Pela primeira vez em todo aquele tempo em que  minha irmã e meu irmão morreram,eu me sinto tranquila e calma,o barulho da água descendo 

a cachoeira invade meu ouvido como um despertador,abro meus olhos lentamente e o sol já está se pondo no horizonte.Minhas roupas estão 

molhadas e percebo que acabei dormindo de roupas íntimas pelo friozinho que sinto ao me levantar.Devo ir embora antes que os 

pacificadores invadam a floresta para a Guarda Noturna; desde que a caça ilegal foi descoberta na floresta,a segurança em todos os distritos 

que usufruem desta,foi altamente reforçada,agora eu posso me banhar no rio apenas de manhãzinha ou no início da tarde.

O mato está grande,não tem barulho de animais cantando ou fazendo barulho quando sobem de galho em galho,neste canto não há vida como 

uns  200 anos atrás,quando a mãe natureza ainda existia, ou existe,só não se pronuncia até hoje na forma de chuvas ou tornados.

Me sinto vigiada por alguém,e olho para trás.A sensação é tão incômoda que começo a correr entre os troncos secos e pela minha audição 

aguçada,sei que alguém está atrás de mim.O fôlego começa a me faltar,mas como sei que sou a melhor corredora da turma,um pouco de 

segurança e esperança me atinge.Vejo a primeira flecha,atirada em um arbusto.

- Alguém quer me levar pro jantar...

Pego a faca dentro de minha mochila e escondo-a dentro do meu casaco,uma ideia surge em minha mente e eu dou um sorriso maléfico.Olho 

para trás e vejo a pessoa,ela é do sul pelo cabelo claro e altura,ela prepara a flecha pra mim e eu me escondo rapidamente entre as árvores.

Minha respiração está descompassada,a minha sorte é que eu consegui me enfiar no meio de duas árvores grandes e praticamente 

juntas,pela fresta eu vejo o garoto andando lentamente,a medida que ele anda,eu vou me movendo sem fazer barulho,até ficar a uma distância 

considerável em que eu possa ver suas costas.

-10...09...08...07...

O garoto solta uma risada e eu paro de me mover,mas continuo contando.

-Aparece garota!você é tão bonita,é uma pena que terei que matá-la..-Ele atira flechas pra tudo que é lado e eu quase sou acertada por uma.O 

garoto é tão burro que nem percebe que há uma quantidade considerável de flechas e é nessa hora que eu sei que posso atacar.

-Vadia...-Ele murmura e quando sua atenção se volta para a mochila a procura de novas armas,eu corro até ele e o derrubo no chão,pego a 

faca escondida no meu casaco e coloco no pescoço dele.

-Por que está caçando aqui?ou melhor,por que quer carne humana?-Ele se debate e eu aperto mais a faca em sue pescoço,seu rosto fica 

vermelho,ele parece desistir depois de um tempo e para de se mover,cansado.

- Tem pessoas  na minha vila que não tem um grão pra comer,a carne humana virou a única solução..-Me enojo,eu sei que sou pobre,mas 

comida na mesa nunca faltou,nem para os meus pais que permanecem numa depressão contínua,e nem pra minha avó e seus netos,por um 

segundo,eu sinto pena dele.O garoto é magro e seu olhar é igual a de um animal morto,lágrimas se formam em seus olhos.- Não me mate por 

favor,eu tenho 12 pessoas pra alimentar.

-Mas comigo você não se importa..-Ele fica parado por um segundo e quando ameaço tirar a faca de seu pescoço,ele volta a reagir e tenta 

sair debaixo de mim,mas não consegue,reviro os olhos com aquela tentativa besta.

-Vamos acabar logo com isso.-Pronuncio de uma maneira firme e o garoto arregala os olhos azuis.

-Não! - Enfio a faca com força em seu peitoral,ele continua se debatendo,e então eu dou outra facada em seu pescoço,a morte é súbita.Saio 

de cima do garoto e limpo a faca ensaguentada em sua blusa suja,a última coisa que quero é que os pacificadores suspeitem de alguma 

coisa.Deixo o garoto no chão,morto,e pego todas as flechas que ele jogou em mim,inclusive o arco e flecha.

-Aqui não tem pena,aqui não tem sentimento,bem-vindo ao mundo querido. - Pego uma flor e jogo no corpo dele,sei que os pacificadores 

colherão aquele corpo e jogarão em qualquer cemitério,o corpo dos moradores dos distritos é tratado assim,feito um lixo