Caixinha de Surpresas escrita por Liminne


Capítulo 1
Caixinha de surpresas




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- Rápido, Rukia, rápido! Antes que alguém veja que você já trouxe suas coisas pra cá! – o ruivo parado na porta de seu quarto suava de nervoso enquanto alternava olhar para a menina e para o corredor lá fora.
- Já estou indo, calma! – seu tom de voz era bastante irritadiço. Ia enfiando de má vontade suas coisas que já estavam devidamente acomodadas no armário do garoto numa bolsa. Não entendia porque era tão necessário assim se mudar para um outro quarto. – Pronto. Já vou embora. – pulou lá de dentro e saiu andando na frente dele sem nem olhá-lo direito. 
- Já vai tarde, sua maluca! – ele resmungou áspero como sempre.
Mas a verdade era que ia sentir falta dela ali... Quer dizer, havia enfrentado batalhas em que sua morte era quase certa só para salvá-la, só para ter de volta aquele sorriso... E depois que estava tudo bem, depois de te-la tirado da tortura com os próprios braços, ela deicidiu que não iria com ele... Decidiu que permaneceria em casa. 
E aquilo doeu. Doeu muito. Mas confortou-se com o pensamento de que ela voltara a sorrir. Só de não ver mais aquelas lágrimas contaminando seu lindo rosto, só de saber que aquela era uma decisão que vinha do fundo de seu coração, era uma coisa boa, não era?
E depois que pensou melhor, como seria se ela voltasse com ele? Seria totalmente sem sentindo, não seria? Nunca fora bom com a razão mesmo. Seus sentimentos sempre gritavam mais alto...
Depois de passar um tempo sentindo saudades esmagadoras daquele sorriso, daqueles olhos enormes e incrivelmente azuis, ela voltou. Assim, sem mais nem menos, no topo da janela da escola... E aquilo lhe fizera tão bem... Um bem tão grande que era incapaz de demonstrar. 
Portanto, mesmo que falasse com ela com aquele desprezo, não significava que não sentia algo tão nobre... Só significava que sua máscara era forte.
E voltando ao problema inicial... Se ela voltasse, o que aconteceria?
Bem, estava acontecendo. Ela certamente não poderia mais dormir no seu guarda-roupa.

Podia ouvir a voz de seu pai e de suas irmãs apresentando o novo quarto a pequena... E podia ouvir também a voz falsa e irritante de agradecimento dela. Ela tinha deixado bem claro segundos atrás que queria mesmo era continuar ali no guarda-roupa do ruivo. Será que... Ela não entendia?
Resolveu deixar pra trás esses pensamentos idiotas com um sacudir de cabeça. Voltou então para dentro do quarto, sentiu que o coração estava relaxado... E a última vez que tinha sentido aquilo fora no dia em que a viu sorrir depois do caos. Mas agora que estava tão perto, seu mundo estava estável...
- Ih, ela deixou cair uma coisa... – abaixou-se bem perto do armário onde uma pequenina peça de roupa estava largada. – Preciso devol... – ia falando normalmente, quando finalmente percebeu. Aquilo era... Aquilo era... – Ahhhhhhhh!!!!!!!!! – gritou jogando o pequeno tecido pro ar. Apavorado era pouco para seu estado.
- Onii-chan! O que aconteceu? – Yuzu apareceu de súbito na porta do quarto com os olhos quase saltando das órbitas de susto.
- N-nada! Nada, Yuzu, nada! – ele falava todo atrapalhado não conseguindo convencer de jeito nenhum de sua afirmação. – Pode voltar pro seu quarto, não foi nada! – os olhos maiores que bolas de basquete, as bochechas vermelhas e as mãos para trás encondendo algo.
- Eu hein! – a loirinha arqueou uma sobrancelha. – Acho que o ensino médio tá te deixando muito estressado... – pôs as mãos na cintura com ar de preocupação. 
- É-é. Deve ser isso. – suava agoniado, louco para que ela se mandasse dali. 
- Se precisar de alguma coisa... Sabe que pode me chamar. – disse com o olhar agora totalmente dominado pela pena. Não era a primeira vez que o irmão agia estranho daquele jeito. Mas ia-se lá saber! Deu meia volta e saiu do quarto pensativa.

- Ufa! – suspirou o espetadinho. Mas lembrou-se do que tinha em suas mãos, atrás de si e deu um novo salto. – Ah! – jogou o que segurava no chão e ficou encarando como se fosse uma bomba sinistra pronta pra explodir. – E agora, cara!? O que vou fazer com isso ?? – bateu na testa desesperado. 
Ouviu passos. Precisava esconde-la em algum lugar. Se alguém a visse, o que iam pensar? Jamais seria deixado em paz, jamais!
Enfiou então a peça no bolso e prontificou-se como uma estátua quando a pessoa abriu a porta.
- Ichigo!? – o semblante de Rukia era sério e preocupado. – O que aconteceu? Algum hollow estranho? – preparou a soul candy olhando para os lados desconfiada.
- Não é nada, Rukia! – virou a cara. – Eu só bati o dedo no pé da cama... 
- Humm... Tem certeza? – ela se aproximou olhando mais de perto o rosto do garoto. – Você está bem vermelho... – observou diminuindo os olhos.
- Eu tô ótimo, Rukia! Agora faça o favor de sair daqui antes que... Antes que a mudança não tenha servido pra nada! – berrou ficando mais quente ainda.
- Ihhh! Eu hein! – ela chiou agora bastante irada. – Até parece que seu quarto é tão atrativo assim! – cruzou os braços. – O quarto das suas irmãs é bem mais fresco e cheiroso. – empinou o queixo e girou os calcanhares para sair dali.
- Então more lá! – quando ela saiu ele tratou de fechar a porta. 
Caminhou até a cama com a cabeça fervendo e sentou-se bufando. Enfiou a mão no bolso e retirou novamente a tal que o estava apavorando tanto. 
- Uma... – olhou-a sentindo até o último fio de cabelo esquentar. – Calcinha... – soltou a palavra num guincho estranho e agudo. Olhou a peça tão pequena e branca com estampa de coelhinhos azuis. – Uma calcinha da Rukia... – a voz saiu pior ainda. Milhões de pensamentos no mínimo muito estranhos começaram a dançar pela sua mente fazendo seu coração quase saltar do peito. – Ahhh! Chega! – enfiou-a no bolso de novo desesperado. – Preciso me livrar disso de uma vez por todas! Antes que alguma coisa pior aconteça!

E resolveu tomar um banho antes de dormir... Para esquecer de uma vez daquilo. Ou não.
****
Acordou ouvindo muitas vozes em seu quarto. Revirou-se na cama ainda de olhos fechados. Era certamente seu pai e suas irmãs... E Rukia também... Aos poucos ia entendo o que estavam dizendo tão afoitos.
- “... fez uma coisa dessas!” – a voz de Yuzu parecia chocada.
-“... trouxe pra cá pra isso! Que vergonha, Rukia-chan!” – seu pai parecia choroso, como sempre.
-“... Ichi-nii fosse disso...” – a voz de Karin estava com alguma coisa diferente!
- “Não quero nunca mais olhar pra ele...” – Rukia choramingava com aquele tom falso que adorava usar pra provocar. 
- “...castrá-lo como um animal” – a voz profunda e inconfundível de Byakuya disse emanando uma aura maligna de preencher e sufocar toda a casa.
Espera um pouco... Byakuya!? Castrar? O que estava acontecendo...
Não! A calcinha!
- NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOO! – berrou com todas as suas forças levantando-se na marra. 
Olhou ao redor e... Não tinha ninguém. Seu grito quase fizera eco.
- Ufa! – pôs a mão no peito latejante. – Foi só um sonho... – voltou a por a cabeça no travesseiro e a fechar os olhos. Mas abriu-os e levantou-se bruscamente com um súbito pensamento. – Não! Isso foi um aviso! Isso pode totalmente acontecer! 
Saiu da cama desesperado e levantou o colchão tirando a calcinha que estava ali. 
- Vou devolver isso agora para que não ocorra problemas para meu futuro... – olhou para sua calça e sentiu um calafrio. – Vamos lá! – cerrou as sobrancelhas determinados e pôs-se a caminhar pelo corredor.
Foi andando até o quarto de suas irmãs tentando não pensar em mais nada, seguindo somente o que tinha que fazer. 
A porta estava aberta. Elas certamente já tinham acordado.
Bem mais fácil! Era só colocar a dita cuja na mala da Rukia e ela nem ia perceber que já a tinha perdido! 
Entrou no quarto feliz e aliviado, tão leve que sentia que poderia até voar quando se livrasse daquela ‘infeliz’ que parecia pesar mais de cinco toneladas.

Mas parou bem na porta. Ela estava ali, penteando os cabelos. 
Estava cantarolando, parecia nem ter percebido sua presença. Acabou paralisado. Mas não pelo motivo que deveria... Mas sim pela imagem que estava vendo.
Parecia tão serena e despreocupada que quase sorriu. Com certeza era a melhor das visões. A tranqüilidade dela... O rostinho tão relaxado assim parecia até de uma criança. A sua voz parecia diferentemente doce, tão rara... E o perfume... E o modo como jogou os cabelos negros pra um lado...
De repente, sem saber porque, seus olhos foram descendo... E o uniforme do colégio que Rukia vestia foi sumindo... E dando lugar a um corpo frágil e tentador, seminu, coberto apenas por uma calcinha branca de coelhinhos...
- Ichigo! – virou a cabeça para ele mudando a expressão doce para uma mais séria. – O que está fazendo parado aí?
- Ahh! – ele assustou-se dando alguns passos instintivos para trás. – Eu... Eu acabei de chegar... – atrapalhou-se debilmente tentando de uma vez por todas apagar aquele devaneio idiota da mente. Com certeza aquela calcinha era maligna! Como podia mexer com ele assim!? 
- Mentiroso! – ela voltou-se para o espelho. – Você acha mesmo que consegue disfarçar sua energia espiritual, idiota? O que você quer, fala logo! – estava bem impaciente!
- N-nada não... – sentiu as mãos começarem a suar. Não ia conseguir daquele jeito. – Você está... Brava comigo?
- Não. – voltou a olhá-lo sem expressão. – Só não gosto que fique me olhando com essa cara de idiota. – sorriu. – Quer mais uma voadora no nariz?
- Idiota! – murmurou sem argumentos e desviou o rosto que já estava em chamas de novo.
- Ótimo, então apronte-se logo, estou ansiosa pra ir à escola! – passou por ele agora com uma expressão realmente mais alegre.
“Não vai dar...” – pensava. – “Como posso dizer isso a ela?” 
- Rukia! – chamou enfim. Se tinha que fazer aquilo, que fosse de uma vez. 
- Sim? – virou-se para ele, já quase no topo das escadas.

- Er... – bagunçou os cabelos sentindo os joelhos tremerem. Como ia dizer as palavras “sua calcinha” para ela?? – Diga para a Yuzu que eu já desço num instante. – inventou na hora.
- Certo. Então vai logo! – desceu as escadas.
****
No trajeto para a escola, prometeu-se, ia dizer! Mas quem disse que a vida facilitou? Há! Parecia até que estavam conspirando contra ele!
Apareceram do nada Rangiku, Hitsugaya e Orihime no caminho e acabaram juntando-se a dupla. Fazer o que, né? Melhor esperar uma hora mais propícia. E a calcinha dentro de seu bolso... Era de se desconfiar que a mão do ruivo não saísse da lateral da calça.
Finalmente então chegaram à sala de aula e sentaram-se para estudar. Mais ou menos. Naquele dia a aula estava bastante barulhenta por causa dos ‘alunos novos’.
Não estava nem aí. Na verdade estava esperando aparecer um hollow ou algo assim que sempre aparecia para se mandar logo dali e aproveitar para falar com Rukia sobre o tal assunto. Olhou para ela. Também parecia bastante dispersa. Seu coração deu outra disparada. Ia ser muito difícil, aquilo! Como será que ela reagiria? Ia ficar tímida. Ou não. Do jeito que era maluca e sem noção! E se ela pensasse que ele fez de propósito!? Não! Ela não pensaria uma bobagem dessas...Pior! E se ela fizesse um escândalo só pra zoar com sua cara? Isso sim era bem a cara dela! 
“Hunf!” – pensava com a cara na janela. – “Melhor eu queimar essa porcaria, ela não vai sentir falta.” – olhou rapidamente para ela de novo. – “Mas esses malditos coelhinhos... Ela deve gostar muito dessa... Dessa...” - e novamente as imagens começaram a aparecer em sua mente... Aquelas imagens... 
- Não! – gritou para espantá-las.
A classe toda virou-se para ele.
- Er... – sentiu os olhares como se fossem flashes de luz fazendo-lhe mal. – Não... Não estou entendendo, professora... – acrescentou quase roxo de vergonha, dando início a várias gargalhadas.

- Estaria entendendo se o olhar não estivesse perdido nos peitos da aluna nova, Kurosaki! – a professora alfinetou maligna. O que fez os burburinhos aumentarem. E a queimação no rosto dele também.
- Ei! Eu não... – tentou se defender, afinal, não era bem em peitos de aluna nova que estivera perdido.
- Ahhh... – a professora suspirou cansada. – Esses jovens delinqüentes... Mal sabem vestir as próprias calças e já estão pensando em sexo. 
Viu de canto de olho Renji morrer de rir da sua cara. E Rukia desaprovar com um estalar de língua.
Essa calcinha era uma praga!
****
A aula então continuou normalmente, sem nenhum hollow como esperado. E sem mais devaneios vergonhosos. Bem... Não que o fizesse gritar e pagar outro mico. Por que a única coisa que fizera o tempo todo foi pensar em como dizer, em como devolver aquele problema à sua causadora.
E se não devolvesse? E se guardasse para sempre consigo? Não ia ter problema, certo? Desde que pudesse escondê-la. Não odiava tanto olhar para ela de vez enquando...
Mas e se fosse uma calcinha da sorte ou algo assim? E se um dia, no meio da noite Rukia começasse a fuçar por toda a casa atrás dela e a encontrasse entre seus pertences? E se deduzisse, por causa do tempo, que Ichigo quisera manter para... Para coisas pervertidas? E se resolvesse denunciá-lo por isso?
Então de repente, uma imagem assustadora de si mesmo preso por um kidou estranho, na mira de Byakuya e sua Senbonzakura mais furiosa que nunca encheu sua mente. E a zampakutou desgraçada teimava em aproximar-se violentamente de seu órgão reprodutor. Podia até ouvir seus gritos de desespero. Podia até sentir a ira de Byakuya pelo olhar quase arder em sua pele. Podia até sentir seu orgulho se esvaindo como todo o sangue que perdera nas batalhas da Soul Society. E sua cabeça começou a girar de novo.
- Nãããão! – gritou dessa vez ainda mais alto do que na primeira.
E todos olharam de novo espantados.

mbora poucos estivessem rindo, a maioria mesmo já estava achando que o pobre ruivo tinha surtado de vez e estava com pena. 
- Kurosaki! – a professora o olhou enfurecida. – Você está com algum problema ou está querendo aparecer só porque dessa vez tem alunos mais esquisitos que você na sala?
- Ei, isso foi com a gente? – Renji perguntou indignado para Ikaku.
- D-desculpa professora. – foi só o que conseguiu murmurar ainda meio atordoado.
- Desculpe uma ova! É a segunda vez que atrapalha a minha aula desse jeito. – suas sobrancelhas estavam bem juntas, a paciência estava no limite. Não era um dos melhores dias para ela também naquela turma de loucos. – Quer saber, meu filho? Vai descansar na enfermaria, vai!
- Mas eu não...
- VAI DESCANSAR NA ENFERMARIA, INFERNO! – a mulher berrou histérica.
- T-tá bom. – mais amedrontado que nunca – não se sabia se era pela professora ou ainda pela sua imaginação – o ruivo não teve escolha. Foi andando humilhado até a enfermaria.
- O que será que houve com o Kurosaki-kun? – Inoue perguntou-se preocupada. Estivera observando o ruivo e seu comportamento estava muito longe de estar normal.
- Será que... – Rukia olhou de canto para a amiga ruiva sugerindo alguma coisa.
- Kuchiki-san, vai atrás dele. – Inoue incentivou com um sorrisinho pálido. – Com certeza você vai ser a pessoa que mais vai entendê-lo.
- É, certo. – assentiu. – Se não sou eu, quem é que põe ordem naquela cabeça laranja? – sorriu para a amiga.
- Hehehe. Tem razão. Só você mesmo. – continuou sustentando aquele arzinho casual. 
- Professora! Por favor, eu preciso ir ao banheiro...

****

 

Descansava na cama da enfermaria. Tinha passado vergonha duas vezes, estava irado! Não queria nem saber! Ia falar de qualquer jeito para Rukia daquela porcaria de calcinha. Era melhor acabar com aquela tortura de uma vez!
- Ichigo! – logo quem, entrou na enfermaria afobada. – O que aconteceu? Algum problema? 
- Rukia! – quase deu um salto da cama. – Você não devia estar aqui.
- É, mas estou. – pôs as mãos na cintura e o encarou. – Vamos Ichigo. Diz logo o que foi aquilo lá na sala. Não eram os peitos da Rangiku-san, eram? – espremeu os olhos acusadores.
- N-não! – corou de leve. – Não é isso... – mergulhou os olhos em outro canto da sala que não fosse o rosto dela. 
- Então...? – ela insistia.
- Rukia... – continuava com os olhos afastados. – Eu preciso... Preciso te dizer uma coisa.
- Sim? Que coisa? Fala de uma vez! – estava totalmente alheia.
- É que... É uma coisa um pouco constrangedora, sabe? – corou ainda mais. – É uma coisa que... Estou tentando dizer tem um tempo...
De repente a expressão mudou por completo. Os olhos arregalaram-se e a boca abriu. E o coração tomou um ritmo bem mais acelerado... 
Não podia acreditar... Era nisso que ele estivera pensando? Ele não tinha esquecido daquele dia à luz do pôr-do-sol quando parecia que... Quando parecia que tudo ia ser revelado? 
Não. Ele estivera pensando desde então. Por isso ficara a olhando tantas vezes. Como fora ingênua! Como fora pessimista... Ele realmente poderia...
- Pode falar, Ichigo... – sua voz ficou mais mansa e suas bochechas rosaram.
- Sabe Rukia... É que... – sentiu as mãos começarem a suar.
- Ichigo! Rukia! – de repente Renji apareceu. – Não receberam o sinal? Hollow!
E foi como se uma onda enorme viesse e destruísse o castelinho de areia quase pronto...

****
Foi fácil. Eram hollows pequenos. Em menos de vinte minutos estava tudo bem e os shinigamis estavam livres. 
- Vamos voltar pra aula? – Rangiku quis saber com um tom de voz que traduzia tudo: que estava torcendo para que não.

- Claro que não! A gente saiu fugido de lá! – Hitsugaya respondeu abismado com a pergunta.
- Então vamos todos sair pra beber? ~ – a peituda logo se animou.
- Não acredito nisso... – o baixinho revirou os olhos.
- Vamoooos! – Ikaku gostou da idéia.
Rukia olhou de canto para Ichigo. Estava tão curiosa, estava tão ansiosa para que falasse logo... 
E ele olhou de volta. Os olhares se cruzaram e os rostos avermelharam-se. Ainda esperava uma resposta.
- Nós estamos... Indo pra casa. – o ruivo decidiu.
- É. – Rukia concordou depressa.
Os outros nem ouviram de tão entretidos com o papo sobre bebida. Ou irados com o papo sobre bebida. Bem, só um deles.
Então o ruivo foi caminhando na frente. E Rukia pôs-se a acompanhá-lo.
Silêncio.
- Humm... Ichigo... Sobre mais cedo... O que é que você ia dizer? – tentou fazer uma cara de quem não se importa muito.
- Ah... – sentiu um frio na espinha. – Pois é... Eu vou dizer... Mas é que... – corou de novo e com força. – Precisamos de um lugar bem reservado... – não ousava olhá-la de jeito nenhum.
- Humm. Certo. – o coração aumentava a velocidade a cada pista. Não podia ser outra coisa... Ele ia...
- Ichigoo! – viu Tatsuki acenar-lhe ao longe.
- “Droga!” – pensou irritado. – Rukia... Me espere no meu quarto. A essa hora não tem ninguém em casa. 
Ela apenas assentiu e saiu andando. 
- “Que tola estou sendo...” – pensava consigo mesma deixando escapar um sorrisinho pelo canto dos lábios. – “Estou me entregando assim, esperando assim... Como fui cair tão fundo nessa?"
****
O sol já estava se pondo. E ele não chegava. 
Daqui a poucos minutos Karin voltava do futebol e Isshin da clínica. E ele não chegava.
Estava ficando impaciente, esperando naquela janela. Quando decidiu esquecer de uma vez aquela babaquice e virar-se para ir para seu novo quarto, a porta se abriu revelando o ruivo que estivera xingando em pensamentos. 
E de repente, tudo de ruim que tinha pensado desapareceu por causa das batidas enérgicas e cheias de expectativas de seu coração.

- Ichigo... Pensei que não vinha mais! 
- Desculpe a demora. – encostou-se na porta fechada e ficou olhando-a por alguns segundos. Era agora ou nunca. 
Era só uma peça esquecida. Nada mais. Nunca representara nada para ele. Mesmo que ela fosse tão linda. Mesmo que ela fosse tão atraente à luz do sol poente. Mesmo que ela... Mesmo que ela... 
– Rukia... – decidiu começar logo. Avançou alguns passos na direção dela. – Eu... Juro que queria ter te dito isso antes... – corava e corava. – Mas... Pessoas e coisas me interromperam... – fitava o chão, mas agora estava tão perto.
Ela sorriu minusculamente. Ah, como sabia que tinham interrompido!
- Antes de eu falar... Por favor promete que não vai fazer um escândalo pra me zoar? – olhou meio tenso para ela ainda ruborizado.
Ela sorriu de um modo reconfortante.
- Prometo, seu idiota. 
Enfiou a mão no bolso. Mas ficou com ela ali parada por alguns segundos. Mudo.
E o coração dela pulando como um coelho.
- Rukia eu... Naquele dia que saiu desse quarto eu... Quando me deu as costas eu... Precisava que você soubesse... – começou fazendo de tudo para continuar sustentando o olhar no rosto dela. As palavras saíam meio esquisitas, com força demais.
- Sim... – ela encorajava.
- Eu precisava que você soubesse, mas não sabia como te dizer... Mas se eu não disser agora, vou acabar tendo problemas... Mas eu nunca tive más intenções, eu só...
- Fala de uma vez, droga! – ela disse em tom impaciente. Não estava agüentando mais. 
- Rukia eu... – subiu o tom de voz. – Rukia eu...
Os olhos dela piscavam freneticamente junto com o coração pulsante.
- Rukia eu... Encontrei sua calcinha que você deixou cair quando estava se mudando de quarto! – disse tudo rápido, de olhos fechados, num jorro, tirando a mão do bolso e estendendo a dita cuja todo trêmulo.
E as piscadas diminuíram... E o olhar ficou confuso e icrédulo. Até o coração parou com a algazarra. Só conseguia pensar numa coisa:
- O quê!? – nem olhava para o que ele estendia. Olhava para sua cara estupefata.

- É isso, droga! – balançou a calcinha na frente dela. – Pega isso de uma vez! 
Olhou para a calcinha que ele segurava e sentiu-se ruborizar de leve. 
- Então era... isso ? – estava claramente frustrada.
Parecia até que a onda tinha vindo de novo quando o castelinho estava quase refeito.
- E-era. – agora era ele quem estava espantado.
Ficou brava, irada. Fechou a cara. Sentia-se ofendida, com as esperanças estilhaçadas. Então era só a droga de uma calcinha? Era nisso que ele tinha pensado a aula e os últimos tempos inteiros? 
Deu meia volta e saiu andando.
- Ru-Rukia! – alcançou-a e parou em sua frente desesperado. – Rukia, está brava? Olha, eu não fiz por mal! Eu disse que nunca tive más intenções... Eu só...
- Eu sei, Ichigo! – esbravejou. – Eu sei que não teve más intenções! Eu sei disso, totalmente! Não sei que más intenções você poderia ter com a minha calcinha! – quase berrava.
Ela não entendia? Quanta ingenuidade! 
- Então por que está tão irritada? Por que essa cara? 
- Por nada, Ichigo, por nada! Eu só não estou acreditando que é só isso ! – deu alguns passos a frente, mas o ruivo impediu sua passagem.
- Rukia, como assim só isso? – estava perdidinho. – Você queria que fosse o que? Uma coleção inteira de calcinhas?
- Não seu idiota! – a naturalidade dele com tudo aquilo a estava deixando mais louca ainda. – Eu só esperava que... Só fiquei esperando que você finalmente dissesse! Eu pensei que você tinha coisas melhores pra ficar pensando durante todo esse tempo! – tentou passar de novo. Novamente impedida por ele que se encostou na porta em sua frente.
- Rukia... – a voz dele ficou mais serena. – Do que está falando? Que coisas...?
Olhava para baixo cerrando os punhos. Não acreditava que pudesse ter fantasiado tanto, ter sido tão idiota àquele ponto... Não acreditava que estava com tanta raiva por causa dele... Por causa daquele sentimento.

- Desculpa, Ichigo... – disse enfim juntamente com um suspiro pesado. – Eu acho que não posso te obrigar a pensar nas mesmas coisas que eu, não é? Não, eu não posso. Agora me deixa passar!
Mas ele não se moveu. E agora parecia ter outra coisa no castanho de seus olhos. O coração voltou a palpitar.
Uma coisa para estar pensando nos últimos tempos... Ele tinha, não tinha? Aquela coisa... Que considerava tão estúpida... Que julgava nunca ser possível de ser correspondida... Que julgava ser uma coisa que causaria muito mais dor e constrangimento ao ser exposta do que... Do que a calcinha. 
Mas que agora, olhando naqueles olhos azuis levemente entristecidos, parecia mais firme, mais perto... Como se ela estivesse... Esperando por ele. De novo.
- Rukia... – decidiu fazer com que a espera valesse à pena. – Eu também estive pensando nessas coisas... 
- Pára, Ichigo! – ficou vermelha de novo. – Você não pensou em nada. Você não sabe do que estou falando! E é melhor não saber!
- Rukia... – insistiu como se não tivesse ouvido o que ela dissera. Como sempre. – A coisa que você esteve pensando... Chama-se amor?
O coração quase derrubou-a de tantas pancadas fortes. Não podia acreditar. Mal podia respirar... Conseguiria... Falar?

Não sabia como ia continuar aquilo. Não tinha a mínima idéia. As palavras sumiam. Nunca fora bom com elas, mesmo.
Então decidiu agir. Puxou-a para perto e colou seus lábios nos dela. E ela segurou em suas costas. E então se beijaram. Timida e apaixonadamente.

- Rukia... Eu te amo. – sussurrou no ouvido dela.

- Ichigo... Eu te amo. – devolveu no ouvido dele.

E voltaram a se beijar mesmo que não soubessem como fazê-lo bem. 

Recompensava a espera dela.

Mostrava a ele que sempre estivera ali.

E tiveram tantos momentos para dizer aquilo... E tiveram tantas cenas importantes para dar o beijo como desfecho mágico...

Mas foram unidos por uma situação boba, banal. Quem diria? A vida é mesmo irônica... Uma calcinha, oops, caixinha de surpresas...


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Notas finais do capítulo

Desculpem, a fic esteve postada com um defeitinho, mas agora já está consertada ^^



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