Uma leve garoa caia de encontro ao vidro enquanto um nó se formava em minha garganta, podia sentir as mãos de Gabriel me guiando apressadamente para fora do carro, enquanto a porta de entrada se abria trazendo rostos familiares.

– Precisamos de um portal imediatamente.

Sua voz ecoou pela rua vazia enquanto adentrávamos a sala estilo vitoriana, os moveis escolhidos com extremo cuidado se amontoavam em um circulo, diante de uma luz em formato circular, caminhei até ela vagarosamente, enquanto imagens oscilaram em seu interior, mãos fortes se entrelaçaram a minha fazendo com que me virasse lentamente, para que assim aproveitasse a sensação de conforto que as mesmas me causavam.

– Não se aproxime muito do portal, não quero que se perca. - Sua voz soava doce, mas carregada de preocupação, seus olhos me analisaram por um instante antes de se virar.

– Qual será o preço para usarmos o portal?- Ao contrario de alguns segundos atrás sua voz estava carregada de autoridade, pude ver que apenas tio Jhon se encontrava na sala, seu cabelo já apresentava uma grande quantidade de fios brancos, o rosto cansado trazia uma feição inexplicável.

– Não terá preço algum. - Sua voz era calma, o mesmo sorriu para mim. - Estamos fazendo isso por ela anjinho. - Uma estranha ironia pairava em sua ultima palavra, mas Gabriel a ignorou, enquanto começava a me guiar em direção ao portal.

– Catherine. - Me virei bruscamente em direção a Jhon.- Apenas limpe sua mente enquanto o portal a leve para onde precisa estar. Por favor, se cuide... - Sorri levemente para ele, enquanto voltava a caminhar no pequeno trajeto. As mãos de Gabriel me seguram ainda mais forte, como se o mesmo sentisse medo de me perder em meio à viagem. Tentei guiar minha mente para um estranho vazio, antes de respirar profundamente, sentindo a luz se apoderar de mim.

– Catherine.- A voz de Charlotte soou ao longe, como se estivesse escutando através de uma barreira feita pela água.

– Ela já se foi querida...

Aos poucos comecei a sentir o tradicional cheiro de marezinha antes de aterrissar bruscamente em meio à grama, abri meus olhos lentamente se acostumando com o sol intenso que reinava ainda pela manhã. Gabriel se encontrava a meu lado, sua mão ainda presa a minha se afastou lentamente.

– Está se sentindo bem?- Olhei ao redor antes de respondê-lo, embora minha visão estivesse um pouco tonta, estávamos em casa.

– Sim, apenas uma leve tontura.

– Quer ajuda para se levantar?- Em um rápido salto o mesmo já se encontrava de pé.

– Não precisa. Mas ficarei feliz se me ajudar a encontrar respostas.

– Todas as que quiser, mas antes preciso de um café forte.

– Dois cafés fortes. - O segui em silêncio enquanto adentrávamos a sala e caminhávamos em direção a cozinha. Rapidamente o cheiro de café abrangia todo o ambiente, trazendo uma sensação de conforto. O mesmo se sentou a minha frente, enquanto me entregava uma xícara de porte médio com pequenos detalhes de andorinhas, respirei profundamente enquanto um leve sorriso se formava em meus lábios.

– Deixe me adivinhar sua primeira pergunta. - Desviei meu olhar para Gabriel que fingir estar pensativo. - Como consigo ser tão bonito? Está é uma resposta simples... - Revirei os olhos em desaprovação.

– Gabriel!- O mesmo se calou. - Podemos falar de sua beleza em outro momento?

– Está bem. - Suas mãos se ergueram em sinal de rendição.

– Charlotte é realmente uma bruxa?

– Sim.

– Ela era realmente minha amiga ou... -As palavras pareceram fugir de mim por um instante, mas as mesmas foram encontradas por Gabriel, podia sentir em seu olhar.

– Não estava nós planos que você se tornasse amiga de uma bruxa, mas o destinos prega peças, além disso o Jardim de infância sempre foi um ótimo lugar para se fazer amigos.- Ele tomou um gole de seu café.- Inicialmente Aron queria que vocês fossem afastadas, afinal nunca confiamos em bruxos, mas não havia mais como separá-las, poucas vezes em minha vida vi amizade como a de vocês duas.- Sorri para ele.- Próxima pergunta?

– Quem é Joseph?- Suas feições ficaram sérias.

– Joseph comanda o exercito da escuridão. Anos após a queda, anjos começaram a ter pensamentos divergentes, gerando grandes conflitos que se perpetuam através dos séculos. Seu pai já liderava juntamente com Aron as tropas da salvação quando se encontrou com Joseph pela primeira vez, eles travaram uma longa luta. Após perder a primeira batalha, Joseph assumiu o exercito da escuridão se tornando o maior inimigo de seu pai, jurando que jamais perderia está guerra. - Permaneci em silêncio por alguns instantes, antes de prosseguir com as perguntas.

– O que Patch tem haver com isso?- As mãos de Gabriel se fecharam fortemente em volta de caneca, rapidamente toquei em seu braço fazendo com que seus músculos relaxassem por um instante antes que a mesma se quebrasse.

– Ainda preciso agradecê-lo por colocar sua segurança em perigo. - Sua voz soava fria. - Patch é filho de Joseph. - Podia sentir a surpresa em meu rosto enquanto um leve arrepio percorreu meu corpo. - Alias o presente dele está em seu bolso. - Impulsivamente levei minha mão até o pequeno bolso em minha saia, retirando de lá uma pequena caixa preta com detalhes em dourado. Gabriel já não se encontrava a meu lado, mas escutava seus passos enquanto subia a escada. Analisei a pequena caixinha por alguns instantes enquanto as feições de Gabriel surgiam em minha mente, rapidamente a coloquei em cima da mesa enquanto caminhava em direção á seu quarto. As batidas na porta soaram altas em meio à casa silenciosa

– Gabriel abra, por favor!- O mesmo ignorou meu pedido. Enquanto seu rosto surgia novamente diante de meus olhos, carregados com um sentimento desconhecido. Aos poucos girei a maçaneta, a luz do sol adentrava pela janela enquanto Gabril olhava através da mesma, já não usava sua camisa branca ou qualquer outra da noite anterior, vestia apenas uma calça de moletom cinza, o mesmo se virou para mim sem qualquer emoção em seu rosto.

– Imaginei que talvez fosse o momento de você fazer as perguntas. - Um estranho silêncio se estabeleceu entre nós antes que o mesmo respirasse profundamente prendendo seus olhos ao meu.

– Por que fugiu com ele na noite de natal?