After Sex escrita por ausdemmeer


Capítulo 1
Capítulo único




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After Sex
Ronnie acabara de voltar do banheiro, ajeitando-se confortavelmente em sua cueca branca enquanto Max parecia estático, sentado na cama que estava esfriando sem o calor dos corpos que ali estiveram a esfregar-se um ao outro. Ele desviou das roupas jogadas no chão de qualquer jeito, sentou-se na cama sem reparar que o outro havia se recuado um pouco e ao inclinar-se para o lado do menor a fim de um simples contato — para uma noite cheia de intimidades —, Max afastou-se ainda mais de si, deixando-o parado na mesma posição, frustrado pelo toque que não ocorrera.
Os dedos do menor mexiam uns nos outros, nervosos, suas mãos pareciam suar com a proximidade de Ronnie, então apenas manteve suas pernas cruzadas como as crianças costumam se sentar e pôs-se a fitar os dedos agitados. Ronnie, ao sair da posição em que fora largado, esfregou a mão na coxa, olhando para o lado oposto, uma mistura irritação e tristeza pela rejeição invadia-o.
— Eu não sou gay agora, sou? — ele indagou sem ao menos ter coragem de dirigir o olhar ao outro.
— Eu não sei. Você gostou? — rebateu, forçando um contato visual ao encará-lo. Seus olhos, por mais que não possuíssem uma cor excêntrica e admiradora, eram tão chamativos quanto qualquer um que possuísse.
— Não — ele pensou por alguns segundos antes de responder e, quando o fez, tornou a abaixar seu olhar.
— Então não, você não é gay. Mas, pelo menos, agora tem certeza — ele disse de maneira convicta.
— É... — murmurou, havia um certo tom de alívio em sua voz.
— Você tá dolorido? — questionou depois de passar os olhos brevemente pelo corpo do outro.
— Um pouco — respondeu, engolindo em seco.
— Isso melhora.
— É?
— É — ele sorriu de canto ao ver que havia ajudado um pouco.
— Eu não me importo — disse depois de algum tempo sem assunto, de um curto período de silêncio que não deixava de ser constrangedor.
— Tanto faz — novamente ele desviou o olhar para o lado oposto e soltou uma risada contida, sem barulho. — Sabe, você não tem que se sentir mal por isso.
— Por isso o que?
— Por nós termos nos divertido. Não há nada de errado nisso.
— É, eu sei, eu só... Eu não sou gay, por isso...
— Eu só tô dizendo que não tem que se sentir mal por causa disso. Todo mundo faz isso pelo menos uma vez, quer admitam ou não. Não sei te dizer com quantos héteros tive essa mesma conversa.
— Que conversa? — ele indagou, rolando as mãos nervosas pelo edredom.
— A conversa para te "dissuadir a sair do precipício" — ele disse depois de se levantar e pegar seu cinto no chão do quarto.
— Que precipício, cara? Do que você tá falando? — ele continuava sentado na cama, parecia não poder ter nenhuma reação mais forte do que mexer com mãos e dedos.
— Vocês, caras da irmandade, vocês são todos iguais! — ele puxou uma cadeira e se sentou. — Estão todos metidos nessa mentira de mundo machista que é forçado a vocês, então tem medo de ter um lado sensível.
— Mentira — ele disse enquanto pegava um travesseiro e o abraçava.
— Mentira é o cacete. Nesse momento, você é um saltador.
— Eu queria saber que merda você tá dizendo! — ele levou as mãos ao rosto, como quem enxuga as lágrimas que já caíram.
— Você tá no precipício, pronto pra saltar, porque não consegue lidar com o fato de que gostou de fazer sexo com um homem. — ele disse sério, fazendo com que o outro finalmente se levantasse da cama farto de ouvi-lo. — É verdade! — ele observou o outro ir até sua mochila e pegar seu maço de cigarros e isqueiro antes de continuar. — Depois eu apareço e te faço um discurso sobre como você não é gay e que toda mundo faz isso pelo menos uma vez. E, eventualmente, você sai do precipício. Mas agora ainda tem uma ponta de remorso e culpa, e escondê-los bem lá dentro, trancados, para nunca mais serem mencionados. Apenas uma memória distante que você negará que tenha acontecido.
Max já havia sentado-se novamente na cama do outro, e agora estava com seu cigarro aceso na boca, tragando e soltando a fumaça, tentando refletir sobre o bombardeio de informações que chegavam à sua mente sem aviso prévio.
— É um clichê das residências universitárias. O cara homofóbico que adora levar na bunda, mas que não quer que ninguém saiba disso. É triste, sabe — ele disse, levantando-se enquanto o outro negava veemente com um aceno frenético com a cabeça.
— Não eu.
— Tanto faz — ele entrou no closet sem ao menos reparar nos movimentos do mais novo.
— Tanto faz — retorquiu, pegando suas calças jogadas no chão e começou a colocá-las um pouco atordoado pela conversa, lentamente. — Eu não sou homofóbico.
— Você tá brincando comigo.
A calma com que a voz do outro saía garganta afora o fez gritar:
— Eu não sou homofóbico!
— Então por que esconder?
— Porque ninguém tem porra nenhuma a ver com isso!
— Acha que não consigo te decifrar? É a definição de homofobia. O simples pensamento de poder ser gay te assusta mais do que pode imaginar.
— Você tá completamente errado! — ele disse depois de finalmente terminar de vestir suas calças.
— Ou o que quer que te faça sentir melhor.
— Qual é a porra do seu problema?! — ele indagou enquanto observava o outro vir em sua direção rápido demais.
— Não sou eu que tenho um problema, garoto — e empurrou o menor enquanto este já estava com os sapatos na mão.
— Não me chame de garoto, seu viado de merda! — bradou, irritadíssimo, o dedo indicador apontava o rosto de Ronnie.
— Tá aí, eu tava esperando por isso — disse depois do pequeno choque que as palavras lhe causaram.
— Pelo que?
— Você acabou de me provar que eu estava certo.
— Por que eu te chamei de viado? — ele ainda estava alterado, mas o rom do outro já havia diminuído.
— Bingo.
— Que porra isso quer dizer?
— Sabe do que? Eu tô muito cansado e estou farto de ter que te explicar tudo. Por isso, se você não se importa, preferia que fosse embora — ele pediu ao passo que se encaminhava para longe do outro.
— Por que você faz isso? — ele indagou voz embargada ao contorcer o rosto numa expressão chorosa e um breve silêncio se fez no recinto.
— Por que você se interessa?
— Eu quero saber.
— Você quer mesmo saber por quê?
— Yeah — disse, fazendo com que o maior se virasse para encará-lo.
— Poder.
— Poder?
— É. Poder.
— Elabora — sua voz saiu tremida e ele se pegou mexendo em seus próprios dedos novamente enquanto tentava não fitar o chão a toda hora.
— Em toda a minha vida, desde o primário até quando eu saí do armário, fui espancado, ridicularizado, fui uma piada e completamente excluído, porque foi assim que eu nasci, porque eu sinto atração por homens. Você não pode imaginar como isso pode fazer alguém se sentir impotente, como eu me senti impotente. Durante o ensino médio eu tive que esconder quem eu era por medo das pessoas descobrirem a verdade. Até namorei algumas garotas, fiz sexo com elas só para as pessoas pensarem que eu era hétero, que eu era... normal. E isso me desfez por dentro. Até um ponto em que — ele coçou a cabeça, desviando o olhar enquanto Max ainda digeria todas as palavras que foram proferidas, a sinceridade e a dor com que elas lhe chegaram aos ouvidos. — Esquece.
— O que? — ele o observou pegar uma camisa e arrumá-la sem qualquer motivo aparente.
— Nada, esquece isso.
— Por favor. O que?
— Eu tentei me matar, tá? Eu tentei me suicidar porque não conseguia lidar com quem eu era, tinha medo que as pessoas descobrissem a verdade sobre mim.
— Você tá falando sério? — questionou por mais que soubesse que aqueles olhos penetrantes lhe fossem transparentes o suficiente para saber a verdade.
— Yeah. Eu me odiava por quem eu era, por quem eu sou — ele embolou a camisa ao olhar para os olhos vermelhos de Max por tanto segurar o choro e lhe virou as costas, indo até o closet para jogar a camisa no chão. — Meio patético, né?
— Não, cara, não é — ele estava chocado, paralisado, agora de pé.
— É, bem, quando eu entrei na faculdade não era muito diferente de você. Eu me juntei a uma irmandade, bebia muita cerveja e fazia piadas homoeróticas gays de costume. Então eu conheci um cara — ele se pôs ao lado de Max —, ele não era muito diferente de nós. Ele me ajudou a aceitar quem eu sou, só uma pessoa normal como todas as outras. E foi um pouco louco, porque, assim que eu tomei a decisão de me assumir, aquele sentimento de impotência desapareceu. Claro que ainda tenho que lidar com a minha família e meus amigos, mas assim que tomei a decisão de que eu era feliz, de que eu me amava, não importava o que os outros pensavam. Foi como: "eles que se fodam se não conseguem lidar com isso". Eu sou gay, sempre fui gay e sempre serei gay.
— Legal, cara — ele disse um pouco sem graça, um sorriso saiu e uma risada logo em seguida.
Lentamente, depois de molhar os lábios, foi até a mesinha ao lado da cama de casal, pegou seu maço de cigarros e seu isqueiro e se sentou numa das poltronas de madeira para fumar. Ronnie dirigiu-se até ele com seu copo vermelho com água, o pôs na mesa ao lado dos cigarros e se sentou na outra poltrona.
— Acha que sou como você? — Max indagou, agora parecia mais liberto do que antes.
— Não sou arrogante o suficiente para fingir saber quem você é. Você pode ser como eu, pode ter apenas curiosidade, mas, de qualquer forma, seja você o que for, não tente se servir das ideias de outras pessoas sobre o que você deveria ser. Seja apenas você.
Ele apagou o cigarro que mal havia sido aceso e foi até a cama novamente, pegando sua camisa listrada de vermelho e preto no chão, como todas as roupas estavam quando a conversa começara.
— Então, você é?
— O que? Gay? — ele parou a camisa nos punhos antes de realmente vesti-la e Ronnie se sentou ao seu lado, batucando de leve em suas próprias pernas.
— É.
— Eu não sei — respondeu impassível, os olhos se focavam no nada. — Ainda tô tentando perceber se gostei — seus dedos se enroscaram uns aos outros, um pouco atrapalhados pela blusa que ele ainda não colocara.
— Então você vai querer tentar de novo? — ele perguntou, fazendo com que um sorriso de leve surgisse nos lábios do menor. — Talvez seja ativo — sussurrou, a expressão de Maxwell lhe fora impagável, o levantar de sobrancelhas como quem diz: "wow, você tá me ganhando!"
— Desde que prometa que não vai contar pra ninguém — ele ainda não o tinha encarado, não se dava conta da maneira lasciva com que o outro, com o pescoço levemente inclinado para o seu lado, encarava-lhe. — É, por que não?
Seus olhares se encontraram finalmente depois que haviam se sentado, qualquer avanço, seria um passo a frente nas decisões de Max, e ele sabia que muitos passos viriam, mas nunca poderia imaginar que tudo viesse à tona em uma simples conversa depois do sexo.
FIM


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