– Acorde Donna! Já são três horas e você precisa se arrumar para o baile. - alguém me sacudia. Tentei abrir os olhos, mas estava cansada demais. - Vamos, Donna! Levante! - a pessoa insistia em tentar me acordar.

Não sei o que me deixou mais espantada, alguém tentando me acordar ou eu demorando tanto a pensar que ninguém tinha a chave do meu quarto para entrar nele.

Abri os olhos com dificuldade. Já não sentia mais dor na cabeça e conseguia ver tudo perfeitamente. Perfeitamente a ponto de ver que estava em um lugar completamente diferente do meu quarto. Minhas paredes cheias de desenhos haviam sido trocadas por paredes vermelhas com detalhes dourados e o cheiro de tinta pelo cheiro de rosas.

Estava deitada em uma cama grande e macia e com dificuldade consegui me sentar. Aquele quarto era bem grande e alto. Havia moveis antigos por todos os lados, um guarda-roupa de madeira que me fez lembrar de Nárnia, uma penteadeira cheia de perfumes com aparência antiga, daqueles que se apertava uma bolinha para sair perfume.

– Até que enfim. - ouvi o suspiro da garota que estava sentada na beirada da cama. Ela tinha os cabelos pretos e enrolados. Sorria olhando pra mim e só assim a reconheci.

– Katherine? - Kath era minha melhor amiga, mas estava viajando, então não sabia como ela estava ali.

– Sim! - disse jogando uma almofada na minha cara. - Estava esperando outra pessoa? - ela ria.

– Não... mas você não estava viajando? E o que faz com essa roupa? - Kath usava um vestido comprido, aberto na saia e um corpete. Parecia aquelas mulheres de séculos atrás.

– Não gostou? - vi sua expressão de decepção.

– É bonito. - ri. - Mas não acha antigo demais?

Kath me olhava confusa.

– Antigo? - ouvi-a perguntar, enquanto olhava para baixo.

– Kath... - levantei da cama e fui andando até uma porta grande de ferro.

Abri-a e me vi em uma sacada. Lá embaixo, avistei dezenas de árvores coloridas e mais ao longe, avistei uma cidade e torre de igrejas.

– Onde estou? - perguntei finalmente.

– Como assim "onde estou"? Já sei... bebeu muito ontem a noite e não se lembra de nada? - Kath parecia brava, mas vi um sorriso quase se formar.

– Não Kath, não bebi. Só fui ao museu e quando voltei, estava com uma forte dor de cabeça. Acordei nesse quarto e não faço ideia de como vim parar aqui! - minha vontade era de matar Kath. Tudo só podia ser uma brincadeira dela, mas pela sua cara, ela parecia estar tão confusa como eu.

– Donna, eu não faço ideia do que está falando. Quer me explicar melhor?

– Em que ano estamos? - aproximei de Kath e sentei ao seu lado na cama.

– 1850, claro.

– Não! - gritei. - Estamos em 2013!

– 2013? Você está realmente louca.

– Me diga, qual sua banda preferida?

Kath ficou calada.

– Ramones! Como não lembra?

– O que seria "Ramones"? - ela fixou seu olhar em mim. Estava assustando-a.

– Kath, me escuta. - segurei sua mão e fiz com que ficasse calada. - Tenho 18 anos, você 19. Moramos na Itália, eu curso medicina e você jornalismo. Sou pintora e você ama viajar. Amamos Pink Floyd, Oasis, Ramones, Guns n' Roses, Green Day, Nirvana... olhe minha blusa. - estiquei minha antiga e preferida camiseta do Oasis.

– Não estou entendendo nada, Donna. - sua voz estava calma agora.

– É como se eu tivesse dormindo em uma época e acordasse em outra.

– Você está usando droga? - tive uma imensa vontade de rir, mas fechei a cara para Kath.

– Você não está entendendo, eu sei que parece loucura...

– Sim, é loucura.

– Mas eu preciso que acredite em mim, Kath. Nada está normal. Eu mal sei onde estou. - eu estava triste.

– Tudo bem, Donna. Acredito em você. - disse se inclinando para me abraçar.

Agora eu estava convencida de realmente estava ficando louca.