Abri os olhos, olhei ao redor e percebi que Sasuke ainda estava dormindo, não me mexi para não acordá-lo, iria esperar ali do lado dele até seu despertar, enquanto isso fiquei analisando cada traço daquele rosto extremamente irreal, a boca bem desenhada e carmim, a pele lisa e macia, as sobrancelhas, o queixo, tudo nele era de uma simetria irreal, olhei novamente, agora o rosto como um todo, ele parecia uma criança (extremamente sedutora) dormindo, os lábios entreabertos e a face relaxada, sem falar que por baixo das cobertas não havia nada o que o tornava mais sedutor ainda, uma criança um tanto pervertida e levada, mas ainda sim uma criança.

-Bom dia dorminhoco. – ele se espreguiçou enquanto piscava para focalizar o que via

-Bom dia... Eu não estou dormindo ainda não né?

-Não.

-No sonho você ia dizer isso também, então prova que não é um sonho. – cheguei perto de sua boca e selei um beijo

-Isso serve?

-E como serve.

-Sabe que horas são?

-Nem quero saber, deixa o dia passar inteirinho com nós dois aqui.

-Eu sei que tudo é muito romântico, muito lindo, mas eu ainda sou um ser humano e preciso comer.

-Tem certeza que não é um anjo?

-Anjo?! Eu?! Só se for no fim do mundo.

-Certo, vamos comer... – eu levantei me enrolando com o lençol

– Não queeeerooo! Vamos ficar aqui!

-Ihh! Não morra de saudade eu vou e volto. – ele segurava o lençol

-Eu vou também!

-Então é melhor você vestir algo, não acha?

-Você quem sabe, eu fico melhor como? Com ou sem?

-Não sei, agora você me pegou, mas eu tenho a certeza de que eu não quero que as vizinhAS te vejam assim.

-Você quem manda.

-Até parece que você ia sair sem.

-Na verdade eu ando pelado em casa...

-COMO ASSIM?! “eu ando pelado em casa”? Tipo assim: todo mundo já te viu pelado aqui?

-É.

-E você fala assim naturalmente?

-O que é que tem?

-Tem que não pode!

-Está com ciúmes é?

-Mais ou menos, mas imagine como as pessoas se sentem em chegar na janela e se deparar com você pelado?

-Se sentem realizadas e pensam que já podem morrer sem frustrações.

-Convencido! Fique sabendo que o Kakashi é no mínimo 6 vezes melhor que você tá?

-Meu Deus! Que absurdo! Você já viu ele pelado?

-Claro, ele não é o meu PAPAI?!

-Sim, mas não pode.

-Está com ciúmes é?

-Mais ou menos, mas imagine como ele vai se sentir se descobrir isso.

-Que ele esta realizado e pode morrer sem arrependimentos.

-Não gostei de ouvir as minhas palavras sendo jogadas contra mim.

-Então você para de andar pelado pela casa?

-E você de olhar o seu PAPAI?

-Fechado.

-Por mim também.

-Mas agora vamos comer?

Descemos as escadas e Sasuke preparou o nosso café, nada muito extravagante, pois eu estava morrendo de fome e não poderia esperar. Passamos o resto do dia nos embolando nos edredons, até porque eu não conseguia imaginar programa melhor para sábado do que esse, parecia um sonho, aquele tipo de sonho que você pensa que já pode morrer depois dele, que já viu a coisa mais linda do mundo, mas sempre a algo mais lindo para se ver apesar de tudo, porém mesmo assim se eu morresse naquele mesmo instante seria um alívio, pois eu morreria naqueles braços quentes e meu corpo nunca se esqueceria daquele toque.

-Sakura você pretende cursar o que depois do colégio?

-Direito talvez, quem sabe administração, e você?

-Eu quero fazer música.

-Música? Que excêntrico!

-Eu sempre quis ter uma banda, viajar pelo mundo conhecendo pessoas diferentes, lugares diferentes e ganhando dinheiro com isso, mas...

-Mas...?

-Mas meu pai nunca deixou, eu precisaria de patrocínio no início e ele não só ia me deserdar como fazer com que eu não tocasse em lugar algum.

-Difícil. E mesmo assim ele vai deixar você cursar música?

-Melhor do que eu não fazer faculdade nenhuma não acha?

-Sem dúvidas, mas não seria melhor para ele você fazer engenharia ou administração?

-Ele prefere não cobrar de mais, para não me perder como o Itachi, por isso com tanto que eu assuma a empresa ele não faz objeção a minha faculdade.

-Que bom meu namorado vai ser músico, aí depois que seu pai estiver velhinho e não puder fazer mais nada você será famoso e vai compor milhares de músicas só para mim.

-Pretenciosa você não?

-Eu?! Imagina! Eu apenas sei que sou sua musa.

-Depois o metido sou eu.

 

 

                                                           ...

-Sakura acorda já é domingo!

-Hã? Já?! Não! Eu não quero ir embora... – disse com uma vozinha manhosa

-Certo, então a gente se entende com nossos pais e amanhã nós entramos na igreja.

-É... Isso não é bom... Mas o que você quer dizer especificamente com “já é domingo”? Quer dizer que já amanheceu? Que já é de tarde? Ou só que é hora de eu ir embora?

-Já é domingo quer dizer que já é de manhã e que você tem que ir para casa, pois o Kakashi acaba de ligar dizendo que você tem que voltar antes do seu pai chegar...

-CHEGAR?!

-É, ele está vindo passar o domingo com você.

-Ele não me avisou nada, eu posso dizer que estou na casa da Hina-chan.

-Por isso que o Kakashi avisou, seu pai mandou te procurar até no inferno se fosse preciso, mas queria você em casa pela manhã.

-E que horas são?

-Cedo. 6:45.

-Vamos fazer assim: nós descemos, tomamos café, eu arrumo minhas coisas e vou embora.

-Tudo bem, mas se você quer estar lá quando o velho chegar é melhor fazer isso tudo bem rápido.

-Sem dúvidas porque você vai me ajudar.

-Quem sou eu para negar né?

-Ainda bem que você sabe.

-Mimada.

-Metido.

-Vamos logo se não eu desisto de deixar você ir e te prendo aqui.

-Eu ia adorar ficar presa aqui.

Sair daquela cama foi realmente trabalhoso, descer as escadas mais ainda e ir embora foi quase impossível, ainda mais sabendo que o meu namorado lindo ia ficar sozinho em casa como um cachorrinho solitário, ah! Isso me partiu o coração.

Quando eu cheguei em casa Kakashi estava aflito andando de um lado para o outro com um terço na mão, muito estranho, pois ele nunca fora católico e nem mesmo cristão, mas foi eu entrar no campo de visão dele que o mesmo largou o terço com tudo no chão e veio correndo ao meu encontro.

-Sakura-chan!

-Você bebeu?!

-Eu estava tão preocupado!!

-Me poupe Kakashi, parece até que é meu...

-Pai?

-É... Falando no diabo, onde ele esta?

-Não chegou ainda, mas já deve estar para chegar, então corra para o seu quarto e vista o pijama, ele não pode desconfiar de nada.

-Pode deixar comigo, aquele bobo eu engano direitinho.

-Eu devia te reprender por falar assim do seu próprio pai, mas a verdade é uma coisa que não pode ser encoberta.

-Ainda bem que você sabe.

Na mesma rapidez que subi desci, pois meu pai chegou poucos minutos depois de mim, algo estranho estava por vir, eu sentia isso.

-Sakura querida – disse ele largando as malas e vindo ao meu encontro.

-Bom dia papai.

-Dormiu bem?

-E como! – levei um pisão no pé do Kakashi que apenas sorriu para mim

-Que bom querida, pois eu não dormi nada.

-Por que papai?

-A insônia de sempre, mas agora vamos tomar café?

-Eu já tomei, mas te acompanho.

O silêncio reinava na mesa deixando um clima constrangedor no ar, apesar de eu não saber o por que de todo aquele constrangimento.

-Sakura eu tenho algo a lhe falar.

-Lá vem bomba.

-Depende do ângulo que você analise.

-Fale.

-Sakura alguns de meus amigos e sócios estam me pressionando por algumas alianças...

-E?

-E essas alianças envolvem confiança, troca de coisas preciosas.

-E essas coisas preciosas seriam?

-Pessoas.

-Papai tráfico de pessoas é ilegal.

-Eu não estou falando disso, estou falando de casamento.

-Lá vem você de novo, eu já disse que não caso e pronto!

-Tudo bem você não casar, o problema são outras pessoas casarem... Hoje mesmo foi assinado um termo de fusão das empresas Uchiha.

-COMO?! – cuspi todo o suco que havia colocado na boca

-Isso mesmo o filho mais novo, aquele seu amigo, o Sasuke vai ficar noivo – não me contive e cai na risada – não vi graça.

-Quem iria conseguir fazer ele ficar noivo? Aquilo lá é mais teimoso que tudo. Ai pai eu ri tanto agora que você fez eu ganhar meu dia, foi uma ótima piada, agora eu estou de saída, beijo.

-Vai aonde?

-Ao shopping, estou precisando fazer umas comprinhas.

-Então tudo bem, nos vemos no almoço?

-Não, eu devo almoçar pelo shopping com as meninas.

-Tchau então.

-Tchau.

Vesti a primeira roupa que vi pela frente e fui para o shopping, no meio do caminho liguei para as meninas que sem o menor esforço meu foram voando para shopping, pareciam estar cheias de novidades e inclusive Ino havia voltado para Tokyo depois de dois anos morando em Nova York, seria um reencontro, para ser mais exata o dia para botar a fofoca em dia.

-Testudaaaa!!

-Porquinha!! – ela pulou nos meus braços

-Que saudade amiga!

-Nem fale. E aí meninas como estam?

-São tantas coisas para contar que eu nem sei por onde começo Sakura-chan! – disse Hinata num tom entre a histeria e o sussurro, algo muito complexo para pessoas normais como eu.

-Sakura meu mundo caiu! O Shikamaru terminou comigo!

-Já é a terceira vez esse ano Temari! Pelo amor de Deus!

-Você é tão insensível Tenten! – choramingou Temari

-Você só fala isso porque tem aquele moreno perdição só para você Tenten.

-Não gostei do comentário Ino.

-Ih! Você vieram aqui para brigar foi?! Eu não entendi nada, vamos sentar, comer alguma coisa, aí uma de cada vez me explica o que esta acontecendo.

-Certo – disseram em uníssono

Depois de muito bem instaladas na praça de alimentação Temari me contou da sua desilusão amorosa com Shikamaru, mas essa não é nova, pois eles vivem brigando.

-Entenda amiga, isso passa, vocês já terminaram outras vezes e voltaram.

-Mas dessa vez é para valer! Disseram que ele estava com outra e tudo!

-Só se a outra se chamar fronha porque o Shikamaru só sabe dormir.

-Pior que é verdade.

Em seguida Hinata falou muito envergonhada sobre as investidas deslavadas do Naruto e de como ela se sentia em relação a isso, eu preferi não comentar para não acabar saindo de lá e ir direto na casa dela dar um tiro na cabeça dele de raiva.

Tenten para variar vivia em pé de guerra com Neji que por sua vez só fazia pirraçar a pobre coitada, eles eram sem dúvidas um casal problemático, como dizia o Shikamaru, apesar de que para ele tudo é problemático.

Ino contava entusiasmada suas travessuras em “New York city”, falou dos homens que havia por lá e de como ela aprenderá a usar bem os talheres, sem falar no seu inglês, confessou que se apaixonara por um homem, mas que este apenas a usou e hoje não passava de uma lembrança chata.

As meninas esperavam ansiosas algo de mim, mas eu apenas disse que estava solteira e que queria continuar assim por um bom tempo, elas suspiraram de tristeza, eu e Hinata éramos as únicas encalhadas naquele recinto. Na hora de ir embora notei um saquinho de palhetas do Sasuke em minha bolsa, então fiz um esforcinho para não esticar o shopping para uma balada e fugi para casa dele.

Olhei para cima e a cortina estava para fora, hesitei, mas nada tão natural quanto ele esquecer as palhetas na minhas casa, afinal ele era meu professor, toquei a campainha e esperei até ele abrir.

-Sakura o que você esta fazendo aqui? Não viu a cortina?

-Vi, mas vim te devolver umas palhetas que caíram na minha bolsa.

-Obrigado, mas agora vai embora pelo amor de Deus!

-Eu já estou in...

-Quem esta aí Sasuke? – uma voz conhecida e feminina vinha vindo em nosso direção, e eu conhecia bem essa voz

-É a Sakura... – e a dona dessa voz altamente enjoada apareceu por cima do ombro do meu namorado

-Karin? O que você faz aqui? – dei um olhar furtivo para ele que apenas disfarçou

-Eu? Eu que deveria lhe perguntar o que você veio fazer a essa hora na casa do meu noivo.

-Seu noivo?

-Sim, o Sasuke-kun e eu estamos noivos. – o choque foi enorme, mas eu não choraria na frente dela.

-Ah! Que surpresa! Mas parabéns para vocês, eu já vou, já entreguei o que eu tinha para entregar. Tchau.

-Tchau queridinha.

-Sakura eu...

-Não diga nada – sussurrei

-Disse alguma coisa Sakura?

-Não, é só a sua imaginação. – Karin entrou após seu nome ser chamado

-Sakura deixa eu explicar.

-Vá falar com sua noiva antes que ela morra de saudades. – me virei o mais rápido que pude, mas ele me segurou pelo braço.

-Não é isso, eu...

-Me solta. – as lágrimas rolavam pelo meu rosto, não sei se o meu rosto tristonho foi chocante de mais para ele, mas suas mãos se soltaram deixando-me partir.

Corri para casa sem me importar com o celular que vibrava no meu bolso e o rímel que escorria pelo meu rosto, por pior que eu estivesse por fora ainda seria melhor do que por dentro, entrei em casa pelos fundos e corri para o meu quarto para que ninguém me visse, mas como sempre algo deu errado e eu me esbarrei com tudo com Kakashi que se assustou com o meu estado, porém eu não dei tempo a ele de perguntar apenas afundei o rosto no seu peito chorando o máximo que conseguia, ele me colocou nos braços, me levou para o quarto e ficou ao meu lado pacientemente ouvindo a história desde o início sem nada dizer.

-Eu sou uma besta não é? – ri da minha própria desgraça, do meu próprio estado deplorável.

-Você não é uma besta não Sakura, mas eu te disse para ter cuidado, eu te disse, mas mais uma vez você não me escutou.

-Desculpa Kakashi.

-Por que você esta pedindo desculpas? Foi você quem se machucou e não eu, porém eu prometi que se ele te fizesse algo ou acontece algo com você eu iria até o inferno atrás dele, e promessa é divida, agora descanse meu amor.

-Você nunca mais tinha me chamado de meu amor, faz anos desde que eu ouvir isso.

-Mas mesmo assim eu te amo filhinha, lembra disso?

-Claro papai. – Kakashi sorriu aquele sorriso lindo que só eu havia visto, nenhuma outra mulher na terra viu esse sorriso, pois este era o meu sorriso, o sorriso da filhinha dele.

Ele saiu do quarto deixando de companhia para mim apenas as paredes e os travesseiros que não ajudavam em muita coisa, e no fundo daquele silencio jazia um coração despedaçado que não conseguia entender onde fora parar o para sempre da noite passada, apesar da resposta estar bem na minha cara, o para sempre, sempre acaba.