“— Então senhorita Banks, quem diria que aquela jovem doce e gentil se tornaria a mais nova vencedora dos Jogos Vorazes?! - Ceasar pergunta enquanto a plateia explode em gritos

— Vocês me subestimaram, não foi?—respondo sorrindo tristemente após de 3 horas assistindo a reprise de tudo que eu disse, fiz, todos que eu matei, que morreram em meus braços...

—Qual é a sensação de vencer?— pergunta Ceasar novamente na tentativa gentil de me fazer interagir

— Na verdade— começo rindo um pouco — Eu não me lembro de muita coisa, só da sensação do veneno queimando em minhas veias... Isso conta?—digo querendo falar sério.

—Então a senhorita tem a sensação mais original do que todos os outros tributos com quem já tive o prazer de conversar. — responde ele fazendo a plateia rir— Quer dizer que a senhorita não se lembra de Caius Teláqua no seu colo dizendo que te amava segundos antes de seu último suspiro ?

—Ah sim, eu me lembro — digo desejando que aquele momento tivesse sido particular.

—E o que a senhoria acha que significa?—ele pergunta sugestivamente

—Bem — penso um pouco— Acho que significa que Caius Teláqua era realmente meu amigo afinal...

—A senhorita duvidava disso?

—Sim, mas, não mais, nunca mais... —respondo encerrando a nossa conversa.”

Acordo num sobressalto.Mesmo durante o sono,as minhas palavras me perseguem.Mas se posso dizer que algo não mudou em mim ,mesmo depois dos jogos ,é o meu sono silencioso.Minha cabeça gira e por um momento posso ouvir as palavras de novo :

“Eu te amo. Você foi a única amiga que eu já tive”

Mas foi só coisa da minha cabeça.

—Droga de flashbacks!— digo me apoiando na parede mais próxima.

Sei que logo meu trem vai chegar de volta ao Distrito 10. E também sei que tenho de me preparar psicologicamente para toda a encenação e os flashes,e para todas as pessoas que vem me saudar na estação.

Tenho que me preparar para ver minha família. Apenas isso me faz ansiosa pra chegar.Mal posso esperar pra ver o olhar compreensivo de Benjamim,o sorriso acolhedor de Norma Jean,e a conversaria desenfreadas dos gêmeos.Mal posso esperar para que os meus braços envolvam o corpo de minha mãe,quando eu finalmente poderei dizer que cumpri minha promessa.Que voltei pra ela,apesar de muitas vezes ter sido tentada a desistir.

Com esse pensamento me enchendo de esperança, corro pro banheiro e tomo um banho quente,tentando relaxar o máximo que consigo.Ponho um vestido azul marinho com bolinhas e um cinto de couro pra representar o distrito [http://1.bp.blogspot.com/-1GGPDuOzqic/TgS5or0HCtI/AAAAAAAABkg/xE-jZIcehHA/s640/vestido+azul.jpg] que Camille me fez prometer usar,e ponho minha pulseira de couro,minha última lembrança de que tudo que Caius disse e fez foi real.

Penso na possibilidade de encontrar Meridan na estação. Quando fui selecionada,pensei que ele sentiria um pouco a minha falta.Mas eu voltei.E o irmão dele não.Ele deve me odiar por isso.E eu não o culpo.

Minhas angústias são interrompidas por batidas exigentes na porta

—Vamos Pátara, comece a se arrumar, já vamos chegar—Ouço, e sei que pelo tom autoritário só pode ser Aiko.

Abro a porta e mostro a ele que eu já estou pronta. Ele me olha de cima a baixo,sempre analisando qualquer possível erro.

—Camille tinha razão, ele é perfeito — comenta dando de ombros — Mas solte o cabelo criança, você parece séria demais assim.

Obedeço e vamos tomar café. O modo como todos tentam me tratar com carinho especial me enoja.As pessoas não se lembram que para eu estar aqui,23 pessoas tiveram de morrer.E não se lembra que eu matei para estar aqui.Não entendem o quanto tudo em mim é conflitante.

Apenas Aiko e Hadassa parecem entender. Eles não me tratam de forma especial,apenas me dão algumas instruções e conversam normalmente comigo .

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O trem diminui a velocidade em contrapasso com o meu coração, que agora está a mil. As portas se abrem e a multidão grita.

Jeany está bem em minha frente, com os olhos marejados e de mãos dadas a Bem. Olhos pros dois ,olho pra suas mãos entrelaçadas .Olho pra cada um novamente.Ben sorri como o irmão que sempre foi e nós três nos abraçamos.A felicidade é tanta que mal consigo respirar.Logo atrás estão Coline e Zoran,com os gêmeos e o Sr. Bertolini.É como uma grande reunião de família! E mais afastada, quase sendo engolida pela multidão está minha mãe. Jeany e Ben seguram-me um de cada lado e me guiam até ela.Ela parece forte e determinada como no dia em que parti.

Ela estende os braços e eu corro a seu encontro. O abraço parece tão familiar quanto todos os outros,mas parece mais esperado do que qualquer um que eu já tenha tido.

— Cumpri minha promessa, não é? — pergunto ao interrompermos nosso abraço

—Sim. — ela responde — Mas será que você ainda vai quere ser minha garotinha depois de tudo isso?

—Não importa o que aconteça eu sempre serei a sua garotinha— respondo derramando algumas lágrimas.

Ela sorri e diz:

—Tem alguém que quer falar com você .

Eu não sei quem possa ser, por que todos da minha família estão aqui agora. Mas minha mãe me leva alguns passos atrás da multidão enquanto Sr. Bertolini e os outros dão entrevistas.Quando chegamos ao canto onde minha mãe me levava,eu vejo cabelos loiros e olhos ternos que me encaram.Meridan.Ele não parece zangado,o que me deixa confusa.Minha mãe nos deixa a sós e eu não sei o que dizer.

—Senti sua falta—diz ele me abraçando.

Retribuo com sinceridade, deixando meu rosto se enterrar em seu ombro. Quando ele rompe nosso abraço,segura meu rosto entre as mãos e diz:

—Obrigado por estar com Caius quando aconteceu. Eu não sei como foi,mas tenho certeza que você foi uma boa amiga.

—Eu fiz uma promessa —respondo —Prometi ser legal com ele — digo sorrindo um pouco.

—Eu sei que o momento não é apropriado, mas se eu não disser agora, nunca mais terei coragem. Pátara Banks, você é uma garota incrível. Espero que você me deixe fazer parte da sua vida a cada dia.

Seguro sua mão na minha, e respondo:

—Meridan Teláqua, isso será um prazer!

E naquele momento eu havia esquecido todas as câmeras, toda a gritaria, e de todo o resto do mundo.