O domingo passara praticamente voando, não tendo o mínimo de consideração nem com a ressaca maldita que eu estava nem o medo de terrível da segunda-feira.

Não, eu não estava com medo. Estava aterrorizada.

Peeta havia falado comigo e ele havia me beijado de surpresa. E eu não conseguia parar de sorrir como uma boba sempre que pensava nisso. Estar nos braços dele tinha me feito sentir inteira de novo, apagando tudo de ruim dos quase três anos que ele ficara sem falar comigo.

Mas agora eu estava com medo de como ele ia agir. E se ele estivesse arrependido de ter me beijado? E se não tivesse gostado tanto quanto eu? Se não foi o que ele esperava será que isso mudaria os sentimentos dele por mim?

Fui para o banheiro e tomei um banho rápido, todos meus pensamentos me fizeram perder a hora e odiava chegar atrasada na escola. Vesti meu uniforme e desci as escadas pulando e gritando uma despedida para minha mãe e para Prim que ainda tomavam café.

Não conseguiria comer nada agora sem vomitar pelo nervosismo. Estava rezando para ele já ter entrado na escola já que o pai ia sempre lhe deixar bem cedo, porém não precisei chegar nem na esquina para reconhecer seus cabelos loiros de longe.

Ele estava me esperando debruçado no portão. Sorri com aquela visão dele tão lindo e tão displicente. Peeta Mellark podia ter a garota que quisesse e eu ainda estava me perguntando por que eu?

- Achei que você ia chegar atrasada, mas pelo jeito conseguiu se recuperar da ressaca ontem. – ele disse com seu sorriso maravilhoso, mas eu franzi o cenho por não gostar do seu comentário.

Sério? Ele ia falar do quanto bebi quando eu tinha passado domingo inteiro pensando em tudo que tínhamos a dizer um para o outro.

- Eu não bebi tanto assim, Peeta.

- Kat, quando eu te achei você parecia...

- Uma criancinha desprotegida, você já disse isso.

- Eu sei. Mas era a criancinha desprotegida mais linda que eu já vi. – ele falou se aproximando e nossos rostos estavam tão perto, quando ouvi o grito de uma monitora.

- Os dois entrem agora ou vão ficar de detenção.

Dei um pulo para trás, batendo as costas com força no portão e Peeta me segurou pelo braço para que eu não caísse.

- Você tá bem, Kat?

- Melhor entrarmos.

- Acho que você surtaria se levasse uma detenção né?

- Ah cala a boca Mellark!

Peeta  riu e levantou as mãos em sinal de rendição e entramos na nossa sala. Me sentei na frente como sempre, e ele foi se sentar no fundão. Aposto que não iria prestar atenção em nenhuma aula, mas o que estava me irritando mesmo eram Glimmer e Clove lá atrás junto com ele.

Principalmente Glimmer, pois Clove toda escola sabia que era perdidamente apaixonada por Cato. Ela e Peeta só ficavam ocasionalmente e todos sabiam que só quando ela e Cato haviam tido alguma discussão.

Suspirei e me concentrei nas aulas, afinal tínhamos prova no final da semana e não podia simplesmente esquecer-me das minhas responsabilidades por causa de um beijo. Mesmo que ele tenha sido o melhor de todos.

Física, matemática e geografia. O intervalo finalmente chegou mas Peeta treinava futebol nesse horário na quadra, então não teria tempo para falar comigo.

Uma parte de mim quis ir assisti-lo jogar, mas ficar na arquibancada ouvindo Clove e Glimmer gritando não era o meu programa definitivamente. Então resolvi ficar estudando na biblioteca até voltarmos para aula de literatura.

Já estava sentada na minha cadeira quando Peeta entrou com alguns dos jogadores atrasado, ele parecia triste quando olhou para mim e voltou a se sentar com os colegas de time.

Não consegui prestar atenção em mais nenhuma aula depois daquilo. Eu sempre odiei ver Peeta triste, e só o que eu queria saber era o que ele tinha e se estava bem.

Queria falar com ele e abraçá-lo, dizendo que tudo ficaria bem até ouvi-lo rir de novo. Mesmo que fosse de mim.

O sinal tocou e me tirou dos meus devaneios. Peeta saiu com os amigos sem falar comigo e aquilo fez doer meu coração.

Fui caminhando devagar, sem nenhum ânimo quando o vi de longe mais uma vez me esperando no portão. Não tive tempo de dizer nada antes que ele começasse a perguntar.

- Por que não foi me ver jogar? Eu achei que depois de sábado estava tudo bem entre nós.

- Não queria ver Glimmer e Clove.

- Você sabe que Clove é só minha amiga, eu a ajudo a fazer ciúmes a Cato, só isso.

- Não pode dizer a mesma coisa de Glimmer não é?

- Você está com ciúmes? – ele disse de repente ficando animado como uma criança que havia ganhado um doce.

- Claro que não.

- Eu não gosto da Glimmer.

- Não te perguntei nada. – falei olhando pros meus próprios pés.

- Será que você poderia olhar para mim? Eu gostaria muito que estivesse olhando para mim com o que eu tenho para te dizer.

Levantei meu rosto e olhei fixo em seus lindos olhos azuis, sentindo meu coração bater desesperadamente no meu peito.

- Como eu disse sábado, eu passei tanto tempo ensaiando o que tinha para te dizer. O que pode parecer bobagem já que na realidade são só quatro palavras, mas mesmo assim... Deus, eu estou nervoso. – ele disse parando para respirar fundo.

- Peeta...

- Eu te amo, Katniss.

 Praticamente me joguei nos braços dele e colei meus lábios nos dele, estava querendo fazer isso o dia inteiro e mais uma vez ao sentir os lábios de Peeta roçando nos meus, sua língua tomando conta da minha boca, eu senti que podia flutuar até o céu.

Paramos de nos beijar já ofegantes e ele sorria para mim ajeitando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e me dando alguns selinhos.

- Isso quer dizer que você vai me dar uma chance?

Eu balancei a cabeça negando e ele me olhou assustado.

- Não quer dizer só isso. Esses três anos foram os piores da minha vida, eu senti tanto a sua falta. De falar com você, de te abraçar, de te ouvir implicando comigo, do som da sua risada, até de ouvir você se gabando e sendo convencido eu senti falta. Eu não conseguia entender porque detestava tanto a Glimmer, ou porque detestava você quando ouvia algo sobre vocês dois. Não entendia até sábado, até você me beijar e me fazer parar para pensar em tudo isso e juntar todos os pedacinhos de tudo que não compreendia antes.

- Katniss, eu...

- Eu amo você, Peeta Mellark. Por favor não volte a me deixar de novo, Peeta.

Ele sorriu, mas eu pude ver algumas lágrimas se formando nos olhos dele antes dele me abraçar.

- Nunca mais, eu prometo.

Já estávamos nos beijando de novo quando senti alguns pingos de chuva molhando meu braço.

- Kat, vamos entrar.

- Não, Peeta vem. – eu o puxei pela mão e fomos os dois brincando na chuva e chutando a água que aos poucos se acumulava no chão um no outro.

Parecíamos duas crianças felizes brincando na chuva e era exatamente assim que eu me sentia agora que estava com Peeta: totalmente livre. Ele me puxou pela cintura e voltou a me beijar e o mundo todo desapareceu ao nosso redor.

Eu pertencia a Peeta e ele me pertencia e aquilo era tudo que importava.