cabelo firmemente e partiu para o tatame. Estava realmente cheio, e a garota estava nervosa. Espiando por trás de uma porta, avistou Midorima, que acenou para ela. Borboletas nasceram em seu estômago.

         -Vamos dar início a última semifinal do campeonato nacional de judô feminino – um voz anunciou – As participantes podem subir ao tatame.

         Miki respirou fundo e caminhou ao som de aplausos até o meio do ginásio. Ao seu lado, uma garota loira, mais alta que ela e com um ar feroz chegou perto. Miki estremeceu.

         As duas garotas trocaram cumprimentos e posicionaram-se. Midorima ficou inquieto, remexendo-se no lugar. O juiz deu início a luta, então as duas garotas começaram a se mexer. Midorima não entendia nada das regras do judô, mas conseguia perceber que Miki estava sendo pressionada. As garotas agarraram a frente dos kimonos e ficaram se puxando até que a morena conseguiu passar uma perna por trás da loira e a jogar no chão.

         Continuava sem entender nada, mas Shintarou sabia que estava empatado. A luta estava emocionante até, deixava o garoto ansioso e com vontade de jogar basquete. A loira conseguiu jogar Miki no chão e imobilizá-la. Faltava pouco tempo para a luta terminar e a morena estava perdendo. O público gritava o nome das lutadoras, incentivando-as.

         -Vai, Miki! – o esverdeado gritou. Ao ouvir a voz de Midorima, novas borboletas nasceram no estômago de Miki, fazendo suas mãos se fecharem firmemente no kimono da loira. Pegando no braço dela, jogou-a no chão com força.

         A plateia gritou de emoção. Pelo visto, Miki tinha ganhado. Midorima sorriu de leve ao ver a garota toda descabelada e suada comemorando. A morena viu o singelo sorriso do garoto e sorriu para ele também.

         -Endo Miki-san passa para a final, que acontecerá dia 23 desse mês aqui mesmo no distrito de Tokyo!

         Miki, depois de se arrumar, encontrou Midorima sentado num banco do lado de fora do ginásio.

         -Boa luta nanodayo.

         -Obrigada. Caaaara, estou morrendo de fome. Já é hora do almoço, não é? Vamos comer.

         -Conheço um restaurante muito bom aqui perto, vamos passar lá.

         -Fechou.

         Os dois comeram até ficarem cheios no restaurante que Shintarou escolheu. Miki percebeu que o garoto estava com os dedos enfaixados, mas não teve a oportunidade de perguntar o porquê daquilo. Os dois deixaram o restaurante e foram caminhar um pouco para fazer digestão.

         -Basicamente, eu estava de saco cheio de ouvir o choro da minha irmã então saí de casa cedinho.

         -Entendi. – Miki avistou uma praça com algumas árvores logo adiante – Ahh, Midorin, vamos deitar ali na grama, estou com sono. Sempre gosto de tirar uma soneca depois do almoço, sabe como é.

         -Pode ser.

         Então os dois foram até a pracinha e deitaram na grama em baixo de uma árvore. A brisa leve sacudia roupas e cabelos, Miki estava quase caindo no sono.

         -Se importa se eu escutar um pouco de música com os fones? – Midorima perguntou.

         -Não... Fique a vontade. Posso ouvir junto?

         Shintarou entregou um fone para a garota e plugou a ponta em seu celular verde. Rondou a lista atrás da música que ficara grudada em sua cabeça o dia inteiro, então a colocou para tocar.

         -Nossa, que música boa – Miki exclamou, tapando os olhos com o braço – Isso é o que? Green Day?

         -Aham.

         -Adoro essa música.

         -Eu me identifico muito com a banda, sei lá.

         Miki riu da coincidência, afinal Midorima era um cara que realmente gostava de verde. Os dois ficaram em silêncio curtindo a música.

         -Eh, Midorin, porque você usa essas bandagens nos seus dedos?

         -É negócio do basquete, você não entenderia.

         -Tá bom, seu grosso.

         Desse jeito, Shintarou ficou olhando o céu limpo e Miki aproveitou e tirou um cochilo. O fone do garoto escorregou de sua orelha, então ele virou-se para colocá-lo de volta. Ergueu os olhos e viu o quão pacífica e calma Miki parecia enquanto dormia. Um sorriso idiota começou a se formar no canto dos lábios do garoto, mas ele logo se repreendeu.

         Midorima caiu no sono também e só acordou quase uma hora depois. O sol estava começando a baixar no céu. Miki estava sentada ao lado dele abraçando as pernas, olhando algumas crianças brincarem nos balanços mais adiante.

         -Ah, nossa, desculpe. Parece que eu dormi demais nanodayo.

         -Tudo bem – Miki sorriu para ele. Shintarou sentiu seu coração perder o ritmo – Escute, chegaram algumas mensagens no seu celular.

         Midorima sentou-se, arrumou os óculos e pegou seu celular. Havia duas mensagens novas, ambas de sua mãe, a última de cinco minutos atrás. Elas diziam para que Shintarou voltasse para casa.

         -Tenho que ir, Miki. Meus pais vão sair e eu tenho que cuidar da minha irmã.

         -Tá bom.

         Os dois se levantaram, espanaram as roupas e estavam atravessando a praça quando Miki congela no lugar, arrancando o fone das mãos de Midorima.

         -Hm? – o garoto virou para olhar a garota – O que foi?

         Miki não podia acreditar. Ela estava paralisada no lugar. Tokyo era tão grande e mesmo assim...

         -... Miki?

         -Não, não, não...

         -Que foi? – Midorima começou a estranhar.

         -Rápido, me esconda, Midorin.

         A garota agarrou a blusa do esverdeado e tentou esconder-se atrás dele, mas já era tarde de mais.

         -Que é isso, hein?

         -Merda, já era... Já era...

         Midorima olhou ao redor para tentar entender o que estava acontecendo. Entrando na praça estava um cara com um casaco de couro (mesmo estando calor), calças e blusa pretas. O cabelo dele formava um moicano.

         -Miki! – ele gritou, apontando para a garota atrás de Shintarou.

         -Quem é ele? – o esverdeado sussurrou ainda parado no lugar.

         -Meu ex. Ele está bravo comigo por ter terminado com ele.

         -Ah, é? – alguma coisa dentro de Midorima começou a se revirar.

         -Ele me batia, é claro que eu terminei com ele.

         Aquelas palavras fizeram o sangue do garoto borbulhar. Como um cara ousava erguer a mão contra uma garota? Uma garota como Miki!

         -Deixe isso comigo – foi a última coisa que Midorima disse antes do garoto chegar perto.

         -O que? Midorin, você não...

         -Miki! O que você está fazendo?! – o cara de preto estava a poucos centímetros dos dois – Larga esse cara!

         A garota saiu de trás de Midorima com uma cara séria.

         -Que foi, hein? Me deixa em paz.

         -Miki, por favor...

         -Com licença – Shintarou pigarreou, ajeitando os óculos. Ele sentia uma raiva absurda.

         -E quem é você? – o garoto provocou.

         -Eu sou Midorima Shintarou nanodayo.

         O garoto de preto começou a rir. Isso só fez com que a paciência de Shintarou chegasse ao limite.

         -Ai, ai... – o cara parou de rir – Olha, você fala muito engraçado, sabe? Porque então não deixa a minha mina comigo e vai fazer qualquer outra coisa?

         -Não, amigo, porque você não deixa a minha “mina” comigo e vai embora antes que eu acabe com você?

         Miki quase engasgou ao ouvir Shintarou falando aquelas palavras.

         -Vá embora nanodayo.

         -Sua mina? – o olhar do cara passou de Midorima para Miki – Mina dele?! Miki, você me trocou por um idiota desses?! – o cara estava ficando possesso.

         Miki começou a gaguejar, então Midorima deu um puxão no fio que estava preso em suas mãos, fazendo a garota entender o recado.

         -S-Sim, qual o problema? – Miki hesitara demais.

         O cara os observou por algum tempo com os olhos semicerrados.

         -Eu duvido. – ele riu – Você nunca me trocaria por um trapo desses.

         -Olhe, por que você não cai fora de uma vez...

         -Miki, qual é, olha pra esse nerd...

         -QUÊ?! – a coisa que Midorima mais odiava era ser chamado de nerd.

         -O Midorin agora é o meu n-namorado. Deixe-nos em paz.

         -Ah, por favor! Que mentira mais descarada! – o cara bateu o pé no chão com força – Só acredito vendo.

         -B-Bom, a gente estava deitado ali na grama agora a pouco e...

         Mas Midorima já tinha virado, pegado o rosto da garota entre as mãos e colado os lábios nos dela sem ao menos pensar duas vezes. Até o próprio garoto ficou surpreso com a reação que tivera. Miki corou violentamente e perdeu o ar. As bochechas de Midorima pegaram fogo enquanto ele fechava os olhos e mantinha-se parado, sentindo os dedos da garota subirem por suas costas e fecharem-se em seu cabelo.

         O cara de preto ficou parado olhando os dois se beijarem por mais ou menos um minuto. Depois que eles se separaram, virou as costas e foi embora. Ele achava que Miki já não valia mais a pena.

         -M-Midorin!

         -Ah, ah, nossa. Desculpe. – Shintarou arrumou os óculos, que escorregavam pela ponta do nariz por causa do suor.

         Na verdade, Midorima não sentia o menor remorso. Nenhum mesmo. Até mesmo Miki, apesar de muito surpresa, tinha gostado. Ela sentia de novo as borboletas na barriga.

         -Hm... – Midorima não sabia como continuar – E-Eu realmente tenho que ir para casa...

         -T-Tá.

         Miki abaixou e pegou os fones do chão. Evitando fazer contato visual, começou a caminhar com as mãos nos bolsos. Midorima percebeu que suas mãos tremiam levemente e um calor estranho subiu pelas costas. Balançou a cabeça e correu para acompanhar Miki.

         A garota se sentia muito estranha. Ela estava muito nervosa. A roupa dela sacudia por causa do vento e agora o sol já estava baixo no horizonte. Os dois adolescentes caminharam lado a lado em um silêncio constrangedor. Pelo menos a casa de Midorima não ficava longe de onde estavam.

         Miki sentia seus lábios formigarem, o cheiro do shampoo de erva doce de Midorima estava pregado em seu nariz. O peito dela estava pesado e os pensamentos, confusos.

         -Hm? – Midorima estranhou quando Miki parou de novo na rua – Que foi? É aquele cara de novo? – o garoto começou a procurar ao redor.

         Midorima sentiu suas costas batendo contra alguma coisa dura e braços se fechando em seu pescoço. Miki enterrou sua boca na de Shintarou. Ela não estava controlando os próprios movimentos. Por um momento, o esverdeado ficou muito surpreso, mas depois deixou-se levar pela garota. Segurou firmemente a cintura de Miki contra si, fechando os olhos.

         Midorima Shintarou e Endo Miki ficaram se beijando em plena rua por aproximadamente dez minutos sem parar. Infelizmente, Midorima disse que ele estava atrasado de verdade, então os dois saíram correndo para a casa do garoto. Shintarou pediu para que Miki esperasse na esquina, então correu para casa. Miki viu de longe que os pais do garoto esperavam na frente da casa, e saíram de carro logo depois que o garoto entrou. Dois minutos depois, Midorima acenou para que a garota viesse. Ela tentou dizer que iria embora, mas o garoto a empurrou para dentro de qualquer jeito.

         A irmãzinha de Midorima era uma das coisas mais fofas que Miki já tinha visto. Ela era a cópia perfeita do irmão. Os três ficaram brincando até tarde da noite, quando a pequenina dormiu na poltrona. Aproveitando a situação, Shintarou e Miki voltaram a se beijar no sofá. Ficaram juntos até tarde da noite, quando a morena acabou dormindo em cima do esverdeado, os dois deitados no sofá.

         Os pais de Shintarou ficaram surpresos ao verem o filho, uma garota em cima dele e sua filha mais nova no topo da pilha. Ao verem que o filho tinha as duas mãos pregadas nas costas da garota, simplesmente tiraram a mais nova de cima da garota e foram todos dormir. Eles nunca tinham visto o filho com uma garota e não seria agora que iriam interromper.

         Midorima acordou meio assustado com a situação, e Miki ficou sem graça como nunca tinha ficado antes. Mesmo assim, os dois sabiam que gostavam um do outro. Foi aí que passaram a se ver todos os dias depois da aula. Mesmo que Miki o irritasse de vez em quando, Midorima estava louco por ela; e mesmo que Shintarou não sorrisse tanto, Miki estava feliz em poder arrancar alguns sorrisos do rosto do garoto.

         


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Notas finais do capítulo

Comentem, digam o que acharam! ♥

Obs: esse é o terceiro capítulo da série. As histórias não são interligadas, mas sinta-se a vontade para ler os outros. O próximo capítulo sairá em breve!