Rachel

– Então, o que vocês têm para falar? – perguntei depois de me sentar do o lado da Santana, ficando frente para o pai e para o meu tio.

– Primeiro eu quero pedir desculpa para vocês duas. – meu pai disse – Não tentar pegar a sua guarda Santana, e te abandonar Rach, foram os piores erros que eu cometi.

– Vamos direto ao que interessa, por favor. – pedi.

– Esse cara que ta ameaçando a Santana... É uma mulher. O nome dela é Sue, e ela tem o que podemos chamar de uma história antiga com a nossa família. – o tio Will disse.

– Como assim? – a Santana perguntou.

– Eu prendi o pai dela vinte anos atrás. – meu pai falou – A família dela ficou revoltada e ela prometeu se vingar. Nessa época sua mãe estava grávida, e eu fiquei com medo que ela tentasse alguma coisa contra qualquer uma de vocês três. E eu estava certo.

– O que ela fez? – a Santana perguntou.

– Quando vocês nasceram, ela entrou no hospital, te trocou pela filha de outra mulher e matou a criança. Depois entrou no quarto em que a sua mãe estava e a matou. Na época falaram que a criança tinha morrido durante o parto, e ninguém desconfiou que na verdade a menina tinha sido trocada e morta.

– Como? – perguntei.

– Como o que?

– Como ela matou as duas?

– A criança ela matou sufocada. Era impossível perceber alguma coisa. O crime perfeito.

– E minha mãe?

– Dois tiros. Eu prendi a Sue um mês depois.

– E porque ela não matou a Rachel e eu também, e me trocou por outra criança?

– Eu também não sabia por que ela tinha deixado vocês vivas. Na época só a Rachel. Era obvio que destruir minha família inteira era quase como me destruir. Mas quatro anos depois veio a explicação. Eu recebi um vídeo dela fazendo a troca.

– Mas ela não estava presa? – perguntei.

– Estava. Quem mandou o vídeo foi o pai dela, que tinha fugido da prisão uma semana antes.

– Seu pai foi atrás do cara que mandou o vídeo. – o tio Will disse – Ficou três meses agindo sem que ninguém soubesse. Nem mesmo eu. Mas quando acho o cara, ele estava morto havia duas semanas, então foi até a prisão tentar descobrir alguma coisa com a Sue, ainda sem ninguém saber.

– Quando eu disse que o pai dela tinha morrido ela me culpou por tudo o que estava acontecendo com a família dela. O pai morto, a mãe sumida, o irmão envolvido com drogas e as irmãs na pior situação possível. Ela jurou que nunca iria me perdoar, mas não era a única que estava com raiva, e a gente acabou brigando. A discussão foi seria, mas a única coisa que eu consegui descobrir foi que ela não prestava e que eu ia ter que me virar sozinho. Passei os seis meses seguidos procurando a Santana. Quando eu encontrei cheguei a falar com os pais dela. Eu ia à justiça se fosse preciso para ter minha filha comigo.

– E porque não foi? – a Sant perguntou.

– Pouco tempo depois a Sue fugiu. Era obvio que ela viria atrás de vocês, então fiz a pior besteira da minha vida.

– Deixou a gente para ir atrás dela. – eu disse.

– Exatamente.

– Eu ainda não entendi porque trocar a Santana e porque nos deixou vivas.

– Ela queria me fazer sofrer.

– A Sue sempre foi muito esperta. – o tio Will disse.

– Ela já tinha planejado me afastar de vocês. Isso foi pior do que matá-las.

– E a Santana?

– Com vocês duas separadas ficaria muito mais difícil para mim estar por perto das duas e muito mais fácil para ela matá-las, caso decidisse que era necessário. Eu cai no jogo dela. Pensei que estaria protegendo vocês quando na verdade estava piorando tudo.

– Eu não entendo. – a Santana disse.

– Ela nunca planejou nos matar não é? – eu perguntei.

– Não. Pelo menos não ate agora.

– E porque ela resolveu que vai matar a Santana?

– É uma coisa que ainda estamos tentando descobrir.

– Porque vocês resolveram contar isso pra gente agora? – a Santana perguntou.

– Porque a Rach precisava saber disso para chegarmos onde realmente queremos e você tem o direito de saber. – o tio Will disse.

– E principalmente porque eu preciso me desculpar.

– Você nos deixou para nos proteger? – eu perguntei.

– Parecia o certo na época.

– E porque você não voltou antes?

– Eu não ia voltar.

– Por quê?

– Sejamos realistas Rachel. Eu vou morrer um dia, e não acho justo fazer vocês passarem pela minha morte duas vezes. – eu respirei fundo varias vezes tentando me controlar – Você ta bem?

– É claro que não! – eu gritei e levantei – Você tem noção de como é difícil ficar todo esse tempo sem um pai, ofende-lo e depois descobrir que ele fez de tudo para te proteger? Eu to confusa e sinceramente não sei o que mais eu to sentindo! É muita coisa para absorver de uma vez só.

– Desculpa filha. – ele disse e me abraçou.

Eu simplesmente não agüentei e chorei. Eu tinha falado coisas horríveis para ele, que agora já não faziam o menor sentido.

– Você quem tem que me desculpar pai. – eu disse.

– Você me chamou de pai? – ele perguntou se afastando de mim.

– Não é isso que você é? Meu pai.

Ele me abraçou de novo e nós ficamos assim por alguns segundos ate ele se afastar um pouco de mim.

– Desculpa quase ter matado a sua namorada. Eu não te vi crescer. Acho que ainda te vejo como a minha pequena de cinco anos que eu deixei. – nós rimos e ele me olhou nos olhos – Agora minha menininha vai ter um filho, e eu não quero perder nada disso.

– Você não precisa perder. – eu disse e ele sorriu.

– Santana. – meu pai a chamou se virando para ela.

– Fala.

– Me desculpa?

– Não tenho do que te desculpar. – ela levantou e ele a abraçou.

– Vocês não sabem o quando esperei por isso. – ele disse depois de se afastar da Sant – Poder abraçar minhas pequenas de novo. É quase um sonho.

– Desculpa interromper o momento, – o tio Will disse – mas a gente tem outro assunto para tratar.

– Você tem razão Will. – meu pai disse secando as lagrimas que corriam livremente pelo rosto dele – Santana você pode nos dar licença, por favor?

– Claro.

A Santana saiu e meu tio foi até uma mesa no meio do escritório.

– Ainda temos que terminar de falar sobre isso.

– E o que é isso? – eu perguntei indo até ele.

– Tem alguma coisa nessa história que ainda não se encaixa.

Eu, meu pai e o tio Will sentamos em volta da mesa e começamos a mexer nos papeis espalhados ali em cima.