– É... sim. - disse sorrindo e tentando não mostrar que havia engasgado ao ver aquele rapaz ali.

Observei-o me olhar da cabeça aos pés.

– Você é a garota do baile de máscara. Certo? - me perguntei como ele havia me reconhecido. - Seus cabelos negros e seus olhos. - disse apontando para o meu rosto como se lesse minha mente.

– Sou sim. Meu nome é Donna.

– Jeremy. - disse com seu sorriso torto no rosto. Era atraente o jeito que ele sorria.

Passei a mão em minha franja que caía no rosto e acabei observando sua roupa. Ele vestia uma calça preta de um tecido que não sabia qual e uma blusa de frio como as que os garotos da minha época usam. Ele não parecia um rapaz daquela época, mas talvez só gostasse de ser diferente. Reparei nos seus cabelos. Bagunçados como no dia anterior e eu gostava disso.

– Eu gosto dos traços de Bruice. É uma pena ele ter ido tão cedo.

Olhei curiosa.

– O que você sabe sobre Bruice?

Jeremy pensou um pouco. Parou em frente a mim e começou a falar.

– Ele era um homem solitário. Vive, ou pior, vivia em um castelo afastado daqui. Um castelo imenso que julgavam ser assombrado. Sabe como é, né? Esse povo adora falar. - ri da voz que Jeremy fez.

– Jeremy, que tal você me levar lá um dia? - logo me arrependi de ter feito tal pedido. Eu mal conhecia aquele rapaz e pra falar a verdade estava mais interessada em sua companhia do que descobrir o mistério por trás do que havia acontecido comigo.

– Não tem medo? - ele me encarava.

– Deveria ter? - devolvi a pergunta encarando-o.

Jeremy ficou me observando. Me perguntei o que passava por sua cabeça, mas não conseguia decifrar sua expressão.

– Ok, me diga onde você mora. Passo lá mais tarde.

*

Naquela mesma manhã, voltei para a casa me perguntando qual era meu problema. Eu não conhecia aquele rapaz e ia para um lugar desconhecido com ele.

– Não posso fazer isso. - disse me olhando no espelho. - Talvez seja perigoso.

Deitei na cama e fechei os olhos tentando pensar melhor no que faria, mas acabei caindo no sono.

*

Acordei com batidas na porta.

– Kath! - ela sempre me acordava.

Levantei da cama com dificuldade e caminhei até a porta.

– Você sumiu o dia todo! Vim trazer café pra você. - Kath disse entrando correndo no quarto. Parecia animada com algo.

– Que animação é essa?

– Que olhos inchados são esses? - Kath zombou de mim, o que nos fez cair na risada.

– Dave me pediu em namoro. - seus olhos brilhavam.

– Não acredito! Estou feliz por vocês.

– Eu também. - Kath sorria como uma criança.

– Kath, observando o século que estamos, não deveríamos já estar casadas? - de repente a dúvida me veio na cabeça e acabei lembrando que minha avó havia se casado com 17 anos, e ela nem mesmo era daquele século.

– Não sei se você se lembra, mas não seguimos regras. - disse piscando pra mim.

Kath estava certa. Aquilo seria coisa do sistema, e nós não nos encaixávamos em nada que era julgado padrão.

– O que vai fazer hoje a noite? - mudou de assunto.

Pensei um pouco. Ir ou não ir no castelo com Jeremy?

– Kath... tenho que te contar algo.

Kath parou de tomar o café e me olhou.

– Lembra do rapaz da noite do baile? - ela assentiu com a cabeça, o que me fez continuar. - O encontrei hoje...

– Incrível! Qual o nome dele?

– Jeremy. - disse sorrindo ao lembrar daquele cara atraente. - Estou prestes a fazer uma loucura também.

– Loucura? Sua cara fazer isso, mas vai lá... me conte.

Contei a Kath toda a história, começando sobre o dia que fui naquele museu e vi todas aquelas obras até o momento que pedi para Jeremy me levar no castelo.

Quando acabei de falar, Kath levantou da cama e andou para a sacada. Só assim reparei que a noite já estava caindo lá fora.

Pelo silêncio que Kath fez percebi que ia levar um bronca pelo que estava prestes a fazer. Era assim. Kath sempre cuidava de mim e não deixava que eu fizesse besteiras.

– Então você pretende mesmo fazer isso? - ela esta séria.

Fiquei sem reação e não consegui respondê-la.

Ela inclinou o corpo na sacada para olhar lá embaixo.

– Então acho melhor você se arrumar logo, antes que seu mascarado chegue. - vi um sorriso no seu rosto.

É claro que Kath iria apoiar uma de minhas loucuras.