As semanas passaram mais rápido do que tudo. Estar com Jeremy fazia parecer que o tempo voava e ao mesmo tempo que estávamos em outubro, já víamos o mês de setembro acabar. 

Aquela era mais um noite chuvosa de novembro. Estávamos no meu quarto, onde havíamos passado a noite toda tocando e pintando, como no dia do meu casamento. Pensando no que eu podia falar da minha vida de casada acabei entendo que meu casamento não era como os olhos, não se identificava com a chatice e monotonia descrita por todos os casados. A verdade era que no tempo que permanecemos casados, tentávamos fazer as coisas do modo mais diferente e incrível possível. Visitávamos a cabana dos pais de Jeremy, o castelo e fazíamos umas loucuras de vez em quando. 

"Espero que vamos ter muito tempo ainda.". Perdi a conta de quantas vezes ouvi essa frase vinda de Jer e cada vez que ele dizia, mais triste eu ficava. Sim, eu sabia o que era certo fazer, mas nem sempre a escolha certa é o caminho menos doloroso. 

- Lembra de quando nos conhecemos? - Jeremy estava deitado na cama. Tinha que chegar perto do meu rosto para que eu pudesse ouvi-lo. 

- É claro. - suspirei. - Os raios me lembram você. Nunca vi algo mais incrível. 

Jeremy sorriu. 

- Você acha que vai se lembrar de mim? 

- Sim. Pra sempre. 

Fechou seus olhos. 

- Acho que me apaixonei por você naquele momento, sabe? Eu fiquei com a "garota mascarada" na minha durante toda a noite. - riu. - Talvez você ache besteira, mas aquilo nunca tinha acontecido. 

- Não acho besteira, eu também senti o mesmo...

No momento que disse isso, um raio cortou o céu, seguido por um trovão. 

- Vai ficar tudo bem... - ele disse. - Sei que vai. 

E assim caímos no sono. 

*

Logo os dias passaram. Estávamos na antiga cabana onde Jeremy morava. Kath e Dave nos faziam companhia naquela noite de Natal. 

- Tenho algo pra você. - Jeremy disse aproximando. Vi que carregava uma pequena caixinha preta de veludo. 

- Não precisava se preocupar, Jer. 

- Por favor... - disse abrindo a caixa e me deixando ver o belo anel de esmeraldas com diamantes. 

Levei a mão na boca. 

- É perfeito! Deve ter custado muito caro, não posso aceitar. 

- Fica quieta, Donna. - disse fazendo todos rirem, inclusive eu. Estendeu sua mão para que eu entregasse a minha e assim eu fiz. Observava aquele anel na minha mão e sentia que ele era o cara certo. 

- Obrigada. - beijei-o. 

- Gente! - ouvi Dave gritar da cozinha. - A comida está pronta. Andem. 

Sentamos na mesa e começamos a comer. Parecia um Natal normal, mas eu sabia que o fim estava próximo. Bem, não era bem um fim, mas uma hora iria acabar e isso me corroía por dentro. Eu não iria saber como lidar com tudo e me perguntava se quando eu voltasse iria lembrar de tudo ou pareceria que foi apenas um sonho. Mas, se Kath aparecia no novo século, por que Jeremy também não poderia aparecer no meu? Eu já não entendia nada e tentava evitar pensar em qualquer coisa que me deixasse mais louca ainda. 

- No que está pensando? - Kath me cutucou ao ver que estava olhando pela janela da cabana. 

- Nada... só estou tentando olhar todos vocês para que não me esqueça nunca de tudo o que aconteceu. 

- Acho bom você se lembrar de mim mesmo... mas já parou pra pensar que você pode ficar? Talvez tenha um jeito de mudar isso, ou talvez você nunca volte... quem sabe você nunca esteve no século XXI.

- Nunca? É loucura! - ri. 

- Loucura é você mudar de século e voltar no passado. - é, ela tinha razão. 

Parei de conversar e fiquei olhando meu prato cheio de comidas de Natal. Estava tudo delicioso e Dave realmente cozinha bem, mas eu havia sido consumida pelo medo do que vinha pela frente. Era sempre assim. Eu tinha mais medo do que vinha pela frente do que da loucura que havia acontecido comigo. Fechei os olhos tentando não chorar. Não era o momento certo pra fazer com que todos ficassem tristes junto de mim. 

*

- Querem dar uma volta pela cidade? - Jeremy perguntou. 

Todos nós concordamos, então saímos pela cidade. Estava frio lá fora. As cidades estavam decoradas com pisca-piscas, Papai Noel e até mesmo tinha direito a neve. Paramos em uma enorme praça. Em seu centro havia uma árvore de Natal gigante e completamente decorada de vermelho. Chegamos mais perto dela. 

- É a noite mais bonita do ano! Façam seus pedidos! - uma mulher do cabelo claro veio ao nosso encontro. Eu podia jurar que a conhecia. - Segure. - me entregou uma estrela. - Faça seu pedido e a coloque na árvore. É só acreditar que ele irá acontecer. 

Olhei para Jeremy, para Kath e Dave. Eles sorriam e logo a moça entregou uma estrela para eles também. 

Sabia muito bem o que Jeremy iria pedir quando o vi fechando os olhos e apertando a estrela com força. Ao passar por mim, antes de colocá-la na árvores, me deu um beijo. 

- Sua vez. - disse.

Fechei os olhos. Podia desejar ficar naquele século para sempre, mas sabia que seria impossível, então apenas desejei o que era mais importante para mim. Desejei que Jeremy fosse feliz. Desejei que tivesse uma vida boa e que quando eu partisse, apenas esquecesse que um dia eu existi, e seguisse sua vida. "Não, não é justo com ele.", pensei, me arrependendo do pedido, mas já era tarde demais. Não tinha como contar a trás com nossos próprios desejos. 

Coloquei a estrela na árvore e olhei para a mulher que havia me entregado e reparei novamente o tanto que ela me parecia familiar.

- Nunca vi o amor nos olhos de alguém como vejo nos olhos de vocês. - ela disse se referindo a mim e Jeremy. 

Sorri para Jeremy, que devolveu o sorriso. 

- Nos conhecemos? - perguntei. 

- Quem sabe... - sorri e virou as costas.

Fiquei parada. Ao fundo tocava uma musiquinha de Natal e trazia um tom completamente nostálgico. No mesmo instante como em filme, me vi no castelo olhando todas aquelas obras. 

- Paty! - gritei, mas ela já tinha se perdido no meio de uma multidão.